dezembro 02, 2011

O PROFESSOR POLIVALENTE

Por natureza, o ser humano tem a necessidade de se expressar, e para isto, passa por experimentações, acumulando vivencias através de suas observações e interações proporcionadas por seu cotidiano.

Desde muito cedo experimentamos e nos relacionamos com a arte, e de certa forma a arte está inserida em nossas vidas, mesmo antes de dar-nos conta, somos beneficiados por todas suas dimensões.

É notório que desde os primórdios a humanidade convive com a arte e através dela se expressa, formando culturalmente um legado onde suas idéias são expressas, deixando um registro, que representa a sociedade em tempo e espaço, para que posteriormente possa contar a sua história.

A relação do homem com a arte vem de um longo tempo, muitas civilizações deixaram registrada suas experiências, sejam através de narrativas ou da escrita que sobreviveram até a atualidade.

Esta relação entre o homem e a arte vem desde os povos primitivos aprimorando-se junto a linguagem, desta forma deixando de ser apenas uma forma expressiva para algo muito mais abrangente, encaixando-se com a constante necessidade do ser humano de se comunicar.

Através das artes podemos trabalhar de forma integral e promover nos educandos o desenvolvimento psico-motor, e a incluir-la no currículo escolar como apóio as mais diversas disciplinas basta que o educador planeje atividades espontâneas, criadoras e de interesse comum, que beneficie o desenvolvimento corporal, da linguagem, e acima de tudo que seja gratificante para os participantes respeitando o processo de desenvolvimento gradual de cada integrante.

Ao utilizamos a linguagem artísticas como apoio a uma disciplina em uma escola, estamos nos apropriando de um conhecimento muito mais abrangente, por necessitar de um domínio teórico e prático muito mais preciso, desenvolvendo deste modo um projeto pedagógico, que atenda não só as expectativas dos docentes em relação ao currículo mas também as verdadeiras necessidades dos educandos.

Trabalhar com arte educação exige do professor um conhecimento muito apurado para que se possa fazer um link, entre a arte e as outras disciplinas e  para que haja um bom desenvolvimento do trabalho dependera muito do domínio e do conhecimento deste professor que junto com seus educandos se verão como disciplinados pesquisadores.
O incentivo através da arte desenvolverá no grupo uma  metodologia por se tratar de um método ou critérios da construção coletiva, desenvolve nos participantes a apropriação prática e lógica do conhecimento gradual e significativo.

Deste modo surge o professor polivalente que trás como foco em seu trabalho a pesquisa e a importância da contribuição na formação do conhecimento significativo na educação. Para isto é muito importante a conscientização deste profissional em apropriasse do conhecimento sobre as artes em geral, seus recursos e infra-estrutura, na formação de pessoas capazes de assumirem seus papeis como verdadeiros cidadãos.
Deste modo será  necessário analisar as ações destes profissionais denominados artes e educadores ou simplesmente polivalentes.

Sabendo da importância da arte – educação na sala de aula, nossa pesquisa também nos remeteu a investigar como ocorre a formação destes profissionais da arte e dos professores polivalentes nesta área. Como é o seu trabalho em sala de aula? Qual a concepção de arte que é explicita ou implícita no currículo das faculdades de Pedagogia?

Verificando detalhadamente a história da humanidade encontraremos documentos importantes, reconhecidos por especialistas quanto a sua autenticidade.

Estes documentos relatam que desde o inicio das civilizações o teatro já estava inserido nas sociedades e já se fazia presente junto a educação, seja como forma de expressão ou transmissão de valores.

Nestes registros históricos podemos perceber que a arte educação sempre trouxe uma grande contribuição para o desenvolvimento do ser humano, levando-se em consideração sua abrangência ótica na promoção do desenvolvimento cognitivo, pedagógico, sociológico e cultural.

Não é de hoje que a arte educação é uma parte fundamental na formação de cidadão capazes de relacionar com as questões mais relevantes que assola a humanidade, e é neste ponto que aparece a figura do professor polivalente, seja este formal ou informal, o que devemos considerar são suas contribuições para o desenvolvimento do educando.


Alguns grandes autores e pensadores de diferentes épocas em seu tempo contribuíram e muito quando fizeram seus registros relatando suas experiências e confirmando a importância da arte na educação, isto se deu quando estes desenvolveram trabalhos como educadores, implantando metodologias e técnicas para a promoção de uma educação mais efetiva, dinâmica e sistematizada, valorizando o indivíduo, desta forma preparando-o para o trabalho coletivo através das artes cênicas.

