O MELODRAMA
Melodrama tem sua origem no século
XVII associada à ópera e Também à opereta italiana unindo música e texto, que posteriormente
ajuda a compor o estilo que tratará da melodia do drama.
A palavra “melodrama” é originária
do francês “mélodrame”. Etimologimamente é formada pelos termos “melos”
(grego), que significa som, e “drame” (latim antigo), que significa drama.
Esse movimento estético aparece com
força na Alemanha e França, nas últimas décadas do século XVIII. Mas se impõe
como estilo artístico no XIX, através da forma final francesa - caracterizada
pelas encenações populares dos Boulevards (du Crime) - e ao lado do drama
romântico.
Mas é em “O Mercador de Londres” de
Lillo (1732), em que a peça aborda assassinato, amor e vida cotidiana, começa a
aparecer os primeiros tons do “Melodrama”. Foi neste mesmo período que Diderot
lançou sua teoria sobre o Drama Burguês.
O francês René-Charles Guilbert de
Pixerécourt (1773-1844) foi um dos autores mais importantes de melodramas de
sua época, escrevendo um número aproximado de cem peças. É considerado o
criador do Melodrama, em 1800 com sua obra Coeline, onde utilizou diversas
máquinas, cenas de combate e danças para construção de suas cenas, alternando
elementos estéticos da tragédia e da comédia. Outros grandes representantes
desta forma de teatro são: o inglês Thomas Holcroft (1745-1809), o alemão
August Friederich Von Kotzebue (1761-1819) e, nos Estados Unidos Dion
Boucicault (1822-1890).
No Melodrama os problemas do povo
são argumento dramatúrgico principal, e não apenas suporte das histórias da
classe dominante. Trás aos palcos operariado que vem de um passado de
desilusões, onde a Revolução Francesa - e seus ideais
de Liberdade, Igualdade e Fraternidade – abria uma fleta apoio à plebe, que
vê a burguesia ocupar o lugar da corte e influenciar na cultura local.
As Companhias de Melodrama faziam parte da
mesma classe social que as personagens do seu drama. Os atores melodramáticos
atuavam para a massa miserável e honesta que amavam, e não para a burguesia e
corte, e tratavam em suas peças personagens, expondo na trama os seus conflitos
cotidianos.
No Melodrama aparece temática do
povo numa forma que lhe é estranha – a aristocrática: a escola melodramática é
ingênua no seu propósito ideológico de representar o pensamento do povo, pois
imita a estética do patrão como a ideal.
O operário está em cena numa troca de papéis
com aristocracia, expondo de forma sentimental e óbvia seus problemas diários,
sem uma leitura crítica e consciente deles. Baseando-se passado de submissão e
servilismo, identifica-se cegamente com as formas aristocráticas, e parece
desejar mais desbancar seus representantes e tomar o seu lugar, do que
necessariamente destruir este universo para construir um novo.
As personagens recebem um
tratamento moralista e maniqueísta - existe o grupo dos bons e dos maus, dos
heróis e dos vilões – e o senso de justiça é exacerbado – o vício será punido e
a virtude recompensada. A antiga aristocracia e os poderosos em geral são
colocados no grupo negativo, e a plebe no positivo. Não existe leitura humana
destas figuras: ou são malvadas, ou são bondosas. Se porventura algum poderoso
é apresentado de forma favorável, é porque irá se apaixonar pela pobre donzela
e carregá-la – junto com sua família – para o conforto do seu palácio.
As matrizes temáticas
preponderantes são a pobre mulher que é obrigada a prostituir-se e abandonar
seu filho; a velha senhora doente que é despejada por não poder pagar a sua
renda; os dois gêmeos deixados na porta da Igreja numa noite fria de Natal e
separados, reencontrando-se depois de vinte anos... Os conflitos são encenados
até as últimas consequências, tudo sobre o fato ali em cena é dito, não
sobrando um centímetro de suposição para a imaginação do espectador.
Apesar da tão comentada fragilidade
do argumento e texto melodramático, sua permanência explica-se provavelmente
por ter nascido de um desejo genuíno de valorização de uma classe. O ator e sua
performance, o domínio técnico do seu corpo e da sua voz, honrava indiretamente
a audiência que o assistia, ao se ver representada com glamour e
profissionalismo no palco. O contato efetivo e a identificação com a platéia
eram inquestionáveis.
Se a dramaturgia é pobre, os
espetáculos são vivos, com roteiros onde o ritmo é estabelecido pelo contraste
entre momentos de desespero ou tristeza seguidos por ápices de euforia ou
contentamento.
