junho 30, 2020

ÉRAMOS TÃO JOVENS


ÉRAMOS TÃO JOVENS
“PRIMEIRO ATO”
De Marcondys França

PERSONAGENS


LEILA
GESY
IVAN
MARCONDYS
ERIKA
ELENILTON
LUCIANO
CIÇA
IVETH



PEÇA EM UM ATO
CENA I
MARCONDYS: - Então você assiste, quer dizer, ouve a novela Pantanal pelo rádio?
IVAN: - È isso mesmo.
MARCONDYS: - Aqui na cidade não passa a Manchete...
IVAN: - Lá dá pra ouvir a novela pelo rádio.
MARCONDYS: - Isso é tão surreal.
IVAN: - Falando assim faz com que eu me sinta...
MARCONDYS: - Desculpa Ivan. Não foi minha intenção. Sabe, desde que cheguei a está cidade, tudo parece tão irreal.
IVAN: - Imagino! Deve ser maravilhoso morar no Rio de Janeiro.
MARCONDYS: - E é mesmo. Nunca pude imaginar que em 1989 ainda poderia haver uma cidade onde parte da Rua tem energia elétrica, telefone, só por ramal, televisão só tem sinal de um canal, o diretor da minha escola, é o mesmo que atende como dentista, e que só aparece raramente, quando quer. Meu professor de matemática frequenta as aulas bêbado, a de história e geografia nunca aparecem nas segundas, porque encheu a cara no fim de semana e está de ressaca, nosso ótimo professor de ciências e que me odeia, é viciado em ditar o livro quase que inteiro pra passar a aula. Trabalho não por competência, mas, por indicação... É, realmente um mundo muito estranho.
IVAN: - É realmente você tem razão. Mas sabe cara, eu tenho a certeza que um dia, eu vou sair dessa cidade e vou pra bem longe... e minha vida vai mudar.
MARCONDYS: - Nesse fim de mundo a única chance que teremos de viver algo extraordinário e indo pra bem longe daqui.
IVAN: - Que pretende fazer quando terminar o segundo grau?
MARCONDYS: - Vou pra bem longe desse lugar. Sabe, às vezes me sinto como se fosse um personagem da novela Tieta do Agreste. Uma cidade no meio do nada, com gente muito simples, sem nenhuma pretensão, já conformados com a vida que levam... Que veem o único ônibus, a marionete, partir e chagar duas vezes ao dia. Sabe |Ivan, a cada vez, que esse ônibus parti, leva com ele um pouco de mim, e o que fica, morrer pouco a pouco.
IVAN: - Eu quero ir embora daqui.
MARCONDYS: - Tá certo. E você quer ir pra onde?
IVAN: - São Paulo, Rio... Mas, pra mim será mais fácil o Rio. Tenho parentes lá.
MARCONDYS: - Bacana! Vai gostar.
IVAN: - Mas, você quer ser artista?
MARCONDYS: - Sou artista!
IVAN: - Mas, e a igreja?
MARCONDYS: - Deus sabe, que sem minha arte, não serei feliz.
IVAN: - A igreja condena os artistas.
MARCONDYS: - Não sirvo a igreja. E sim a Deus! Até cometi um pecado...
IVAN: - É mesmo?
MARCONDYS: - É.
IVAN: - Que fez de errado?
MARCONDYS: - Fui ao cinema escondido.
IVAN: - Eita! Que assistiu?
MARCONDYS: - Ghost. Chorei horrores. Mas ri também. Cara é lindo. Me imaginei naquela tela.
IVAN: - Deve ser maravilhoso ser visto naquele telão.
MARCONDYS: - Verdade. Um dia eu estarei ali.
IVAN: - Nunca fui ao cinema.
MARCONDYS: - Um dia vai.
IVAN: - Pena que seu Lourival acabou com nossa peça.
MARCONDYS: - Ridículo! Um inspetor presbítero querendo colocar o terror na escola.
IVAN: - Está muito furioso contigo.
MARCONDYS: - Graças a ele fui afastado do conjunto de jovens. Não posso mais dublar, alias era só isso que eu fazia quando subia ao púlpito. É por isso que já fui logo no parque de diversão, subi na roda gigante, dancei lambada e pequei! (riem)
IVAN: - E agora? Que pretende fazer?
MARCONDYS: - Estamos em 1990. Vamos tentar, vamos inventar, Vamos fazer diferente...
IVAN: - Como?
MARCONDYS: - Vamos criar o nosso grupo de teatro. Afinal, escola nova, nova direção e eu soube que o novo diretor é ator de teatro. Um ponto pra nós.
IVAN: - Como vamos fazer isso?
MARCONDYS: - Já tenho uma peça. Chama-se o casamento. Vamos pensar nas pessoas que queremos conosco. Já até tenho uma ideia. Olha, o Virino pensei em você pra fazer e a Maria Badalo na Iveth. Já o João eu faço, a Fátima a Leila, o padre o Helenilton, o xerife o Luciano, a Bastiana a Ciça e a Fifi a Gesy. Que acha?
IVAN: - Legal. Se toparem.
MARCONDYS: - Já que não temos que fazer nesta cidade, vamos fazer arte... Meu caro, O casamento será a peça que vai entrar pra história da cultura desta cidade...
IVAN: - já tem nome pro grupo?
MARCONDYS: - Pensei em: Cultura jovem de Mataraca. Que acha?
IVAN: - Eu gosto!
MARCONDYS: - Eu também. Então bora trabalhar... Você conversa com o pessoal, que eu vou conversar com o diretor da escola, pra que possamos apresentar a peça aqui.
IVAN: - Então, mãos a obra.

CENA II
LEILA: - Gentein... Vocês estão sabendo?
GESY: - Quem não sabe?
ERIKA: - Esse diretor é fogo! Osso duro de doer...
ELENILTON: - Exigir agora que todos usem, uniforme...
LUCIANO: - Não é mais permitido entrar na segunda aula. Atraso na primeira aula, tolerância de quinze minutos.
CIÇA: - Ouvi falar que saia, só abaixo dos joelhos.
IVETH: - Onde já se viu? Isso é uma escola ou um quartel? Não crente!
GESY: - E o retorno da ditadura, meu bem!
IVAN: - Gente, estamos vivendo um momento muito importante na história do Brasil. Somos a geração cara pintada...
MARCONDYS: - É verdade. Podemos adotar em Mataraca o Impeachment do diretor.
ERIKA: - Mas como faremos isso?
ELENILTON: - Se ele não cair, e descobrir quem começou tudo isto, estaremos ferrados...
LUCIANO: - Pode nos perseguir e reprovar.
CIÇA: - Deus me livre! Mainha tem um treco.
IVETH: - E vamos aceitar isso? Vamos nos submeter às essas exigências exageradas deste diretor.
MARCONDYS: - Podemos fazer um baixo assinado...
IVAN: - E quem vai querer se comprometer assinando este baixo assinado?
MARCONDYS: - Nós.
IVAN: - Nós?
MARCONDYS: - Nos divideremos em três grupos e passamos em todas a sala e coletamos as assinaturas.
LEILA: - Gente, tenho medo!
MARCONDYS: - Minha querida, viver com medo é viver pela metade.

