UM AMOR DE VERÃO
De MARCONDYS FRANÇA
SINOPSE:
Suzi
uma garota de classe média alta se envolve com um rapaz de uma comunidade
carente e esta relação gera um grande conflito familiar na casa da moça.
Ornela, mãe de Suzy não admite a possibilidade de vê sua filha nos braços de um
homem no qual ela considera um rico para o futura da filha, deste modo,
convence o marido a sair da cidade rumo ao litoral como forma de afastar a
filha do rapaz que considera uma péssima influencia para Suzi. Mas, o que
Ornela não em consideração, é que ela não tem o poder de controlar o destino.
PERSONAGENS:
ORNELA:
Mãe
CLAUDIO:
Pai
SUZY:
Filha
TÉO:
Sufista
NATÁLIA:
Amiga
de Téo
KIM:
Amigo
de Téo
VALÉRIA:
Amiga
de Téo
XANDY:
Amigo
de Téo
VILMA:
Mãe
de Téo
LEO:
Amigo
de Téo
NÃ:
Empregada
de Ornela
BUFÃO:
Marido
de Nã
FRED:
Ex
namorado de Suzi
SILVIO: Amigo de Cláudio
POLICIAL
DELEGADO
CENA
1
DIA
– ESTRADA – DENTRO DO CARRO EM MOVIMENTO.
PELA
JANELA DO CARRO SUZI OBSERVA A PAISSAGEM. SEU OLHAR É DISTANTE, TRISTE. CLAUDIO
OBSERVA A FILHA PELO TETROVISOR. CLOSSE EM ORNELA QUE DEMONSTRA UMA CALMA
EXCESSIVA, EM SEU OLHAR ALTIVO, EXPRESSA TODA SUA FORÇA E O PODER QUE EXERCE
SOBRE AS OUTRAS PESSOAS. O RÁDIO TOCA UMA MÚSICA CLASSICA, MELANCOLICA.
SUZI:
-
Dá pra trocar essa música?
ORNELA:
-
É um clássico.
SUZI:
-
Parece uma música de funeral.
ORNELA:
-
Sente-se assim?
SUZI:
-
Com essa situação mórbida, como não sentir?
ORNELA:
-
Ótimo! O luto faz parte da perda. É indicativo de uma nova fase. Bom pra
recomeçar... Os mais espiritualistas acreditam que a morte representa um novo
ciclo. Ou seja, o recomeço. Então, minha querida... Aproveita a chance que a
vida este lhe dando.
SUZI:
-
Pirou de vez! Uma coisa que você nunca foi ou jamais será, é uma pessoa
espiritualista.
ORNELA:
-
Não mesmo. Mas esse pensamento cabe aqui, agora, a essa situação. Então me
convém.
SUZI:
-
Acha que me arrastar pra longe vai mudar meus sentimentos?
ORNELA:
- Você é menor, está sobre minha tutela. Não tem outra opção, a não ser,
obedecer.
SUZI:
-
isso é o que veremos!
CLAUDIO:
-
Meninas! Não vão começar, hã? Proponho umas férias de verão de muita paz!
Família!
SUZI:
-
Impossível!
CLAUDIO:
- Suzi?
SUZI:
-
Pode pedir pra sua digníssima esposa, me devolver meu celular...
ORNELA:
-
Ah, você quer teu celular? (Abre a
janela coloca a mão pra fora e solta o aparelho) Ah, que distraída sou...
Caiu.
SUZI:
- Te odeio.
ORNELA:
-
Precisa renovar seu vocabulário de ofensas proferidas a mim, meu bem, está
ficando muito repetitiva.
SUZI
CHORA MEIO QUE ENCOLHIDA, CLAUDIO SEGUE DIRIGINDO E OBSERVANDO A FILHA PELO
RETROVISOR, CAMERA FLAGA UM MEIO SORRISO EM ORNELA.
CENA
2
CÂMERA
ACOMPANHA A CHEGADA DO CARRO PASSANDO EM FRENTE A CASA. CORTA PRA DENTRO DO
CARRO QUE HÁ UM SILÊNCIO ABSOLUTO.
CLÁUDIO:
-
Família, chegamos.
ORNELA:
-
Não veja a hora de tomar um belo de um banho.
SUZI:
-
E eu de morrer.
CLÁUDIO:
-
Não diga bobagens mocinha...
ORNELA:
-
Quer chamar a atenção.
SUZI:
-
Quanto tempo ficaremos aqui? (Só pai)
ORNELA:
-
O tempo que for preciso. Só depende de você.
SUZI:
-
Vê se me erra.(Tensa, pega a mochila e
entra na casa)
CLÁUDIO:
-
Não acha que está pegando pesado demais?
(Retirando as bagagens)
ORNELA:
-
E você leve demais… Alguém tem que tomar uma atitude, freiar os desmandos dessa
menina, que já ultrapassaram todos os limites toleráveis.
CLÁUDIO:
-
Será esse o melhor caminho?
ORNELA:
-
Não sei, sinceramente, não sei. Mas, ao menos estou tentando algo, tomando uma
atitude, ainda que todos me achem, uma megera. Mas, estou dando o meu melhor
pra não vê minha única filha nas mais de um marginal.
CLÁUDIO:
-
Talvez uma boa conversa...
ORNELA:
-
Conversa? Que conversa Cláudio? Enquanto você fica no lero-lero, eu ajo. (Pega a bolsa e sai)
OS
CASEIROS SAEM DA CASA E VÂO EM DIREÇÃO AO CASAL
BÚFALO:
- Boa tarde dona Ornela...
ORNELA:
-
Boa tarde. Ajude o seu patrão com as bagagens...
NÃ: - A
senhora precisa de alguma coisa dona Ornela?
ORNELA:
-
Preciso de um banho... (Entra)
CLÁUDIO:
-
Desculpa! Ela tá nervosa.
NÃ: - Sem
problemas! (Entram)
CENA
3
INTERNA
– TARDE - CASA DE ORNELA - SALA
ORNELA:
-
Cadê a rebelde?
CLÁUDIO:
-
Saiu...
ORNELA:
-
Saiu… Você diz isso assim? Como se fosse tão simples?!
CLÁUDIO:
-
E que complexidade existe em dar uma volta, espairecer um pouco, tomar uma ar?
É só uma garota.
ORNELA:
-
Que esperar de você? Sempre foi um pai omisso. Se depender de você, logo nossa
filha, essa garota, estará aí, com um filho no colo, de um desses moleques, que
usam a calças no joelho e cueca no peito… mas, não se depender de mim. (Sai)
CLÁUDIO
PEGA UM CHARUTO, ACENDE, DÁ UM TRAGO, SENTA-SE CONFORTÁVELMENTE, PEGA O
CELULAR, DISCA.
CLÁUDIO:
-
Alô, tudo bom? E aí… que faz de bom? Eu aqui… família né? Olha! Bom ouvi isso.
Também. Também estou com saudades. Logo passa. Breve nos veremos. (Continua conversando… Música trilha entra e toma cena. Câmera vai
se afastando).
CENA
4
EXTERNA
- CALÇADÃO - FIM DE TARDE.
SUZI
CAMINHA PELO CALÇADÃO, SENTE A BRISA EM SEU ROSTO, POR ALGUM MOMENTO SENTE
PRAZER, COMO SE O VENTO ACARICIASSE SUA PELE. AO LONGE OUVE O BARULHO DO MAR.
AO LONGE PERCEBE UMA GRANDE PEDRA COM VISTA AO MAR. RESOLVE SUBIR. TEM
DIFICULDADES.
TÉO:
-
Se eu fosse você tomava cuidado…
SUZI:
-
É só uma grande pedra.
TEO:
-
Pode ser perigosa. Principalmente pra uma principiante exploradora.
SUZI:
-
Não me subestime cavalheiro...
TÉO:
-
Sabe qual a maior vantagem de se escalar essa grande e perigosa pedra?
SUZI:
-
Qual?
TÉO:
-
A visão. (Dá a mão pra ajudá-la)
Aqui você poderá contemplar o mais lindo por do sol do mundo. Isso eu lhe
garanto. Senta aí...
SUZI:
- (Senta) É lindo… o mar nós acalma.
TÉO:
-
Verdade. Turista?
SUZI:
-
Meus pais tem casa aqui.
TÉO:
-
De férias?
SUZI:
-
Mais ou menos...
TÉO:
-
Como assim?
SUZI:
-
E uma longa história...
TÉO:
-
Entendo. Olha, vai começar… Se prepara para o maior espetáculo da Terra. (Os dois comtemplam o por do sol)
SUZI:
-
É lindo!
TÉO:
-
Sim. É.
SUZI:
-
Preciso ir… Se não minha mãe vai ter um ataque de nervos.
TÉO:
-
Mães! Só mudam o nome…
SUZI:
-
Diz isso por não conhecer a minha.
TÉO:
-
Quem sabe um dia… ah, dou Téo.
SUZI:
-
Suzi.
TÉO:
-
Prazer, Suzi.
SUZI:
-
Prazer, Teodoro.
TÉO:
-
Hum! Golpe baixo.
SUZI:
-
Acertei?
TÉO:
-
Sim, acertou. Olha, amanhã eu e uma galera, faremos um lual na praia. Tá
convidada.
SUZI:
-
Obrigada.
TÉO:
-
Aparece. Vou ficar muito feliz de te vê de novo.
SUZI:
-
Vou pensar. (Sai)
TÉO:
-
Vai gostar. Garanto! (Ele segue caminho
contrário. Andam alguns metros e ambos olham pra trás.
CENA
5
INTERNA
– NOITE – CASA DE ORNELA – SALA
NÃ:
-
Dona Ornela, posso servir a janta?
ORNELA:
-
Sim, Nã. Claro, pode.
NÃ:
-
Sim senhora.
CLÁUDIO:
-
Isso mesmo?! Não vai esperar Suzi.
ORNELA:
-
Ela faz isso de propósito! Faz de tudo pra né provocar. Sabe que detesto
atrasos.
CLÁUDIO:
- Ornela,
deixa eu te falar algo que julgo se importante...
ORNELA:
-
Só não me venha com sua filosofia de botequim.
CLÁUDIO:
-
Sabe, escura meu amor… Não adianta sair da cidade, vir pro litoral e não está
disposta a mudar as atitudes. O problema existe, e deve ser encarado com
maturidade…
ORNELA:
-
Você está dizendo que sou imatura ao lidar com esse problema?
CLÁUDIO:
-
Não. Não foi isso que quis dizer…
ORNELA:
-
É fácil julgar quando você senta esse teu rabo no sofá, acende um charuto e
deixa o tempo passar… Sou eu Cláudio que tenho que lidar com os problemas da
Suzi todos os dias. E sabe que acho? É que você sente prazer de vê toda essa
situação
CLÁUDIO:
-
Isso não é verdade...
ORNELA:
-
Não? Não é? É muito cômodo pra você ficar assistindo tudo de camarote, enquanto
eu foi pro front de batalha, na insistente tentativa de salvar nossa filha… e
no fim de todas as lutas… você é pra ela o mocinho… eu? A vila.
NA:
-
Está pronto. Posso servir?
ORNELA:
-
Perdi a fome. (sai)
CLÁUDIO:
-
Pode sim Nã. Desculpa! Ornela está muito nervosa. Vou falar com ela. (Sai)
CENA
6
EXTERNA
– FORA DA CASA - QUINTAL
BUFÃO:
-
Sua mãe está nervosa...
SUZI:
-
Quando não está?
BUFÃO:
-
Se preocupa com você.
SUZI:
-
Modo estranho de se preocupar. Sabe Bufão… Passeando pelo calçadão pude ter a
sensação de isolamento, do mundo, dos problemas...
BUFÃO:
-
A menina é muito jovem ainda pra ter problemas.
SUZI:
-
É ingênuo pensar que jovens não tem problemas.
BUFÃO:
-
Menina! A moça te muito que viver ainda.
SUZI:
-
Se meu problema deixar…
BUFÃO:
-
E que diacho de problema é esse?
SUZI:
-
Ornela. Um pacote completo. Vou entrar, antes que o mundo acabe.
BUFÃO:
-
Jovens!
CENA
7
INTERNA
– CASA – SALA DE JANTAR
SUZI:
-
Nossa Nã! Você tem mãos de fada. Nem os melhores restaurar tem um tempero tão
bom quanto esse.
NÃ:
-
Que isso menina! Sou só uma simples cozinheira de forno e fogão.
CLÁUDIO:
-
Sempre modesta!
SUZI:
-
Não vale um elogio? (Pra Ornela)
ORNELA:
-
Realmente, muito bom Nã.
NÃ:
-
Obrigada dona Ornela. É tudo tão simples.
CLÁUDIO:
-
O simples, na maioria das vezes é melhor.
ORNELA:
-
A você, por que demorou tanto?
SUZI:
-
Estava batendo pernas por aí…
ORNELA:
-
Não é bom pra uma moça ficar “batendo pernas por aí”...
SUZI:
-
Sei me cuidar.
CLÁUDIO:
-
E o que achou da cidade?
SUZI:
-
Pequena. Mas, simpática.
CLÁUDIO:
-
Já fez alguma amizade?
SUZI:
-
Sim, conheci alguém.
CLÁUDIO:
-
Isso é muito bom.
ORNELA:
-
Depende do tipo de amizades...
SUZI:
-
Te garanto que é uma companhia muito mais agradável que a sua.
CLÁUDIO:
-
Meninas!
ORNELA:
-
Pode né hostilizar o quanto quiser… Raramente estou errada.
SUZI:
-
Entre certo ou errado, a escolha será minha.
CLÁUDIO:
-
E essa pessoa tem nome?
SUZI:
-
Prefiro o sigilo. (Olha pra mãe) Quem
sabe assim não estraga tudo.
ORNELA:
-
Cuidado mocinha… Ainda sou sua mãe.
SUZI:
-
Por que você tem que estragar tudo? Tem até mesmo que transformar um simples
jantar numa sessão de tortura… (Sai
irritada. Cláudio intenciona se levantar) Não se atreva a né deixar sozinha
nesta mesa. (Ele senta) Nã. A sobremesa.
NÃ:
-
Sim senhora.
CENA
8
EXTERNA
– NOITE - PRAÇA
NATÁLIA:
-
E Téo?
KIM:
-
Sei não… Tá por aí. Talvez tenha ido ao Burgao do Pontal.
VALÉRIA
: -
Tava todo sorridente hoje...
XANDY:
-
Conhecia uma mina mó legal.
NATÁLIA:
-
Quem é?
VALÉRIA:
-
Só pode ser uma dessas turistas sem noção, que vem, usa os bobões daqui e
depois dá o fora...
XANDY:
-
Se a turista é gata, por quê não? Vem, vem vem… pode usar meu corpinho!
NATÁLIA:
-
Sem graça! O Téo não é como você.
KIM:
-
Essa boa! E o que o Téo tem de diferente?
NATÁLIA:
-
É sensível.
VALÉRIA:
-
Amiga, se você me disser gato, aceito. Mas, sensível? Não rola.
NATÁLIA:
-
Quando a gente gosta, tudo parece perfeito.
KIM:
-
Bora pro Burgão?
VALÉRIA:
-
Demorô. Vão?
KIM:
-
Vamos.
CENA
9
EXTERNA
– CASA - NOITE
BUFÃO:
-
Sem sono?
ORNELA:
-
Também.
BUFÃO:
-
Dia difícil, né?
ORNELA:
-
Todos meus dias são difíceis… melhoram quando venho passar uns dias por aqui.
Longe do trabalho, mas, não há a mínima possibilidade de me afastar dos
problemas familiares.
BUFÃO:
- Família!
Tão contraditória. Quem não tem quer, os que tem, reclama. Taí, uma conta que
não fecha.
CLAUDIO:
-
Ornela querida… Não vai dormir? (Olha
pra Cláudio com desprezo)
ORNELA:
- (Meio riso) Obrigada pela conversa.
BUFÃO:
-
Nada! Uma boa noite pra vocês. (Saem.
Búfalo, senta, puxa um cigarro, acende dá um trago. E fica pensativo)
CENA
10
TEO
SURFA SOBRE FAZ VÁRIAS MANOBRAS. A GALERA ADMIRA A DESENVOLTURA DO RAPAZ. UM
DOS AMIGOS PERCEBE A PRESENÇA DE SUZI.
KIM:
-
Putz! Tomou um caldo...
XANDY:
-
Se eu fosse ele, participava do próximo campeonato...
VALÉRIA:
-
Acredito nele.
NATÁLIA:
-
Novidade, né amiga?!
KIM:
-
Tá paradão naquela mina.
XANDY:
-
Acho que vai dá liga.
VALÉRIA:
-
É só mais uma Maria Prancha!
NATÁLIA:
-
Sempre assim… elas chegam, ficam com nossos Boys, usam e abusam, e depois dão o
fora…
KIM:
-
Aí vem vocês, e reciclam.
XANDY:
-
Boa!
VALÉRIA:
-
Até parece?! Eu? Fica com os restos.
NATALIA:
-
E se Téo quiser ficar com essa garota?
VALÉRIA:
-
Nunca! Não se depender de mim.
NATÁLIA:
-
Possessiva!
TÉO:
-
E aí galera? Não vão entrar? A água está muito boa…
VALÉRIA:
-
Só se entrar comigo.
KIM:
-
Intimou...
XANDY:
-
Vai fugir da raia?
VALÉRIA:
-
Bora?
TÉO:
-
E aí galera?
NATÁLIA:
-
Meninos, precisam de nossa força… (Todos
vão)
CENA
11
EXTERNA
- CASA – DIA
BUFÃO ESTA
DO LADO DE FORA DA CASA, LIMPA AS FOLHAS NA GRAMA.
BUFÃO:
-
Vai sair menina?
SUZI:
-
Vou dar uma volta na praia...
BUFÃO:
-
Faz bem. Está um sol lindo. Cuidado, usa protetor.
