fevereiro 26, 2016

ANJO BOM, GÊNIO MAU - ROTEIRO







ANJO BOM, GÊNIO MAU

PERSONAGENS:

GABRIEL
Irmão de Miguel, homem simples na faixa etária de 30 anos, vive em uma comunidade e sobrevive como vendedor ambulante.

MIGUEL
Irmão de Gabriel, mais novo que seu irmão, é um bem sucedido empresário, ambicioso e de caráter duvidoso é capaz de tudo por dinheiro.  

TEKA
Mulher de Gabriel, apaixonada pelo marido, vive se metendo em confusões seja por ciúmes ou por seu sonho de grandezas.

HENRIQUE
Advogado de Miguel, submisso, é homem de confiança capaz de qualquer coisa para manter seu emprego junto a empresa.

LÍDIA
Empregada de Miguel, tem uma certa classe, é dentro da mansão o braço direito do patrão.

CÍNTIA
Secretária de Miguel, ambiciosa, sem nenhum caráter sabe todos os podres de patrão, e aproveita para tirar vantagens.

CHERRY
Amigo de Teka, homem batalhador que a custo de muito trabalho montou seu salão.

MANU
Ex Namorada de Gabriel, sexy, um tanto vulgar usa toda sua sedução para reconquistar seu grande amor e humilhar sua rival.

FERNANDO
Primo de Teka, advogado recém formado, inexperiente, mora em uma comunidade e deseja mudar de vida através de seu trabalho.

QUIRINA
Amiga de Teka, mulher simples, batalhadora que apesar de gostar da amiga, discorda de seu jeito explosivo de ser.

MADAME ZORA
Falsa Vidente, charlatã, vive de aplicar pequenos golpes em pessoas mais ingênuas.

PIOLHO
Filho de Zora, menino em torno de 10 anos de idade, auxilia sua mãe em seus golpes.
ANJO BOM, GÊNIO MAU



FADE IN.


1 – INT./EXT.CASA DE GABRIEL/CENTRO DA CIDADE/DENTRO DO CARRO – DIA


Imagens de cenas entrelaçam. Ora mostra Miguel dirigindo a camainho de seu escritório, ora mostrando Gabriel no centro da cidade vendendo produtos piratas, ora mostra Teka em trabalhos domésticos em sua casa na comunidade, ora vista panorâmica da cominudade.


2 – EXT. CASA DE GABRIEL/COZINHA/PORTA DA ENTRADA - DIA


Henrique vai a casa de Gabriel na comunidade. Teka está sentada pintando as unhas. Henrique na porta da casa de Teka bate palmas.

HENRIQUE
Bom dia?! Sabe onde mora o senhor     Gabriel?

GABY
Ah, mora lá na casa dos fundos.

HENRIQUE
Obrigado.


Henrique entra na viela, encontra com Gaby que o segue.


GABY
 Ai moço... nesta casa.


Henrique chega até a porta da casa de Gabriel e bate palmas.


3 – INT. CASA DE GABRIEL/COZINHA – DIA


Teka está lavando louça, ouve as palmas, pega um pano de prato de sai enxugando as mãos.

TEKA
Oi?!


4 – EXT. PORTA DE ENTRADA DA CASA DE GABIEL - DIA


HENRIQUE
Bom dia?

TEKA
Bom...

HENRIQUE
Desejo falar com o senhor Gabriel.

TEKA
Sinhô?... Biel tá podeno, hein?!

HENRIQUE
Será que é possível falar com ele?


Câmera vai se aproximado em Gaby que ouve atenta a conversa.

TEKA
Ih! Sei não... Quando vem assim, com essa história de sinhô, é igual aquele povo que liga pra gente vendeno ou cobrano alguma coisa.

HENRIQUE
Não, não é nada disso.

TEKA
Então é treta! Desembuça logo moço.

HENRIQUE
Fique tranquila. Não há nada de errado, não. Apenas gostaria de falar com o senhor Gabriel...

TEKA
E sobre o que quer fala cum ele?

HENRIQUE
Qual é mesmo sua graça senhora?

TEKA
Ih, que papo é esse? Tá me estranhando?

HENRIQUE
Perdão! Acho que não entendeu. Perguntei


nome da senhora?



TEKA

Senhora tá no céu! Sou muito jovem pra ser chamada de senhora.



GABY

Hã, hã!



TEKA

Que foi periguete?



HENRIQUE

Posso saber seu nome?



TEKA

Numa boa moço... Num saio dizenô meu nome pra estranho...



HENRIQUE

Esse é meu cartão...



TEKA

Pra que quero um cartão?



HENRIQUE

Estou me apresentando. Como diz ai, sou advogado.



GABY

Ish! Sujou.



TEKA

Que é periguete?



TEKA

Seio lê. Pouco mai seio. E o que o senhô quer cum meu marido?



HENRIQUE

Sou advogado do irmão dele.



TEKA

Irmão?



HENRIQUE

Exato.



TEKA

Mais que história é essa? Biel nunca que comentou que tem um irmão.



HENRIQUE

Então a senhora é esposa do Gabriel?



TEKA

Assim... no papel ainda não. Mais sabe como é: amigada com fé, casada é.

HENRIQUE

Como posso falar com seu marido?



