Você começou sua carreira em 1985 aos 12 anos de idade, não acha precoce iniciar tão cedo?
Na época que iniciei podemos considerar que sim, mesmo porque não venho de uma família de artistas, e ser o único com esse desejo gerava sim um certo desconforto, pois estamos falando de uma época em a profissão de artista ainda era vista com certo receio, havia muito pré-conceito tanto dentro de casa como fora, para a sociedade a profissão de artista era vista como uma subjestiva, uma profissão que era sinônimo de vagabundagem, uso indiscriminado de drogas e sexo sem restrições.
Vendo esse cenário que o circulava, como sua família permitiu que um garoto de 12 anos embarcasse nessa?
Tudo começou na minha escola, estavam montando uma peça de teatro e fizeram testes com várias crianças, me inscrevi e fui selecionado, pra minha sorte ganhei o papel principal, nisto tinha mais falas, e o que já era paixão, se tornou amor, não posso negar que foi muito difícil, pois sempre fui muito tímido, e vencer a timidez era meu maior desafio.
Foi tensa, me lembro que estava em pânico, até mesmo o que mais tinha segurança, que era o texto, tinha medo de dar um branco e não consegui dizer uma só palavra. Recordo que o teatro estava lotado, a escola inteira estava lá, era uma grande responsabilidade, e não podia falhar. A apresentação foi um sucesso, depois daquele dia passei a ser popular na escola, mas isso não mudava minha personalidade, mas não posso negar, que ser querido era super bom.
O mais engraçado era isto, a arte fazia parte da minha vida, meus amigos, que brincavam comigo, sempre aceitavam brincar de circo, teatro, fazer novela de mentirinha... Claro que brincava de outras coisas, todas brincadeiras de rua, mas ao contrários dos meus amigos, sempre tinha além dos deveres de casa referente a escola, havia textos para ser decorados.
Nunca deixei de viver a infância, não posso dizer que pulei essa fase, tive uma infância plena, e sinto saudades daquela época, porém o teatro me trouxe conhecimentos que muitas outras crianças na minha idade não tinha. Quanto a escola, o teatro foi um complemento, um suporte que me ajudava a ter um conhecimento de mundo muito mais amplo.
Você viveu toda sua infância no Rio de Janeiro e você é Paraibano, encontrou pré-conceito?
De forma alguma, todos pensavam que eu era carioca, fui para a cidade do Rio de Janeiro aos seis meses de idade, aprendi a andar, a falar, a ser carioca... E isto é engraçado, que em 1988 quando fui morar na Paraíba enfrentei pré-conceito por acharem que eu era carioca.
Foi nesse período que você se tornou evangélico?
Podemos de dizer que este encontro com a religião veio muito antes, ainda no Rio tinha uma professora que se tornou uma grande amiga minha, e que a considero uma parenta, pois me ensinou a ler e escrever e por ironia do destino a mesma foi morar na mesma rua que eu morava e nossa amizade só aumentou, de tal forma que todos achavam que ela era realmente minha tia, sua mãe, a vovô Maria e seu pai o vovô João eram da igreja Batista, nisto eu frequentava o culto duas vezes por semana. E mais tarde minha mãe passou por uma enfermidade e foi levada para uma igreja chamada Casa da Benção e de certa forma foi curada, pois teve fé, e daí quando fui para Paraíba acabei sendo batizado na Assembléia de Deus, e nisto passei uns 3 anos como membro, mas a doutrina era pesada e não condizia com meu modo de pensar, e quando percebi que não podia ser o que sou, fazer minha arte, decide que era hora de largar a igreja, e ficar apenas com Jesus.
Mas hoje a condição de artista é vista pela igreja como uma profissão comum e aceitável...
Hoje sim. É muito mais fácil ser evangélico nos dias atuais, tudo é permitido, a doutrina já não é mais tão severa. É tudo muito comercial, há vinte anos atrás sofri perseguição da igreja por ser artista, fui pressionado a fazer uma escolha, se eu ficaria como membro ou seria artista, Mas o dom de interpretar me foi dado por Deus, esse é meu talento e eu não poderia ignorar.
Foi neste período que surgiu o Cultura Jovem de Mataraca?
Exatamente. No começo eu escrevia os textos para o grupo e não assinava. Mas escrever não me bastava, queria atuar. A minha arte estava latente e eu tinha que por pra fora, compartilhar com todos, sendo assim, formei o grupo com alguns amigos, e de cara, enfrentei mais pré-conceitos, pois os pais não queriam deixar seus filhos fazerem teatro, tive que convencer um a um para montar a primeira peça de teatro.