SUZI:
-
Pode deixar! (Coloca o fone de ouvido e
sai cantarolando)
ORNELA:
-
(Coloca o chapéu para se proteger do
sol)Me leva na cidade?
BUFÃO:
-
Claro. Como a senhora quiser. Vou tirar o carro da garagem.
ORNELA:
- (Coloca os óculos escuro)
Nã
aparece na porta da casa e observa tudo. Bufão abre a porta do carro. Ornela
entra, senta, retira da bolsa um pequeno espelho e o baton. Retoca a maquiagem,
dar partida e sai. O carro desaparece no horizonte sobre os olhares de Nã.
CLAUDIO:
-
Pra onde foram?
NÃ:
-
Sei não senhor. Não disseram. Com licença…
CLAUDIO:
-
Claro! (Pega o celular) Oi amor…
Como vão as coisas por aí… Escuta, tenha paciência… Logo retorno e ficamos
juntos… Não, não… Não é uma boa ideia vir pra cá. Oh, meu amor… tenha
paciência… Me dá só um tempo. Também… Também! Escuta… (Música sobe e ele continua na ligação)
CENA
12
CÂMERA
FAZ UM PLANO GERAL DA PRAIA COM PEQUENOS CLOESES E CENAS ESPECÍFICAS DE PESSOAS
APROVEITANDO A MANHÃ DE SOL, SE DIVERTINDO NO MAR.
NATÁLIA:
-
Olha quem vem lá...
VALÉRIA:
-
Merda!
NATÁLIA:
-
Não se intimidar, né?
VALÉRIA:
-
Muito pelo contrário... Vou intimidar.
NATÁLIA:
-
Essa é a Val que conheço. (As duas levantam-se e vão em direção a Suzi que está
sentada olhando para o mar)
VALÉRIA:
-
Acordou cedo prego?
NATÁLIA:
-
Vai vê que as moscas não deixaram ela dormir...
SUZI: - Não, parafuso. Estou diante
de um parafuso e uma porca.
VALÉRIA:
-
Como é que é? Do que Você me chamou?
NATÁLIA:
-
Porca? Eu? Vou dá na cara dessa piranha!
SUSI: - Sabe
meninas... Eu naõ devia, mas, vou explicar a diferença de um prego, pra um
parafuso.
VALÉRIA:
-
sei muito bem a diferença...
SUZI: - Olha
ela?! Te subestimei? Então você sabe o parafuso é fino e reto mais fácil de
fixar, já o parafuso, não é tão fácil assim, demanda força, jeito... é grosso,
ondulado... Já a porca, nem sempre é necessária. Então meninas, vão grudar em
outra que não tô com paciência pra lidar com pitis de duas caiçaras
desiquilibradas...
NATÁLIA:
-
ôh! Você ouviu isso Val?
VALÉRIA:
-
Ouvi. A turista piranha pensa, que pode nos intimidar...
NATÁLIA:
-
acho que devíamos dar uma lição nessa lagartixa anêmica.
SUZI: - Tenta.
KIM:
-
Meninas!
XANDY:
-
Oi?
SUZI:
-
Oi.
TEO:
-
Suzi?!
SUZI: - Beleza,
Téo?
TÉO:
-
Belê.
KIM:
-
Então já se conheceram...
SUZI:
-
Sim, já.
TÉO:
-
Bacana. Quer entrar no mar? A água está muito boa...
NATÁLIA:
-
Ah Téo... Eu quero.
SUZI:
-
Leva tua amiga. Ela deve está com muita vontade.
XANDY:
-
Val é de casa. Tá acostumada... (Valéria
cutuca com força Xandy) Ai caraio!
TÉO:
-
Quero levar você. Te apresentar o mar.
SUZI:
-
Já conheço o mar...
TÉO:
-
Não na minha companhia.
SUZI:
-
Então... Convite aceito.
TÉO:
-
Bora?
SUZI:
-
Bora...Ó, não tente nada. (Ele rir. Saem)
VALÉRIA:
-
Traíra. Isso que você é Xandy.(Senta)
XANDY:
-
Pô, você ia melar tudo. O Brother na dela...
VALÉRIA:
-
Que ódio dessa vaquinha!
KIM:
-
Acho que teremos um novo casal.
XANDY:
-
Falô e disse!
NATÁLIA:
-
Insuportável! (Olhando em direção a Suzi)
Nem é isso tudo...
KIM:
-
Se me dé mole, eu pego.
XANDY:
-
Ih mano? Snaking! Trairagem... Vai furar o olho do Brô?
KIM:
-
Claro que não. Mas se descartar, a gente recicla!
XANDY:
-
É nós!
VALÉRIA:
-
Dois patetas! Vamos Nath, vamos dar uma circulada que o ar aqui está muito
pesado... (Saem)
KIM:
-
Isso, vão mesmo...
CENA
13
CASA
– INTERNA – COZINHA - DIA
NÃ
ESTÁ NA COZINHA, OUVI BARULHO DE CARRO. OLHA PARA FORA, DETALHE NOS OLHOS DELA,
OBSERVA ORNELA DESCER. RETORNA A SEUS AFAZERES.
ORNELA:
-
Nã...
NÃ:
-
Sim, dona Ornela...
ORNELA:
-
Prepara um suco pra mim... (Entra)
NÃ:
-
Sim senhora. (Pega uma fruta e começa a
preparar o suco. Está nervosa, seus movimentos são bruscos)
BUFÃO:
-
Que há?
NÃ:
-
Há alguma coisa? Algo que eu precise saber?
BUFÃO:
-
Não.
NÃ:
-
Tem certeza Bufão?
BUFÃO:
-
Absoluta.
NÃ:
-
Até quando?
BUFÃO:
-
Nã... Eu te amo. E você sabe disso. Não coloque tudo a perder.
NÃ:
-
Eu? Eu que estou colocando tudo a perder? Eu? Tá bom... Eu. Agora, eu preciso
levar esse suco lá... pra madame. (Sai)
CENA
14
CÂMERA
PEGA SUZI E TÉO BRINCADO DE MERGULHAR NO MAR, UM EMPURRA O OUTRO, DIVERTEM-SE.
AFUNDAM-SE JUNTOS, QUANDO LEVANTAM-SE, ESTÃO MUITO PROXIMOS, ELA SE SENTE NOS
BRAÇOS DELE. SEUS OLHARE SE CRUZAM. NÃO RSISTEM, SE BEIJAM. AO LONGE ATONITA
VALÉRIA OBSERVA E NÃO ESCONDE SEU ÓDIO.
SUZI:
-
Peraí... (Se desvencilha)
TÉO:
-
Que foi?
SUZI:
-
Vamos com calma rapaz...
TÉO:
-
Desculpa! Eu não quis avançar o sinal...
SUZI:
-
Tudo bem... Só vamos devagar.
TÉO:
-
Não gostou?
SUZI:
-
(Ela rir) Pra caramba! Muito.
TÉO:
-
Então?
SUZI:
-
Você não vai me dar trégua.
TÉO:
-
Só se você me dé outro beijo.
SUZI:
-
Roubado é mais gostoso. (Corre. Ele vai
atrás. Alcança. Os dois rolam pela área. Depois de um tempo ele vai ao mar
limpar a areia. Ela fica sentada observando Téo. Valéria se aproxima)
VALÉRIA: - Um
piranha empanada!
SUZI:
-
Olhando pra uma baleia encalhada na areia. (Levanta e vai em direção a Téo)
NATÁLIA: - Uh!
VALÉRIA: - Vai
pagar muito caro por isso...
CENA
15
CASA
– INTERNA – DIA – SALA
ORNELA ESTÁ
SENTADA NA SALA COM UM NOTBOOK E PARECE DISTRAÍDA.
NÃ: - Dona
Ornela, seu suco.
ORNELA: - Ah,
obrigada. (Para o trabalho e pega o suco)
Tudo bem com você Nã?
NÃ: - Sim...
Sim senhora.
ORNELA: - Me
parece tensa.
NÃ: -
Impressão da senhora.
ORNELA: - Então
está certo, Nã... Você sabe onde o Claudio foi?
NÃ: - Saiu
logo depois da senhora, mas, não disse onde ia não...
ORNELA: - Tudo bem
Nã... Obrigada. (Nã sai. Ornela a
observa)
CENA
16
EXTERNA
- PRAIA – DIA
NATÁLIA: - Ele tá
caidinho por essa Maria Parafina.
VALÉRIA: - Tá nada.
Só curiosidade, carne nova no pedaço.
NATÁLIA: - Será que
ela vai ao luau de hoje?
VALÉRIA: - Não tá
loka.
NATÁLIA: - Acha que
ele não vai convidar a intrusa pra apresentar a galera sua nova aquisição?
VALÉRIA: - Temos
que bolar um plano que afaste essa vadia dele...
NATÁLIA: - Mas
como? Quebrando as pernas dela e deixando ela de molho por todo verão?
VALÉRIA: - Não.
Isso seria muito cômodo pra essa vadia. Não duvido nada, que trouxa como ele é,
de ofereceria como enfermeiro.
NATÁLIA: - Então
ferrou! Não consigo pensar em nada...
VALÉRIA: - Mas já
sei como… e vai ser ele que vai se afastar dela.
NATÁLIA:
-
Que tem aí, nessa tua mente maligna?
VALÉRIA: - Ele vai
pegar ela com um dos melhores amigos dele, e será neste luau.
NATÁLIA: - Como vai
fazer isso?
VALÉRIA: - Tenho
minhas armas… (Corte)
TRANSIÇÕES...
CENA
17
EXTERNA
– NOITE – RUA
Kim é surpreendido
por Valéria que o espera enfrente a sua casa.
KIM: - Val…?
VALÉRIA: -
Surpreso?
KIM: - Não
espera...
VALÉRIA: - Eu aqui?
E só pra você...
KIM: - Que fita
é essa? Passa logo a visão… Que tá rolando.
VALÉRIA: - Pergunta
errada. Que vai rolar!
KIM: - Tô
confuso.
VALÉRIA: - Eu sei.
Você é assim, lento mesmo, mas é uma gracinha.
KIM: - Que isso
mina? Pirou?
VALÉRIA: - Sempre
soube que você tem uma queda por mim… Sempre foi afim… Te acho atraente, juro!
Acho mesmo!
KIM: - Já sei,
fez uma aposta com os brothers...
VALÉRIA: - Nada
disso.
KIM: - Sabe que
sou muito ruim de enigmas… então Val, se você desenrolar esse papo de forma
clara, fica bem mais fácil de entender...
VALÉRIA: - Bom,
bora lá… Estou disposta a me entregar a você pra uma linda noite de amor,
realizar teus desejos….
KIM: - Mas você
e paradona na do Téo.
VALÉRIA: - Tudo tem
seu preço. Você me ajuda e em troca você terá os seus mais íntimos desejos
realizados. Bom pra mim, bom pra você.
KIM: - Que
tenho que fazer?
VALÉRIA: - Chegou
no ponto que eu queria. Não me convida pra entrar? Te explico.
KIM: - Entra
aí.
CENA
18
NOITE
– INTERNA - CASA – SALA DE JANTAR
ORNELA: - Até que
enfim chegou. Pensei que ia me deixar sozinha…
CLÁUDIO: - Só vou
lavar as mãos. E Suzy.
ORNELA: - Só se
colocar uma tornozeleira nela...
CLÁUDIO: - Que
exagero! Deve está com a galera jovem.
ORNELA: - Galera!
Foi exatamente por causa de uma dessas que viemos parar aqui. Pra tentar livrar
nossa filha daquele mau elemento.
CLÁUDIO: - Dá um
tempo pra nossa filha… Deixa ela respirar.
LORENA: - Sua
indiferença, essa sua capacidade de minimizar tudo me deixa espantada e
decepcionada de você. Você é e sempre foi, omisso.
CLÁUDIO: - Desculpa
minha querida se te decepciono…
LORENA: - Não, não
desculpo Cláudio. Eu preciso de você mais presente, com atitude. Preciso do seu
total apoio pra orientar nossa filha.
CLÁUDIO: - Nossa
filha é apenas uma adolescente descobrindo a vida…
ORNELA:
-
Não coloquei uma filha no mundo pra ser uma fracassada… Já basta o pai!
CLÁUDIO: - Vida
inteira você me subestimou… Uma hora dessas você poderá ter uma grande
surpresa. (Sai)
ORNELA: - Não se
atreva a né deixar falando sozinha…
NÃ: - Posso
servir a…
LORENA:
-
Perdi a fome. (Sai)
CENA
19
CLAUDIO
SAI NERVOSO E ENCONTRA DO LADO DE FORA SUZI QUE ESTÁ SENTADA NO DEGRAU DA
ESCADA.
CLÁUDIO: - (Senta só lado da filha) Ouviu?
SUZI: - Tem como
não ouvi?
CLÁUDIO: - Tudo?
SUZI: - Tudo.
CLÁUDIO: - Peguei
pesado?
SUZI: - Faria o
mesmo.
CLÁUDIO: - Não, não
Conselho.
SUZI: - Vem cá,
pai, como aguenta?
CLÁUDIO: - Vai vê
que tenho um dom...
SUZI: - Eu
chamaria isso de carma.
CLÁUDIO: - E você,
tudo bem?
SUZI: - Tô
ótima!
CLÁUDIO: - Me
parece feliz...
SUZI: - E tô.
CLÁUDIO: - Conheceu
alguém?
SUZI: - Sim…
Pai, ele é um cara muito legal. Tenho certeza que vai gostar dele.
CLÁUDIO: - Do outro
sabe que não fui nada com a cara dele.
SUZI: - Eu sei.
CLÁUDIO:
-
Me fala dele...
SUZI: - Falar?
Tipo o que…
CLÁUDIO: - Como
ele… como conheceu… sei lá, essas coisas...
SUZI: - Pai…
você é o máximo! (Abraça) Te amo.
CENA
20
ORNELLA
OLHA PELA JANELA E OBSERVA CLÁUDIO E SUZI CONVERSANDO.
NÃ: - A
senhora ainda vai precisar dos meus serviços?
ORNELA: - Está
vendo Nã? Vem aqui, olhe… pai filha num momento muito íntimo de muito carinho.
Seria linda essa cena de não fosse trágica. Nisto ele está selando de firma
irresponsável o destino de sua única filha. Passando a mão na cabeça dela,
apesar de todos os erros que cometeu e os que continua a cometer. E eu que sou
a errada, a cruel, sem alma, sem compaixão, o coração de mãe endemonizado.
NÃ: - Tudo
passa… e logo as coisas voltam ao seu rumo normal.
ORNELA: - Ainda
bem que você não tem filhos. Nunca pode ter filhos…
NÃ: - Como a
senhora sabe disso?
ORNELA: - É
segredo? Desculpa…
NÃ: - Não. Mas
não goste de falar sobre isso. (Olhos
enchem de lágrimas) Com licença! (Sai)
ORNELA: - Claro! (Dá meio tudo. Há uma satisfação em seu
olhar)
CENA
21
NOITE
– EXTERNA – RUA.
CLAUDIO
CAMINHA PELA RUA, RETIRA DO BOLSO UMA CARTEIRA DE CIGARROS, ESCOLHE UM, ACENDE
E DÁ UM PRAZERO TRAGO. PARA EM UM CERTO LOCAL GRADEADO, SE ESCORA, TRAGA,
PARECE PENSATIVO, CELULAR TOCA. DÁ MAIS UM TRADO, JOGA O CIGARRO NO CHÃO, PISA,
CELULAR CONTINUAR A TOCAR. ATENDE.
CLAUDIO: - Oi? Tô
bem. Que bom que ligou... Já estava com saudades... Quero te vê. O que? Aqui?
Sei não... Quer saber, dana-se. Sim...
Há
um corte na imagem.
CENA 22
NOITE
– INTERNA – CASA – SALA
ORNELA
ESTÁ SENTADA LENDO UM LIVRO, SUZI ENTRA, ORNELA COM TODA CLASSE FECHA O LIVRO,
APOIA EM SEU COLO E OBSERVA A FILHA.
SUZI: - Que foi?
Vai ficar me secando?
ORNELA: - Que modo
de falar. Mas, não tem jeito, né? Faz questão de me afrontar.
SUZI: - Que
mania você tem dona Ornela de se achar o centro do universo... Acha mesmo que
tudo gira em sua volta?
ORNELA: - ao menos
você, e o fraco do seu pai sim.
SUZI: - Meu pai
é muito melhor que você.
ORNELA: - Claro! Te
deixa livre pra fazer o que quiser... Mas, saiba você mocinha...
SUZI: - nem
começa... (saindo)
ORNELA: - Não se
atreva a me virar as costas e me deixar falando sozinha.
SUZI: - Então
fala logo, vamos, fala.
ORNELA: - Tenho
tentado fazer tudo isso da melhor maneira possível... mas, você Suzi, não
colabora... Com que marginal você agora está se envolvendo?
SUZI: - Por que
pra você todo mundo é marginal?
ORNELA: - Me prove
ao contrário.
SUZI: - Não
preciso provar nada pra você. Posso ir tomar um banho?
ORNELA: - Liberada.
Ornela
senta calmamente, pega o livro e continua sua leitura.
CENA
23
NÃ
ENTRA NO QUARTO TENSA, FAZ FORÇA PRA SE CONTROLAR, MAS, É VISÍVEL QUE VAI
EXPLODIR A QUALQUER MOMENTO.
BUFÃO: - Que cê
tem mulher?
NÃ: - Que
mesmo saber? Será que você já não sabe, será mesmo?
BUFÃO: - (Se aproxima) Vem cá minha preta...
NÃ: - Para. Me
solta … Nem adianta vim com essa conversinha tentando me iludir… Não vai
conseguir...
BUFÃO: - Que quer
que eu faça?
NÃ: - Que
pare. Pare! Eu já não aguento mais… (Desaba
em lágrimas) Não suporto mais tanta humilhação...
BUFÃO: - Meu
amor, você é a mulher da minha vida… Eu te a amo Nã. Sempre te amei...