CENA III
LEILA: - A escola está um alvoroço...
GESY: - Pegando fogo.
ERIKA: - Conseguimos muitas assinaturas, poucas pessoas não assinaram...
ELENILTON: - E agora?
MARCONDYS: - Temos que encaminhar pra secretária de educação.
GESY: - Isso vai dar uma confusão.
LEILA: - (Entra) E põe confusão nisso! Gente, o diretor já sabe da existência da lista, e convocou todos alunos na terceira aula no pátio. Pelo que indica, vai renunciar.
ELENILTON: - Eita! E agora?
LUCIANO: - Vai saber que estamos por trás disso...
CIÇA: - Vamos ser expulsos da escola.
IVETH: - Nem me fala isso.
IVAN: - Coitado! |Deve está se sentindo muito mal. Fiquei sabendo que ele é ator.
MARCONDYS: - Perai, para tudo... Tive uma ideia.
ERIKA: - Que pensou?
MARCONDYS: - Podemos fazer uma lista ao contrário. Pedindo que fique. Assim a gente ganha ponto com ele, e ele nos apoia quanto grupo de teatro...
ERIKA: - Seria cara de pau nossa uma vez que pedimos o Impeachment do diretor e começamos agora esse movimento ao contrário na escola.
MARCONDYS: - Vamos fazer o seguinte... Cada grupo que foi na sala A, agora vai na B e assim por diante. Temos que convencer o diretor a ficar, e ao mesmo tempo tentar uma mesa de negociação, e deste modo ficar bem na fita.
ERIKA: - Será?
IVAN: - Eu acho que rola.
CIÇA: - E essas assinaturas?
MARCONDYS: - É prova. Sem elas, somos inocentes. Rasga e desaparece com isso. Agora vamos nos movimentar. Erika, eu e você vamos reivindicar lá no pátio a permanência do diretor. Agora pessoal mexam-se! (Todos saem)

CENA IV
MARCONDYS: - Bom pessoal. Cada um recebeu a cópia da peça. E essa peça se trata de uma comédia caipira de uma família que tem uma filha que engravida, e antes que sua barriga comece a crescer, ela tem que se casar e pra isso seu pai não mede esforços de casá-la nem que seja a força.
IVAN: - Vocês leram a peça?
LEILA: - Eu dei uma olhada. Só que tenho um problema com ensaios... Como vocês sabem, moro na volta.
MARCONDYS: - Quanto a isso daremos um jeito.
GESY: - Falei com meu pai. E ele disse que não ia deixar eu participar...
MARCONDYS: - Por que?
GESY: - Ele disse que isso é coisa de mulher da vida.
MARCONDYS: - Não acredito que a essa altura da vida, eu tenha que ouvir esse tipo de coisa. Que absurdo! Mas pode deixar que vou falar com ele.
ELENILTON: - Por mim tudo bem.
LUCIANO: - Por mim também. Pensando nos ensaios, falei com meu pai, e ele falou com o padre, que nos liberou a casa paroquial que está vazia pra gente ensaiar.
MARCONDYS: - Boa! Então tempos um espaço.
CIÇA: - Minha mãe disse, que só me deixa participar, se eu melhorar as notas na escola. Ela até desmaiou quando viu minhas notas em química e física. Caiu durinha no chão. Pensei até que tinha enfartado.
IVETH: - Não acredito!
CIÇA: - É verdade. Juro por Deus!
MARCONDYS: - Vai melhorar em nome de Jesus! Nem que pra isso você tenha que colar a prova inteira. Agora minha querida, precisamos de você.
CIÇA: - Vou falar com painho. Com ele é mais fácil. Ai ele convence ela.
MARCONDYS: - Bom pessoal, então vamos fazer uma leitura pra entender a peça. Lembrem-se... Se trata de uma comédia. As personagens tem ser engraçadas, então cada um tem que pensar de como essas personagens andam, falam, se comportam... (fazem leitura do texto) Ivan posso falar com você?
IVAN: - Claro.
MARCONDYS: - Abriu uma vaga em Campo Verde para lecionar... Me ofereceram mas já dou aulas em dois lugares e sei que precisa trabalhar. Então pensei em você e te indiquei. Você topa dar aula?
IVAN: - Nossa! Ter um trabalho, é tudo que quero nesse momento.
MARCONDYS: - Vai ser bom. Não é muito. Mas, ajuda.
IVAN: - Sim, com certeza. Meu primeiro emprego.
MARCONDYS: - Amanhã você tem que ir na prefeitura e procurar a secretária de educação... Boa sorte, já deu tudo certo.
IVAN: - Obrigado! (Abraça)
MARCONDYS: - Que isso! Só fiz por você, o que gostaria que fizesse por mim. Agora bora pro ensaio... (Se juntam ao grupo e leem um trecho da peça. As luzes se apagam)
IVAN / VIRINO: - Ah, se eu te pego Creuzinha!
IVETH / CREUZA: - Assim num vale não! Assim num vale. Espia que robo!
IVAN / VIRINO: - Creuzinha ,vem cá minha nega!
IVETH / CREUZA: - Que é?! (Desconfiada)
IVAN / VIRINO: - Vem cá mulé. Num vou te fazer nenhum mau não. Só o bem!
CREUZA: - Não sei...
IVAN / VIRINO: - Eu te ensino.
IVETH / CREUZA: - Tu me respeita que sou fia de um cabra macho e de família.
IVAN / VIRINO: - Vala-me Deus creuzinha! Desrespeitá tu que é meu mozinho, uma rosa, a mais bela de todas!
IVETH / CREUZA: - Oh, Virino! (Beijo calorosa)

CENA V
IVETH: - Nossa Nego, a peça foi um sucesso.
ERIKA: - Está todo mundo comentando. Só elogios...
CIÇA: - (Pra Iveth) Que ela está fazendo aqui?
GESY: - Amostrada, isso sim!
MARCONDYS: - Bom gente, quero agradecer a todos, e ao mesmo tempo parabenizar pelos belas atuações... Essa foi a nossa primeira peça. Mas, temos um convite para fazer a peça no evento que haverá agora em outubro...
IVETH: - Que evento é esse Nego?
ERIKA: - É um evento que vai unir todas as escolas do município na festa das crianças.
CIÇA: - E nós faremos o que?
MARCONDYS: - Uma nova peça.
LEILA: - Sobre o que será esta nova peça?
MARCONDYS: - Ivan...
IVAN: - Tá na mão... (Distribui) Como está na moda o assunto, a peça se chamará Meninos de Rua.
ELENILTON: - Então se trata de um drama?
IVAN: - Isso mesmo.
MARCONDYS: - Mas, temos um convite para representar O Casamento em outro município. Se vocês toparem...
LUCIANO: - E como vamos? Precisamos de transporte para nos levar e ao mesmo tempo todo cenário.
ERIKA: - Podemos tentar pedir ajuda na prefeitura.
MARCONDYS:- Sim, afinal estamos fazendo a cultura da cidade acontecer. Com relação dos ensaios da peça Meninos de Rua vou pedir liberação da direção da nossa escola pelo menos duas aulas pra gente ensaiar.
ELENILTON: - Será que o diretor vai deixar?
MARCONDYS: - Só vamos saber se tentar! Gente, estamos começando algo muito grande aqui, que irá transformar nossas vidas. Um dia vão falar de cultura nesta cidade, e vão lembrar de nós. Sabe, não sei onde isso vai dar, se um dia iremos pra tv, e nos tornaremos famosos, mas com certeza seremos lembrados como o primeiro grupo de teatro desta cidade. E já que seremos lembrados, que seja por algo bom. Bora ensaiar?
LEILA/MARISA: - Fiz o exame.
MARCONDYS/FÁBIO: - E então? Qual foi o resultado?
LEILA/MARISA: - Não posso ter filhos, não posso ser mãe.
MARCONDYS/FÁBIO: - Calma querida. Calma!
LEILA/MARISA: - Como posso ter calma? Me sinto tão infeliz, Deus tirou de mim o que há de mais precioso para uma mulher, o direito de ser mãe! 
MARCONDYS/FÁBIO: - Marisa... Podemos adotar uma criança.
LEILA/MARISA: - Não é a mesma coisa. Sempre sonhei com um filho. Um filho meu. Gerado no meu próprio ventre.

