MARCAS DO PASSADO
de: Marcondys França
LAURA (AOS 20 ANOS)
LAURA (AOS 45 ANOS)
MARION (AOS 20 ANOS)
MARION (AOS 45 ANOS)
PADRE OLAVO (AOS 40 ANOS)
PADRE OLAVO (AOS 65 ANOS)
FELIPE (JOVEM DE 25 ANOS)
GUILHERME MARIDO DE LAURA
CENA
1
A
CENA COMEÇA EM PLANO ABERTO, HÁ UMA PRAÇA E DE FRENTE A PRAÇA UMA IGREJA
CATÓLICA. MARION ANDA DE UM LADO PARA OUTRO A ESPERA DE UM CLIENTE, É NOITE, DE
REPENTE VÊ UMA JOVEM MULHER, LAURA, CARREGANDO UM BEBE QUE SEGUE EM DIREÇÃO A
IGREJA. CÂMERA NA MULHER QUE CHORA MUITO.
LAURA: -
Oh, filhinho?! Perdoa a mamãe... Perdoa. Mas tem que ser assim... (Beija o bebe) Mamãe te ama! (Tira uma correntinha e põe no bebê) Um
dia você irá me perdoar. (Coloca a criança na escadaria. Marion assiste a tudo
quase sem entender. Laura passa por ela. (Marion
vai até a escadaria e percebe o bebê. Pega-o no colo)
MARION: -
Meu Deus! É um bebê. Mas como? (O bebê
chora) Oh, meu anjinho! Calma, eu estou aqui. Vou cuidar de você.
PADRE: -
Que significa isso? Não já lhe disse que não a quero fazendo essas coisas do
demo, aqui na porta da minha igreja?
MARION: -
Veja Padre...
PADRE: -
De quem é essa criança?
MARION: -
Acabaram de abandonar aqui.
(Câmera mostra Laura escondida. Parece mais calma, pois acredita que a
criança será acolhida pelo padre)
PADRE: -
Meu Deus! Então temos que acionar as autoridades.
MARION: -
Não Padre, não...
PADRE: -
Como não? Essa criança precisa ir pra adoção.
MARION: -
Padre, será que não percebe? Eu vivi uma vida inteira num orfanato. Não é a
melhor coisa. Posso cuidar desse bebê, sei que posso.
PADRE: -
Levando essa vida pecaminosa? Vou ligar para a polícia...
MARION: -
Essa é uma chance. Pode ser única, a única de me redimir dos meus pecados.
Deixe-me criar esse bebê como se fosse meu.
PADRE: -
Sei que não está certo. Mas te darei essa chance. Mas estou de olho, e um passo
em falso...
MARION: -
Eu juro, por tudo de mais sagrado, o senhor não irá se arrepender.
CENA
III
(TRANSIÇÃO
DE TEMPO – VINTE E CINCO ANOS DEPOIS)
GUILHERME: -
Tem Certeza que isso mesmo que você deseja fazer?
LAURA: -
Esperei muitos anos por esse momento.
GUILHERME: - E
se...
LAURA: -
Por favor... Não vamos pensar nisso. Vai dar tudo certo.
GUILHERME: -
Claro!
LAURA: -
Então vamos?
GUILHERME: -
Vamos. (Dá partida no carro e sai.
Câmera foca os olhos lacrimejados de laura)
Cena
III
(INTERNA
– COZINHA – CASA DE MARION)
FELIPE: -
Bom dia Dona Marion, muito bom dia!
MARION: -
Que animação é essa?
FELIPE: -
Felicidade dona Marion, felicidade! (Puxa
a mãe e dança com ela pela cozinha)
MARION: -
Então toma seu café que saco vazio não para em pé.
FELIPE: - (Ele senta e se serve) Quero a senhora
hoje lindona, ouviu?
MARION: -
Como se fosse possível. Sabe que fico sem jeito no meio daquela gente toda.
FELIPE: -
Imagina! Olha, escuta aqui dona Marion... A senhora é minha mãe, e a pessoa
mais importante que desejo que esteja naquele salão, é você.
MARION: -
Ah, filho... Sou tão simples no meio daquela gente.
FELIPE: -
Não está orgulhosa do filhão?
MARION: -
Claro que estou. Não me cabo em tanto orgulho.