NÃ: - Que amor
é esse Bufão? Que droga de amor é este? Que fere, machuca, humilha.
BUFÃO: - Sabe que
se eu disser não… nossa vida muda.
NÃ: - Seria um
sacrifício dos dois. Muito mais justo. E agora? Quem paga, quem sofre, sou eu.
Acha justo?
BUFÃO: - Não.
NÃ: - Então
larga de ser egoísta e faz o que tem que ser feito… A menos que goste dessa
mulher. (Ele baixa a cabeça) Nem
precisa dizer nada. Já tenho a resposta. (Sai)
BUFÃO
FICA INQUIETO, ANDA DE UM LADO PARA O OUTRO, NÃO SABE QUE FAZER.
CENA
24
INTERNA
- DIA - SALA
CLAUDIO
ESTÁ NA JANELA, PARECE BEM A VONTADE. SUZI ENTRA, ESCUTA OARTE DELA CONVERSA E
FICA DESCONFIADA.
CLÁUDIO: - Claro,
claro… Não, não é isso… oh meu amor, adorei… foi lindo, perfeito. Já tô com
saudades...
SUZI: - (Força um pigarro)
CLÁUDIO: - (Se assusta. Disfarça.) Depois falo
contigo… (Desliga o celular)
Filha...
SUZI: - É… Sou
eu.
CLÁUDIO: - Faz
tempo que estava aí?
SUZI: - Não. E
não precisa esquentar a cabeça, não ouvi muita coisa. Mas, pai… você tem uma
amante?
CLÁUDIO: - Que
isso!
SUZI: - Não que
eu me espante. Cada um é feliz do seu jeito. E ter minha mãe como mulher, não
deve ser nada fácil.
CLÁUDIO: - Nem
sempre, foi assim. Quando a conheci, era uma moça doce e admirável...
SUZI: - Tava
apaixonado?
CLÁUDIO: - Estava.
SUZI: - Isso
explica! Todo apaixonado é bobo.
CLÁUDIO: - Isso é
jeito de falar com seu pai? (Riem)
SUZI: - Tem
sorte de não ser ela, a toda poderosa, que não ouviu suas declarações de amor.
CLÁUDIO: - Nada
disso, entendeu tudo errado.
SUZI: - Para
pai. Não viaja. Não vi, não ouvi portanto, não direi nada. Bom, vou nessa…
CLÁUDIO: - Vai se
encontrar com o rapaz?
SUZI: - Vou.
CLÁUDIO: - É sério?
SUZI: - Não pai…
É leve, como a vida deve ser. Beijos! (Sai)
CLÁUDIO: - Te
cuida! (Olha na janela. Pega o celular e
retorna a ligação) Oi… Desculpa, e que minha filha… (Corte de cena)
CENA
25
DIA
– EXTERNA – CASA - COZINHA
ORNELA: - Nã?
NÃ: -
Senhora?!
ORNELA: - Você
conhece tudo por aqui… Sabe quem é o rapaz com quem Suzi está saíndo?
NÃ: - Dona
Ornela...
ORNELA: - Sei que
sabe. Esse lugar é um ovo, todos se conhecem. Quem é o rapaz?
NÃ: - Bom, eu
ouvi dizer que ela está de amizade com pessoal, mas, a senhora não precisa de
preocupar, são boas pessoas.
ORNELA: - Quem é o
rapaz?
NÃ: - Téo. Se
chama Téo.
ORNELA: - Onde
mora esse indivíduo?
NÃ: - Nao
muito longe.
ORNELA
LEVANTA PEFA UM BLOQUINHO E UMA CANERA E ENTREGA A NÃ.
ORNELA: - Escreve
aqui o endereço, por favor, sabe escrever, não é?
NÃ: - Claro.
Sei. (Nã escreve) Pronto. (Entrega) São boa pessoas.
ORNELA: - Não
precisa se preocupar. Só quero averiguar o tipo de pessoa com quem minha anda.
Entende? Coisa de mãe.
NÃ: - Com
licença. (Saindo)
ORNELA: - Nã… Diz
a Bufão que vou precisar dos serviços dele. (TOM DE PROVOCAÇÃO)
NÃ: - (Respira fundo) Sim senhora. (Sai)
ORNELA
PERCEBE O CIUMES DE NÃ. HÁ SATISFAÇÃO EM SEU OLHAR. MEIO RISO.
CENA
26
EXTERNA
- NOITE - PRAIA
SUZI: - Oi?!
TEO: - Que bom
que veio...
SUZI: - É, vim…
OUVE
A GALERA CANTANDO ACOMPANHADA POR UM VIOLÃO.
NATÁLIA: - Promete
que não vai surTar?!
VALÉRIA: - Não vai
me dizer que…
NATÁLIA: - É… Veio.
E está sendo bem recepcionada.
VALÉRIA: -
Vaca! (Levanta)
NATÁLIA: - Vai
onde?
VALÉRIA: - Me
tornar insuspeita.
NATÁLIA: - Não
entendi.
VALÉRIA: - Esquece.
Se esforçar muito não. (Sai vai até o
casal)
CÂMERA VOLTA PARA SUZY E TEO: - (Dá
o braço) Senhorita...
VALÉRIA: - Olha!
Temos visita?! Sei que o que fazemos por aqui, não é uma atração tão atrativa
aos olhos de alguém que está acostumada com entretenimentos bem mais,
sofisticados…
TEO: - Para já
com isso...
VALÉRIA: - Ei, que
isso Téo? Vim só dar as boas vindas a sua amiga. Olha, sou a Val, e sei que começamos
errado. E te perdoo pela a má impressão que tem a meu respeito. Bom, seja bem
vinda a nosso Luau.
SUZY: -
Obrigada.
TEO: - Vamos?
Vou te apresentar ao pessoal. (Saem)
VALÉRIA: - Ah
queridinha! Não perde por esperar… Vou tornar sua vida um inferno. Me aguarde!
(Sai)
CENA
27
INTERNA
- COZINHA - NOITE
NÃ: - Tua
patroa tá te chamando...
BUFÃO: - Agora?
NÃ: - Diz ela
que vai precisar de seus serviços… Serviços.
BUFÃO: - Nã...
NÃ: - Ela faz
de tudo pra que eu me sinta humilhada… Pra mostrar o poder que ela tem sobre
você. Que pode fazer de você fosse e sapato, como se fosse um brinquedinho
dela.
BUFÃO: - Meu
amor...
NÃ: - Isso tem
que acabar. Se você for… eu não sei se estarei aqui quando você voltar. Escuta
o que eu estou te falando.
BUFÃO: - Sabe que
não posso fazer isso…
NÃ: -
Conversa! Está muito cômodo pra você. Essa situação é humilhante pra mim. Eu
não suporto mais tudo isso, a cada dia me diminuo mais, me anulo e não aguento
mais me fazer de cega, ingênua e de quem nem está aí pra toda essa situação...
BUFÃO: - Meu
amor, te amo… muito. Mas, tenho que ir.
NÃ: - (Entre lágrimas. Respira) Então, vai.
BUFÃO: - (Se aproxima para beijar. Ela se afasta como se quisesse proteger e sai)
CENA
28
EXTERNA
- NOITE - PRAIA
TEO: - Galera…
Está é a Suzi. Suzi aquele com cara de bobão é Kim, o outro lá, o maluco, é o
Xandy e aquele apagado é o Léo. As meninas são amigas. (VALERIA VEM SE APROCIMANDO DO GRUPO) A Val você já conhece.
VALÉRIA: - Seja bem
vinda a nossa roda de amigos. Gente, que luau é esse? Cadê a música? Bora povo!
Festa!
(COMEÇAM A TOCAR)
CENA
29
INTERNA
- NOITE - SALA
CLÁUDIO: - Que mala
é essa Nã? Você está com cara de quem chorou…
NÃ: - Estou
indo embora seu Cláudio.
CLÁUDIO: - Que foi?
Brigou com Bufão?
NÃ: - Sabe seu
Cláudio. Ás vezes, não podemos mudar uma pessoa… Mas, quando isso acontece,
somos nós que temos que mudar.
CLÁUDIO: - Você
quer conversar? Senta aí...
NÃ: - Não,
obg. Estou bem assim...
CLÁUDIO: - Quer uma
água?
NÃ: - Não, não
se preocupem. Estou bem. Destruída, mas bem.
CLÁUDIO: - Me conta
que está acontecendo… deixa eu aí menos tentar te ajudar.
NÃ: - Será que
o senhor não sabe mesmo?
CLÁUDIO: - Do que
está falando?
NÃ: - Sabe seu
Cláudio, as vezes é melhor fingir que não vê, que não percebe… Mas depois, vc
se olha no espelho, e não se reconhece.
CLÁUDIO: - Verdade
Nã… A gente muitas vezes se anula tanto, que quase deixamos de existir,
esquecemos o propósito das nossas vidas .
NÃ: - Mas,
sempre há uma chance pra recomeçar… Até quando o senhor vai aceitar tudo isso
sem reagir?
CLÁUDIO: - Então
você sabe?
NÃ: - Sim,
sei. E não vou ficar aqui servindo de plateia. (Saindo. Para perto da porta) Desculpa, mas seja homem… amando ou
não, é sua mulher. No mínimo te deve respeito. (Sai)
CENA
30
NOITE
- EXTERNA - PRAIA
(LUGAR
MAIS RESEVADO O DE AO FUNDO DÁ PRA VÊ A GGALERA)
SUSI: - A galera
é muito animada.
TÉO: - São
mesmo… gostando?
SUSI: -
Bastante.
TÉO: - Que bom.
Fico feliz que tenha vindo.
SUSI: - E eu
feliz por ter vindo…
(Se olham fixamente, eles estende as mãos pra ela, se aproximam e
beijam-se) (Sobe a Trilha).
CENA
31
NOITE
- EXTERNA - PRAIA
VALÉRIA: - Hora de
colocar o plano em ação...
NATÁLIA: - Agora?
VALÉRIA: - Já. E
não vai meter os pés pelas mãos...
NATÁLIA: - Jamais
amiga. Sei exatamente tudo que preciso fazer.
LÉO: - Que plano
é esse? Do que estão falando?
VALÉRIA: - Nada
não… Fica na tua. Bora Kim, é tua vez de entrar em ação…
KIM: - Demoro!
XANDY: - Hei, e
eu? Pô, sujeira… (Eles saem) O que essa galera tá aprontando? Tem sujeira nesse
bagulho.
CENA
32
NOITE
- INTERNA - QUARTO DE MOTEL.
ORNELA
ESTA DEITADA FUMA UM CIGARRO. DÁ UM TRAGO SOBRE OS OLHARES DE BUFÃO. COLOCA O
CIGARRO NO ISQUEIRO. PEGA UMA TAÇA.
ORNELA: - Não vai
me servir?
BUFÃO: - Dona
ORNELA, precisamos conversar...
ORNELA: -
Conversar? Pensei que tínhamos vindo até aqui pra outra coisa. Coisa essa que
você faz muito bem...
BUFÃO: - Preciso
conversar com a senhora.
ORNELA: - Não vai
me dizer que irá me deixar na mão? Não você. Sempre foi um garanhão. Seria um
desperdício. Realmente, não é minha vontade ter que dispensá-lo. De inútil,
chega o fraco do meu marido. Agora me responda Bufão, pra que um amante, se não
te satisfaz?
BUFÃO: - Então eu
sou apenas isso. Um objeto sexual em tuas mãos… Que você dicide hora, lugar,
onde e como.
ORNELA: - Você
nunca falha meu caro. Realiza todas minhas fantasias…
BUFÃO: - Sinto
muito, mas, terei que decepciona-la.
ORNELA: - Pare com
esse teatrinho de quinta… Tire essa roupa logo e me sirva. É isso que o que me
motiva a mantê-lo trabalhando pra mim a tanto tempo.
BUFÃO: - Amo
minha mulher...
ORNELA: - (GARGALHADAS) É mesmo? Ama? E todos
esses anos comigo?
BUFÃO: - Como bom
funcionário, cumpri ordens. Tudo isso pra proteger a mulher que eu amo.
ORNELA: -
Estupido!
BUFÃO: - Estou me
demitindo.
ORNELA: - Você não
pode se demitir. Eu que demito, quando eu quiser... se eu quiser.
BUFÃO: - Sinto
muito. Mas a senhora vai ter que procurar outro brinquedinho. Boa sorte, dona
Ornela. (SAI)
ORNELA: - (JOGA A TAÇA NA PORTA) Maldito! Você me
paga.
CENA
33
PRAIA
- EXTERNA - NOITE
VALÉRIA: -
Desculpa! Não queria atrapalhar os pombinhos… Mas Téo… posso trocar uma ideia
com você?
TÉO: - Claro.
VALÉRIA: - Você não
se importa, né?
SUZY: - Não.
VALÉRIA: - Podemos?
(APONTA UMA DIREÇÃO)
TÉO: - Já
volto.
SUZY: - Tudo
bem. (FALA NO OUVIDO) Volta logo.
TÉO: - Volto! (A BEIJA)
ELE
SAI SEGUIDO DE VALERIA. SUZI FICA SOZINHA. PARECE DISTRAÍDA.
KIM: - Oi?!
SUZY: - Oi.
KIM: - Não sei
se você se lembra de mim...
SUZY: - Kim?
KIM: - Isso.
Bia memória a sua.
SUZY: - É, tenho
uma boa memória...
KIM: - Legal. E
você e o Téo, tão firmão mesmo?
SUZY: - Acho que
sim.
KIM: - Bacana.
CENA
34
INTERNA
– NOITE - SALA
CLÁUDIO: - Mas cedo
que de costume...
BUFÃO: - E que...
CLÁUDIO: - Não
precisa explicar nada. Não há nenhuma explicação cabível a situação… Sei de
tudo.
BUFÃO: - Sabe?
CLÁUDIO: - Sempre
soube.
BUFÃO: - Sinto
muito.
CLÁUDIO: - Mesmo?
BUFÃO: - Sim
senhor.
CLÁUDIO: - Por
quem?
BUFÃO: - Por
todos nós. Inclusive, Nã.
CLÁUDIO: - Uma
mulher incrível. Que te ama muito.
BUFÃO: - Eu sei.
CLÁUDIO: - Ama
Ornela?
BUFÃO: - É
embaraçoso falar sobre isso com senhor.
CLÁUDIO: - Ela te
ama?
BUFÃO: - Sempre
amou mais a si.
CLÁUDIO: - Verdade.
BUFÃO: - Não
posso perder Nã.
CLÁUDIO: - Então
acho bom se apressar. Ela foi embora.
BUFÃO: - (VAI ATÉ A PORTA. PARA) Espero que o
senhor me perdoe… Obrigado. (SAI)
CLÁUDIO
FICA ESTÁTICO, EM SEUS OLHOS HÁ UMA PROFUNDA TRISTEZA, LÁGRIMAS ROLAM.
CENA
35
NOITE
- EXTERNA - PRAIA
TÉO
E VALERIA ESTÃO CONVERSANDO.
NATÁLIA: - Téo…
TÉO: - Fala
garota!
AMIGA: - A tua
amiguinha já está preocupada. Achando que a Val te sequestrou dela…
VALÉRIA: - É melhor
ir, não quero confusão com sua suposta namoradinha...
TÉO: - Então
vou lá, né?
(ELE VAI AO ENCONTRO DE SUZI)
VALÉRIA: - Vamos… (PRA NATÁLIA)
CENA
36
NOITE
- INTERNA - SALA
ORNELA
ENTRA, PARECE TENSA. SENTA NO SOFÁ, ABRE A BOLSA, PEGA UM CIGARRO, ACENDE. DÁ
UM TRAGO, ENCARA O MARIDO.
ORNELA: - Que foi?
Vai ficar aí me olhando, como se eu fosse um objeto em exposição?
CLÁUDIO: - É assim
que se sente, depois de ter sido abandonada por seu amante?
ORNELA: - Se meu
marido disse homem pra mim não precisaria de um.
CLÁUDIO: - Pra que
serve um marido se não consegue ser teu homem?
ORNELA: - Eu
sempre soube dos seus caminhos disformes...
CLÁUDIO: - E por
que quis ir adiante já que sabia?
ORNELA: - Por que
eu amava você. Amava? (APAGA O CIGARRO
NO CINZEIRO) E esse foi meu erro. Sempre nutri a esperança que um dia, você
ia despertar o interesse por mim, que iria me pegar em teus braços e me fazer
uma mulher de verdade...
CLÁUDIO: - Te amei
Ornela… Te amei muito. Mas, não conseguia…
ORNELA: - Viver
sem seus encontros amorosos, sem que né fizesse sentir humilhada, arrasada, por
não poder entrar nessa guerra com as mesmas armas que as pessoas que você anda
tem… Sou completamente o oposto do que você gosta, curte e te atrai.
CLÁUDIO: - Sinto
muito Ornela… sinto muito… fiz de tudo, tudo que pude pra que nosso casamento
desse certo.
ORNELA: - Vocês aí
da estão juntos?
CLÁUDIO: - Sim.
Estamos. Não posso mais continuar com essa farsa. Esse casamento, nossa relação
é uma farsa.
ORNELA: - Vai
contar a verdade a Suzi?
CLÁUDIO: - Não sei…
Estou perdido… Perdido. E se ela não entender?
ORNELA: - Ao menos
contou a verdade. Não deixe que ela descubra, como eu descobri. (SAI)
CÂMERA
FECHA EM CLÁUDIO PENSATIVO.
CENA
37
NOITE
- EXTERNA - PRAIA
CÂMERA
ACOMPANHA TÉO QUE SEGUE EM DIREÇÃO A SUZI. AO LOGE ELE VÊ SUZI CONVERSANDO COM
KIM, DE REPENTE KIM SE APROXIXA E A BEIJA A FORÇA.
TÉO: - Suzi… (SAI DECEPCIONADO)
SUZI: - Téo?! (KIM A SEGURA COM FORÇA) Me solta seu
idiota.