CENA VI
LEILA: - Gente, estou extasiada até agora.
GESY: - Foi muito legal! A apresentação em praça pública foi um sucesso!
IVAN: - Foi mesmo. Muito melhor que eu esperava.
MARCONDYS: - Parabéns meninos e meninas. Graças a dedicação de todos nós, mais uma vez, conseguimos. Meninos de Rua foi um grande sucesso. E o mérito é de vocês.
ERIKA: - Parabéns! Fiquei encantada. E da plateia pude perceber o grande sucesso de vocês. Helenilton Vigário... que linguinha foi aquela? (Imita) Oh cadu, não me olhe assim, que eu fico, emocionado. (Riem)
ELENILTON: - Nunca senti algo como ontem, vê toda aquela gente, as autoridades nos assistindo...
LUCIANO: - Que moral. Me senti uma celebridade.
CIÇA: - Minha mãe falou, que na cidade não fale em outra coisa... Disse até que está orgulhosa.
IVETH: - Mainha também gostou.
IVAN: - Não podemos deixar de agradecer ao Marcondys por nos presentear com esse texto, nos dirigir e além de tudo acreditar na gente.
MARCONDYS: - É um trabalho em equipe. Fizemos dois grandes sucessos em tão pouco tempo. Agora temos que pensar no próximo.
LUCIANO: - E o que está Pensando?
MARCONDYS: - Então Luciano, estou pensando em algum coisa maior. Uma peça meio tv teatro.
ERIKA: - Acho uma ideia legal. E poderíamos filmar pra guardar de recordação. Conheço uma pessoa que filma.
GESY: - Mas, deve ser muito caro.
IVAN: - Pagamos com parte da bilheteria.
MARCONDYS: - Se todos concordar...
TODOS: - Eu concordo!
LEILA: - Mas onde faremos?
MARCONDYS: - Conseguimos o prédio abandonado onde funcionava o banco. A prefeitura nos emprestou.
ERIKA: - O espaço é bom e bem grande. Só nos resta arregaçar as mangas, fazer uma limpeza e mandar vê.
IVAN: - Então temos agora uma sede?
MARCONDYS: - Estamos chiques! Mas, temos muito que fazer para colocar isso pra funcionar. Fui lá com a Érika e lá precisava de uma mão de obra. A prefeitura resolveu nos ajudar e amanhã enviará alguém pra pintar e consertar a fiação.
LUCIANO: - Que pensa em fazer?
MARCONDYS: - Aqui em Mataraca, só fizemos uma apresentação da peça o Casamento. Então pensei em apresenta-la novamente e cobrar ingresso. Um preço popular, simbólico. Que acham?
ÉRIKA: - Acho justo. Tenho certeza que conseguiremos. Pra isso, temos que fazer ingressos e vender antecipadamente, assim teremos mais ou menos noção de quantas pessoas irão assistir.
IVAN: - Isso é muito bom.
IVETH: - Nossa! Está tudo dando certo.
MARCONDYS: - Um dia, todos, alguns ou uns de nós estaremos na tevê. Eu acredito, não acho impossível. O Cultura jovem está nos dando uma grande possibilidade. De se conhecer, e de apesar da ausência de qualquer esperança, diante das condições precárias, nós estamos reescrevendo a nossa própria história de vida e ressignificando a arte.
LEILA: - Mas como vamos fazer pra ter cortinas, as luzes do teatro... e o som? Tem que ser bom, não tem?
MARCONDYS: - Os refletores teremos que improvisar. Temos que ser criativos. Com relação ao som, falei com Tonho e ele tem um bom som, gostou da ideia e será nosso sonoplasta.
ERIKA: - As cortinas eu consigo.
MARCONDYS: - Então é isso... Amanhã nos vemos na escola e conversamos mais sobre o assunto. Hoje a noite vou sentar e vou já começar a rascunhar a nova peça. (Todos saem)

CENA VII
ERIKA: - Gente, quero dividir uma coisa com vocês.
LEILA: - Coisa boa ou ruim?
IVAN: - Pela cara, é bom.
MARCONDYS: - Fala.
ERIKA: - Estava conversando com minha mãe e com meu pai. E nós vamos fazer uma festinha, para comemorar meu aniversário... Então pensei, por quê não fazer aqui no Cultura.
MARCONDYS: - Eu acho legal. Vai chamar todo elenco? Incluindo o pessoal da dublagem?
ERIKA: - Não, eu pensei em chamar algumas pessoas... Mas a festa, não tem nada a ver com o grupo. Só vou usar o espaço.
MARCONDYS: - Tudo bem. Embora eu ache que esse evento vai ser disputadíssimo... Mas creio que vão entender.
ERIKA: - Então está certo. Vamos Leila?
LEILA: - Vamos. Tichau!
IVAN: - Tichau! (Elas saem)
MARCONDYS: - Vai ser problema pra algumas pessoas entenderem.
IVAN: - Mas, é aniversário dela... Particular.
MARCONDYS: - Verdade.

CENA VIII
(Estão sentados no banco velho de aço em frente ao mercado municipal, há uma música nostálgica no fundo)
MARCONDYS: - Aqui parece um cenário de filme...
IVAN: - Parece mesmo.
MARCONDYS: - Leu o livro que te emprestei?
IVAN: - Os Rodrigues?
MARCONDYS: - Não.
IVAN: - Éramos seis.
MARCONDYS: - Sim.
IVAN: - Estou lendo.
MARCONDYS: - Gostando?
IVAN: - Muito.
MARCONDYS: - Fico imaginando transformar esse livro numa novela.
IVAN: - Seria maravilhoso.
MARCONDYS: - Gostaria de fazer parte do elenco.
IVAN: - Também. Será que um dia vamos está na teve?
MARCONDYS: - Não quero fama, dinheiro ou qualquer outro coisa. Quero fazer arte. E não me importa que tenha que fazer, desde que não viole meu caráter ou meu corpo pra conseguir viver da minha arte.
IVAN: - Dizem que pra entrar na teve tem que fazer sexo com pessoas... O famoso teste do sofá.
MARCONDYS: - Prefiro acreditar no talento. Sei que teremos muitos nãos... Mas, uma hora seremos reconhecidos.Tudo está na vontade de Deus. Se ele não quiser, você pode virar o mundo de cabeça pra baixo, nada conseguirá.
IVAN: - Você vai pro Rio de Janeiro?
MARCONDYS: - Mais fácil. Minha família é de lá...
IVAN: - A globo fica lá.
MARCONDYS: - Também.
IVAN: - Sonho em sair desta cidade...
MARCONDYS: - Vai conseguir. Tem que acreditar e ir à luta.
IVAN: - Tenho uma tia no Rio.
MARCONDYS: - Legal. Cara, se é tua chance. Tenta! Aqui, que futuro teremos? Você é um cara muito engraçado, o teu personagem Pipitinho da Escola Muito Engraçada, era maravilhoso, tua veia é muito cômica.
IVAN: - Tento ser engraçado pra disfarçar minha tristeza, minhas angústias...
MARCONDYS: - Tenho percebido. Há uma grande tempestade em teu semblante. Mas cara, seja lá o que for, que te oprime tanto, se você é o que é, é por que Deus permitiu. Gosto muito do versículo da bíblia que diz: se sou eu assim, porque sou. E isso explica muito. Não adianta lutar contra a natureza. O amor, é abstrato, nós somos concretos... Como vamos dar forma a ele, depende exclusivamente de nós.
IVAN: - Magali tem sido uma grande amiga, conselheira. Tem me ajudado muito com palavras de amizade e conforto.
MARCONDYS: - É um ser especial. E um desses anjos que toma a forma de humana e faz toda diferença em nossas vidas.
IVAN: - Verdade. Sorte nossa ter uma professora de arte como ela.
MARCONDYS: - Professora e amiga. Grande incentivadora das artes em Mataraca.
IVAN: - Verdade.
MARCONDYS: - Já pensou, daqui há uns dez anos a gente se encontrar aqui, de frente a esse mercado, nesse mesmo banco, com esses postes antigos, e a gente relembrar tudo isso que estamos vivendo?
IVAN: - E olhando para as estrelas, contemplando uma lua tão bonita quanto esta.
MARCONDYS: - Sabe Ivan, não sei como vai ser o futuro, mas, o que eu puder fazer para que seja no mínimo satisfatório no qual minha arte permaneça viva, e eu possa vivenciar isso todos os dias, além de encontrar o amor, seja ele como for, apenas que seja amor, eu serei o cara mais feliz do mundo.
IVAN: - Admiro tua forma, tua determinação...
MARCONDYS: - E eu o teu bom humor. Apesar de saber que tem uma vida difícil, está sempre bem humorado, alegre e é por todos querido.
IVAN: - Obrigado. Tenho sorte por ser seu amigo.
MARCONDYS: - Temos sorte. Na vida nada é por acaso. Tudo tem um propósito.
IVAN: - Já é tarde. Tenho que ir.
MARCONDYS: - Você é muito corajoso. Eu morreria de medo em seguir essa estrada escura até sua casa, quase meia hora de caminhada... Deus é mais! Se aparece uma alma penada, eu caio duro. Será duas!
IVAN: - Tenho que ir...
MARCONDYS: - Tchau! Até amanha.
IVAN: - Vou cantando a música do Ghost!
MARCONDYS: - Melhor não. Acabamos com a aula de inglês. Nunca vi tanta gente desafinada numa única sala. (Ivan sai cantando) Tomara que tenha gente na rua, passar pelo cemitério é fogo! (sai)