E como foi a recebida pelo público?
Foi um grande sucesso. Conquistamos o nosso espaço, consegui fazer parcerias e fixamos uma sede como teatro e permanecemos por três anos como grupo, até que cada um seguiu seu caminho em busca de novos horizontes, e o que restou disso tudo foi um grande movimento cultural que hoje faz parte da história daquela cidade.
Neste período você era um adolescente?
Acho que nunca soube ao certo o que era ser adolescente, pois sempre tive atribuídas a mim responsabilidades de adultos, além do teatro, dava aulas em duas escolas, estudava a noite e ainda ajudava meu pai no comercio.
E encontrava tempo para namorar?
Sim. Mas nesse período nunca tive namoros sérios. Apesar de ser uma pessoa muito resolvida e bem vista pelas pessoas, por dentro existia um vulcão pronto para explodir, passei na adolescência por uma crise muito grave de depressão, sem que ninguém soubesse. Sempre fui muito forte e nesse período da minha vida não me permitia a fraqueza.
Por que não creio que minha vida privada deva ser mais importante que minha arte. O que desejo que as pessoas saibam e sobre meus trabalhos. Não acho que as pessoas com quem me relaciono tenham que ser expostas publicamente, quero que falem sobre mim como artista, não como pessoa.
Nunca me incomodou. Me incomoda falar sobre minha intimidade, não gosto de ter minha privacidade invadida. Como, onde e com quem foi a minha primeira vez, é uma particularidade minha e não acho que devo expor.
Veja bem, no meu entendimento quando você vive uma relação estável, já está casado, pois casamento pra mim, é o querer está junto de quem se ama, compartilhando os momentos mais importantes de nossas vidas com essa pessoa, então, se você luta junto com essa pessoa para conquistar coisas, por que não oficializar isto. Ter esse reconhecimento legal é uma grande conquista. Quanto a adoção, sou favorável sim, vemos tantos casais héteros jogando crianças numa lata de lixo...
É muito comum a associação entre o mundo artístico e o uso de drogas. Como você vê essa questão?
Sou completamente careta. Nunca fiz uso de nenhum tipo de drogas, e acho muito triste saber que alguém que gosto está se destruindo. Já vi muita gente acabarem com suas vidas por causas de drogas e acho lamentável. Acho que podemos fazer escolhas, eu optei por não experimentar, nem usar, se você o faz, respeite minha posição, não use perto de mim, respeite meu espaço.
Você completou quarenta anos, mudou muita coisa na tua vida?
Sim, claro que mudou. Principalmente ao que diz respeito a parte física. Percebo que já não sou tão moleque. O que melhorou foi na parte psicológica. me sinto mais seguro, a maturidade tem me dado maior segurança emocional, já não sou tão passional quanto antes. Percebo que ajo muito mais com a razão do que a emoção.
Tem medo da velhice?
Tenho medo da dependência que a velhice pode trazer. A melhor coisa de envelhecer é quando você se vê realizado, com uma história para ser admirada por outras gerações. Tento fazer isto nos meus textos que espero que fiquem para posteridade.
Você demostrar se uma pessoa muito vaidosa, quase difícil não acreditar que não se importe com a velhice.
Creio que o que podemos fazer para melhorar, temos que fazer. Muito mais que a velhice me preocupo com o passar do tempo, e se vai passar, é inevitável, que seja da melhor maneira possível. Hoje a tecnologia nos dá uma ajudinha, então vamos aproveitar.
Suas peças tem sido encenadas em alguns Estados isso deve te dar uma grande visibilidade.
Pois é, diferente de vinte anos atrás a internet nos deu uma visibilidade extraordinária, através do meu blog os meus textos tem alcançado um público muito maior e em várias partes do mundo, e isto me deixa feliz, saber que estou compartilhando com milhares de pessoas a minha arte, este sempre foi meu maior intuito.
Que o levou a ser formar em pedagogia?
Sempre gostei de estudar, então quando tive a oportunidade de trabalhar com crianças e adolescentes de uma ONG como professor de teatro, pintou a oportunidade de fazer a faculdade, então não pensei duas vezes, enfrentei o desafio e me formei ano passado. Agora estou fazendo pós graduação em Arte Educação e não pretendo parar por ai.
E quantos aos projetos para este ano?
Além de está fazendo elenco de apoio para a nova novela (Amor a Vida) das 21 da globo, tenho um projeto pra o teatro que ainda está sendo analisado e dois filmes, um será uma produção independente.