(ELE DAZ MAUS FORÇA. ELA DÁ UMA BOFETADA NELE. SAI)
SUZI: - Cadê o
Téo?
VALÉRIA: - Parece
que vou um monstro… Sabe querida, se tem uma coisa que os homens daqui não
perdoa, é traição.
AMIGA: - Que
feio! Trair o namoradinho no primeiro dia…
SUZI: -
Recalcadas! Aposto que estão por trás disso tudo. São muito sórdidas. (Sai) (AS DUAS COMORAM)
CENA
38
NOITE
- EXTERNA - CASA ONDE NÃ ESTÁ.
NÃ: - Que faz
aqui?
BUFÃO: -
Precisava falar com você.
NÃ: - Já
falamos tudo que a gente tinha pra falar.
BUFÃO: - Não.
NÃ: - Não?
BUFÃO: - Eu
esqueci de te dizer, que você Nã, e a mulher mais importante da minha vida.
NÃ: - E dona Ornela?
BUFÃO: - Foi uma
fantasia, um desejo de um homem bronco, pobre, provar a si mesmo que ele era
capaz de conquistar uma mulher granfina, sofisticada… enquanto eu pensava que
era o todo poderoso, era ela que me usava para satisfazer os seus feitiches.
NÃ: - Veio
aqui pra descrever suas orgias com a madame? (ENTRANDO)
BUFÃO: - Não,
não… Vim aqui te dizer que você é e sempre foi a mulher que eu amo. E eu Nã não
consigo me vê sem você ao meu lado.
NÃ: - Não
posso mais conviver com toda aquela situação...
BUFÃO: - Nem
precisa. Pedi demissão. Podemos recomeçar, juntos. Se você me permitir, a
continuar fazendo parte de sua vida.
NÃ: - Oh
Bufão, meu amor! Eu te amo tanto, tanto, tanto… (Cai nós braços dele, e se beijam)
CENA
39
NOITE
- EXTERNA - CASA DE DA TÉO
VILMA: - Oi?
SUZI: - Boa
noite. O Téo, por favor?
VILMA: - (MASTIGA CHICLETE) E você quem é?
SUZI: - Suzi.
VILMA: - (Grita) Téo, é a Suzi.
TÉO: - (EM OFF) Diz a ele pra me esquecer.
VILMA: - Que isso
moleque?! Não foi essa educação que te dei.
TÉO: - Mãe, não
vou falar com essa garota. É uma piranha.
SUZI: - Escutei.
VILMA: - Aí, que
você fez pra ele tá assim tão irritado contigo?
SUZI: - Não fiz
nada. Um dia ele vai saber, que eu não fiz nada. E vai se arrepender de ter
sido tão burro. (SAI)
VILMA: - Eu hein,
cada uma! (JOGA O CHICLETE FORA. ENTRA)
CENA
40
EXTERNA
– NOITE - PRAIA
LÉO: - Que
merda é essa que aconteceu aqui?
XANDY: - Caraca
cara, pegou mal.
KIM: - A mina
deu mole... Peguei!
VALÉRIA: - Não sei
por que o espanto... Todo mundo sabe que essas turistas são tudo um bando de
vadiazinhas... Vem aqui e se esbaldam dos rapazes, sugam vocês como vampiras,
sugam vocês, e depois se jogam fora, descartam...
LÉO: - Suzi não
parece ser uma dessas... Mô firmeza!
NATÁLIA: -
Aparências enganam!
LÉO: - Muito
estranho...
VALÉRIA: - Tem nada
de estranho. Não é ele o primeiro corno do litoral.
XANDY: - Agora
meu amigo, tu tá ferrado!
KIM: - Ela dá
em cima de mim, e eu é que pago?
NATÁLIA: - É homem.
Se não pegasse, ficaria feio.
VALÉRIA: - A vadia
acabou com nosso luau.
KIM
PUXA VALERIA PELO BRAÇO E VAI PRA U,M CANTO COM ELA ENQUANTO OS OUTRO
CONVERSAM.
KIM: - Fiz o
combinado.
VALÉRIA: - É eu
sei.
KIM: - Tem que valer
muito apena. Tô correndo o risco perder a amizade do meu melhor amigo.
VALÉRIA: - Vai
perder não... Fica frio. Fez direitinho... Vai receber seu prêmio.
KIM: - Ai
sim...
VALÉRIA: - Vai lá,
e me espera. Ó, não vai me decepcionar!
KIM: - Jamais!
Aqui é prazer garantido.
VALÉRIA: - Vamos
vê... (Ele sai) Babaca!
CENA
41
NOITE
– INTERNA – SALA
CLAUDIO
ESTÁ DEITADO NO SOFÁ, PARECE ABATIDO.
CLAUDIO: - Filha?
SUZI: - Oi pai?!
CLAUDIO: - Que cara
é essa? Noite ruim? (ELA FAZ SINAL QUE
SIM, SENTA AO LADO DO PAI E É
ACOLHIDA)
SUZI: - Também?
CLAUDIO: - Também.
Quer conversar?
SUZI: - Melhor
não, né pai? Vamos fazer assim, você me dá colo, eu te dou colo.
CLAUDIO: - Gostei
da solução.
SUZI: - Ás
vezes, o silêncio nos diz mais que qualquer palavra... (LÁGRIMAS) Estou destruída por dentro...
CLAUDIO: - Oh
filha! No final das contas, tudo se resolve. (Se abraçam)
TRANSIÇÃO:
MOSTRA A CIDADE DO ALTO COM VÁRIOS TAKES DE RUAS E PRAÇA, TRÂNSITO E UMA GERAL
DA PRAIA.
CENA
42
NÃ
ENTRA NO QUARTO TENSA, FAZ FORÇA PRA SE CONTROLAR, MAS, É VISÍVEL QUE VAI
EXPLODIR A QUALQUER MOMENTO.
BUFÃO:
-
Que cê tem mulher?
NÃ:
-
Que mesmo saber? Será que vc já não sabe, será mesmo?
BUFÃO:
- (Se aproxima) Vem cá minha preta...
NÃ:
-
Para. Me solta… Nem adianta vim com essa conversinha tentando me iludir… Não
vai conseguir...
BUFÃO:
-
Que quer que eu faça?
NÃ:
-
Que pare. Pare! Eu já não aguento mais…
(Desaba em lágrimas) Não suporto mais tanta humilhação...
BUFÃO:
-
Meu amor, você é a mulher da minha vida… Eu te a amo Nã. Sempre te amei...
NÃ:
-
Que amor é esse Bufão? Que droga de amor é este? Que fere, machuca, humilha.
BUFÃO:
-
Sabe que se eu disser não… nossa vida muda.
NÃ:
-
Seria um sacrifício dos dois. Muito mais justo. E agora? Quem…
CENA
43
DIA
- EXTERNA - LANCHONETE
VILMA:
-
Bom dia?!
ORNELA:
-
Bom dia. Assim, espero…
VILMA:
-
A senhora já fez sua escolha? Posso anotar seu pedido?
ORNELA:
-
Por acaso você é a Mãe do Téo?
MÃE:
-
Sim. Téo é meu filho… Aconteceu alguma coisa?
ORNELA:
-
Ainda não. Mas, está preste a acontecer. Caso seu filho insista em continuar a
investir em se relacionar com minha filha.
VILMA:
-
Olha… Estou em meu local de trabalho. Não posso me dá um luxo de resolver
questões pessoais aqui. Mas se a senhora quiser podemos conversar depois do meu
expediente.
ORNELA:
-
Só avisa a seu filho pra manter distância da minha filha…
VILMA:
-
Encontra no meu filho e vai conhecer uma fera.
ORNELA:
-
Está me ameaçando, garçonete?
VILMA:
-
Não. Tome isso como aviso.
(ABRE
A BOLSA, PEGA A CARTEIRA, RETIRA UMA NOTA DE DINHEIRO E COLOCA NA MESA)
ORNELA:
-
Uma gorjeta. Aproveita que hoje estou caridosa. Caridade faz bem.
VILMA:
- (Pega o dinheiro rasga) Olha que faço
com sua caridade.
CENA
44
DIA
- EXTERNA - PRAIA
VALÉRIA:
-
Oi?!
TÉO:
-
Fala aí...
VALÉRIA:
-
Chateado?
TÉO:
-
Que acha?
VALÉRIA:
-
Imagino como Deca está… Aquela vadiazinha te decepcionou?
TÉO:
-
Acabou… (LEVANTA E VAI EM DIREÇÃO AO
MAR)
VALÉRIA:
-
Espera. (Segura ele encontrando no
ombro) Estou aqui. Sempre estive aqui. Te gosto muito Téo.
TÉO:
-
Não força a barra Val. Você é pra mim apenas uma amiga. (SAI)
VALÉRIA:
-
Idiota.
CENA
45
DIA
- EXTERNA - PRAIA - PEDRAS
LÉO:
-
Cara tá foda…
XANDI:
-
PÔ cara, que merda foi aquela?
LÉO:- Tá tudo
muito estranho...
XANDI:
-
A mina paradona na dele e de repente… Beija o Kim.
LÉO:
-
Nada me tira da cabeça que é uma armação...
XANDI:
-
Perai… Agora tô lembrado de um lance…
(Flash Back) Brow… ela chegou pra ele e disse...
LÉO:
-
Pode crê! Tô ligado.
XANDI:
-
Brow. Temos que contar isso pro Téo.
LÉO:
-
E se antes de falar com ele, trocar uma ideia com Suzi?
XANDI:
-
É… sabe, tem razão. Bora desenrolar essa fita.
CENA
46
DIA
- EXTERNA - RUA
SUZI:
-
kim..
KIM:
-
E mina… dá um tempo.
SUZI:
-
Espera. (AGARRA ELE PELA BLUSA)
KIM:
-
Que foi? Gostou e quer mais? (ELA DÁ UM
TAPA NA CARA DELE)
KIM:
-
Só não revido porque não bato em mulher...
SUZI:
-
Você não passa de um idiota. Um pau mandado. Foi ele, não foi? Foi ela que
armou tudo isso, não foi?
KIM:
-
E você garota? Me garantiu uma linda noite de amor!
SUZI:
-
Vagabunda! Então é isso? tomou tudo com você, em troca de...
KIM:
-
Vai te catar. Dá o fora!
SUZI:
-
Você é um mau caráter. Traiu seu próprio amigo. Você não vale nada. (Sai)
CENA
47
DIA
- EXTERNA - BAR
SUZI
VAI PASSANDO PELA RUA QUANDO PERCEBE SEU PAI NA COMPANHIA DE UM AMIGO.
SUZI:
-
Pai?!
CLAUDIO:
-
Filha… Que faz aqui?
SUZI:
-
Estava passando…
CLAUDIO:
-
Esse e o Silvio.
SILVIO:
-
Como vai?
SUZI:
-
Bem.
CLAUDIO:
-
Senta filha…
SUZI:
-
Não pai. Tenho que resolver umas paradas aí…
SILVIO:
-
Então você é a famosa Suzi?!
SUZI:
-
Famosa eu?
SILVIO
-
Teu pai fala muito de vocês.
SUZI:
-
Espero que sejam coisas boas.
CLAUDIO:
-
Disso pode ter certeza.
SUZI:
-
Tenho que ir… Prazer.
SILVIO:
-
Pena que não possa nos acompanhar… Seria muito bom tê-la conosco.
SUZI:
-
Outro dia. Quem sabe. Beijo pai.
CLAUDIO:
-
Beijo filha.
(ELA
SAI, OS DOIS CONTINUAM CONVERSANDO)
CENA
48
DIA
- INTERNA - SALA
ORNELA:
-
Mas já? Caíram em si? Bufão prepare o
carro… vou sair. (Pega a bolsa) Você?!
Cozinha.
NÃ:
-
Não.
ORNELA:
-
Como é que é?
NÃ:
-
Isso mesmo que ouviu. Sua vaca.
ORNELA:
(LEVANTA A NÃO PARA DAR UMA BOFETADA EM NÃ)
BUFÃO:
-
Se eu fosse você não faria isso.
ORNELA:
-
Que querem?
NÃ:
-
Já nós sentimos. Viemos aqui pra acertar as contas.
ORNELA:
-
Perdem seu tempo. Quem resolve isso é meu advogado.
NÃ:
-
Não é essa contas que não viemos tratar… Não é essa conta que estamos aqui para
acertar…
ORNELA:
-
Que loucura é essa? Vocês estão assustando.
(TOMA CELULAR) Vou chamar a polícia…
BUFÃO:
-
Nada disso.
ORNELA:
-
Devolve meu celular.
BUFÃO:
-
Cala essa boca! Senta aí…
(CHEGA
SUZI)
SUZI:
-
Nã? Bufão? Está acontecendo alguma coisa por aqui?
ORNELA:
-
Não filha. Bufão e Nã vieram resolve sobre a demissão…
SUZI:
-
É uma pena. Estamos tão acostumados com vocês.
ORNELA:
-
Já estavam de saída.
(BUFÃO
COLOCA O CULAR NA MESA DE CENTRO. SAI ACOMOANHADO DE NÃ)
SUZI:
-
Por que seu celular estava com Bufão?
ORNELA:
-
Travou. E ele estava dando uma olhada.
(PEGA O CELULAR) Que bom. Consertou.
(SAI) (SUZI FICA DESCONFIADA)
CENA
49
EXTERNA
- DIA - PRAIA
LÉO:
-
Téo, meu brother...
TÉO:
-
E ai?(CUMPRIMENTO)
LEO:
-
Beleza Parça?
TÉO:
-
Beleza.
XANDI:
-
Pô mano, que fita foi aquela?
TÉO:
-
Não quero falar sobre o que aconteceu no luau...
LÉO:
-
Brother, tá tudo errado. Tudo.
XANDI:
-
O que viu, não é o que viu... Sacou?
TÉO:
-
Não, não saquei.
XANDI:
-
Passa pra ele a visão Brow.
TÉO:
-
Que visão?
LÉO:
-
Vanessa armou pra tu.
XANDI:
-
Cara, a Val armou pra tu. O que tu viu brother, foi uma puta de uma armação. Trairagem
total.
TÉO:
-
Val e Kim? Não... A Val tudo bem, ela é capaz de tudo... Mas o Kim?
LÉO:
-
Nos tava lá no luau e... (Flash Back)
XANDI:
-
Ai aconteceu tudo aquilo.
TÉO:
-
Canalhas... Puta que merda! Como fui burro. Idiota! Eu não acreditei nela.
LÉO:
-
Brother, você foi enganado. Caiu numa armação... (KIM CAMINHA PELA PRAIA)
XANDI:
-
Não acredito! Olha quem resolver dar o ar da desgraça?!
TÉO:
-
Agora esse canalha me paga...
LÉO:
-
Peraí brother! Segura ele... (VÃO ATRAS)
TÉO:
-
Hei você?
KIM:
-
hei peraí... Brother posso explicar...
TÉO:
-
Vou acabar com você. (PARTE PRA CIMA, OS
AMIGOS TENTAM SEPARAR, DEMORAM UM POUCO MAIS CONSEGUEM. KIM SANGRA PELA BOCA)
TÉO:
-
Nunca mais cruza o meu caminho seu covarde. Eu confiava em você, você era como
um irmão pra mim... E olha que você fez? Me solta! Me solta... Tô legal. Não
vou sujar minhas mão com esse lixo. Bora daqui... Não fale apena.
LÉO:
-
É, pode crer... Não vale apena.
CENA
50
EXTERNA
– DIA - BAR
ORNELA:
-
Posso sentar?
SILVIO:
-
Claro, fique a vontade. Afinal, foi você que marcou esse encontro.
ORNELA:
-
Não vai se cavalheiro? Poderia ao menos puxar a cadeira para uma dama sentar...
SILVIO:
-
Vivo a vida real, e você não é uma dama. Dama, só se for de ferro. E sabemos
que o que lhe trás aqui não será uma conversa amistosa.
ORNELA:
-
Há quanto tempo você está saindo com meu marido?
SILVIO:
-
Não estou saindo com seu marido. Aliás, sabemos que esse casamento é de
fachada, por causa de sua filha... E o que tenho com Claudio é um
relacionamento, sério.
ORNELA:
-
Enquanto estivermos casados, ele é meu marido.
SILVIO:
-
Ornela, sei que você é uma mulher muito calculista, ardilosa, dominadora...
Mulher que detesta perder! Mas, te prepara, essa batalha você já perdeu. Ao
contrário de você, eu amo Claudio. (Tira
o dinheiro da carteira e coloca na mesa. Sai)
ORNELA:
-
(RISO NERVOSO) Perdi a batalha. Não
a guerra. (Abre a bolsa, pega o espelho. Retoca o baton. Se levanta
e sai elegantemente)
CENA
51
EXTERNA
– DIA - RUA
KIM:
-
Val... Espera.
VALÉRIA:
-
Que é?
KIM:
-
Vai me tratar assim? Depois de tudo?
VALÉRIA:
-
Que você espera?
KIM:
-
Como assim? A gente...
VALÉRIA:
-
A gente transou. Só isso. Aproveitou, aproveitou... Agora, já era. Seu tempo
foi breve, mas, já passou.
KIM:
-
Você me usou.
VALÉRIA:
-
Não me faça rir...
KIM:
-
Pensei...
VALÉRIA:
-
Pensou errado. Kim, quer saber que achei da nossa noite? Um horror! Você é
muito franco.
KIM:
-
Sua vadia. Vou acabar com você, vou espalhar pra todo mundo a vadia que você é.
VALÉRIA:
-
Eu nego. E você será só o carinha frustado que levou um fora. Quer saber? Vou
fazer melhor. Direi que não aconteceu nada. Não que eu não quisesse, tava muito
afim... Mas, você falhou. (SAINDO)
Cuidado com que fala. Poderá não pegar, mais ninguém. (SAI)
CENA
52
EXTERNA
- DIA - PRAIA
SUZI
ESTÁ SENTADA NA AREIA, PENSATIVA CONTEMPLA O MAR.