CENA IX
Cortinas fechadas, elenco vê o publico pelas frestas.
LEILA: - Gente! Estou besta. Olha quanta gente...
GESY: - Meu Deus!
LUCIANO: - Tem muita gente... Não dá mais pra colocar pessoas aqui dentro.
IVAN: - Tem gente até nas vigas!
MARCONDYS: - Não deixa mais ninguém entrar.
ERIKA: - Gente! Que medo.
MARCONDYS: - Estão prontos? Vamos...
ELENILTON: - Calma ai... Não tô sentindo minhas mãos.
MARCONDYS: - Relaxa cara, acredita no teu talento.
LUCIANO: - Vou pedir pra fechar a porta.
CIÇA: - Vou ter um troço.
IVAN: - Não antes do espetáculo...
IVETH: - Ai nego, tô com medo.
MARCONDYS: - Fica calma! Ensaiamos muito pra isso. Ivan, vê se o pessoal que vão dublar então todos prontos.
ERIKA: - Vamos Marcondys?! Apresentar nossos dubladores.
MARCONDYS: - O número musical nos espera. Bora. Mas antes... Gente junta aqui... Mãos... Merda! (Apagam-se as luzes. Aplauso!)

CENA X
IVAN: - Me sinto tão envergonhado.
MARCONDYS: - Acontece. É algo fora do nosso controle.
IVAN: - Ele não tinha o direito de invadir o palco e me fazer passar todo aquele vexame.
MARCONDYS: - É o preconceito, o machismo... Essa mania que as pessoas têm de acreditar que o teatro ou as artes em geral é coisa de viado.
IVAN: - Ele falou um monte pro meu pai.
MARCONDYS: - E teu pai?
IVAN: - Não gostou muito. Claro que houve exageros da parte dele. Disse que eu tava fazendo papel de palhaço, sendo ridículo diante de todo mundo.
MARCONDYS: - Sabe Ivan, eu sei que não é fácil, mas, você tem que enfrentar os obstáculos que surgem diante de você. É ser artista que você quer? Então tem que se acostumar com as criticas, saber absorver as boas, analisar as ruins, pois elas podem nos fazer crescer. Ai quando você chegar lá, e estiver com sua carinha estampada nas revistas, e entrando em todos lares pela tv. Esses mesmos que te criticam, e que até te acham ridículo, irão encher a boca pra dizer o quanto acreditavam em você e o quanto tem orgulho de ser seu amigo, irmão, primo e assim por diante.
IVAN: - Isso é verdade.
MARCONDYS: - Mas não se deixa abater por isso não. Você e Roberta, arrasaram com a dublagem de Vanger Leonel, Vamp.
IVAN: - Foi bom mesmo.
MARCONDYS: - Cara, você é um talento. Não deixe que ninguém lhe diminua, ou tente sufocar em você toda essa vida que há pulsando ai dentro.
IVAN: - E quando começamos a ensaiar a peça de natal?
MARCONDYS: - Amanhã. Mas antes que tal a gente pensar em fazer uma matinê de brincadeiras e jogos para crianças lá no Cultura?
IVAN: - Será?
MARCONDYS: - Roberta fazia sucesso com seus baixinhos...
IVAN: - Mas ela é amada por todos, é praticamente uma Xuxa mataraquense. Sem contar no sucesso como cover da Patrícia.
MARCONDYS: - Podemos tentar um novo formato. Quem sabe dá certo.
IVAN: - Acho que sim, penso que não... Quem sabe talvez!
MARCONDYS: - Você e seu bordão! Isso é um sim?
IVAN: - Bora tentar. E que meu irmão não invada outra vez o meu show.
MARCONDYS: - Melhor não! Manchete! Irmão põe astro pra correr diante a multidão! (Riem)
IVAN: - Que vergonha! (Apagam-se as luzes)

CENA XI  
ERIKA: - Dona Mariquinha já comprou o ingresso dela.
MARCONDYS: - Se um dia eu fizesse um teatro eu daria a esse teatro o nome dela, Maria Teodora Gomes Barbosa Simplesmente Teatro Dona mariquinha.
IVAN: - Ela é nossa maior fã.
MARCONDYS: - Muito mais que isso. Nossa maior incentivadora. Gente, uma mulher que muito mal é alfabetizada, mas que apoia a arte como a coisa mais importante e linda do mundo...
IVETH: - Ela é sempre a primeira a chegar.
GESY: - Vem sempre com aquele paninho limpinho, vai limpando cadeira por cadeira...
MARCONDYS: - É um orgulho pra mim, ter uma parenta tão especial.
HELENILTON: - O Luciano tem uma coisa pra falar. Fala...
LUCIANO: - O padre me pediu pra fazer um convite ao grupo para participar de um festival de peça que reunirá todo vale do Manmanguape representando uma peça com os temas dados a cada grupo.
CIÇA: - E como funciona?
LUCIANO: - Pra nós fica, o tema O Jovem e a Família. E aqui neste papel estão todas as regras. Se todos toparem, ai, eu digo ao padre, e ele nos escreve para representar nossa cidade.
LEILA: - Eu acho legal.
ÉRIKA: - Eu topo.
IVETH: - Eu também.
GESY: - Tenho vê se painho deixa.
IVAN: - Tô dentro.
HELENILTON: - Se tiver lugar pra mim...
MARCONDYS: - Eu nem preciso falar. Vou ler as regras, elaborar a peça, e depois apresento o texto pra vocês. E vamos arrebentar a boca do balão. Nós somos bons! (Abraço, coletivo. Luz se apaga)

