março 23, 2014

NUNCA CONSEGUI SEPARAR DEUS DA MINHA ARTE, SÃO INSEPARÁVEIS .

Após 30 anos de carreira é possível separar a vida privada da pública?

Sim. Claro, sempre preservei ao máximo a minha intimidade. Nunca quis que minha vida pessoal fosse mais interessante que a profissional, por este motivo não exponho minha família e meus relacionamentos vividos ao longo dos anos...


Não falar sobre relacionamentos amorosos é uma forma de auto-proteção? 

De certa forma sim. Não posso expor a outra pessoa a curiosidade alheia, eu estou acostumado com as especulações, e até mesmo com o julgamento de pessoas que me julgam o tempo todo...



E estes "julgamentos" te incomoda?

Sou categórico. Prefiro o silêncio. Quando você rebate, o que era pequeno, toma-se uma proporção ainda maior. Então, quando é inevitável, uso a minha velha frase: "Existem fatos e boatos, as pessoas acreditam no que lhes convém!". Mesmo por que não posso ter controle sobre as opiniões das pessoas, sou um ser humano de carne e osso, vulnerável a todas e quaisquer situações do dia-a-dia.



Uma vez você disse que a imagem de perfeição lhe incomodava...

Sim, E muito. cresci sobre o olhar de grupos de pessoas, fui tido como uma criança exemplar, e na minha adolescência essa responsabilidade aumentou de formar grandiosa, e o fardo ficou muito pesado...



Foi daí que veio a depressão? 

Estava no auge do sucesso profissional no cultura jovem, e foram momentos maravilhosos, profissionalmente falando, porém, eu passava por uma depressão tão forte, sem que ninguém soubesse, que tive uma convulsão e apaguei...



Como alguém que tem uma trajetória tão bonita, sendo, admirado, respeitado e com um trabalho reconhecido, pode passar por uma forte depressão a ponto de ir parar num hospital?

Queriam muito de mim. Ao contrário de todos da mesma idade, era inaceitável errar, tinha que ser sempre mais, e chegou um momento que eu queria apenas ser tratado como uma pessoa normal...

O que é ser normal?

Errar sem grandes alardes, ser irresponsável de vez em quando, xingar palavrões, falar besteiras, essas coisas comuns a um jovem de 18 anos...

E o que lhe impedia? 

A posição que ocupava na época. O filho , o aluno, o namorado, o religioso, o ator, o professor exemplar. Era um fardo, fardo este, que começou apesar muito mais no fim da adolescência quando eu teria que lidar com o mundo real...

Então viveu uma fantasia?

Quando se é uma criança, criada num mundo artístico, tudo é muito mágico. Você amadurece mais rápido, é como se pulasse uma etapa da sua vida. Há muitas coisas comuns que a gente deixa de viver.

E quando isso mudou?

Começou a mudar após os vinte anos de idade. Foi quando comecei a me permitir, experimentar coisas comuns, como ir a uma danceteria, ficar, viver com plenitude.

Drogas e bebidas? 

Poderia se quisesse, mas não. Nunca tive vontade. Sou muito careta!



Sexo? 

No começo era complicado. Nesse período fiz uma descoberta que até então, era algo que não percebia, eu tinha uma beleza, não dessas de modelos, mas o que podemos chamar de exótica, e isto chamava a atenção. Só que mesmo neste período, para me sentir livre, solto, espontanio, pela primeira vez usei o teatro na vida real. Criei uma personagem que iria mudar a minha vida, era totalmente tudo o que eu desejava, e passava o rodo geral. O único problema é que ainda não acreditava que era possível separar sexo de amor, amor e sexo na minha concepção andavam juntas, e mais uma vez eu entrava numa paranoia,..

Foi daí que veio a terapia? 

Sim. Foram mais de 10 anos de terapias.

E hoje o que mudou com relação a tudo isto?

Tudo mudou. Sou mais maduro. O tempo me concedeu uma maturidade com propriedade, sou uma pessoa mais centrada, e hoje consigo enxergar coisas, que antes eram tão distantes... Quer saber? Hoje me permito mais. Ouso mais, experimento.



No mundo das artes, sexo e traições é tratado como algo banal...

Em todos os campos agora, sexo, drogas e traições são banais. O amor, é considerado ultrapassado, respeito é substituído por satisfação, e "dinheiro" é o cartão de visita. Na era das redes sociais, a falsa ilusão de que somos amados, por causa de um clique é uma evidência da solidão e da insatisfação que a liberdade sem responsabilidade nos dá. Ainda acredito no caráter, que tem, tem. Quem não tem, procura pretexto.

Sua passagem pela religião foi meio conturbada. Ainda há fé? 

Sim, claro, sempre! Sem fé, não há como viver. Temos que crer em alguma coisa, ou a vida não faz sentido. Não consigo separar Deus da minha arte, da minha vida, são inseparáveis. Se me pedirem pra escolher, entre Deus e minha arte, vou escolher a arte, por que na minha arte está Deus, sem Ele não sou nada, sem ela sou um ser vazio... Não tem como separar.



Ano passado você fez bastante trabalhos na teve, isto lhe deu uma nova direção na carreira?

Sim claro. Participar de uma obra numa das maiores emissora do Brasil, a globo, me abriu muitas portas, e eu amei tudo isso. É incrível você está ali, cercado dos melhores profissionais da televisão e sendo visto em mais de quarenta países, é uma satisfação sem explicação.


Você foi convidado para ser preparador de elenco do longa Calango do Agreste, além de atuar, isto não é uma responsabilidade muito grande?

Sim. E dar um certo friozinho na barriga. Pois terei meu nome vinculado ao desempenho de um elenco na maioria estreantes e sem experiências anteriores, mas, sou o tipo de profissional que não me sinto melhor que ninguém, apenas compartilho com os atores o meu conhecimento técnico, o resto é com cada um, cada ator será responsável pela construção de suas personagens seguindo as dicas do processo de preparação. 

E você o que fará no longa? 

Farei o Edigar, um policial corrupto ligado ao crime organizado. Um cara completamente dissimulado, mal caráter e frio. Um criminoso disfarçado em pele de cordeiro. Será uma delícia fazê - lo.

Além deste projeto, o que mais vem por ai?

Também estou produzindo com o diretor e produtor Cauê Bonifácio um curta, que creio que até junho estará pronto. Neste curta vivo um homossexual que vive um relacionamento estável é surpreendido com o vírus do HIV, uma história bonita e emocionante, no qual estou muito empolgado, não vejo a hora de começar a rodar.



Como é conciliar dar aulas no ensino fundamental com tudo isso? 

Sempre fiz muitas coisas ao mesmo tempo, e até este momento estou conseguindo conciliar, enquanto isto for possível desejo continuar. Gosto de crianças, sempre gostei, isto me renova.




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