FELIPE: - É
dona Marion... Não é todo dia que se forma um filho em medicina.
MARION: -
Você fez por onde filho.
FELIPE: -
Mas graças a você. Agora deixa eu ir. Tenho que provar o terno. Beijos, beijos
e beijos!
MARION: -
Ai, não sei por que estou sentindo um aperto no coração...
Cena
IV
(MOSTRA
LAURA DENTRO DO CARRO OLHANDO A PAISAGEM ENQUANTO RELEMBRA O DIA QUE ABANDONOU
O FILHO – CENAS ATUAIS COM FLASHBACK)
Cena
V
(Externa
– Dia - Praça)
GUILHERME: -
Chegamos.
LAURA: -
Pouca coisa mudou...
GUILHERME: -
Quer que eu vá com você?
LAURA: -
Melhor, não...
GUILHERME: -
Tem certeza?
LAURA: -
Tem que enfrentar meu fantasmas.
GUILHERME: -
Então, está bom. Olha, estou aqui.
LAURA: - Eu sei. Obrigada
querido. (O beija e segue em direção a
igreja. Guilherme a acompanha com olhar, até que ela entra na igreja)
Cena
VI
(Externa
– Dia – Igreja)
(Laura
entra, se benze. Olha para a imagem de Nossa Senhora como se lhe pedisse
auxílio. Segue em direção a sacristia)
LAURA: -
Padre Olavo?
PADRE: -
Sim...
LAURA: -
Não me reconhece?
PADRE: -
Perdão, não...
LAURA: -
Laura.
PADRE: -
Laura...?
LAURA: -
Filha de João Tomas...
PADRE: -
Oh, quanto tempo! Claro. O que atrás de volta depois de tantos anos?
LAURA: -
Meu filho.
PADRE: -
Filho? Nunca soube que teve um filho.
LAURA: -
Filho que o senhor acolheu, aqui nesta igreja, a vinte e cinco anos atrás.
PADRE: -
Que história absurda é essa? Não faço ideia do que esteja falando.
LAURA: - O
senhor e aquela prostituta.
PADRE: -
Enlouqueceu?
LAURA: -
Só quero saber onde está meu filho.
PADRE: -
Ainda que essa história absurda seja verdade... Não acha muito tarde, depois de
vinte cinco anos...
LAURA: - A
bíblia diz: nunca é tarde para se arrepender.
PADRE: -
Seu filho está bem. E sua aparição poderá destruir a vida do rapaz.
LAURA: -
Sou mãe.
PADRE: -
Não pensou nisso naquela ocasião.
LAURA: -
Tive meus motivos.
PADRE: -
Fez um ato de crueldade.
LAURA: -
Não. Sabia que o senhor o encaminharia... Essa era minha única esperança. É um
homem de Deus.
PADRE: -
Sente-se.
LAURA: -
Vou contar-lhe tudo. Não foi fácil pra mim... (Flashback)
PADRE: -
Aqui está o endereço. Não sei se resolverá seu problema. Que Deus a perdoe por
seu pecado.
LAURA: - O
senhor não me absorve, mesmo depois de minha confissão?
PADRE: -
Sim, eu lhe absorvo em nome de Nosso senhor Jesus Cristo. E você?
Cena
VII
(Externa
– Praça – Igreja)
(Chorando,
caminha para o carro, com o endereço na mão)
GUILHERME: -
Que foi? Você está se bem?
LAURA: -
Sim. Aqui está o endereço. Vamos?
GUILHERME: -
Sim, vamos.
(Laura
segura firme o papel, há uma tensão em suas mãos)
GUILHERME: -
Ainda há tempo de desistir.
LAURA: -
Adiei esse encontro por longos vinte e cinco anos. E não vou mais adiar. (Ele dar partida. Saem)
Cena
VIII
INTERNA
– DIA – CASA DE MARION
(MARION
ESTA ESTIRANDO A MESA)
MARIOIN: -
Ah, sempre esquecido. (Vai até a porta) Pois não?
LAURA: -
Posso entrar?
MARIOIN: -
Bom... Mas quem é a senhora?
LAURA: -
Tenho uma conversa muito importante pra ter com a senhora.
MARIOIN: -
Creio que haja um engano. Pois não lhe conheço.
LAURA: -
Será que não Marion?