CENA XI
ERIKA: - Estou preocupada...
MARCONDYS: - Com que?
ERIKA: - Viu que chegou um circo na cidade?
MARCONDYS: - Vi sim. Isso é ruim pra nós...
ERIKA: - Além do circo, tem o parque de diversão.
MARCONDYS: - Isso vai dividir e muito o público.
ERIKA: - E sem contar que é fim de ano...
MARCONDYS: - Que pensa?
ERIKA: - Não seria melhor adiar?
MARCONDYS: - Pro ano que vem?
ERIKA: - Sim.
MARCONDYS: - esqueceu que está tudo pronto? Cenários, filmagem, cartazes, os ingressos...
ERIKA: - Eu sei...
MARCONDYS: - Érica, demos um duro danada pra montar esse cenário. Trouxemos quase tudo da casa de sua mãe. Está parecendo um cenário de novela. Vamos levar adiante. Ainda que seja um fracasso de público. Mas teremos a peça gravada em vídeo. Uma lembrança, que será eterna.
ERIKA: - Vendo por esse lado...
MARCONDYS: - Não fazemos tudo isso por vaidade, mas, por amor. Desta vida a gente só leva o que vivemos. Vamos nos permitir a viver isso.
ERIKA: - Tem razão. É, vamos vê no que vai dar.
MARCONDYS: - Obrigado.
ERIKA: - Obrigado?
MARCONDYS: - Por me apoiar.
ERIKA: - Estamos juntos. (Apagam-se as luzes)
CENA XII
CIÇA: - Gente, estou muito feliz. O Jovem e a Família, foi um sucesso!
IVAN: - Vencemos!
ERIKA: - Quando ouvi os aplausos mal pude acreditar.
MARCONDYS: - Sempre disse que vocês são bons.
HELENILTON: - Sabe, depois que tudo termina, que o nervosismo passa, dá uma sensação de satisfação, de dever cumprido tão bom.
ERIKA: - Mas, verdade seja dita, o texto é muito bom.
IVAN: - Foi uma boa sacada, incluir no texto, todas temáticas que havia no festival.
MARCONDYS: - como pegamos os jovem e a família como tema principal, ficamos livres de usar os demais temas como subtemas e deste modo contar a história desse jovem e desta família.
CIÇA: - Eu tava com medo na hora de contracenar com Ivan...
MARCONDYS: - Ele segurou bem né? Deixou um pouco de lado, este lado cômico. E convenceu no drama vivendo um cara problemático e drogado.
IVAN: - Graças a sua direção, com muitas broncas.
CIÇA: - E na hora de chorar? Tive medo de não conseguir.
MARCONDYS: - Adorei vê as senhorinhas chorando com pena de você.
ERIKA: - Vocês fizeram aquela cena de briga tão natural...
IVAN: - Até me furei com a seringa...
CIÇA: - E quase quebraram os instrumentos do pessoal... (riem)
HELENILTON: - Vocês viram? A professora de religião veio nos cumprimentar. Elogiou pra caramba! Posso contar um segredo? Vai dar dez pra todos na matéria dela.
IVAN: - Marcos, nosso professor de português elogiou a qualidade do texto. Disse até que tem coesão e coerência. Olha que chique!
MARCONDYS: - Fico feliz por tudo isso. O Cultura cada dia mais está crescendo. E com esse crescimento, nossa reponsabilidade de fazer melhor. Faz um trecho Cícera e Érika.
CIÇA/RENER: - Renato, onde você vai? (ele sai, entra Eloísa)
ÉRIKA/ELOÍSA: - Onde foi seu irmão, ele quer acabar comigo, já não chega o que ouví de seu pai ontem? (Rener fica calada observando a mãe) Rener, o que há com você? Não está me ouvindo?
CIÇA/RENER: - Estou lhe ouvindo! (irônica) Claro mamãe que estou lhe ouvindo! A senhora quer mesmo saber o que há comigo? Quer?! Vamos responda mamãe!
ÉRIKA/ELOÍSA: - Claro que quero!
CIÇA/RENER: - E por que dona Eloísa, por que se daria esse trabalho?
ÉRIKA/ELOÍSA: - Você é minha filha.
CIÇA/RENER: - Quantas vezes você parou para me perguntar, se eu precisava conversar sobre amor, quantas vezes me perguntou sobre sexo, se eu sou feliz, o que eu quero e o que penso sobre o mundo? Quanta vezes, eu olhava pra você e sentia vontade de desabafar minhas dúvidas, angustia e inseguranças, quantas vezes lhe olhava com carência, com uma enorme vontade de lhe abraçar e chorar no seu ombro todas minhas incertezas e decepções. Eu não precisava apenas de uma mãe, mas também de uma amiga. Amiga esta que nunca tive.
ÉRIKA/ELOÍSA: - Como pode dizer isto, eu sou sua amiga.
CIÇA/RENER: - Amiga é aquela que podemos confiar, desabafar...
ÉRIKA/ELOÍSA: - Você sempre pode contar comigo...
CIÇA/RENER: - Não mamãe, você sempre foi dona Eloísa, escrava das opiniões alheias.
(Apagam-se as luzes)

CENA XIII
MARCONDYS: - Que cara é essa?
IVAN: - Tenho uma coisa pra te falar...
MARCONDYS: - Fala.
IVAN: - Quero pedir que me dispense da peça de natal.
MARCONDYS: - Não acredito. Por quê?
IVAN: - Estou muito cansado. E você sabe que ando muito pra chegar até aqui...
MARCONDYS: - Não tem nada a me dizer?
IVAN: - Não.
MARCONDYS: - Você está deprimido. Se abre comigo... Sou teu amigo.
IVAN: - Estou confuso... Não consigo memorizar as falas, tá muito difícil de me concentrar...
MARCONDYS: - Que há?
IVAN: - Um dia conversamos sobre isso...
MARCONDYS: - É o que estou pensando?
IVAN: - Talvez...
MARCONDYS: - Eu já sei de tudo... Já percebi.
IVAN: - Então, te peço, respeita meu momento.
MARCONDYS: - Tá bom. Mas, promete que ficara bem... E quando quiser conversar, e se sentir pronto pra dividir isso comigo, saiba que estarei aqui.
IVAN: - Eu sei, e te agradeço.