TEO:
-
Sei que fui um babaca. Mas, gostaria de te pedir desculpas… (SENTA AO LADO DELA) Eu devia ter acreditado em você. E o que eu
fiz? Eu nem te ouvi. De cara te julguei e condenei injustamente.
SUZI:
-
É… você não foi nada justo. Mas, te entendo. Não tinha como saber que eu era
uma vítima, da armação daquela que você conhece muito bem… E sabe do que é
capaz. Me magoou muito...
TEO:
-
Eu sei. E essa culpa está me matando. Você tem todo direito e razão de me
odiar… E até de não querer mais nem me ter como amigo… Fui mesmo um trouxa!
Independente de qualquer coisa, quero que saiba que eu te amo. (SE LEVANTA)
SUZI:
-
Esperai. Você foi um babaca sim. Mas, eu também te amo. (SE BEIJAM) (ELE SEGURA A MÃO DELA E CAMINHAM DEIXANDO AS ONDAS
ACARICIAR SEUS PÉS)
CENA
53
EXTERNA
- ESTRADA - DIA
CÂMERA
GERAL MISTRA UM RAPAZ NA ESTRADA CONDUZINDO UMA MOTO. AOS POUCOS AS IMAGENS VÃO
SE MISTURANDO E DANDO DETALHES DE PARTES DE CLIOSES ESPECÍFICOS PARA APRESENTAR
AO PÚBLICO O RAPAZ QUE TEM A APARÊNCIA DE BAD BOY.
CENA
54
EXTERNA
– DIA - LANCHONETE
LETÍCIA:
-
Olha! Gato! Eu pego.
VANESSA:
-
Nem em foto.
FRED:
-
E aí?
VANESSA:
-
Oi forasteiro?!
FRED:
-
Gata, preciso de uma informação.
VANESSA:
-
Aí depende da informação. Quem sabe sou a mais indicada a lhe dar essa
informação...
FRED:
-
Demorou.
AMIGA:
-
Que informação o gato quer?
FRED:
-
Estou procurando a minha mina.
LETÍCIA:
-
Não entendi.
VANESSA:
-
Liga não, ela é lenta assim mesmo.
FRED: - Como a
cidade aqui é pequena, creio que não seja difícil.. Gente nova na área, você
sabem logo.
VANESSA:
-
Isso é verdade. Mas, quem é essa sortuda que é sua mina?
FRED:
-
A família desceu aqui pro litoral. Estou procurando a Suzi.
LETÍCIA:
-
Não bastasse um agora tem outro… E gato!
VANESSA:
-
Conhecemos a Suzi, é nossa amiga.
LETÍCIA:
-
Que você quer dizer com não bastasse um… e outro… Que parada é essa?
VANESSA:
-
É que a Suzi está de romance… Tem um carinha pegando ela, entende?
FRED:
-
Ela me paga.
VANESSA:
-
Calma gato. Acho que está precisando relaxar! Vingança é um prato que se come
frio…
LETÍCIA:
-
Tá muito apaixonada.
FRED:
-
Vou acabar com esse cara. Ninguém toca em mulher minha...
VANESSA:
-
Olha! Gostei disso. Ninguém nunca me defendeu assim…
FRED:
-
Me mostra onde ela está locada?
VANESSA:
-
Vai por mim… Hoje a noite vai ter luau e vc poderá chegar de surpresa e pegar
os pombinhos desprevenidos.
LETÍCIA:
-
Isso vai dá ruim...
FRED:
-
Onde tem uma pousada por aqui.
VANESSA:
-
Nada disso. Estou sozinha, fica lá em casa. Ah, meus pais estão viajando. Isso
quer dizer, que ficaremos sozinhos. (SE
APROXIMA DELE)
AMIGA:
-
Ai! (SUSPIRA)
NAMORADO:
-
Gostando da recepção. (ELA O BEIJA)
CENA
55
EXTERNA
- DIA - QUIOSQUE
ORNELA:
-
Senta. Não mordo; ainda.
BUFÃO:
-
Estou bem assim.
ORNELA:
-
Deixa de cerimônia. Precisamos conversar.
BUFÃO:
-
O que a senhora quer?
ORNELA:
-
Isso é jeito de falar comigo depois se tudo que vivemos juntos?
BUFÃO:
-
Passado.
ORNELA:
-
Não acredito que você já tenha se esquecido todas as nossas aventuras de
amor...
BUFÃO:
-
Aventuras! Não passaram disso. Eu era apenas o seu brinquedinho sexual que você
usava para satisfazer seus desejos.
ORNELA:
- (SEGURANDO A EMOÇÃO) Gosto de você.
BUFÃO:
-
Gosta? Que gostar a esse? Sempre foi minha patroa. Dava ordens e eu obedecia.
ORNELA:
-
Sempre pensei que fosse apaixonado por mim...
BUFÃO:
-
Fui. Não sou mais. Cansei de ser um segredo, alguém, que como um objetivo, que
tem que ser escondido dentro de um armário pra não envergonhar as visitas.
ORNELA:
-
Estou disposta a assumir nossa história.
BUFÃO:
-
Não tem nossa história dona Ornela. O seu tempo já passou. Amo Nã, quero viver
e vou morrer ao lado dela. Amo minha mulher. Nossa história agora é na justiça.
Nos vemos na audiência trabalhista que movemos contra você. Por favor, não me
procure mais. (SAI)
(Ornela
sente o baque e desaba em lágrimas)
CENA
56
INTERNA
– DIA - BAR
SILVIO:
-
Eu sei que não gosta de tocar nesse assunto, mas acho necessário. Cláudio
estamos juntos a muito tempo, e vivemos assim… na clandestinidade. Não quero
mais isso pra mim. Somos adultos e independentes. Você não precisa mais se
submeter aos caprichos de Ornela.
CLÁUDIO:
-
Eu sei. Também estive pensando nisso… E essa situação me incomoda e muito.
SILVIO:
-
Que te incomoda eu sei. Acredito. Mas, que me importa, é saber o que vai fazer,
que atitude vai tomar , diante de toda essa situação, como resolverá.
CLÁUDIO:
-
Calma Silvio, só preciso de um tempo.
SILVIO:
-
Tempo? Ainda mais? Até quando Cláudio? O tempo está passando cada vez mais
rápido… Não somos mais dois garotões. SOS homens feitos, de quase meia idade…
Nosso tempo agora é curto. O futuro é nosso presente. Não quero viver assim,
não te quero dividido, te quero inteiro.
CLÁUDIO:
-
Te entendo e admiro sua paciência todos esses anos...
SILVIO:
-
Não foi paciência. Foi amor. Se fosse por paciência, já estaríamos separados.
CLÁUDIO:
-
Vou conversar com Suzi e pedir o divórcio a Ornela.
SILVIO:
-
Fará isso quando?
CLÁUDIO:
-
Hoje.
SILVIO:
-
Hoje. Você está me fazendo o cara mais feliz do mundo. (TENTA ABRAÇAR)
CLÁUDIO:
-
Aqui não. É uma cidade pequena e muito preconceituosa.
SILVIO: - Hoje.(BEBE O DRINK)
CLÁUDIO:
-
Hoje. (BEBE O DRINKE)
CENA
57
INTERNA
- NOITE - SALA
ORNELA
CHEGA EM CASA, TEM UMA POSTURA DE CONTROLE E SENSATEZ. SENTA NO SOFÁ
CONFORTÁVELMENTE, ABRE A BOLSA, TIRA O ESQUEIRO, A CARTEIRA DE CIGARRO, ESCHE
UM, ACENDE, DÁ UM TRAGO… A CADA TRAGO SUA ANGUSTIA VAI AUMENTANDO E O PUBLICO
SÓ PERCEPE POR SEU OLHAR QUE DEMONSTRA O DESESPERO ENTRE LÁGRIMAS CONTROLADAS
NO ROSTO FIRME E FRIO.
CENA
58
INTERNA
– NOITE - SALA
ORNELA
FUMA, CONTINUA QUASE IMÓVEL, HÁ NO AR UM CLIMA NOSTÁGICO, A LALA ESTÁ ESCURA,
HÁ APENAS UAM LUZ QUE ENTRA PELA JANELA E REFLETE NO ROSTO DE ORNELA DESTACANDO
A FUMAÇA DO CIGARRO. CLAUDIO ENTRA, ESTRANHA ESCURIDÃO DA SALA, TOCA NO
INTERRUPTOR E SUA VISÃO SE DEPARA COM ORNELA QUE O OBSERVA FIXAMENTE.
CLAUDIO:
-
Sozinha no escuro?
ORNELA:
-
Assim que me sinto na vida, com um marido inútil e uma filha desequilibrada.
CLAUDIO:
-
É mesmo? É assim que você vê essa família? Esqueceu de se colocar. Como você,
você Ornela se enxerga nesta família?
ORNELA:
-
Sou o porto seguro. Essa família já teria desabado se não fosse eu.
CLAUDIO:
-
Você deve ter algum problema psicológico... Não possível que você não consiga
enxergar a realidade... Quando é que você vai se despir dessa personagem e ser
uma pessoa real? A mesma pessoa que conheci, por quem me apaixonei...
ORNELA:
-
Apaixonou? Não me faça rir Claudio! Nós dois sabemos de seu desvio de
personalidade...
CLAUDIO:
-
Não há nenhum desvio em minha personalidade. Sou gay. E quando isso ficou bem claro
pra mim, não me omiti. Eu mesmo contei tudo pra você. Quis o divorcio, mas você
preferiu seguir com essa faça.
ORNELA:
-
E você aceitou.
CLAUDIO:
-
Por nossa filha. Mas, hoje percebo que fiz errado.
ORNELA:
-
Quando penso em você e aquele... Me embrulha o estômago, dá nojo.
CLAUDIO:
-
Quero o divórcio.
ORNELA:
-
Que? Você o que?
CLAUDIO:
-
Isso mesmo que você ouviu. Pra mim chega. Está tudo acabado. Não vou mais
participar desse teatro. Não quero mais fingir que somos uma família feliz,
porque não somos.
ORNELA:
-
Só acaba quando eu quiser. (LEVANTA E
APAGA O CIGARRO NO CINZEIRO)
CLAUDIO:
-
Não. Acaba hoje e agora. Acabou!
CENA
59
EXTERNA
– NOITE – FRENTE DA CASA
SUZI
ESTÁ CHEGANDO EM CASA, AINDA DO LADO DE FORA E ENCONTRA O PAI QUE ESTÁ DE POSSE
DE UMA MALA.
SUZI: - Que isso
pai? Vai viajar.
CLAUDIO: - Não
filha.
SUZI: - E essa
mala?
CLAUDIO: - Estou
indo embora.
SUZI: - Como
assim, indo embora? Que loucura é essa?
CLAUDIO: - Senta ai
filha... Olha, eu tenho muito que conversar com você...
SUZI: - Que cara
é essa pai? Então é sério...
CLAUDIO: - É. E vou
ser breve. Depois marco um encontro com você e te explico tudo...
SUZI: - Pai...
Eu já saquei.
CLAUDIO: - Sacou?
Sacou, o que?
SUZI: - Você e
aquele seu amigo...
CLAUDIO: - E o que
sacou?
SUZI: - Você e
ele... Assim, são mais que amigos.
CLAUDIO: - Isso te
incomoda?
SUZI: - Não. Eu
te amo de qualquer forma. Quero que seja feliz. (ELE SE EMOCIONA E ABRAÇA A FILHA)
CLAUDIO: - Bom, vou nessa...
SUZI: - Vai pai,
vai ser feliz. (ELE SAI PUXANDO A MALA)Pai?
(ELA PARA) Me simpatizo com ele. (CLAUDIO ENTRA NO CARRO. SUZI ENTRA).
CENA 60
EXTERNA - NOITE – PRAÇA
LETÍCIA:
-
Gente! Sério... Estou bem preocupada.
XANDY: - Com que?
LETÍCIA:
-
Chegou ai um carinha... Diz ele que é namorado da Suzi.
XANDY: - Namorado?
LETÍCIA:
-
É. Cacho dela. Tá vendo? Todo mundo achando que a má caráter é a Nêssa.
XANDY: - Caraca!
Isso ruim.
LEO: - Téo tem
que saber disso.
LETÍCIA:
-
Nada disso. Já viu no que deu com essa história do Kim...
XANDY: - Verdade,
pode crer.
LEO: - E quem é
o cara?
LETÍCIA:
-
Sei não... Ele é bonito, sim, bem bonito, maior tipão... Tipo assim, forte. Mas
tem um jeito estranho.
XANDY: - Estranho
como?
LETÍCIA:
-
Mau encarado. Tem cara de perigoso...
XANDY: - Bandido?
LETÍCIA:
-
Bandido, bandido... Sei não. Mas, que é bonitão, é.
CENA 61
INTERNA - NOITE - SALA
SUZI: - Cê tá bem?
ORNELLA: - Ele já te contou?
SUZI: - Sim. Já.
ORNELLA: - E não tem nada a me dizer?
SUZI: - Não o que queira ouvir.
ORNELLA: - Está do lado dele.
SUZI: - Também. Ornela, sou a favor da
felicidade. Ele foi ser feliz. Por quê não faz o mesmo? (Sai)
ORNELA CONTINUA SENTADA FUMANDO. SEU ROSTO ESTÁ
IMÓVEL. DEIXA ESCORREGAR UMA LÁGRIMA. HÁ EM SEU SEMBLANTE UMA ALTIVEZ.
CENA 62
EXTERNA - NOITE – PRAIA – LUAU
KIM
CHEGA NO LUAU E LETÍCIA O REPREENDE.
LETÍCIA: - hei?
Pirou cara? Que tá fazendo aqui?
KIM: - Vim pra
o luau...
LETÍCIA: - Tá Loko?
Depois do que aprontou… Bem capaz de ser degolado.
KIM: - Tô
arrependido. Sinto falta da galera.
LETÍCIA: - Tarde
demais… Devia ter pensado nisso antes de fazer a aquela presepada.
KIM:
-
Pisei na bola. Perdi a amizade de um irmão.
LETÍCIA: - E pra
que? Por uma transa? Aposto que nem foi tão boa assim. Devia dar valor, a quem
realmente gosta de você. Agora, é melhor você dá BO fora daqui.
KIM: - Tá certo!
Tá certo. Reconheço, perdi! (SAI)
LETÍCIA: - Trouxa!
Caiu facinho na lábia dela.
CENA
63
EXTERNA
- PRAIA - NOITE - LUAU
A
GALERA EM UMA RODA DE AMIGIS CANTAM ANIMADAMENTE.
LETÍCIA: - Opa,
cheguei!
LÉO: - E
Vanessa?
LETÍCIA: - Sei não.
Hj não deu as caras.
TÉO: - Vai vê que
está aprontando as dela. (CÂMERA CORTA
PRA SUZI E TÉO)
SUZI: - Está
pensativo…
TÉO: - Feliz.
SUZI: - Também.
TÉO: - Vem cá…
(PUXA ELA PARA UM CANTO)
SUZI: - Que foi?
TÉO: - Confia
em mim. (LEVA ELA ATÉ A BEIRA MAR E COM
A LUA DE FUNDO, SE AJOELHA DIANTE DELA) Suzi, estou completamente
apaixonado por você. E quero te pedir em namoro. Namora comigo?
SUZI: - Já estou
namorando contigo, faz tempo. É claro que aceito. (Ele se levanta e beijam-se)
(CHEGA VANESSA E FRED)
FRED: - Ai cara,
larga minha mulher.
VANESSA: - Que
bonito?! A garota comprometida nos braços de outro… Olha?!
SUZI: - Fred!?
TÉO: - Quem é?
FRED: - Sou o
homem dela.
VANESSA: - É Téo,
essa aí te enganou. Não vale nada.
TÉO: - Cala
essa maldita boca.
VANESSA: - Não tá
mais aqui quem falou.
FRED: - Você vem
comigo… (A PUXA)
SUZI: - Não. Me
solta!
TÉO: - Tira
essas mãos dela…
FRED: - Vai
fazer o que pra impedir, o que valentão? Vai me encarar?
SUZI: - Me
solta!
TÉO: - Não ouviu babaca?! (Empurra. Fred cai. Téo abraça Suzi)
FRED: - Idiota!
(PUXA A ARMA) Vai se arrepender…
Mexeu com a mulher errada. A minha mulher. Minha.
VANESSA: - Ai meu
Deus!
SUZI: - Não para
com isso… Você não precisa fazer isso… Eu vou contigo.
TÉO: - Não.
Você fica.
FRED: - Vem…
Agora. Que eu estou mandando. Mulher minha obedece.
SUZI: - Eu
vou...
TÉO: - Não. Não
vai. (SEGURA O BRAÇO DELA)
FRED: - Ela vem.
(ATIRA E ACERTA TÉO NO PEITO)
VANESSA: - Téo!
SUZI: - Não.
Não, não… Téo, fala comigo.
VANESSA: - Viu o
que você fez? Está satisfeita? A culpa é sua.
SUZI: - Cala
essa boca. Você que trouxe ele aqui. Você é cúmplice.
VANESSA: - Tá maluco? Você atirou
cara.
FRED: - Tenho
que dá o fora. (TENSO) Sujou.
VANESSA: - Vai
embora?
FRED: - Quer o
que? Que eu fique aqui esperando a polícia?
VANESSA: - Posso ir
com você?
FRED: - Demorou!
Mina, tu é muito loka. (SAEM)
OS
AMIGOS SE APROXIMAM TODOS PREOCUPADOS. PEGAM SEUS CELULARES E LIGAM PARA
EMERGÊNCIA. OUVE-SE BARULHO DE AMBULÂNCIA.
CENA
64
INTERNA
- NOITE - CASA DE NÃ.
NÃ: - Dona
Ornela?
ORNELA: - Vai
ficar aí parada feito uma estátua? Não vai me convidar pra entrar?
NÃ: - A
senhora não é bem vinda.