MARIOIN: -
Como sabe meu nome? Quem é você?
LAURA: -
Não imagina? Que lhe diz seu coração?
MARIOIN: -
Não, não pode ser.
LAURA: -
Sou a mãe...
MARIOIN: -
Não, não é. É meu filho. Saia da minha casa agora.
LAURA: -
Sabe que sou mãe.
MARIOIN: -
Que espécie de mãe é você? Que abandona um filho, recém-nascido, pequeno e
indefeso...
LAURA: -
Eu tive meus motivos...
MARIOIN: -
Não me interessa seu motivos. Eu sou mãe dele. O criei com todo amor...
LAURA: -
Você... você era a prostituta...
MARIOIN: -
Prostituta que viu uma criança recém-nascida como se fosse um objeto qualquer.
LAURA: -
Fui obrigada pelas circunstancias...
MARIOIN: -
Nada justifica; saia daqui. Fique longe do meu filho.
PADRE: - O
que pensam que estão fazendo? Dá pra ouvir os ritos de vocês a distância.
MARIOIN: -
Esse mulher não tirar meu filho de mim. Não depois de vinte cinco anos.
LAURA: -
Só desejo conversar com meu filho. Olhar nos olhos dele, e conta a minha
história.
MARIOIN: -
Você não pode fazer isso. Vai arruinar a vida do meu filho.
PADRE: -
Chega! Parem vocês duas.
MARIOIN: -
Padre. Ela não pode fazer isso.
PADRE: -
Marion... Ela é mãe biológica, sabia que cedo ou tarde isso poderia acontecer.
Ela errou, mas nós também erramos quando mantivemos esse segredo. E Deus sabe o
quanto isso me torturou por todos esses anos. Esse é o momento de corrigir os
nossos erros do passado.
LAURA: -
Padre, só quero vê meu filho, conversar com ele.
PADRE: -
Vou prepara-lo para essa conversa. A senhora, vá a casa paroquial hoje as 18.
(Laura
sai)
MARIOIN: -
Não Padre. Por tudo que é mais sagrado.
PADRE: -
Tenha fé minha filha.
Cena
IX
É
MOSTRADA IMAGENS DO FIM DE TARDE
INTERNA
– TARDE – CASA PAROQUIAL
FELIPE: -
Como pode isso... É uma história terrível, abominável...
MARIOIN: -
Filho...
FELIPE: -
Por que nunca me contou nada? Sempre acreditei que era minha mãe. Que meu pai
havia nos abandonado...
PADRE: -
Meu filho, Marion fez isso pra poupá-lo
FELIPE: -
Pra depois me dá um golpe fatal?
MARIOIN: -
Não meu filho. Não diga isso. Tudo que fiz foi por amor. Por amos a você.
FELIPE: - E
essa mulher, quem é? Onde está? Por que voltou agora?
Cena
X
EXTERNA
– TARDE – EM FRENTE A CASA PAROQUIAL
(Laura
está com Guilherme dentro do carro)
LAURA: -
Que será que está acontecendo?
GUILHERME: -
Calma...
LAURA: -
Como posso ter calma? É meu filho que está lá.
GUILHERME: -
Eu sei minha querida.
LAURA: - E
se ele não quiser falar comigo.
GUILHERME: -
Ao menos você tentou. Se esperamos até aqui, podemos esperar mais um pouco.
(Laura
pega um terço e aperta com força. Guilherme pega em sua outra mão e a beija
carinhosamente)
Cena
XI
É
MOSTRADA IMAGENS DO FIM DE TARDE
INTERNA
– TARDE – CASA PAROQUIAL
PADRE: -
Ela poderá lhe explicar...
MARIOIN: -
Filho, você não precisa passar por isso. Você tem sua vida, sua história...
FELIPE: -
Baseada em mentiras? Será que meu nome é mesmo Felipe? Quem sou eu de verdade?
MARIOIN: -
Meu filho. Um rapaz brilhante. Um filho amado...
PADRE: -
Você quer conversar com... sua mãe?
FELIPE: -
(Hesita) Quero.
(MARIOIN
TENTA CAMINHAR ATÉ O FILHO O PADRE A SEGURA PELOS OMBROS)
PADRE: -
Vou pedir para que entre. (Saem)
(FELIPE
CAMINHA TENSO DE UM LADO PARA OUTRO)
Cena
XII
EXTERNA
– TARDE – EM FRENTE A CASA PAROQUIAL
LAURA: -
Estão vindo...