CENA XIV
GESY: - Gente, mas, ia tudo tão bem... O baile estava perfeito, a banda ótima, e o bar vendendo de vento e polpa...
ÉRIKA: - Nós temos que fazer ela confessar, sabemos que foi ela...
MARCONDYS: - Calma Érica. Sabemos que foi ela, mais não podemos provar.
IVAN: - Ela ficou sozinha no caixa. E rapidinho foi embora. E depois da saída, o dinheiro sumiu.
LEILA: - Ainda bem que conseguimos o dinheiro pra pagar as despesas...
ÉRIKA: - Gente, que prejuízo!
IVETH: - Eu disse que ela não é flor que se cheira. Ladra dos infernos.
IVAN: - Banda, bebidas, petiscos... Quanto prejuízo.
LEILA: - Devia denunciar ela, e pedir pra dá um aperto...
HELENILTON: - Falou a mulher do delegado!
LEILA: - Cala a boca!
HELENILTON: - Ai que meda!
MARCONDYS: - Saímos no prejuízo, mas, arcamos com nossos compromissos.
GESY: - Gente, é muito dinheiro na mão de uma vaca. Vamos deixar pra lá?
HELENILTON: - Acusar sem provas, é crime.
MARCONDYS: - Verdade. Não temos muito que fazer.
ÉRIKA: - Só amargar esse grande prejuízo.
MARCONDYS: - Na verdade pessoal. Ela perdeu muito mais que nós. Veja bem, ela é uma pessoa que toda cidade torce o nariz, nosso grupo a acolheu de braços aberto e a tratamos como um de nós. Ele fez isso, levou uma grana? Levou. Mas como Judas, sofrerá as consequências.
GESY: - Painho que tinha razão! Vaso quebrado não se recupera, se joga fora!
CENA XV
IVAN: - Que vontade de trucidar aqueles pestinhas!
MARCONDYS: - Foi um fracasso a matinê...
IVAN: - Põe fracasso nisso! Ouvi aqueles praguinhas gritando em coro do lado de fora do Cultura: “Quero meu dinheiro de volta, Quero meu dinheiro de volta... “ Repetidamente. Até ecoa nos meus ouvidos.
MARCONDYS: - Era só devolver.
IVAN: - Nem morto! E meu trabalho? Todo contorcionismo... Não aguentava mais dublar tantas músicas infantis. E aquela maquiagem de palhaço, com aquela roupa quente? Devolvo nada... Mas manino!?
MARCONDYS: - Liga não. Passa! Tudo passa nessa vida.
IVAN: - Vou ter que levar no meu currículo esse fracasso.
MARCONDYS: - Não é só o sucesso que nos faz crescer, o fracasso também. Quem dos famosos nunca passou por um fracasso? Fiquei sabendo que Suzana Vieira teve uma estréia com teatro praticamente vazio quando fez Jeannie é um gênio.
IVAN: - Pois é! Eu que o diga.
MARCONDYS: - Mas, mudando de assunto... Temos um convite, para participar de um festival no Rio Grande do Norte.
IVAN: - No Rio Grande do Norte?
MARCONDYS: - Sim. Helenilton e Luciano me pediram um texto que fale do Homem do Campo e suas dificuldades. É um pedido da igreja, e querem que nós, represente nossa cidade.
IVAN: - Acho legal.
MARCONDYS: - Essa peça terá um narrador. Pensei na Erika. Que acha?
IVAN: - Acho uma boa ideia.
MARCONDYS: - Também. Vou falar com ela.
IVAN: - Temos um trabalho na escola pra apresentar, lembra?
MARCONDYS: - Claro. E já fiz o roteiro. Faremos um show, que se chamará Show de Caloucos. E pra o trabalho de português convidei a Neide pra fazer um trecho da peça Pedreira das Almas de Jorge Andrade. Texto esse que tem um trecho no livro de português. Já a Erika além de representar no Show de caloucos irá fazer uma narrativa sobre como era a vida a anos atrás, quando podíamos usufruir das belezas da natureza incluindo o Rio Camaratuba, hoje poluído pela usina. Pronto?
IVAN: - Prontíssimo! (Apagam-se as luzes)

CENA XVI
IVAN: - E ai people!
LEILA: - Chegou o cômico.
ÉRIKA: - Eu estava aqui me lembrando da apresentação no Cumaru...
IVETH: - Foi um sucesso vai...
HELENILTON: - Tava abarrotado de gente.
CIÇA: - Pior foi à volta.
IVAN: - Muita irresponsabilidade do seu Zé do ônibus ter vindo embora e nos deixado lá.
LEILA: - Que horror, né?
IVAN: - Muito engraçado, isso será história para contar. Ficará para posteridade. Entrará na nossa biografia.
IVETH: - Essa parte não deve entrar.
HELENILTON: - Imagina só... O grupo Cultura Jovem, foi abandonado por carreto, pegou carona num Romeu e Julieta, jogou todo cacareco em cima, e pegou estrada num caminhão de cana de açúcar a caminho de Mataraca (Com sotaque estrangeiro)
CIÇA: - Quem sabe a usina Socican não se torna nossa patrocinadora? (Todos riem)
MARCONDYS: - Oi povo?!
IVETH: - Nego a gente está comentando sobre a apresentação e o ultimo ato... O caminhão de cana de açúcar.
MARCONDYS: - Nem me fale... Não gosto nem de lembrar.
LEILA: - Mas, graças a Deus que apareceu esse caminhão e alma boa...
MARCONDYS: - Verdade. Bom, mudando de assunto... Nós vamos representar uma peça na feira cultural da cidade...
IVAN: - Até onde sei, o primeiro grau irá competir com o segundo grau. E nós vamos representar as artes cênicas, competindo com as meninas do 5º ano.
ÉRIKA: - Gente, não podemos perder, de jeito nenhum!
MARCONDYS: - E não vamos. Temos só um probleminha...
CIÇA: - Qual?
MARCONDYS: - Vou passar a palavra para nosso caro, Helenilton Vigário.
HELENILTON: - Fomos convidados pra representar nossa cidade no Rio Grande do Norte...
IVETH: - E como faremos pra ir pra tão longe?
HELENILTON: - A igreja vai nos fornecer transporte.
MARCONDYS: - Eu já escrevi a peça com o tema solicitado. Querem algo sobre o trabalhador rural e a reforma agrária. Então escrevi esse texto, chama-se Homem do Campo. Temos que fazer um revezamento de elenco pra poder dá conta das duas peças e mais a outra que estou escrevendo pra igreja da irmã Zeza, que é bíblica chamada A Filha de Jairo. Na filha de Jairo o elenco é da igreja, só eu que farei uma participação.
GESI: - Painho não vai deixar eu ir pra tão longe.
MARCONDYS: - Vamos fazer, assim. Cada um de vocês conversam com seus pais e vamos vê quantos permitirão. Como Eliane fez o Casamento num papel extra, gostaria de testa-la num papel maior...
IVETH: - Acho legal.
MARCONDYS: - Se tudo correr bem, segunda a gente começa a ensaiar Homem do campo.
ÉRIKA: - E a da feira cultural? Qual peça e quem fará?
MARCONDYS: - Da feira, faremos um texto chamado O Pequeno Engraxate. Tem que ser uma peça curta, segundo o regulamento, quase uma esquete. Eu farei dois personagens...
GESY: - Que chique! Rute e Raquel...
MARCONDYS: - ... o pai bêbado e o empresário que ajuda o menino. Ivan, será o menino e convidarei a Neide para fazer a sofrida mãe. E vocês meus caros, nos darão apoio, principalmente na minha caracterização. Assim vocês ficam livres pra ensaiar homem do campo.
LEILA: - Tem ideia de quem será escalado para o Homem do Campo?
MARCONDYS: - Penso em mim, Ivan, Leila, Érika como narradora, disso não abro mão, Helenilton, que não fará padre desta vez, fará um coronel, também vou chamar Melryn Love, amor, para fazer a perua, esposa do coronel e Eliane.
CIÇA: - Doidinha, doidinha...
LEILA: - Mas, é um barato trabalhar com ela.
MARCONDYS: - Iveth e Gesy ficam livres, descansa para próxima.
ERIKA: - Fiquem calmas, continuam contratadas. (Todos riem) Vamos dar uma lida nessa cena. Pode fazer Gilmar, Helenilton?
HELENILTON: - Bora...
MARCONDYS: - Eu faço o João.
MARCONDYS/JOÃO: - Boa tarde seu Gilmar...
HELENILTON/GILMAR: - Boa... Seu João, algum problema com a fazenda?
MARCONDYS/JOÃO: - É que meu fio, o Zeca num sabe?! Ele tá duente, e eu...
HELENILTON/GILMAR: - Então vieste ao lugar errado, embora me chame de doutor, mais não sou médico.
MARCONDYS/JOÃO: - É que meu fio tá num hospitá... Ele tá cum probrema nu coração e precisa dum apareio par cuntinuá vivo num sabe.
HELENILTON/GILMAR: - E o queres que eu faça?
JOÃO: - Descupe meu atrevimento é que não tenho a quem recorrer, intão tomei a liberdade de lhe pedir ajuda...

MARCONDYS/JOÃO:: - Me emprestano um dinheiro para meu fio poder fazer a tal operação...

HELENILTON/GILMAR: - E como pretende pagar este empréstimo?

MARCONDYS/JOÃO: - Ora como? Cum meu trabaio.