ORNELA: - Que
grosseria! Minha querida Nã, vim aqui humildemente lhe fazer uma proposta, e é
assim que me trata?
NÃ: -
Humildade é algo a senhora desconhece.
ORNELA: - Com licença.
(ENTRA)
NÃ: - Não é
bem vinda nesta casa. Peço que saia. Agora. Ou vou chamar a polícia.
ORNELA: - Calma
Nã… Não vou fazer nenhum mal a você. Se tivesse que fazer, já teria feito. Sabe
que tenho condições pra isso. E ainda sair por inocente. E a lei do dinheiro,
do poder. Mas vim aqui lhe fazer uma proposta. (SENTA, CRUZA AS PERNAS, ABRE A BOLSA, RETIRA O ESQUEIRO E O CIGARRO.
ACENDE E TRAGA)
NÃ: - Sai.
ORNELA: - Ainda
não fiz minha proposta.
NÃ: - Não me
interessa.
ORNELA: - Nã… Olha
pra sua vida. A vida inteira você viveu assim?! Nesse submundo periférico, com
dificuldades sem nenhuma expectativa de um futuro próspero.
NÃ: - Tive o
que a senhora não teve. Amor. Muito amor.
ORNELA: - Bufão me
amou, muito.
NÃ: - Cala
essa boca.
ORNELA: - Sei que
ainda me ama.
NÃ: - Está
louca. Saia imediatamente da minha casa.
ORNELA:
-
Saio. Mas primeiro me escute querida. (APAGA
O CIGARRO) Te ofereço um milhão de dólares, olha que isso é dinheiro
demais… Vai viver uma vida sossegada, tranquila e com muita fartura. Quantas
mulheres não querem uma vida dessa?
NÃ: - Por qual
preço Dona Ornela?
ORNELA: - Tudo na
vida tem um preço, minha querida. Você será uma mulher rica.
NÃ: - O que a
senhora que em troca?
ORNELA: - Que você
largue Bufão e deixe-o pra mim.
NÃ: - A senhora
acha que pode entrar na minha casa, e me oferecer dinheiro em troca do meu
marido? Isso é ofensivo, nojento… Meu marido não é uma mercadoria, não está a
venda.
ORNELA: - É. Vi
que você é péssima de negócio. Nasceu pobre e vai morrer na misericórdia, por
ser burra. Depois, não diga que não tentei. Mas, minha querida, escute-me.
Bufão, não vai ficar com você. Se não for meu, também não será seu. Uma boa
noite. E pense na proposta. (SAI)
CENA
65
NOITE
- EXTERNA - CASA DE NÃ.
ORNELA
CAMINHA ATÉ O CARRO, ENTRA CALMAMENTE.
NÃ: - Está nos
ameaçando? É isso, sua louca? Fique longe do meu marido, fique longe de nós.
CENA
66
INTERNA
- NOITE - CORREDOR HOSPITAL
VILMA: - Cadê meu
filho? Que foi que fizeram com ele?
CLÁUDIO: - Calma!
VILMA: - Como
posso ter calma. Meu Deus! Como está meu filho?
CLÁUDIO: - Está
sendo bem cuidado. Está passando por uma cirurgia.
VILMA: -
Cirurgia? Meu Deus! Se algo acontece com meu filho nem sei que será de mim...
CLÁUDIO: - Não vai
acontecer. Ele vai ficar bem. (OLHA PRA
SUZI) Você?
SUZI: - Oi? (ASSUSTADA)
VILMA: - O que de
fato, aconteceu?
CLÁUDIO: - Ele
levou um tiro.
VILMA: - Assalto?
SUZI: - Não.
CLÁUDIO: - Se
envolveu em uma discussão. E o outro rapaz estava armado.
VILMA: - Qual o
motivo dessa discussão?
CLÁUDIO: - Depois
ele conta tudo. Agora o importante é a recuperação do Téo.
VILMA: - Você
estava lá, não estava?
CLÁUDIO: - Estamos
todos nervosos… Vamos deixar esses detalhes pra depois.
VILMA:
-
Vou tomar uma água, estou com a garganta seca… (SAI. CÂMERA PEGA ELA AO FUNDO PEGANDO UM COPO COM ÁGUA)
SUZI: - Obrigada
Pai. (CLAUDIO A CONFORTA)
CENA
67
INTERNA
- NOITE - CASA DE VANESSA - QUARTO
LETÍCIA: - Que
loucura foi essa? Que coisa mais bizarra… Nessa, Esse cara é perigoso. Ele
atirou no Téo.
VANESSA: - Idiota.
Bem que mereceu...
LETÍCIA: - Você não
pode está falando sério…
VANESSA: - Ah, cala
essa boca, sua idiota!
LETÍCIA: - Cala a
boca você. Idiota e irresponsável é você.
VANESSA: - Como é
que é?
LETÍCIA: - Isso
mesmo que você ouviu sua vadia. Por quê? Vai pedi ao novo namoradinho bandido
pra me dar um tiro?
VANESSA: - Garota
perdeu o juízo?
LETÍCIA: - Não. É
que tô cansada de ser colocada pra baixo por você. Pra mim chega. Acabou! Tô
fora.
VANESSA: - Não
admito...
LETÍCIA: - Cala
essa tua boca sua vadia. Você me dá nojo. (SAI.
VANESSA FICA PASMA).
DIAS
DEPOIS...
CENA
68
NOITE
- INTERNA - CASA DE ORNELA - SALA
BUFÃO
ENTRA, SEU SEMBLANTE E TENSO, A SALA ESTA ESCURA. ORNELA ESTÁ SENTADA, VÊ SE
APRNAS UM LADO SEU ROSTO SOBRE A FUMAÇA DO CIGARRO ILUMINADI PELA LUZ QUE ATRAVESSA
A JANELA.
ORNELA: - Bufão?!
BUFÃO: - Ornela?
ORNELA: - Está com
medo?
BUFÃO:
-
Deveria?
ORNELA: - Não. Não
quero seu mal. De todos os homens nque já me envolvi, você é o único que me faz
feliz...
BUFÃO: - Ornela,
não há mais nós… Só vim por ficar preocupado. Você me pareceu descontraído na
ligação.
ORNELA: - Que
teria sido da minha vida se não fosse você e os prazeres da carne. Você Bufão,
sabe como ninguém satisfazer o desejo de uma mulher.
BUFÃO: - Você
precisa de ajuda.
ORNELA: - Só você
pode curar esse dor em minha alma, esse vazio que sinto em meu coração.
BUFÃO: - A
senhora precisa prosseguir...
ORNELA: - E vou…
sabe Bufão, eu estava aqui pensando, quando eu era jovem, bem mocinha, e
romantizava o amor. Que mulher jovem não quer viver o amor romântico? (ABRE O VINHO E SERVI-SE) Servido?
BUFÃO: - Tô bem.
ORNELA: - Uma
última taça. Ao amor passado.
BUFÃO: - Só uma
taça.
ORNELA: - Sim. Me
acompanhe. (ELA TOMA UM GOLE E TENTA
BEIJA-LO)
BUFÃO: - Não.
ORNELA: - Acha que
vai conseguir fugir de mim?
BUFÃO: - Não
quero mais. Acabou. Inferno! Deixe-nos em paz.
ORNELA: - Acha
mesmo que pode se livrar de mim? Então diga, diz na minha cara que não me ama,
que não sente nada por mim...
BUFÃO: - (ELE A OLHA FIXAMENTE) Você tá louca.
ORNELA: - Você me
deseja Bufão, sempre me desejou… Eu sei que ainda me ama. Ninguém deixa de amar
do dia pra noite...
BUFÃO: - Eu
deixei. Não te amo mais. E ainda que você amasse de se matar… Eu não virei mais
a seu encontro.
ORNELA: - Fraco!
(COMEÇA A SE RASGAR) Fraco, é isso
que você é. Covarde, inútil! (TENTA SE
MACHUCAR SE ALTO AGREDINDO)
BUFÃO: - Pare com
isso sua louca!
ORNELA: - Isso, me
bate, bate...
BUFÃO: - Está
louca? (ELA SE S0LTA)
ORNELA: - (SENTADA NO CHÃO AMPSRADA PELO SOFÁ. ALCANÇA
A BOLSA, ABRE E RETIRA UMA ARMA) O mais romântico no amor é que ele é
eterno.
BUFÃO: - Que está
fazendo? (ELA APONTA)
ORNELA: - Se não
pode ser meu, não será de ninguém...
BUFÃO: - Para com
isso. Você pode ter todas péssimas qualidades, mas assassina você não é.
ORNELA: - E não
serei… Você será. Eu só me defendi. (ELA
LEVANTA)
BUFÃO: - Abaixa
essa arma…
ORNELA: - Adeus amor! (ATIRA. BUFÃO CAI E AGONIZA NA FRENTE DELA)
BUFÃO: - Ornela…
ELA
PEGA A MÃO DELE E ARRANHA O BRACO DELA.
ORNELA: - Idiota…
Olha o que vc me fez fazer? Podia ser tão diferente. (Vai até a bolsa e pega outra arma) Nós poderíamos ser tão feliz.
Mas, você não. (Coloca a arma na mão
dele e dispara no braço dela) Ah, merda! (Expira) Preferiu aquela songa monga. (Bufão agonizante. Ornela pega uma almofada e o sufoca até que ele para
de respirar) Adeus, amor. (Ornela se
levanta, suja a almofada com sangue dela, leva a taça que ele usou, até a
cozinha, lava e guarda. Pega o telefone e liga pra polícia) Alô? Socorro,
tem um morto em minha sala…
CENA
69
DETALHE
NA MÃO DE SUZI TOCANDO A CAMPANHIA. ABRE A PORTA
VILMA: - Você?
SUZI: - Por
favor...
VILMA: - Se
afaste do meu filho…
TÉO: - Mãe?
VILMA: - Não é
pra levantar, volte pra cama…
TÉO: - Pode
deixar...
VILMA: - Téo…
TÉO: - Mãe...
VILMA: - Tá bom.
Escuta aqui mocinha, seja breve. Ele ainda está se recuperando da encrenca que
você o colocou. Ele podia ter morrido, sabia?
SUZI: - Sinto
muito. Mesmo!
VILMA: - Sente
muito… (SAI)
TEO: - (SENTA COM DIFICULDADE) Senta aí.
SUZI: -
Obrigada.
TEO: - Então?
SUZI: - Me sinto
culpada.
TEO: - Por que
nunca disse nada?
SUZI: - Não
sei... Achava que... Nossa! Eu tô tão confusa.
TEO: - Devia
ter me dito que tinha um namorado.
SUZI: - Mas, não
tinha...
TEO: - Como
não? Então o que foi tudo isso?
SUZI: - Sei
cara... É tão confuso. Tá tudo embaralhado, aqui na minha cabeça, sabe?
TEO: - O que
você tem com esse cara?
SUZI: - Nós
apenas ficávamos, e a minha mãe ao saber, providenciou logo de nos afastar.
Para isso, ela me arrastou pra cá. Mas, eu e Fred nunca passamos apenas de ser
ficantes, nada mais... Nunca foi nada além disso.
TEO: - Você,
que sente por ele?
SUZI: - Nunca
fui apaixonada! Apenas, gostava. Só isso. E quando si de lá, pensei que ele não
mais lembrasse de mim, pois mesmo comigo, ele tinha tantas... Era só um ficar.
TEO: - Ficar...
SUZI: - Sim. Mas
com você Téo, foi diferente. Eu me apaixonei, pela primeira vez na vida, eu
conheci o amor. Mas, agora, sei que te perdi, que não vai me perdoar. (PREPARA PRA SAIR) Ah, a polícia está na
cola do Fred, e pelo que tudo indica, a Vanessa está com ele.
TEO: - Vanessa?
SUZI: - É. (SAINDO)
TEO: - Espera.
SUZI: - (PARA)Que disse?
TEO: - Fica. (SE LEVANTA COM DIFICULDADES)Quero que
fique.
(FELIZ, ELA CORRE E O ABRAÇA DESAJEITADAMENTE)Ei! Calma. Ainda estou
todo remendado! (SE BEIJAM)
CENA
70
EXTERNA
– NOITE – PARÇA
VANESSA
APARECE, ESTÁ DIFERENTE, SUAS ROUPAS ESTÃ SUJAS E SEUS CABELOS DESALINHADOS. UM
DE SEUS OLHOS ESTÁ ARROXEADO.
VANESSA: - Lelê?!
LETÍCIA: - Vanessa?
VANESSA: - É sou
eu.
LETÍCIA: - Nunca me
chamou assim.
VANESSA: - É um
modo carinhoso de falar.
LETÍCIA: - Que
aconteceu com você? Parece que foi atropelada por um caminhão.
VANESSA: - E fui.
LETÍCIA: - E esse
olho? (ELA FICA CALADA) Foi ele né?
VANESSA: - Foi (CHORA)
LETÍCIA: - Canalha!
E ele?
VANESSA: - Tá em
cana.
LETÍCIA: - Bom... (ABRAÇA) acabou. Você está em casa. (SAEM DE CENA)
CENA
71
INTERNA
– NOITE - DELEGACIA
DELEGADO:
-
Então, quer dizer que o individuo entrou na sua casa e lhe ameaçou?
ORNELA:
- Isso
mesmo! Ele estava tão alterado, tão furioso... Agressivo.
DELEGADO:
-
Há alguma razão para ele ter se comportado deste modo?
ORNELA:
-
Sim, há.
DELEGADO:
-
E qual a razão?
ORNELA:
-
Eu e ele tivemos um relacionamento amoroso.
DELEGADO:
-
Ele era seu amante.
ORNELA:
-
Eu passava por uma crise conjugal e estando vulnerável, cedi a uma de suas
invertidas. E a partir desse dia ele queria sempre mais, e mais... Me extorquia
financeiramente e me ameaçava sempre. Senhor delegado, se eu não cedesse as
suas chantagens, ele contaria sobre nós a todos... Até que dei um basta e o
demiti. Desde então, ele me perseguia.
DELEGADO:
-
E por isso a senhora o eliminou...
ORNELA:
-
Não. Foi legitima defesa. Juro!
DELEGADO:
-
Me deixa entender... Então ele entrou em sua casa... e a encontro na sala...
início uma discussão...
ORNELA:
-
Isso. Ele falava alto, gritava. Eu fiquei apavorada.
DELEGADO:
-
E o que ele queria com a senhora desta vez, mais dinheiro?
ORNELA:
-
Também.
DELEGADO:
-
E o que mais?
ORNELA:
-
Ele disse que me amava, que estava disposto a se divorciar da mulher dele, e
que devíamos ficar juntos... Nesse momento, ele me pegou pelos braços, me
forçando o beijo. Ai eu disse que não queria, que tenho a minha família, que eu
não o amava. E isso foi o gatilho pra toda violência por ele praticada, contra
mim.
DELEGADO:
-
Como entrou a arma nessa discussão?
ORNELA:
-
Ele estava armado. A principio não percebi. Mas quando ele começou a me xingar
e me agredir fisicamente, eu vi a arma na cintura dele, próxima a barriga.
Quando tentei me desvencilhar, ele puxou o revolve, apontou em minha direção,
eu fui recuando... Até que sentei no sofá, então lembrei que eu tinha uma arma
em minha bolsa.
DELEGADO:
-
Não é comum uma cidadã andar armada...
ORNELA:
-
Na minha classe social, é sim, senhor. Sou uma mulher de posses, sequestros são
muito decorrentes, e no mais sou treinada, e tenho porte de armas.
DELEGADO:
-
Então assenhora pegou a arma... E atirou nele?
ORNELA:
-
Não delegado. Eu sabia que a arma estava ali. E meu desejo é que ali mesmo
ficasse. Porém, quando eu o disse que nunca seria dele... Foi quando ele atirou,
a intenção era de matar. Mas ele errou e atingiu o meu braço. Cai no sofá ele
veio feito um bicho feroz pra cima de mim. Ele queria acabar comigo... Tentou
me esganar... Se afastou e engatilhou... Vou nesse breve tempo que aproveitei e
peguei minha arma na bolsa... Foi tudo muito rápido. Atirei. Meu Deus! Eu matei
um homem! (FINGE CHORO)
DELEGADO:
-
(DÁ UM LENÇO DE PAPEL) Tenho uns
pontos que quero esclarecer...
ORNELA:
-
Delegado, podemos deixar pra um outro dia? Foi tudo tão intenso, ainda estou muito
nervosa. Sei que o tiro foi superficial, que fisicamente estou bem. Mas, psicologicamente
estou destruída.
DELEGADO:
-
Tudo bem dona Ornela. Vou chama-la para um novo depoimento.
ORNELA:
-
Como o senhor quiser. Faço questão que tudo fique bem esclarecido. Mesmo porque
esse depoimento foi informal, Meus advogados vão providenciar minha defesa. (SE LEVANTA, COLOCA OS ÓCULOS ESCURO,
AUTIVAMENTE, SAI)
DELEGADO:
-
Essa está mais suja que galinheiro... Mas, por minha experiência, vais se
safar.
CENA
72
NOITE
– EXTERNA – CASA DE ORNELA - SALA
SUZI:
-
Que aconteceu aqui?
ORNELA:
-
Nada demais… Apenas houve uma invasão...
SUZI:
-
Invasão? Tentativa de roubo.
ORNELA:
-
Calma filha! Estou bem. Aliás, estou ótima. Nunca estive tão bem.
SUZI:
-
E esse sangue? Mãe…?
ORNELA:
-
Quanto espanto! Filha, mamãe deu um jeito. Eu preciso defender minha casa,
minha vida.
SUZI:
-
Você o matou?
ORNELA:
-
Filha! Ou ele ou eu. Então, antes ele, que eu.
NÃ
ENTRA DESCONTROLADA NA CASA PARTINDO PRA CIMA DE ORNELA.
NÃ:
-
Sua maldita, monstro! Você conseguiu o que queria. Deve está satisfeita...