(GUILHERME
ABRE A PORTA E AUCILIA LAURA A DESCER)
(O
PADRE CAMINHA ATÉ OS DOIS, MARION OBSERVA DE LONGE)
PADRE: -
Seu filho lhe espera.
(EM
SILÊNCIO LAURA CAMINHA ATE A IGREJA. MARION A SEGURA PELO BRAÇO. HÁ ÓDIO NOS
OLHOS DELA)
MARIOIN: -
Não vai envenenar meu filho com suas mentiras.
(LAURA
SEGUE ENFRENTE)
Cena
XIII
INTERNA
– TARDE –CASA PAROQUIAL
LAURA: -
Meu filho...
FELIPE: -
Por que? Por que... Como você foi capaz? Que tipo de mulher é você, ou
melhor... que tipo de ser humano é você?
LAURA: -
Sei que é difícil pra você...
FELIPE: -
Difícil? Estou diante de uma mulher que fez uma monstruosidade que um ser tão
indefeso. E que é pior, seu próprio filho.
LAURA: -
Sempre soube que essa nossa conversa não seria fácil... Mas estou disposta a
lhe explicar tudo.
FELIPE: -
Acha mesmo que para uma barbárie dessa tem explicações?
LAURA: -
Eu era muito jovem, inexperiente...
FELIPE: - (Ele suspira desacreditado)
LAURA: - Me
envolvi com um rapaz... Filha de pais rígidos... engravidei, e meu pais jamais
poderiam saber disso, pois o homem que eu amava, seu pai, ao saber da gravidez,
deu o pé. Eu mantive a gravidez em segredo, minha barriga era muito pequena...
Fui trabalhar numa fazenda
afastada da cidade e lá dei luz a você, sozinha, dentro de um banheiro, como
cortei o cordão umbilical com uma gilete, tive sérios problemas de saúde, sem
condições de cria-lo, não vi outra opção...
FELIPE: - A
não ser me descartar como se descarta um lixo qualquer...
LAURA: -
Não. Tinha em mente te deixar ali, para que o Padre Olavo o encontrasse, e
depois, em minha ingenuidade acreditava que voltaria e lhe reencontraria...
FELIPE: - E
reencontrou, vinte e cinco anos depois. E acha que com essa historinha
melodramática, quase baseada ema trama de novela mexicana, irá apagar todo
passado?
LAURA: -
Sei que é difícil... A Marion fez um ótimo trabalho. Fez de você um homem. Um
grande homem, pelo que percebo.
FELIPE: -
Qual é o meu nome?
LAURA: -
Eu o chamava de Carlos... Carlinhos.
FELIPE: -
Carlinhos, está morto. Morreu naquele dia em que você o abandou. Quem está aqui
diante de você é Felipe, filho de Marion...
LAURA: -Só
espero que um dia você possa me perdoar.
FELIPE: -
Você que tem que se perdoar.
LAURA: -
Meu filho.
FELIPE: -Não
me chame de filho, por favor... Nossa conversa termina aqui. Minha mãe me
espera. Hoje é um dia muito especial pra mim. E o dia de retribuir toda luta
dela pra que eu seja quem sou.
(LAURA
NÃO SEGURA AS LÁGRIMAS E SAI EM PRANTOS SE DIRIGE AO CARRO. PASSA PELO PADRE E
MARION. MARION ABRAÇA O FILHO QUE SAI EM SEGUIDA. LAURA É AMPARADA POR
GUILHERME. MARION SE APROXIMA DO CARRO)
MARION: -
Imagino sua dor... Não é fácil apagar vinte cinco anos de história como se nada
tivesse acontecido.
(LAURA
COLOCA O ÓCULOS ESCURO COMO SE QUISESSE ESCONDER SUA TRISTESA)
MARION: -
Dê tempo ao tempo, agora que sabe a verdade, quem sabe um dia não lhe perdoe.
(GUILHERME
DAR PARTIDA. MARION OBSERVA O CARRO SE AFASTAR. RETORNA ABRAÇA O FILHO E
DESAPARECEM NA PAISAGEM)
F IM