junho 30, 2020

O MELODRAMA


O MELODRAMA
Melodrama tem sua origem no século XVII associada à ópera e Também à opereta italiana unindo música e texto, que posteriormente ajuda a compor o estilo que tratará da melodia do drama.
A palavra “melodrama” é originária do francês “mélodrame”. Etimologimamente é formada pelos termos “melos” (grego), que significa som, e “drame” (latim antigo), que significa drama.
Esse movimento estético aparece com força na Alemanha e França, nas últimas décadas do século XVIII. Mas se impõe como estilo artístico no XIX, através da forma final francesa - caracterizada pelas encenações populares dos Boulevards (du Crime) - e ao lado do drama romântico.
Mas é em “O Mercador de Londres” de Lillo (1732), em que a peça aborda assassinato, amor e vida cotidiana, começa a aparecer os primeiros tons do “Melodrama”. Foi neste mesmo período que Diderot lançou sua teoria sobre o Drama Burguês.
O francês René-Charles Guilbert de Pixerécourt (1773-1844) foi um dos autores mais importantes de melodramas de sua época, escrevendo um número aproximado de cem peças. É considerado o criador do Melodrama, em 1800 com sua obra Coeline, onde utilizou diversas máquinas, cenas de combate e danças para construção de suas cenas, alternando elementos estéticos da tragédia e da comédia. Outros grandes representantes desta forma de teatro são: o inglês Thomas Holcroft (1745-1809), o alemão August Friederich Von Kotzebue (1761-1819) e, nos Estados Unidos Dion Boucicault (1822-1890).
No Melodrama os problemas do povo são argumento dramatúrgico principal, e não apenas suporte das histórias da classe dominante. Trás aos palcos  operariado que vem de um passado de desilusões, onde a Revolução Francesa - e seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade – abria uma fleta apoio à plebe, que vê a burguesia ocupar o lugar da corte e influenciar na cultura local.
 As Companhias de Melodrama faziam parte da mesma classe social que as personagens do seu drama. Os atores melodramáticos atuavam para a massa miserável e honesta que amavam, e não para a burguesia e corte, e tratavam em suas peças personagens, expondo na trama os seus conflitos cotidianos.
No Melodrama aparece temática do povo numa forma que lhe é estranha – a aristocrática: a escola melodramática é ingênua no seu propósito ideológico de representar o pensamento do povo, pois imita a estética do patrão como a ideal.
 O operário está em cena numa troca de papéis com aristocracia, expondo de forma sentimental e óbvia seus problemas diários, sem uma leitura crítica e consciente deles. Baseando-se passado de submissão e servilismo, identifica-se cegamente com as formas aristocráticas, e parece desejar mais desbancar seus representantes e tomar o seu lugar, do que necessariamente destruir este universo para construir um novo.
As personagens recebem um tratamento moralista e maniqueísta - existe o grupo dos bons e dos maus, dos heróis e dos vilões – e o senso de justiça é exacerbado – o vício será punido e a virtude recompensada. A antiga aristocracia e os poderosos em geral são colocados no grupo negativo, e a plebe no positivo. Não existe leitura humana destas figuras: ou são malvadas, ou são bondosas. Se porventura algum poderoso é apresentado de forma favorável, é porque irá se apaixonar pela pobre donzela e carregá-la – junto com sua família – para o conforto do seu palácio.
As matrizes temáticas preponderantes são a pobre mulher que é obrigada a prostituir-se e abandonar seu filho; a velha senhora doente que é despejada por não poder pagar a sua renda; os dois gêmeos deixados na porta da Igreja numa noite fria de Natal e separados, reencontrando-se depois de vinte anos... Os conflitos são encenados até as últimas consequências, tudo sobre o fato ali em cena é dito, não sobrando um centímetro de suposição para a imaginação do espectador.
Apesar da tão comentada fragilidade do argumento e texto melodramático, sua permanência explica-se provavelmente por ter nascido de um desejo genuíno de valorização de uma classe. O ator e sua performance, o domínio técnico do seu corpo e da sua voz, honrava indiretamente a audiência que o assistia, ao se ver representada com glamour e profissionalismo no palco. O contato efetivo e a identificação com a platéia eram inquestionáveis.
Se a dramaturgia é pobre, os espetáculos são vivos, com roteiros onde o ritmo é estabelecido pelo contraste entre momentos de desespero ou tristeza seguidos por ápices de euforia ou contentamento.