As Companhias de Melodrama eram
geralmente pobres, e quando são transferidas do boulevard para o prédio
teatral, não têm recursos para investir nos aspectos materiais da encenação.
No melodrama tudo é muito, muito
exagerado. Os atores destacam-se pelas suas virtuosas atuações, não constroem
personagem e sim atitudes padrão para os tipos elaborados através de uma ótica
dual: o conde explorador, a enfermeira bondosa, etc. Começam a desenvolver
habilidades para identificação da personalidade, preocupando-se em mostrar como
a florista rega suas flores, de que forma o malvado estrala seu chicote, etc.
O melodrama apresentado no circo
brasileiro é uma forma constante de manifestação teatral circense que pode
ocorrer entre as atrações do circo. De certa forma segue algo do estilo do
melodrama teatral do final do século XIX, desenhado em ações, com conflitos
polarizados, através de uma dramaturgia simples, baseada em conflitos
familiares, atuado de uma forma grandiosa ou exagerada, tendo em vista os
padrões de interpretação atuais que sublinham o natural.
Fernando Neves, autor, dramaturgo,
ator e pesquisador, descendente de
família circense, se dedicou a estudar gênero e traçar sua história no
circo teatro através do tempo por meio de suas experiências com melodrama como
uma herança cultural adquirida e passada por gerações por seus familiares
circenses.
Em função da popularidade e
habilidade interpretativa, o Melodrama começa gradativamente a sair dos
boulevards e a ser apresentado nos grandes teatros, incorporando-se ao ambiente
da encenação principal. Ao colocar o oprimido como protagonista da peça
oficial, afasta por os grandes heróis, deuses e reis do palco - com suas
questões abstratas e existenciais - e aproxima o homem comum e mundano, com
seus motivos sentimentais e concretos, embora ainda obedecendo na forma
exterior a estética dominante.
A atuação melodramática pode ser
abordada a partir de um caminho sensível, fazendo o ator acreditar na sua
técnica e trabalhar seu virtuosismo de forma sincera, evitando o deboche e a
paródia ao estilo, a “canastrice” - que não deixa de ser uma avaliação crítica
a ele. Deve procurar um ponto de identificação com a narrativa. Com a ação bem
construída e a pausa sugerida por pontos fixos - que é o momento onde o ator
dialoga corporalmente com a audiência e pela sua resposta pode medir o nível de
comunicação com ela. É um teatro de muita ação e pouco texto; atenção ao
silêncio e respeito ao tempo das palavras. Não há construção naturalista de
personagem e sim elaboração de atitudes para figuras específicas.
O ator desenvolve um trabalho
pedagógico cujo eixo é a cena convencional que considera a especialização em determinado
tipo de papel - suspendendo, entretanto, a poética do teatro de convenção -
para tomá-la como meio de manifestação de um temperamento artístico do ator.
Na construção do corpo
melodramático, observa-se: suspensão e sustentação corporal; habilidade em
manusear diversos pontos fixos para estabelecer o contínuo comentário mudo com
a platéia (olhar o vilão –o suspiro da mocinha)
O melodrama teatral surgiu com
grande sucesso de público em temporadas que, pela primeira vez na história do
teatro, ultrapassaram as mil representações, isto o fez o primeiro gênero
teatral de características internacionais. Seu fundador é o dramaturgo frances
René-Charles Guilbert de Pixérécourt (1773-1844) e os principais representantes
em outros países são: o inglês Thomas Holcroft (1745-1809) seu introdutor na
Grã Bretanha, o alemão August Friederich von Kotzebue (1761-1819) e, nos
Estados Unidos, Dion Boucicault (1822-1890).
Seu sucesso duradouro o tornou no
principal gênero teatral e literário do século XIX e, posteriormente, fez com
que o melodrama teatral fosse absorvendo e exportando elementos a todos os
estilos, formas e gêneros artísticos que surgiram durante este período,
principalmente o folhetim.
Ao final do século XIX, as novas
propostas estéticas que surgiam, entre elas o naturalismo, acabaram negando
muitas das formas super utilizadas de interpretação do melodrama, que foram
consideradas anti-naturais, o que disseminou um excessivo valor negativo a tudo
que fosse considerado melodramático, que se tornou sinônimo de uma
interpretação exagerada, anti-natural, assim como de efeitos de apelo fácil à
platéia. O início da cultura de massas no século XX veio trazer mais confusão a
este gênero de sucesso