SUZI:
-
Nã?! Que isso, que está acontecendo?
ORNELA
COLOCA A MÃO NA BOLSA QUE ESTA AO SEU LADO NO SOFÁ E RETIRA A ARMA.
NÃ:
-
Essa mulher é o demônio, armou tudo, tudinho… atraiu Bufão até aqui, trouxe ele
pra morte.
ORNELA:
-
Dói perder quem se ama, não é Nã? O desfecho poderia ser outro…
NÃ:
-
Dói muito mais ser rejeitada. Bufão tinha nojo de você, só deitava com você por
medo de perder o emprego…
ORNELA:
-
Acredita mesmo nisso?
SUZI:
-
Gente! Isso é muito louco. Minha mãe e…
NÃ:
-
Isso mesmo!
SUZI:
-
UaU!
NÃ:
-
Como ele não a quis mais. Ela montou um ano maquiavélico para executa-lo.
SUZI:
-
Mas, minha mãe está ferida.
NÃ:
-
Ela é capaz de tudo. Vamos Ornela… Complete o serviço. Atire.
ORNELA:
-
Não. Não sou assassina. Quero você viva. Bem vinda. E que tenha vida longa,
para amargar cada segundo, minuto e hora sentindo a ausência de Bufão. Agora,
saia da minha casa, antes que eu chame a polícia.
NÃ:
-
Isso não vai ficar assim. Você não vai ficar impune. Viverei toda a minha vida
buscando lhe desmascarar. (SAI)
SUZI:
-
Mãe?
ORNELA:
-
Agora não… Minha cabeça está estourando…
(SAI)
(SUZI
FICA ATÔNITA)
CENA
73
NOITE
– INTERNA – CASA DE ORNELA - SALA
CLAUDIO:
-
Filha, você está bem?
SUZI:
-
Tô sim pai.
CLAUDIO:
-
Ornela?
SUZI:
-
Como saber? Desvendar a mente dela ainda é um mistério.
CLAUDIO:
-
Meu Deus, que loucura! Uma morte… aqui?
SUZI:
-
Você sabia, né?
CLAUDIO:
-
Do que?
SUZI:
-
Minha mãe e Bufão…
CLAUDIO:
-
Sim. Eu sabia.
SUZI:
-
Como suportou…?
CLAUDIO:
-
A vida nos leva por caminhos nunca imagináveis… Não vou julgar tua mãe por
isso. Ela pode ter todos os defeitos… Mas nunca me expôs pelo fato de eu ser...
SUZI:
-
Gay. Não se sinta envergonhado. Você é apenas uma pessoa que ama outra pessoa.
E que juntos, merecem ser felizes.
(Se
abraçam como forma de conforto)
CENA
74
NOITE
- EXTERNA - RUA
LETÍCIA:
-
E você como está?
VANESSA:
-
Ótima!
LETÍCIA:
-
Depois de tudo?
VANESSA:
-
Querida, eu tenho a sorte ter uma grande aventura pra contar...
LETÍCIA:
-
Chama de aventura ter apanhado de um homem?
VANESSA: - É tudo
muito louco… Parecia que aquilo me excitava mais… sabe, quando ele vinha, me
pedia desculpas, dizia que me amava e que não iria acontecer mais…
LETÍCIA:
-
Pelo visto não cumpria com o prometido.
VANESSA:
-
Você não entende… É mesmo um idiota…
LETÍCIA:
-
Idiota é você que fugiu com um marginal, apanhou e agora retorna com a cara
mais cínica, e machucada. Desculpa, mais não vou perder meu tempo com você.
Amandinha, você já era. (SAI)
VANESSA:
-
Já era… Vai sua vadia burra!
CENA
75
EXTERNA
- NOITE - BAR
SUZI:
-
Pai, Silvio?!
CLAUDIO:
-
Oi filha. Senta aí…
SUZI:
-
Aqui estou.
SILVIO:
-
Fico feliz que tenha vindo. É muito importante pra nós sua aprovação.
SUZI:
-
Minha aprovação? Eu só desejo que meu pai seja feliz. Ele estando feliz, também
estarei.
CLAUDIO:
-
Isso me tranquiliza e me faz compreender que estou fazendo a coisa certa.
SUZI:
-
Pai, você já perdeu muito tempo pensando em convenções. Agora chegou a hora de
assumir esse…
SILVIO:
-
Amor, é amor que sentimos um pelo outro.
SUZI:
-
Eu sei. Quer dizer, imagino.
CLAUDIO:
-
Vou pedir algo pra gente se servir…
SUZI:
-
Não pai. Pelo menos, não pra mim…
CLAUDIO:
-
Pensei que fosse nos acompanhar...
SILVIO:
-
Dividir um pouco de seu tempo conosco, onde pudéssemos compartilhar nossa
felicidade com você.
SUZI:
-
Sinta compartilhada. É que realmente tenho que ir. (OLHA PARA O PAI) Vou encontrar com Téo.
CLAUDIO:
-
Vocês…
SUZI:
-
Isso mesmo pai.
CLAUDIO:
-
Que boa notícia!
SUZI:
-
Estou muito feliz. Bom vou nessa! (BEIJA
O PAI E CUMPRIMENTA O NAMORADO) Trate de fazer meu pai muito feliz, ou vai
se vê comigo. (SAI)
(OS
DOIS CONTINUAM BEBENDO E CONVERSANDO)
CENA
76
INTERNA
- NOITE - CASA DE ORNELA - SALA
ORNELA
OUVE BARULHOS ESTRANHOS. ENTRA UM VENTO FORTE PELA JANELA, FAZ AS CORTINAS SE
MOVIMENTA-LAS. SENTE UM CALAFRIO. VAI ATÉ A NANELA, FECHA. UM VASO DE FLORES NA
SALA ESTOURA. FICA ESTATICA OLHANDO, SEM ENTENDER. TENTA RETOMAR O JUÍZO PARA
NÃO DAR MARGEM A IMAGINAÇÃO. O VULTO PASSA RAPIDAMENTE POR ELA. SE ASSUSTA.
ORNELA:
-
Que isso?
O
VULTO PASSA POR ELA OUTRA VEZ. OUVE UMA VOz SUSSURRANDO AO SEU OUVIDO.
VOZ:
-
Ornela…
ORNELA:
-
Quem está aí? Que brincadeira é essa? Acho melhor parar… Se não… (CORRE PEGA A BOLSA E RETIRA UMA ARMA)
VOZ:
-
Se não o que?
ORNELA
OLHA PARA TRÁS. NO SOFÁ A MEIA LUZ, FUMANDO, COM UM HAR FULMINANTE ESTÁ O
ESPÍRITO DE BUFÃO.
ORNELA:
-
Não, não é possível. Você está morto. iIsdo só pode ser uma alucinação.
BUFÃO:
-
Uma entre tantas outras que você terá… Vou te atormentar até o resto de sua
vida.
ORNELA:
-
Não, isso não é possível… Deve ser efeito dos meus calmantes… (SE VIRA DANDO AS COSTAS PRA ELE) Meu
Deus! Devo estar ficando louca…
BUFÃO:
-
Ainda não. Mas, vai ficar.
ORNELA:
( SE VIRA EM DIREÇÃO A ELE APONTA A ARMA. SE DEPARA COM SUZI)
SUZI:
-
Mãe?! Que isso? Calma… Está tudo bem. Agora, abaixa a arma.
ORNELA:
-
Ele estava aqui. Veio pra me atormentar.
SUZI:
-
Ele que? Mãe, de quem você está falando?
ORNELA:
-
Bufão. Bufão…
SUZI:
-
Mãe, Bufão está morto.
ORNELA:
-
Estava Aqui. Bem aqui… Eu vi, eu vi…
SUZI: - Olha…
Presta atenção. (TENTA A CALMAR) Está
tudo bem. Senta aqui… isso...
ORNELA:
-
Filha…
SUZI:
-
Ish! Fica quietinha, está tudo bem. Eu tô aqui, tô aqui do a Ornela. Aqui. (ACARICIA OS CABIS SA MÃE. SENTE PIEDADE
AO VÊ O DESESPERO DA MÃE. DEIXA CAIR UMA LÁGRIMA)
CENA
77
EXTERNA
- NOITE - RUA
VALÉRIA:
-
Téo!?
TÉO:
-
Me deixa em paz.
VALÉRIA:
-
Por que essa grosseria?
TÉO:
-
Você é mesma muito cínica!
VALÉRIA:
-
Tudo que fiz, foi por amor.
TÉO:
-
Amor? Será que você sabe que isso?
VANESSA:
-
Nunca duvide de meu amor por você. Téo, por você eu sou capaz de qualquer
coisa.
TÉO:
-
Você louca. Fica bem longe de mim. (SAI)
VANESSA:
-
Pensa que isso vai ficar assim? Não. Você me paga. O que teu, tá guardado.
CENA
78
EXTERNA
- NOITE - PRAIA - QUIOSQUE
TÉO:
-
Oi?! (CHEGA POR TRÁS, AO PÉ DO OUVIDO)
SUZI:
-
Oi...
TÉO:
-
Estou procurando a mulher mais linda desse mundo...
SUZI:
-
É mesmo?
TÉO:
-
É. E confesso que já a encontrei.
SUZI:
-
Então não tenho chances com você, bom rapaz?
TÉO:
-
Muitas. Posso te encontrar um segredo sobre essa mulher?
SUZI:
-
Não sei se suportarei saber esse segredo.
TÉO:
- (Cola no ouvido dela. Câmera destaca os lábios dele ao pé do ouvido de Suzi) Essa mulher
é você.
SUZI:
- Então
sou a mulher mais feliz do mundo. (SE
BEIJAM. DE LONGE VALÉRIA OBSERVA)
TÉO:
-
Dorme comigo essa noite?
SUZI:
-
E sua mãe?
TÉO:
-
Trabalha hoje a noite. E também não pega nada.
SUZI:
-
Deixa eu pensar… Convite aceito.
TÉO:
-
Então, bora pra casa. Assim, a gente aproveita mais. (Saem)
CENA
79
INTERNA
- DIA - CASA DE TÉO
(VANESSA
VÊ TÉO E SUZI SAIR DA CASA. VAI ATÉ A PORTA E TOCA A CAMPANHIA)
VALÉRIA:
-
Bom dia?!
VILMA:
- (SONOLENTA) Oi?
VALÉRIA:
-
O Téo tá aí?
VILMA:
-
Olha, acho que saiu cedo...
VALÉRIA:
-
Ah que pena! Sabe, ele me disse que podia passar aqui pra pegar a câmera
fotográfica dele pra fazer umas fotos...
VILMA:
-
Então pega lá… Sabe onde está?
VALÉRIA:
-
Sei. Sempre deixa na escrivaninha.
VILMA:
-
Então pode pegar.
VALÉRIA:
-
Desculpa ter lhe acordado.
VILMA:
-
Nada… Pega lá…
CENA
80
INTERNA
- DIA - QUARTO DE TÉO
(Vanessa
vai ao quarto. Revira o lixo, encontra uma camisinha usada. Pega uma caneta e
com ela pega a camisinha da lixeira, percebe um caderno na escrivaninha, retira
uma folha, enrola a camisinha e guarda no bolso de sua calça)
VALÉRIA:
-
Acho que ele esqueceu...
VALÉRIA:
-
Não encontrou?
VALÉRIA:
-
Não. Mas depois falo com ele e pego.
Obrigada. (SAI)
MÃE:
- Nada… (TEM UM PRESENTIMENTO RUIM) Estranho.
CENA
81
INTERNA
- DIA CASA DE ORNELA - SALA
SUZI:
-
Estou muito preocupada pai. Ela está muito estranha...
CLÁUDIO:
-
Estranha como?
SUZI:
-
Parece descontrolada. Eu cheguei ontem em casa, ela estava com a arma na mão
apontando nesta direção, agindo como se estivesse alguém a perseguindo,
atormentando ela...
CLÁUDIO:
-
Isso é grave.
SUZI:
-
Pai, o pior de tudo que ela afirma que era o Bufão.
CLÁUDIO:
-
Deus!
ORNELA:
-
Cláudio?
CLÁUDIO:
-
Oi Ornela. Você está bem?
ORNELA:
-
Estou ótima. Nunca estive melhor.
CLÁUDIO:
-
Sabe, eu estava aqui conversando com nossa filha… E acredito que depois de tudo
que você passou, por ter vivido essa situação traumática…
ORNELA:
-
Que andou falando ao seu pai mocinha?
SUZI:
-
Eu? Nada.
ORNELA:
-
E quanto a você Cláudio. Nem continue.
CLÁUDIO:
-
Mas Ornela.
ORLANDO:
-
Assunto encerrado. Agora preciso ir. Tenho compromissos.
SUZI:
-
Compromissos?
ORNELA:
- O casamento acabou, mas a vida continua. Teu pai que o diga. (SAI)
CLÁUDIO:
-
Me parece bem. Pelo menos o sarcasmo continua inteiraço.
SUZI:
-
Sei não pai. Ela tá diferente.
CENA
82
EXTERNA
- DIA - PRAIA
VALÉRIA:
-
Oi? Vai pegar onda?
KIM:
-
Que você quer? Não basta na merda que você me enviou?!
VALÉRIA:
-
Errei. Menti, trapaciei. Disse coisas horríveis. Mas na verdade, eu deixei de
falar uma coisa.
KIM:
-
Prefiro nem saber… Você mina, é chave de cadeia. Encrenca na certa… (SAÍNDO)
VALÉRIA:
-
Adorei a noite que passamos juntos.
KIM:
- (PARA) Que disse?
VALÉRIA:
-
Gostei. Muito… E de verdade, quero mais…
KIM:
-
Que doideira é essa mina?
VALÉRIA:
-
Doideira não… É vontade, é desejo.
KIM:
-
Desejo?
VALÉRIA:
-
Claro. Quero fazer amor contigo. Sabe, quero que faça comigo aquele sexo bem
gostoso, selvagem. Ao menos que você não sinta mais nada por mim… Se disser que
não sente mais nada por mim, nem uma pequena atração… Vou embora, não mais te
procuro.
KIM:
-
Sinto.
VALÉRIA:
-
O que?
KIM:
-
Muita atração por você.
VALÉRIA:
-
Tô sozinha. Bora?
KIM:
-
Pô, Demorô!
VALÉRIA:
-
Então vamos gatão. (SAEM)
TRANSIÇÃO
CENA
83
O
INTERNA - DIA - CASA DD ORNELA - SALA
TÉO:
-.
Bom, eu pedi para reunir a todos… pena que minha mãe esteja trabalhando e não
possa tá aqui…
ORNELA:
-
Dá pra ir direto ao assunto, embora eu sinto que não vou gostar nada do rumo
que “essa” reuniazinha vá tomar…
CLAUDIO:
- Ornela! (REPRENDE) Desculpa… Por favor,
continue.
TÉO:
-
Nem sei por onde começar… caramba! Tô nervoso.
SUZI:
-
Ai que tenso!
TÉO:
-
Seu Cláudio, Dona Ornela…
ORNELA:
-
Que termo mais chifrin…
TÉO:
-
Eu gostaria de pedir. Vocês Suzi em noivado… É isso.
SUZI:
-
Que lindo!
CLÁUDIO:
-
Se ela aceitar, de nossa parte não há objeção.
ORNELA:
-
Fale por você.
CLAUDIO:
-
A resposta mais importante, creio que já tenha.
SUZI:
-
Aceito. Mil vezes sim. (CAMPANHIA)
CLÁUDIO:
-
Pois não?
POLICIAL:
-
Boa noite. Sr. Teodoro Santana.
CLAUDIO:
-
Algum programa Sr. Policial.
TÉO:
-
Sou eu.
POLICIAL:
-
O senhor estar preso.
SUZI:
-
Preso?
TÉO:
-
Como assim, não fiz nada.
SUZI:
-
Por que vão levar ele?
POLICIAL:
-
Estrupo.
TÉO:
-
O que?
POLICIAL:
-
Fica tranquilo. Terá muito tempo pra se explicar. (O LEVA PARA FORA DE CENA)
SUZI:
-
Pai...
CLAUDIO:
-
Calma filha. O namorado é advogado. Vou ligar pra ele, e vamos pra delegacia.
ORNELA:
- (RETIRA UM CIGARRO, ACENDE) Nunca erro.
SUZI:
-
Me diz que não está por trás disso…
ORNELA:
-
Por si só, se prejudicou. (SOLTA A
FUMAÇA NO AR)
CENA
84
XANDY:
-
Que loko! Puta! Tô sem entender até agora. Como pode isso? É loko demais
brother.
LEO:
- Louco
demais... Difícil de acreditar.
NATÁLIA:
-
Pera ai... desenrola isso... O Téo, e a Valéria?
KIM:
-
Que é que você tá falando?
NATÁLIA:
-
Que a Val tá acusando o Téo de estrupo.
LEO:
-
fala sério... Ela sempre foi afim dele. Fez o que fez, e agora vem com essa?
NATÁLIA:
-
Mas, pelo que estão dizendo, ela deu queixa, e passou por corpo e delito, e
estava bem machucada.
KIM:
-
Cachorra! Me usou.
NATÁLIA:
-
Que quer dizer? Não vai me dizer... Que você e ela...? Não cara, você não fez
isso.
KIM:
-
Eu e ela transamos.
VALÉRIA:
-
Que merda! Você é um escroto.
XANDY:
-
Cara, que merda!
LEO:
-
Como assim? Te usou.
NATÁLIA:
-
Tô com nojo de você. Nunca mais me procura. (Sai)
XANDY:
-
Cara, deixa ela. Tá nervosa. Depois você troca uma ideia com ela...
LEO:
- Você acha que ela armou pro Táo?
KIM:
-
Claro. Não poderia ter transado com ela. Eu passei a noite toda transando com
ela. E o que eu estranhei que a mina tava muito loka.
XANDY:
-
Como assim muito loka. Drogas?