As Companhias de Melodrama eram geralmente pobres, e quando são transferidas do boulevard para o prédio teatral, não têm recursos para investir nos aspectos materiais da encenação.
No melodrama tudo é muito, muito exagerado. Os atores destacam-se pelas suas virtuosas atuações, não constroem personagem e sim atitudes padrão para os tipos elaborados através de uma ótica dual: o conde explorador, a enfermeira bondosa, etc. Começam a desenvolver habilidades para identificação da personalidade, preocupando-se em mostrar como a florista rega suas flores, de que forma o malvado estrala seu chicote, etc.
O melodrama apresentado no circo brasileiro é uma forma constante de manifestação teatral circense que pode ocorrer entre as atrações do circo. De certa forma segue algo do estilo do melodrama teatral do final do século XIX, desenhado em ações, com conflitos polarizados, através de uma dramaturgia simples, baseada em conflitos familiares, atuado de uma forma grandiosa ou exagerada, tendo em vista os padrões de interpretação atuais que sublinham o natural.
Fernando Neves, autor, dramaturgo, ator e pesquisador, descendente de  família circense, se dedicou a estudar gênero e traçar sua história no circo teatro através do tempo por meio de suas experiências com melodrama como uma herança cultural adquirida e passada por gerações por seus familiares circenses.
Em função da popularidade e habilidade interpretativa, o Melodrama começa gradativamente a sair dos boulevards e a ser apresentado nos grandes teatros, incorporando-se ao ambiente da encenação principal. Ao colocar o oprimido como protagonista da peça oficial, afasta por os grandes heróis, deuses e reis do palco - com suas questões abstratas e existenciais - e aproxima o homem comum e mundano, com seus motivos sentimentais e concretos, embora ainda obedecendo na forma exterior a estética dominante.
A atuação melodramática pode ser abordada a partir de um caminho sensível, fazendo o ator acreditar na sua técnica e trabalhar seu virtuosismo de forma sincera, evitando o deboche e a paródia ao estilo, a “canastrice” - que não deixa de ser uma avaliação crítica a ele. Deve procurar um ponto de identificação com a narrativa. Com a ação bem construída e a pausa sugerida por pontos fixos - que é o momento onde o ator dialoga corporalmente com a audiência e pela sua resposta pode medir o nível de comunicação com ela. É um teatro de muita ação e pouco texto; atenção ao silêncio e respeito ao tempo das palavras. Não há construção naturalista de personagem e sim elaboração de atitudes para figuras específicas.
O ator desenvolve um trabalho pedagógico cujo eixo é a cena convencional que considera a especialização em determinado tipo de papel - suspendendo, entretanto, a poética do teatro de convenção - para tomá-la como meio de manifestação de um temperamento artístico do ator.
Na construção do corpo melodramático, observa-se: suspensão e sustentação corporal; habilidade em manusear diversos pontos fixos para estabelecer o contínuo comentário mudo com a platéia (olhar o vilão –o suspiro da mocinha)
O melodrama teatral surgiu com grande sucesso de público em temporadas que, pela primeira vez na história do teatro, ultrapassaram as mil representações, isto o fez o primeiro gênero teatral de características internacionais. Seu fundador é o dramaturgo frances René-Charles Guilbert de Pixérécourt (1773-1844) e os principais representantes em outros países são: o inglês Thomas Holcroft (1745-1809) seu introdutor na Grã Bretanha, o alemão August Friederich von Kotzebue (1761-1819) e, nos Estados Unidos, Dion Boucicault (1822-1890).
Seu sucesso duradouro o tornou no principal gênero teatral e literário do século XIX e, posteriormente, fez com que o melodrama teatral fosse absorvendo e exportando elementos a todos os estilos, formas e gêneros artísticos que surgiram durante este período, principalmente o folhetim.
Ao final do século XIX, as novas propostas estéticas que surgiam, entre elas o naturalismo, acabaram negando muitas das formas super utilizadas de interpretação do melodrama, que foram consideradas anti-naturais, o que disseminou um excessivo valor negativo a tudo que fosse considerado melodramático, que se tornou sinônimo de uma interpretação exagerada, anti-natural, assim como de efeitos de apelo fácil à platéia. O início da cultura de massas no século XX veio trazer mais confusão a este gênero de sucesso

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