ATO II – CENA VIII
(Na Mansão)
MARA: - Acabou... Acabou.
DONA LIZ: - Só nos resta nos conformar.
MARA: - Nos conformar mamãe? Como posso me conformar com uma situação como esta? É tudo tão... Surreal. Como isso pode acontecer? Meu filho? Meu menino... Morto. Mãe, tiraram a vida do meu filho. Não dá pra se conformar. Só vou me conformar, se isso for possível, quando este assassino estiver atrás das grades.
TÂNIA: - Calma mãe! Sei que as coisas estão difíceis... Mas estamos aqui. Somos uma família, e vamos ficar unidas.
EGÍDIO: - Tânia tem razão. Não vamos nos exceder. Precisamos manter a calma, o inevitável, já aconteceu. Agora só nos resta esperar... Logo a polícia descobrirá quem cometeu tão cruel crime. Quem fez isso com nosso filho, irá pagar muito caro. Não medirei nenhum esforço.
MARA: - E esse bando de abutres? Nos cerca como carniças!
EDINALDO: - Quanto a imprensa... Deixem comigo. Eu cuido disso. Nada será publicado sem o consentimento da família.
MARA: - Mas do que você está falando?
DONA LIZ: - Você não contou a ela?
MARA: - O que estão escondendo de mim? Egídio?
EGÍDIO: - Nada meu bem. A polícia ainda está investigando...
MARA: - Não foi um assalto... Foi uma execução.
TÂNIA: - Mãe, nada esta esclarecido. Não temos como dizer-lhe exatamente o que aconteceu. Não sabemos. Não é papai?
EGÍDIO: - Exatamente.
MARA: - Se sabem de alguma coisa... Por favor, me contem.
DONA LIZ: - Não sabemos nada além do que você sabe minha querida. No mais, hoje foi um dia intenso, cansativo... Vamos descansar um pouco.
MARA: - Nanci?
NANCI: - Senhora?
MARA: - Acompanhe mamãe até seu quarto.
NANCI: - Sim senhora. Vamos Dona Liz...
DONA LIZ: - Que mania! Parem de me tratar como se eu fosse uma invalida. (Sai)
EGÍDIO: - Vamos querida.
TÂNIA: - Mãe... Se quiser... Posso ficar.
MARA: - Não querida, não será preciso. (Sai)
EDINALDO: - Ainda acho que deveriam conta-lhe a verdade.
TÂNIA: - Tenho medo. Talvez não suportasse.
EDINALDO: - Saber que o filho era gay!
TÂNIA: - Que desagradável.
(Entra Marina)
MARINA: - Está feliz agora?
TÂNIA: - Marina...
MARINA: - Meu irmão está morto!
TÂNIA: - Sinto muito.
MARINA: - Sente muito? Fala sério!
TÂNIA: - Também estou sofrendo. Todos estamos sofrendo.
MARINA: - Dá pra vê o sofrimento na cara do teu macho.
TÂNIA: - Chega!
MARINA: - Esse inútil nunca foi com a cara de Marcos.
TÂNIA: - Cala a boca!
MARINA: - Um sangue suga! A única coisa que deseja é teu dinheiro...
TÂNIA: - Para com isso.
MARINA: - Por que não pega o inútil deste teu marido e dar o fora daqui?!
TÂNIA: - Por que está casa ainda é minha também.
MARINA: - Volta lá pro seu ninho de amor e infidelidade.
TÂNIA: - (Esbofeteia) Não admito que fale assim comigo.
MARINA: - Por que? Por que a verdade dói né? Que saber maninha, esse tapa doeu menos que a dor que a frustação deste casamento.
TÂNIA: - Respeite nossa dor.
MARINA: - Dor? Que dor? Fala sério garota. Papai está aliviado por se livrar do problemão que seria ter um filho gay, desfilando por ai. Olha só que família... Um filho gay assassinado, uma filha drogada e uma outra enfiada num casamento por interesses, infeliz.
EDINALDO: - Agora chega sua vadia.
MARINA: - Olha! Não que ele fala.
TÂNIA: - Não Edinaldo. Por favor...
EDINALDO: - Não vou admitir que nos trate deste jeito.
MARINA: - Você é desprezível! Você são desprezível.
EGÍDIO: - Que faz aqui?
MARINA: - Olha! Chegou o poderoso chefão.
EGÍDIO: - Não tenho tempo para suas infantilidades.
MARINA: - Tá feliz né? Não... Nem tento. Claro! Desejava que fosse eu. Ah, Alcapone! Como vê... Não desta vez.
EGÍDIO: - Ednaldo...
EDINALDO: - Senhor...
EGÍDIO: - Chame a segurança.
MARINA: - Isso capacho! Chama! Vai... Vou fazer um escândalo que vai entra pra história. Amanhã todos os jornais vão publicar o poderoso chefão escorraça sua filha após velório do irmão.
MARINA: - Papai...
MARA: - Que está acontecendo aqui?
MARINA: - Pergunte pra esses hipócritas!
MARA: - Não há espaço para suas infantilidades neste momento minha filha. Ao menos hoje, respeite nossa dor.
MARINA: - Respeito? Será que alguém aqui sabe o que significa está palavra? (Saindo)
MARA: - Marina... Fique.
MARINA: - Não. Não posso compartilhar desse teatrinho.
MARA: - Não diga isto filha.