KIM:
-
Não. Ela pedia pra que eu batesse nela com força, entende? Que eu a pegasse e
fizesse sexo com violência.
XANDY:
-
Então, as marcas e hematomas...
LEO:
-
Claro! Essa mina é perigosa.
XANDY:
-
Brother você tem que contar isso pra polícia.
LEO:
-
E livrar a cara do Téo.
KIM:
-
Devo isso, né? Putz! Logo agora que ia tão bem com a Nathi...
XANDY:
-
Um problema por vez.
CENA
85
NOITE
– INTERNA - DELEGACIA
VILMA:
-
Meu Deus! Cadê meu filho?
CLAUDIO:
-
Está detido.
VILMA:
-
Tenho certeza que meu filho é inocente. Claudio, meu filho jamais seria capaz
de fazer o que estão dizendo que fez... Conheço meu filho. Isso não!
CLAUDIO:
-
Calma Vilma. Acredito na inocência dele. Ah, esse é o Silvio. Ele vai representar
o Téo.
SILVIO:
-
Fica tranquila, já entrei com pedido de habeas corpus...
VILMA:
-
Meu Deus, que pesadelo! Quero vê meu filho... Quero falar com ele. Posso?
SILVIO:
-
Claro. Já pedi permissão ao delegado.
VILMA:
-
Obrigado doutor, obrigada.
CENA
86
INTERNA
– NOITE – DELEGACIA – SALA RESERVADA
VILMA:
-
Filho...
TÉO:
-
Mãe, eu juro que não fiz nada disso que estou sendo acusado.
VILMA:
-
Por que ela está fazendo isso filho? Ela pode destruir a tua vida.
TÉO:
-
Ela é loka mãe. Sabe que não quero nada com ela. E por ser rejeitada, está se
vingando. (ENTRA UM POLICIAL)
VILMA:
-
Fica tranquilo meu filho. Nós vamos te tirar daqui. Te amo filho. Te amo.
TÉO:
-
Também...
VILMA:
-
Fica firme, viu... A justiça será feita. (Beija
o filho e sai chorando)
TÉO:
-
(Põe o rosto as mãos e chora)
CENA
85
NOITE
- EXTERNA - FRENTE DA CASA DE ORNELA.
KIM
ANDA DE UM LADO PRO OUTRO TENTANDO ENCONTRAR CORAGEM. TOCA A CAMPANHIA.
CENA
87
INTERNA
- NOITE - CASA DE ORNELA - SALA
SUZI:
-
Como ousa?
KIM:
-
Calma! Preciso falar contigo.
SUZI:
-
Não tenho nada pra falar com você.
KIM:
-
Eu sei que pisei na bola... É sobre o que aconteceu com Téo… (Ela tenta fechar, ele coloca o pé pra
impedir)
SUZI:
-
Tira o pé ou chamo a polícia.
KIM:
-
Foi armação.
SUZI:
-
Todo mundo sabe disso.
KIM:
-
Eu que estive com ela naquela noite. As marcas nela, fui eu que fiz...
SUZI:
-
Que tá me dizendo.
KIM:
-
Infelizmente, mais uma vez eu caí na lábia dela...
SUZI:
-
Cara, se o que você está dizendo é verdade…
KIM:
-
Juro! E quero ajudar o Téo.
SUZI:
-
Então temos que ir a polícia agora.
KIM:
-
Claro! Eu vou...
SUZI:
- Vou pegar minha bolsa. (Ele fica tenso a esperando)
CENA
88
NOITE
- INTERNA - CASA DE VALÉRIA.
VILMA:
-
Agora somos nós...
VALÉRIA:
-
E coroa, sai dessa. Tenho nada a falar com você não tia.
VILMA:
-
Ah, tem sim… E só vou sai daqui quando você for lá e desmentir toda essa
mentirada que você criou em cima dessa história absurda sobre meu filho.
VALÉRIA:
-
Só retiro a queixa de seu filho se casar comigo.
VILMA:
-
Você é pior que eu pensava.
VALÉRIA:
-
Aceita que dói menos. Seu filho me ama, e por me amar, me forçou, mesmo eu
dizendo não...
VILMA:
-
Meu filho ama Suzi, jamais iria vir aqui e forçar uma vagabunda como você.
VALÉRIA:
-
É das vagabundas que eles gostam mais. Deixa eu te falar uma coisa. Eu tenho
como provar que ele me violentou. Não que eu não tenha gostado. Mas, não é não.
E ele não entendeu.
VILMA:
-
Como pretende provar que ele te violentou?
VALÉRIA:
-
Tenho a camisinha do ato, com material genético dele…
VILMA:
-
Se ele não esteve com você, como conseguiu?
VALÉRIA:
-
Coisas de mulher apaixonada. Você sabe como é… uma mulher apaixonada é capaz de
qualquer coisa! Por amor, a gente engana até o diabo.
VILMA:
-
A gente não… Você, que não tem caráter.
VALÉRIA:
-
Minha história está muito bem amarrada. Tem consistência.
VILMA:
-
A verdade pode até demorar, mas aparece. E você vai se dá muito mal.
VALÉRIA:
-
Quem poderá se der mal não é bem eu… Posso chamar a polícia e te acusar de
ameaça… E não quero fazer isso com você… sogrinha. Agora dá o fora… sai.
VILMA:
- (Saíndo, para no caminho)
VILMA:
-
Já sei. Agora entendi tudo. Garota, você é mesmo uma víbora, ardilosa… Foi isso
que foi fazer na minha casa. Você não queria nada a máquina fotográfica. Pois
ela estava lá. Você queria uma camisinha usada… É claro!
VALERIA:
-
Prova.
VILMA:
-
Sua máscara vai cair. Todos nessa cidade conhece sua fama de biscate. Garota, será
que você não percebe que pode destruir a vida do meu filho?
VALÉRIA:
-
Se ela casar comigo, fica livre da acusação. Ainda há tempo.
VILMA:
-
Quer saber? Prefiro vê-lo na cadeia, preso, do que vê-lo casado com você. (SAI)
VALÉRIA:
-
Seu desejo, uma ordem.
CENA
89
KIM
ACOMPANHADO DE SILVIO DÁ SEU DEPOIMENTO. AO LONGE SUZI e CLAUDIO OBSERVAM
CENA
90
DIA
- INTERNA - DELEGACIA- SALA DE VISITA
SUZI:
-
Como você tá?
TÉO:
-
Aguentando… Puto da vida! Parece um pesadelo que não passa… Por quê essa mina
tá fazendo isso comigo?
SUZI:
-
Sabemos o porquê. Mas, não vamos nos apegar a isso. Temos que se concentrar em
provar que ela tá mentindo… Que armou tudo isso...
TÉO:
-
Mas como vou fazer isso? Armou tudo direitinho...
SUZI:
-
A mentira é falha… Sempre deixa uma pista da verdade. É nisso meu amor que
estou me concentrando. Tenho que encontrar uma brecha nessa mentirada toda.
TÉO:
-
Como vou provar que nunca tive nada com ela?
SUZI:
-
Nunca?
TÉO:
-
Nunca.
SUZI:
-
Que me preocupa é que lá tem a camisinha que ela diz que foi a que você usou no
ato… e que… essa camisinha tem… esperma.
TÉO:
-
Que história é essa? Que coisa mais loka.
SUZI:
-
Ela armou tudo. Não duvido nada que ela tenha revirado o lixo da tua casa.
TÉO:
-
Pô cara! Que merda! Tô ferrado. Por mais que o Kim diga que foi com ele que ela
passou a noite… Não vai adiantar de nada diante de uma prova tão robusta...
SUZI:
-
Calma. Meu amor, estamos lutando por você.
(O conforta)
CENA
91
INTERNA
- DIA - CASA DE VALÉRIA - SALA
SILVIO:
-
Valéria?!
VALÉRIA:
-
A própria...
SILVIO:
-
Eu sou...
VALÉRIA:
-
Já sei quem é.
SILVIO:
-
Com licença. (Entra)
VALÉRIA:
-
Cuidado hein?! Isso é invasão de domicílio. Posso chamar a polícia.
SILVIO:
-
Perderia uma bela oportunidade...
VALÉRIA:
-
Que oportunidade?
SILVIO:
-
De voltar atrás com essa história maluca.
VALÉRIA:
-
Tá com medo, né? Eu sei que tá.
SILVIO:
-
Sua história por si só não se sustenta.
VALÉRIA:
-
É mesmo? Não me parece certo disso.
SILVIO:
-
Com toda minha experiência, ao longo de todos esses anos advogando por tantos
tribunais, já vi pessoas como você, passarem de vítimas a ré. Tem a chance de
não chegar a um tribunal, pois vou lhe processar, por calúnia, difamação, danos
morais e constrangimento.
VALÉRIA:
-
Tenho prova. Tenho a camisinha que ele usou. E ainda está com esperma.
SILVIO:
-
Você deve gostar muito dele, não é?
VALÉRIA:
-
Gosto. Mas ele é burro prefere a forasteira.
SILVIO: - Por que não vai até ele,
faz uma visita, expõe seu amor. E quem sabe não se entendem. Mesmo porque a
moça com quem ele está se relacionando logo vai embora. (VALÉRIA FICA PENSATIVA)
CENA
92
INTERNA
- DIA - CASA DE NÃ
ORNELA:
-
Ele também te visita?
NÃ:
-
Que faz aqui? (Tenta fechar a porta)
ORNELA:
-
Espera...
NÃ:
-
Que quer?
ORNELA:
-
Saber...
NÃ:
-
Saber o que? (ORNELA ENTRA)
ORNELA:
-
Onde está? Cadê ele? Eu sei que está aqui.
(PROCURANDO)
NÃ:
-
Do que está falando?
ORNELA:
-
Bufão… Meu Bufão, Onde está?
NÃ:
-
No cemitério… Meu Bufão está morto. Você matou meu marido. Você é uma
assassina.
ORNELA:
-
Não, não… Eu não matei Bufão… Eu o amava, muito! Foi o único homem que me fez
feliz...
NÃ:
-
Cala essa boca sua louca. Sai da minha casa.
ORNELA:
-
Será que você não entende? Bufão é meu, meu… só meu.
NÃ:
-
Você enlouqueceu de vez…
ORNELA:
-
Eu e Bufão ficaremos juntos, juntos… Pra sempre. Sempre. (RETIRA A ARMA)
NÃ:
-
Que vai fazer? Guarda isso dona Ornela…
ORNELA:
-
Cadê você meu amor… Estou aqui. Aqui!
(SE AJOELHA. CHORA)
NÃ:
-
Se levante daí… (BUFÃO APARECE PRA
ORNELA)
ORNELA:
-
Meu amor… Você veio. Sabia que estava aqui. Eu te amo, meu amor, te amo.
(NÃ
ESTA COM MUITO MEDO. PERCEBE QUE ORNELA ESTÁ PERTUBADA)
ORNELA:
-
Por favor, nunca mais me deixe sozinha... Preciso de você meu amor. (ELA ESTENDE AS MÃO PRA ELA E A AJUDA
LEVANTAR) Fica comigo para sempre, fica?
(O
ESPÍRITO DE BUFÃO A ABRAÇA, GIRA O CORPO FICANDO POR TRÁS DELA E AO PÉ DO
OUVIDO SUSSURRA)
BUFÃO:
-
Fico. Te amo!(CONDUZ A MÃO DELA ATÉ A
CABEÇA)
BUFÃO:
-
Agora seremos só eu e você. Pra sempre.
ORNELA:
-
Te amo Bufão. Te amo!
NÃ:
-
Dona Ornela, não faz isso…
BUFÃO:
-
Atira... (OUVE-SE UM DISPARO)
NÃ:
-
Não! (GRITA)
(O
CORPO DE ORNELA CAI)
CENA
93
DIA
- EXTERNA - PRAIA
SUZI:
-
Eu sei que a gente não se dá bem… mas, preciso de sua ajuda.
NATALIA:
-
Da minha ajuda?
SUZI:
-
Sim. Sei que você gosta do Téo, e sabe que Valeria tá mentindo pra ferrar com
ele...
NATALIA:
-
Mas que posso fazer pra ajudar?
SUZI:
-
Olha, a Valéria deu um jeito de conseguir uma camisinha usada por Téo. não sei
como… Mas essa camisinha usada está com ela, e é provável que esteja na casa
dela...
NATALIA:
-
Com essa prova forjada, ela mantém Téo preso.
SUZI:
-
Isso mesmo.
NATALIA:
-
Você quer que eu encontre essa camisinha.
SUZI:
-
Temos que encontrar.
NATALIA:
-
Posso agitar a galera...
SUZI:
-
Pode ser… Quanto mais gente fazendo essa busca melhor.
NATALIA:
-
Pode deixar. Se estiver lá, vamos encontrar.
SUZI:
-
Tem que ser hoje a tarde. Ela vai a delegacia fazer uma visita ao Téo.
NATALIA:
-
Visita?
SUZI:
-
Esquece isso… Só me ajuda a fazer a busca na casa dela. Temos que aproveitar
sua ausência.
NATALIA:
-
Fechou!
CENA
94
INTERNA
- DIA - DELEGACIA
VALÉRIA:
-
Oi?
TÉO:
-
Oi...
VALÉRIA:
-
Tá magoado comigo?
TÉO:
-
Que acha?
VALÉRIA:
-
Eu estou disposta a te perdoar...
TÉO:
-
Eu também. Sabe, a Suzi me largou...
VALÉRIA:
-
Não é mulher pra você.
TÉO:
-
Pensa que a trai contigo.
VALÉRIA:
-
E traiu. Por isso está aqui.
TÉO:
-
Abre o jogo… Você venceu. Me tira daqui e que fico contigo.
VALÉRIA:
-
Como vou acreditar no que está me dizendo.
TÉO:
-
Você sabe que pode voltar atrás caso eu não cumpra com a minha palavra.
VALÉRIA:
-
Isso é verdade. Mas e o amor?
TÉO:
-
Não vale o tesão? Amor vem com o tempo.
VALERIA:
-
Gostei disso!
TÉO:
-
Abre o jogo. Você venceu Amanda...
VALERIA:
-
Que jogo?
TÉO:
-
Como conseguiu a camisinha?
VALERIA:
-
Transando contigo.
TÉO:
- (SE LEVANTA) Se não vai ser honesta comigo, não temos que
conversar…
VALERIA:
-
Encontrei na tua casa.
TÉO:
-
Na minha casa?
VALERIA:
-
Na manhã seguinte sua transa com ela...
TÉO:
-
Então foi assim?
VALÉRIA:
-
Foi. Foi assim...
TÉO:
-
Se acha esperta né?
VALÉRIA:
-
Você está nas minhas mãos...
TÉO:
-
Não. Você que está nas minhas. Mostra o celular com a confissão dela gravada.
CENA
95
A
TURMA ESTÁ NA CASA A PROCURA DA CAMISINHA. SUZI ENCONTRA A CAMISINHA. SERÁ
FEITO VÁRIOS TAKES DOS ATORES EM CÔMODOS DIFERENTES DA CASA PROCURANDO A
CAMISINHA.
CENA
96
VALERIA
É ALGEMADA. MÚSICA TRISTE. VALÉRIA, ALGEMADA E CONDUZIDA A VIATURA POR UM
POLICIAL, A CÂMERA FOCO DE VEZ ENQUANDO SEU OLHAR ASSUSTADO QUE SE FUNDE COM AS
LUZES E A CIRENE DAS VIATURAS.
CENA
97
TÉO
DEIXA A PRISÃO DO LADO DE FORA SUA MãE E SUZI O ESPERA. ELE CORRE PARA OS
BRAÇOS DAS DUAS.
CENA
98
SUZI
SAINDO DO CEMITÉRIO ACOMPANHADA DO PAI E SILVIO. ENCONTRA TÉO QUE A CONFORTA.
CENA
99
EXTERNA
- DIA - CASA DE ORNRLA
CLAUDIO:
-
Filha, tem certeza que vai ficar?
SILVIO:
-
Ficaria muito feliz se viesse conosco.
SUZI:
-
Obrigada Silvio. Agora é a vez de vocês construírem uma vida juntos...
CLAUDIO:
-
Você faz parte dessa nova vida.
SUZI:
-
Sei disso e me sinto lisonjeada.
CLAUDIO:
-
Me preocupa deixá-la aqui… Sozinha. E nesta casa.
SUZI:
-
Estou bem pai. Não ficarei sozinha. A Nã me fará companhia. Ela aceitou o
emprego de volta.
CLAUDIO:
-
Isso me deixa mais tranquilo. Filha, então vamos conversando. Não esqueça que a
senhorita tem aulas…
SUZI:
-
Sei pai. Não se preocupe.
CLAUDIO:
-
Qualquer problema. É só ligar.
SUZI:
-
Pode deixar. Beijos! (ENTRAM NO CARRO E
DÃO PARTIDA. SUZI SEGUE PRA DENTRO DA CASA NA PORTA ENCONTRA NÃ. SE ABRACAM E
ENTRAM)
CENA
100
CÂMERA
FAZ UMA PANORAMICA DA PRAIA. CORTA PRA SUZI QUE ESTÁ AGUACHADA NA AREIA E COM
UM GRAVETO COMPLETA O CORAÇÃO QUE DESENHA NA AREIA. AO LONGE VÊ TÉO QUE VEM
CORRENDO EM SUA DIREÇÃO, ELA SE LEVANTA E CORRE TAMBÉM NA DIREÇÃO DE TÉO. A CÂMERA
SE REVERSAM AS IMAGENS ENTRE ELA E ELE CORRENDO, ATÉ QUE UM PLANO GERAL REVELA
O ENCONTRO DOS DOIS QUE SE ABRAÇAM E SE BEIJAM. ROLAM PELA AREIA ENQUANTO SE
BEIJAM, A CÂMERA PASSA PELOS DOIS FOCANDO A AREIA DA PRAIA ATÉ REVELAR O CORAÇÃO
FEITO POR SUZI, AGORA COM A PALAVRA FIM.
FIM
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