Claro que não podemos afirmar com precisão que a arte educação propriamente dita sempre fora um importante veiculo de transmissão que conduzisse o educando a um aprendizado significativo a todos com igual proporção, mas é óbvio, que serve como um dos vários caminhos nos remete para melhor desenvolver os educandos.

Sempre houve e ainda há um grande embate quando nos deparamos com a questão da educação artística como parte do currículo escolar, sendo levado em consideração apenas, como educação artística, as artes plásticas, que é confundida muita vezes com um simples colorir de desenho ou a reprodução de livros didáticos que não passam de mera teorias.

Desenvolver um trabalho de arte na sala de aula exige um conhecimento muito abrangente referente ao assunto e é comum encontramos nos estabelecimentos de ensino professores que aplicam na educação artística as artes plásticas, trazendo em suas aulas um currículo denso onde a teoria predomina absolutamente como plena e necessária, apresentando ao educando apenas um conhecimento restrito de técnicas, de mera copilação reprodutiva. 

Promover a arte educação como mecanismo poderá abrir caminhos para que o educando possa se perceber, e desta forma se reconhecer como sujeito de seus próprios atos, sendo criativo e reconhecendo  seu verdadeiro valor ao se expressar por meio de sua arte. 

O professor, arte educador, e aqui citado como polivalente, além de educar por meio do teatro terá também de orientar os seus educandos, promovendo em seus pupilos novas experiências, valorizando suas vivencias, incentivando o desenvolvimento integral por meio de práticas metodológicas apropriadas as necessidades de cada grupo. 

A educação artística na rede pública brasileira está tão escarça que até é  irrelevante tornar-se professores aptos a lecionar a matéria, desta forma poucos teem o interesse de se formarem como professor de educação artística e os profissionais que dominam a matéria por sentirem a desvalorização preferem se aventurarem por outras profissões e em muitos casos assumirem outras disciplinas com maior mercado. 

Num pais onde a educação é vista em segundo plano,  principalmente as artes, esta fica apenas no campo do pensamento, onde o discurso pronto é posto de forma eloquente, mas com poucas ações efetivas e tão pouco com intuito de promover integralmente em grande escala o desenvolvimento amplo em relação a descoberta pessoal, tanto física como psicológica do educando. 
De todas as manifestações artísticas, o teatro é por excelência, o que exige tanto do mestre como dos educandos uma entrega maior, se envolvendo por completo, e desta forma, se auto-avaliando em busca sempre do aperfeiçoamento das técnicas e da apropriação do conhecimento significativo e funcional que atenda as suas reais necessidades.  

É comum perceber nas aulas de arte o despreparo dos que lecionam pondo em xeque a credibilidade do profissional que se assume como polivalente, que em muitos casos não apresenta a postura necessária para assumirem seus papeis, que exige-se no mínimo o aperfeiçoamento e enriquecimento do vocabulário através da leitura e da escrita, sem contar com a apresentação pessoal, promovido por técnicas de postura e o bom desempenho referente a socialização para que deste modo também possam desenvolver no grupo um sentimento de cooperação, pois as aulas de arte educação, se preocupa também de cuidar, antes de mais nada, do ser humano, dando-lhe espaço para expressarem suas emoções através de seus medos e aspirações. Há incentivo para o trabalho em grupo, onde todos possam se respeitar como sujeito, único e importante com suas qualidades e diferenças. 

Quando arte educação é transmitida com qualidade promove no grupo através de seu orientador a construção de relacionamentos sólidos onde o respeito a diversidade é posta de forma prática e efetiva. Isto ocorre através de experimentações onde os educandos vão construindo seus conhecimentos e desta forma podem trocar experiências, se pondo no lugar do outro, reafirmando seu caráter e desta forma buscando a perfeição por meio da disciplina, não ditadora, porém do auto controle de suas atitudes e emoções. Já esta confirmado que os jogos dramáticos, desenvolvem nos educandos elementos sensórios: ritmos, habilidades, julgamento prático e equilíbrio emocional.
 