HELENILTON/GILMAR: - Eu gostaria muito de ajudar, mais no momento estou com uns probleminhas, as ações cairam e eu investiu uma boa grana, e sabe como é, negócios são sempre arriscados...

MARCONDYS: - Por hoje, é isso. Liberados! Érika... Depois quero falar contigo, sobre os figurinos.
ERIKA: - Ok. Amanha a gente conversa sobre. (Todos saem. Fica Ciça)
CIÇA: - Marcondys...
MARCONDYS: - Fala Ciça Marins...
CIÇA: - Mainha mandou te perguntar se você sabe de alguma escola de teatro, pois eu quero fazer o curso, quero ser profissional.
MARCONDYS: - Que legal! Fico orgulhoso.
CIÇA: - Gosto muito de tudo isso.
MARCONDYS: - Soube que está namorando.
CIÇA: - Estou.
MARCONDYS: - E ele, que diz, disso tudo?
CIÇA: - Não gosta muito. Mas, não ligo.
MARCONDYS: - Uma hora você terá que fazer uma escolha.
CIÇA: - Largo o teatro não.
MARCONDYS: - Assim espero. Você tem muito talento.
CIÇA: - Obrigada.
MARCONDYS: - Mas, com relação a escola de teatro, creio, que só deve ter uma escola, em João pessoa.
CIÇA: - Vou vê isso... Até amanhã... (Beija no rosto, há uma paixão platônica entre os dois. Saindo)
MARCONDYS: - Ciça...
CIÇA: - Oi?
MARCONDYS: - Desiste de nós não.
CIÇA: - Vou não. (Sai)
MARCONDYS: - Vai. (Apagam-se as luzes)

CENA XVII  
MARCONDYS: - Bora fazer a cena III do segundo ato.
CIÇA: - Mas, e a Érika?
MARCONDYS: - Olha gente... Está lá fora... Pelo jeito não muito preocupada com a peça. Gente, a estreia é na semana que vem, e devido a trabalhos e provas escolares, estamos muito atrasados...
CIÇA: - Estou ainda bastante insegura.
LEILA: - Eu preocupada. Será que Eliane vai dar conta do texto?
MARCONDYS: - Do texto creio que vai... O problema é a interpretação.
IVAN: - E a Amor?
MARCONDYS: - Vem no ensaio de amanhã. Bora ensaiar. Ivan... a Gesy substitue, Eliane hoje.
GESY/NINA: - Zeca. (T) Eu fico aqui pensano, num sabe?! Pego a imaginá... como vai sê minha vida daqui á algum tempo, num sabe?!
IVAN/ZECA: - Eu também, Nina, num sabe? Mai eu acho que oscê só tá tocano nesse assunto par vê se eu falo de casamento, num é?
GESY/NINA: - Num é, não! Num é nada disso não. Vôlte!!! Ora essa home! Eu sei que oscê gosta deu, e que, quer casá com eu. Eu só tava pensano vice?!
IVAN/ZECA: - Nina as vez eu fico aqui matutando, perdido com meu pensamento, e chego a sonhá com oscê linda, toda de branco, numa alvura só, linda como nunca!
GESY/NINA: - Ai Zeca, se eu fô pensá nisso, botâ isso na minha cabeça agente num casa nunca!
IVAN/ZECA: - (abaixa a cabeça triste)
GESY/NINA: - Ah Zeca! Falei mais que a boca, num foi? Me perdoa eu, num devia falá desse jeito... Sonhar num enche barriga, mai também num custa nada, num é mermo?
IVAN/ZECA: - Tá certo! Oscê num deixa de tê razão. Sou um caipira, criado no campo, homem bronco, bicho do mato, sem estudo que futuro posso te oferecer? Se num tenho nem dinheiro par pagá o juis, quanto mai um vestido desses...
CIÇA: - Tem gente na porta. É a Erika.
MARCONDYS: - Está sozinha?
CIÇA: - Está com a Geane.
MARCONDYS: - Vamos continuar o ensaio.
IVAN: - Mas, ela está pedindo pra abrir...
MARCONDYS: - Se abrir está porta o ensaio não avança... Ela vai continuar de brincadeiras com a amiga, nos atrapalhando. Temos um compromisso, e não temos tempo. Vocês sabem o quanto isso é sagrado pra mim... Não posso permitir que as brincadeiras nos distraia prejudicando nosso trabalho. (Silencio) Vamos retornar aos ensaios... (Batidas mais forte) Abre.
ERIKA: - Aqui está o texto. (Joga) Você não tinha o direito de me deixar do lado de fora. Quem você pensa que é? A partir de hoje, não conte mais comigo. Aqui termina minha história com o grupo e minha amizade com você. (Sai) (Silêncio)
MARCONDYS: - Acabou o ensaio. (Todos saem em silêncio)(Marcondys fica paralisado o foco de luz vai fechando nele até sumir)

CENA XVIII
IVAN: - E agora?
MARCONDYS: - O show tem que continuar. Sempre ouvi dizer que o ator não deve levar para o palco, os seus problemas. No palco quem vive seus dilemas, é o personagem.
IVAN: - Mas, não temos mais a narradora da história.
MARCONDYS: - Eu faço.
IVAN: - Fará o narrador e o personagem?
MARCONDYS: - Sei que não será fácil. Mesmo porque projetei essa peça de um outro jeito.
IVAN: - E Erika?
MARCONDYS: - Não sei. Você sabe o quanto me dói. Não sei se a história desse grupo vai um dia me perdoar por esse ato. Mas, fiz o que tinha que ser feito, pelo bem comum.
IVAN: - Eu te entendo. Realmente, elas estavam atrapalhando os ensaios...
MARCONDYS: - Às vezes penso, se não deveria ter feito diferente, ter tido outra atitude. Temos uma história tão bonita.
IVAN: - Vocês tem uma amizade tão bonita...
MARCONDYS: - Mas não resistiu à primeira tempestade.
IVAN: - Tenta conversar com ela.
MARCONDYS: - Já tentei. Mas, ela não reconhece que errou. Está irredutível. E eu sou o monstro.
IVAN: - Que pena! Foi chocante presenciar aquela cena, ela entrando na sala de ensaio, dizendo todas aquelas coisas, jogando o texto no chão e dizendo que estava fora.
MARCONDYS: - Te juro Ivan, doeu muito em mim. Sabe o quanto gosto e admiro a Érika. Ela é muito importante pra nós, mesmo fora, se não voltar atrás, sua contribuição e importância pra esse grupo, nunca será esquecida. Então meu amigo, só nos resta... Merda!
IVAN: - Merda!