MARINA: - Esta casa é um palco. Todos vivem encenando. Nada aqui é real, nunca foi. Você mataram meu irmão. (Sai)
MARA: - Não... Isso não é verdade.
EGÍDIO: - Leve sua mãe.
TÂNIA: - Vamos mãe... (Saem)
EGÍDIO: - Quero que encontre uma clínica bem longe e interne esta irresponsável. Não importa quanto custe, mas quero-a bem longe desta casa.
EDINALDO: - Não se preocupe senhor. Hoje mesmo vou providenciar tudo.
EGÍDIO: - Você viu aquele rapaz?
EDINALDO: - Rapaz?
EGÍDIO: - Sim. Um branco, franzino.
EDINALDO: - O que estava acompanhado de um casal? Se não me engano, amigos de Marcos.
EGÍDIO: - Não parava de chorar.
EDINALDO: - Parecia em choque. Inconformado.
EGÍDIO: - Você já o tinha visto antes?
EDINALDO: - Não senhor.
EGÍDIO: - Por que chorava tanto?
EDINALDO: - Talvez...
EGÍDIO: - Talvez?
EDINALDO: - Um amigo de faculdade. Quem sabe?
EGÍDIO: - É.
EDINALDO: - Bom, vou providenciar...
EGÍDIO: - Claro. (Sai)
EDINALDO: - Amigo?! (Sai)
ATO II – CENA IX
VIRGÍNIA: - Sente-se.
JÚNIOR: - Estou bem.
HÉLIO: - Não, não está.
VIRGÍNIA: - Não precisa dar uma de super homem. Sabemos o quanto está sofrendo.
JÚNIOR: - É duro cara.
HÉLIO: - Posso imaginar!
VIRGÍNIA: - Ao menos conseguiu ir ao velório. Se despediu de Marcos.
JÚNIOR: - Graças a vocês. Serei eternamente grato.
HÉLIO: - Não fizemos nada mais que nossa obrigação. Afinal, somos amigos, e amigos são para todos os momentos.
VIRGÍNIA: - Sabemos o quanto vocês se amavam e não poderíamos negar isto a você. Tenho certeza que Marcos gostaria que fosse assim.
JÚNIOR: - As vezes me pergunto, se ele me amava tanto quanto dizia...
VIRGÍNIA: - Meu amigo. Perdoe a fraqueza dele.
JÚNIOR: - Ia casar-se. Não entendo... Se era eu que o satisfazia. Meu Deus! Que estou fazendo?
HÉLIO: - Desabafando.
VIRGÍNIA: - Muitas dúvidas irão surgir... E isso é compreensivo.
HÉLIO: - Mas nunca duvida. Ele te amava.
VIRGÍNIA: - E sou testemunha.
JÚNIOR: - Será que alguém desconfiou. Sinto muito... Não consegui segurar...
HÉLIO: - Dói muito perder alguém.
VIRGÍNIA: - Mas creio que ninguém percebeu nada.
HÉLIO: - Mas aquele detetive não tirou o olho de você.
JÚNIOR: - Detetive?
HÉLIO: - É. O que está investigando a morte de Marcos.
VIRGÍNIA: - Mas é natural. Não olhou só para você. Parecia vigiar a todos.
JÚNIOR: - Não sei o que fazer...
HÉLIO: - Com que?
VIRGÍNIA: - Com nossas coisas, nosso apê.
VIRGÍNIA: - Meu querido... Não é hora de pensar nisso. Amanhã você pensa nisso. Agora procure descansar.
JÚNIOR: - Não quero incomodar.
HÉLIO: - Incomodo algum.
VIRGÍNIA: - Pode ficar aqui o tempo que for preciso.
JÚNIOR: - Obrigado! Nem sei como agradecer.
HÉLIO: - tomando um belo de um banho e descansando.
JÚNIOR: - Há se todos tivessem a felicidade de ter amigos como vocês.
HÉLIO: - Amizade é uma conquista. E nossos sentimentos são recíproca.
JÚNIOR: - Vou tomar uma ducha!
HÉLIO: - Vou pegar uma roupa pra você. (Sai)
VIRGÍNIA: - Se quiser conversar... Não se acanhe.
JÚNIOR: - Obrigado! Agora preciso de um banho. (Sai)
HÉLIO: - Já foi?
VIRGÍNIA: - Já. Estou preocupada.
HÉLIO: - Por que?
VIRGÍNIA: - Aquele detetive. Não tirou o olho do Júnior.
HÉLIO: - Que acha?
VIRGÍNIA: - Que vai revirar a vida do marcos de cabeça pra baixo e vai acabar chegando no Junior.
HÉLIO: - Será que terão Junior como suspeito?
VIRGÍNIA: - Embora eu espere que não... Mas já pensei nessa possibilidade. Marcos traiu o Júnior... E isso é considerável.
HÉLIO: - Nem lembrava deste fato.
VIRGÍNIA: - Traição. Pra polícia, é motivação para se cometer um crime.
HÉLIO: - Mas Junior não é capaz de matar uma mosca.
VIRGÍNIA: - A psicologia diz que amor e ódio, andam juntos. E o ciúme é capaz de nos motivar a fazer coisas que até o diabo duvida.
HÉLIO: - Que balaio de gato!
VIRGÍNIA: - E só está começando. Vamos vê se precisa de alguma coisa. (Saem)
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