Como já deu para perceber a arte educação, por meio do teatro, é um assunto tão abrangente que nos leva a várias reflexões e que se não tivermos cuidado somos levados por vários caminhos, que nos tira do rumo, fazendo-nos nos distanciar do nosso foco.
Neste ponto podemos citar algumas pesquisas realizadas por grandes pensadores e dramaturgos, que relatam suas experiências como arte educador.  Assim, encontramos nomes como: Platão, Aristótoles, Augusto Boal, Maria Clara Machado, entre outros. 


O século XVIII foi de suma importância, onde grandes pensadores como Goethe e Nietzsch, influenciados por Rousseau contribuíram promovendo uma grande mudança, inserindo no campo educacional, a valorização e a importância da arte, onde há uma grande reverencia a arte de representar, por considerar o teatro um meio eficaz de promover integralmente o desenvolvimento da criança. 

Desde então muitos são os que juntam-se a este coro, afirmando com veemência a contribuição do teatro como uma grande e eficaz aposta no aprendizado e na valorização do conhecimento adquirido por meio de jogos dramáticos e exercícios de improvisação. Piaget também demonstra sua preocupação com uma escola mais preocupada em adaptar-se a cada criança do que encaixa-la no mesmo molde, focando-se no interesse da criança e nas suas atividades de vivencias que fossem principalmente em grupo. Práticas comuns em aulas de teatro em escolas técnicas ou livres. 

No Brasil a história do teatro e da educação propriamente dita se dá a partir do século XVI com a chegada dos jesuítas, onde Anchieta serviu-se da arte teatral para compor seus sermões por meios de dramatizações, através de seus autos e mistérios, e desta forma catequizar, ensinar e até mesmo condicionar os índios com intuito de doutrina-los.  

Esta prática foi comum por séculos, pois a igreja católica usou o teatro como forma de passar seus valores e conceitos, isto nos prova que a representação trás um efeito tão envolvente e de maior assimilação que tanto nos primórdios da humanidade quanto aos dias atuais, ainda se utiliza do teatro para levar a massa a refletir sobre questões relevantes de nossa sociedade.  

E isto é tão forte que desde a antiguidade quando o teatro surgiu em Roma e na Grécia, uma aglomeração de espectadores, se reunia nos grandes teatros ao ar livre para assistirem as representações, que além de entreter também poderia transmitir valores.  
Há relatos que no século XVII os jesuítas impuseram uma censura drástica proibindo a pratica teatral, personagens cômicos, que na maioria das representações escarneciam a sociedade da época, demonstrando todo o podre denunciando o pré-conceito e a intolerância da minoria dominante.  

Não podemos deixar de ressaltar que o povo, nesta época era a maioria composta por pessoas analfabetas e que poderiam ser influenciado e até mesmo manipulado através do teatro, que agora se apresentava como oposição ao pensamento dos dominantes. 

O teatro sobrevive ao tempo e a cada dia vem se mostrando com maior força, apesar de sofrer com os descasos e as perseguições, se mantem firme e cada vez mais empenhado de forma cidadãos mais conscientes do seu papel nesta sociedade que se modifica rapidamente. 

Vale relembrar que a questão da arte educação é tão relevante para uma abordagem, que a própria história nos demonstra que nem mesmo com a chegada da família real ao Brasil em 1808, o teatro não foi incluso na educação, nem acessível ao povo, sendo apenas um artigo de luxo, representado só para uma pequena elite. 

Identificamos historicamente Augusto Rodrigues como o percussor da arte educação no Brasil, isto na década de quarenta, foi ele quem liderou a criação de uma “escolinha de arte” no Rio de Janeiro, com estruturas baseadas nos moldes da Educação, através da arte, onde preparava professores para o ensino da arte. 

O ensino das artes é  introduzido legalmente no currículo escolar da educação básica de forma não obrigatória com a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4024/61), relembrando que neste período o Brasil passava por forte censura, por conta do golpe militar, e ninguém do era livre de se expressar artisticamente. 

Um grande marco na história da educação ocorreu com o projeto de Lei Federal nº 5.692 de 1971 que incorporava no currículo escolar a educação artística possibilitando deste modo evasão para um trabalho mais reflexivo indo em contra-mão a ditadura militar. Até então não havia cursos de arte educação nas universidades no Brasil. Eram encontrados apenas alguns cursos livres para preparar professores de desenho.

Anterior a este período identificamos um movimento pioneiro iniciado em 1948 denominado Movimento Escolinhas de Artes, difundido por todo pais com 32 escolas, porém particulares,  tinha como objetivo oferecer o curso de arte educação para crianças e adultos, e formar professores em arte educadores. 