CENA XVIX
MARCONDYS: - Gente... Eu sei que não estão todos aqui. Mas, eu gostaria de mais uma vez agradecer a vocês pelas duas estreias... Na feira cultural e no Rio Grande do Norte. Apesar de toda dificuldade e pela falta que a Érica nos fez, conseguimos.
IVAN: - Me sinto muito orgulhoso pelo troféu de melhor peça de teatro na feira cultural e que apesar de tantos problemas que passamos e toda adaptação em Homem do campo, fomos aplaudidos, admirados e também ficamos em primeiro lugar.
CIÇA: - Eu estou muito feliz por tudo que está acontecendo. Por toda oportunidade. Mas sinto em informar, terei que dar um tempo no grupo.
HELENILTON: - O namorado dela não deixa mais ela fazer teatro...
CIÇA: - Cala boca Vigário!
HELENILTON: - Tô mentindo?
MARCONDYS: - É uma pena. Sentiremos muito sua falta. Você é uma de nossas estrelas. E você Leila? Vai nos deixar também?
LEILA: - Quem disse?
HELENILTON: - O delegado. Mesmo porque agora você é mulher do delegado.
LEILA: - Que chato! Cuida da tua vida. Bom, ele só não quer que eu faça cenas de beijo.
IVAN: - Não podemos esquecer que Amor fez um belo trabalho ao lado Helenilton e também as nossas misses, Roberta em Camaratuba, e Melry Love “Amor” que foi eleita miss Mataraca.
LEILA: - Que chique!
IVAN: - Sendo pessoas ligadas ao nosso grupo, ficamos muito felizes. E pensar que o ponta pé inicial foi com As Xuxetas.
MARCONDYS: - Fico feliz por tudo isso. E de verdade pessoal, quero aproveitar cada segundo, porque sabemos que tudo isso vai passar... O que espero que essas páginas possam ser revistas, lidas e guardadas com carinho, sem deixar a história do Cultura Jovem de Mataraca morrer. (Apagam-se as luzes)

CENA XX
MARONDYS: - Estou reunindo vocês aqui, por que está acontecendo algo muito desagradável. E eu preciso da ajuda de vocês.
IVETH: - Nossa nego, que tá acontecendo?
MARONDYS: - Lembram do microfone que comprei com nosso cachê?
IVETH: - Claro.
MARONDYS: - Eu emprestei ao Helenilton para uma celebração lá na igreja matriz. Mas, quando fui pegar, ele e a beata não quiseram devolver. Disse que o microfone era da igreja e que havia roubado.
LEILA: - Que absurdo! Como assim? Todo mundo aqui sabe que é nosso, que é do grupo.
MARONDYS: - Se recusam a entregar com essa afirmativa.
CIÇA: - Ou seja, lhe acusando de roubo.
GESY: - E a nota? Você ainda tem? Eu lembro que você mostrou a nota na ocasião, pra justificar o gasto do dinheiro.
MARONDYS: - Sim eu tenho a nota fiscal.
IVAN: - E agora? Que pretende fazer? Vai deixar pra lá e seguir adiante?
MARONDYS: - Se tem uma coisa que não consigo aceitar é com injustiça. E eu estou sendo injustiçado, acusado de roubo, de algo que é nosso. Compramos juntos e doamos para o grupo, todos assinaram a doação, então está tudo legal. Pelo microfone, valor financeiro, eu nem ligaria, daria de esmola. Mas, me acusar de roubo? Isso pesa.
IVETH: - E que vai fazer? Tomar a força?
MARONDYS: - Já procurei uma advogada, ela disse que posso processar os dois por injúria e difamação.
GESY: - Babado! “Guerra, eu, eu, quero guerra, hoje venho reclamar e o que que tem? Que que há?” (Canta)
IVETH: - Cala boca!
GESY: - Cala boca você boca de badalo.
IVETH: - E você tamborete de forró?!
GESY: - Posso ser pequena, mas, minhas unhas alcançam seus olhos...
IVETH: - Pois tente...
IVETH: - Calma meninas!
MARONDYS: - Quem vai cuidar disso é advogada que também está cuidando do processo de mudança do meu nome...
LEILA: - Não tem medo de mudar o nome?
MARONDYS: - Como você me conhece?
LEILA: - Como Marcondys.
MARONDYS: - Sou Marcondys, pra vocês, pra família e principalmente pra mim mesmo. Então, não há razão de ter outro nome em meus documentos.
IVAN: - E com relação ao microfone?
MARONDYS: - A advogada vai marcar uma reunião com eles e eu e vê se resolve amigavelmente. Só não levo ao tribunal, se devolverem e ainda me fizerem um pedido de desculpa por escrito.
GESY: - Já dá uma peça. O julgamento! Estrelando: O microfone! (Todos riem)

CENA XXI
MARCONDYS: - Animado pra formatura?
IVAN: - Não Vou participar.
MARCONDYS: - Como não? É uma coisa única.Acontece uma vez na vida.
IVAN: - Eu não quero participar. Sei lá, não sinto vontade.
MARCONDYS: - Para. Te conheço. Sei que está triste. Vamos conversar? Sabe que pode se abrir comigo.
IVAN: - Minha mãe me falou o quanto tua mãe tem nos ajudado.
MARCONDYS: - Que rola? Ivan, sou teu amigo. Se eu te der um presente, você não se sentirá ofendido?
IVAN: - Por que um presente me ofenderia?
MARCONDYS:- Quero te presentear com a roupa da formatura.
IVAN: - Não... Não posso...
MARCONDYS: - Ivan, não há vergonha alguma em precisar de ajuda e ser ajudado. Hoje, você passa por isso, mas, amanhã ou depois pode ser eu. E se você me estender a mão, ficarei muito feliz, pois acredito na lei do retorno. E eu cara, posso te ajudar. Não precisa se preocupar, ninguém saberá.
IVAN: - Não sei como te agradecer por tudo.
MARCONDYS: - Somos amigos, e amigos é pra essas coisas. E você já pensou no que vai fazer depois da formatura?
IVAN: - Vou pro rio de Janeiro. Já conversei com minha tia, e ela topou. E você?
MARCONDYS: - Vou pra São Paulo.
IVAN: - Será que seremos famosos?
MARCONDYS: - Não sei. Só sei que tudo que vivemos aqui, com o nascimento do grupo, nunca esqueceremos.
IVAN: - Verdade. Mas, como você nos disse. Tudo tem seu começo, meio e fim.
MARCONDYS: - Já que tem um fim. Que seja um final feliz.
IVAN: - Concordo!
MARCONDYS: - Vamos se despedir em grande estilo. Vamos fazer uma peça com teor evangélico...
IVAN: - Evangélico, por quê?
MARCONDYS: - Não temos mais o espaço. Mas a irmã Zeza me pediu pra apresentar algo na igreja dela, já que a peça Lição de Vida que escrevi pra ela não pode ser apresentada por causa da morte do pai da Ester. Então, pensei... Como vamos embora, seria bom a gente se despedir em grande estilo. Gran finale!
IVAN: - E o que pensou?
MARCONDYS: - Numa peça curta, de três personagens...
IVAN: - fala sobre o que?
MARCONDYS: - Sobre um cara que está em busca do seu caminho e entre encontros e desencontros, sexo, bebidas, drogas... ele encontra através de um amigo o caminho que o leva o Deus.
IVAN: - E como se chama a peça?
MARCONDYS: - Em Busca do Caminho.
IVAN: - Tudo a ver com esse momento que passamos.
MARCONDYS: - Verdade. Que caminho será seguiremos?
IVAN: - Não sei. A única coisa que sei que levarei tudo isso comigo, por toda minha vida.
MARCONDYS: - Teremos ainda muito pra contar.
IVAN: - Sim teremos.
MARCONDYS: - Tenho medo... A incerteza do futura nos põe a prova...
IVAN: - Apesar do medo, estou muito esperançoso.
MARCONDYS: (VÓZ OFF) – Ainda me lembro da sensação de pisar no palco pela primeira vez, o teatro estava vazio, e eu podia ouvir as batidas do meu coração e a respiração acelerada, que se misturavam com o barulho da madeira do palco. Ajoelhado, deitei minha cabeça sobre, e ali havia um barulho ensurdecedor, o cheiro de mofo inconfundível, e aquela sensação de vazio, me preenchia, e em segundos me transportava pra um êxtase inexplicável. Ela tanta emoção que agradecia a todas as forças ali presentes por está ali, e ali mesmo iniciava minha história de amor, com a certeza que era exatamente isso que eu queria pra mim, até o ultimo dia da minha vida.

O ATOR MARCONDYS FRANÇA PASSA POR TRATAMENTO MÉDICO EM SP

Afastado de suas funções e das redes sociais, o ator e diretor @marcondysfranca passa por tratamento médico após ser diagnostica...