É importante ressaltar que mesmo após a Lei Federal em vigor estes educadores
formados nas escolinhas não podiam poderiam lecionar  nas escolas devido a exigência pela formação superior, desta forma sendo um empecilho ao acesso deste artes educadores assumirem a sala de aula. 

Para suprir a falta de mão de obra especializada o Governo Federal criou o curso universitário que preparava professores para a disciplina de educação artística. Já quanto a arte educação propriamente dita só foi inserida nas universidade a partir de 1973. Este curso com duração de dois anos, licenciava professores para lecionar: música, teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico, no ensino Fundamental e em alguns casos no ensino médio.  

Este curso gerou muitas críticas quanto sua qualidade, por acreditar-se que o mesmo deixava uma grande lacuna  a ser preenchida que punha em dúvida sua eficácia por considerar-se que o tempo de duração do curso era muito inferior ao necessário para que se formasse um profissional capaz de dominar teoricamente e na prática uma disciplina tão complexa. 
Como forma de preencher esta lacuna a Universidade de São Paulo através da Regulamentação do Ministério da Educação, oferece um curso de arte educação com a duração de quatro anos. Oportunizando desta forma que aspirantes a arte educadores possam ter uma maior e melhor qualidade para desenvolverem seus conhecimentos técnicos e teóricos. 

Em pesquisa realizada com 2500 professores de arte em São Paulo na década de 80, foi constatado que estes profissionais tinham como principal objetivo o desenvolvimento da criatividade de seus educandos. Esta pesquisa foi importante por nos revelar um panorama dos educadores, neste caso, comprovando o que já era previsto, não tinham o domínio necessário para lecionar como professores de arte. Suas teorias e práticas não estavam embasadas em estudos apropriados ao que se propunham a ensinar, desta forma não estavam aptos a oportunizar o desenvolvimento integral de seus educandos.


É lamentável que a educação artística esta cada dia mais restrita, pouco encontramos esta disciplina, e há os educandos que afirmem, que nem sabem o que é esta disciplina, e quando encontramos, não passa de um simples colorir, pois a arte é vista, ainda, como algo de menor valor, sendo enfatizada apenas nos discursos daqueles que por intuição acreditam ser politicamente correto citar a arte. Mas graças as escolas livres que ainda em maior quantidade e agora com parceria da Delegacia Regional do trabalho, muitos profissionais são formados e atuam, se formando como artistas em várias categoria e que juntamente com o curso universitário, assumem salas de aula contribuindo prestando seus serviços como arte educadores.

 A preparação nas faculdades nesta área sabemos que inclui apenas o aprendizado de uma metodologia de ensino. Um contato mais profundo no ensino de artes, nos permitiria, que as diferentes formas de cultura fossem vivenciadas, compartilhadas e significativas. 
A formação dos professores de arte no Brasil tem uma historia peculiar, diferente da formação de professores com pouca oferta de curso e campo de atuação. 
A nova LDB (Lei 9.394/96) e o PCN (2000), assegura a presença da disciplina arte no currículo da escola fundamental como disciplina obrigatória na educação básica destacando as quatro linguagens: teatro, dança, música e arte plástica, porém na prática os educandos não são beneficiados com a arte educação, e não há investimento na qualificação de profissionais para aturarem lecionando esta disciplina. 

É preciso que haja um engajamento maior com políticas públicas promovendo a qualificação de profissionais, que possam desenvolver nas escolas um trabalho de qualidade voltado a arte educação por meio do teatro, uma vez que sabemos que este profissional tem que ter uma preparação tanto teórica quanto prática para desenvolverem um trabalho efetivo que contribuam na construção do conhecimento integral dos educandos. 

Vale relembrar que esta formação ultrapassa a sala de aula é preciso um engajamento rumo ao conhecimento, através de pesquisas, teoria e prática. Só deste modo poderemos compartilhar experiências significativas e de forma coletiva por meio da arte e educação construiremos uma nova consciência respeitando a diversidade, promovendo o crescimento individual e coletivo através do conhecimento.

 Ressaltando que o professor polivalente não deve apenas ser uma figura emblemática que assume uma posição de curioso, mas que tenha o domínio ao menos daquilo que se proponha a ensinar, e que desta forma possa promover em seu ambiente de trabalho o desenvolvimento integral e significativo.

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