TEKA

Desenrola logo essa história moço, que num tenho o dia todo... Daqui a pouco a vizinhança vai começar a falar. (Grita) Por que esse bando de desocupadas num tem o que fazer não, cuida da vida dos outros!



GABY

De você não quer que cuide da sua vida, pare de gritar sua escandalosa.



TEKA

Ah sua periguete, só não meto a mão na tua cara, em respeito ao moço aqui.



GABY

Então vem pra dentro, fia...

(Do barraco ao alto a mãe de Gaby ouve a discursão e se intromete)



VIZINHA

Que tá acontecendo ai?



GABY

Ah, é essa veia aqui...



TEKA

Epa! Que velha o que menina? Velha é sua mãe...



VIZINHA

Oh, não coloca eu no meio não sua louca.



TEKA

Louca é você...



VIZINHA

Eu? Poe que é o seguinte... Você fica ai gritando na porta dozoutro... acha que tá direito? Encosta a mão na minha filha pra vê o que te acontece. Sua má educada, mal amada...



TEKA

Coloca essa periguete mirim, essa paquita erótica pra cuidar da minha vida...



VIZINHA

Sua invejosa!



TEKA

Tá pensano o que?



VIZINHA

Mal amada...



TEKA

Isso é muita falta, muita falta do que fazer.



VIZINHA

Vai você procurar o que fazer...



TEKA

Vem? Vem aqui, vem me pegar...



VIZINHA

Ridícula, Mal amada...



TEKA

Desce aqui se é mulher...



VIZINHA

Recalcada...



TEKA

Desce se é mulher. Sua loka!



VIZINHA

Loka é você...



TEKA

Vem desce?!



VIZINHA

Perai, perai que vou descer ai, e vou te quebrar todinha...



TEKA

Desce! Vem...



VIZINHA

Perai, vou te arrebentar todinha.



TEKA

Vem, tô te esperando.



VIZINHA

Sua varrida!



TEKA

Vai, vai...



Henrique fica sem jeito ao presenciar a discursão das mulheres





5 – INT. CASA DE GABRIEL/COZINHA – DIA



TEKA

Vamos entrar moço, vamo entrar...Vamo fica aqui em casa, aqui dentro, porque esse povo não tem o que fazer e gosta de cuidar da vida dos outros. Mas diga ai... O que o sinhô tanto quer com meu Biel?



HENRIQUE

É que trago para seu marido uma boa notícia.



TEKA

Que história é essa moço?



HENRIQUE

Por favor... Preciso muito falar com ele. É sobre dinheiro.



TEKA

Cobrança?



HENRIQUE

Não. Lhe garanto que vai ficar tão feliz quanto ele.



TEKA

Dinheiro é? Tá bom. Vou quebrar a tua. Só um momentinho...



(Retira o celular de dentro do sutiã e faz a ligação)



Mozão? Vou fala rápido que é pra num acabar com meus créditos, ó, tem um home aqui te procurano, veio cum uma conversa estranha, que quer fala contigo, é sobre teu irmão.  Biel? Que conversa é essa, desde quando tu tem um irmão? Nunca disse nada. Tá, tá bom. Que digo pro moço? Tá bom... Beijo! Oh, hoje tem, hein?! Beijos! Para... Safadinho! (Desliga) Bem moço... ele pediu pro sinhô voltá lá pras sete, sete e meia, depende do trânsito, que ele já vai tá aqui.



HENRIQUE

Muito obrigado, retorno as 19 horas. (Sai)



TEKA

Tá bom. Cada uma! Um irmão? Só que faltava... Como será esse irmão? Será bonitão? Hum... (Entra)





6 – INT.RECEPÇÃO DO ESCRITÓRIO DE MEGUEL – DIA



SECRETÁRIA

Bom dia Dr. Henrique?!



HENRIQUE

Bom dia. Dr, Miguel está?



SECRETÁRIA

Não... ainda...



HENRIQUE

Vou aguardar no escritório... (Entra)



SECRETÁRIA

Dr. Henrique?! Ah, esse Dr, Henrique me dá nos nervos.





7 – EXT./INT. PORTARIA/RECEPÇÃO E ESCRITÓRIO DE MIGUEL – DIA



Miguel chegando em seu escritório, sai do estacionamento, passa pela portaria, entra no elevador. Porta do elevador se abre ele sai e entra na recepção do escritório.



CÍNTIA

Bom dia Dr. Miguel?!



MIGUEL

Bom dia.



CÍNTIA

Dr. Henrique lhe aguarda em sua sala.



MIGUEL

Mas já?





CÍNTIA

O senhor me desculpe é que... (Miguel entra sem dar atenção) Mal educado... grosso!





Fechando as portas que ele deixou aberta.





8 – INT.ESCRITÓRIO DE MIGUEL – DIA





MIGUEL

Henrique?!



HENRIQUE

Bom dia Miguel...



MIGUEL

Assim espero... Afinal é pra isso que lhe pago.



HENRIQUE

Bem... (Abre a pasta)



MIGUEL

Quais as boas novas? Aceita um

drink?



HENRIQUE

Não, obrigado.



MIGUEL

Realmente não é bom beber em serviço. Que tem pra mim?



HENRIQUE

Encontrei seu irmão.



MIGUEL

Vivo, ou morto?



HENRIQUE

Vivo.



MIGUEL

Droga! Maldição!



HENRIQUE

E bem vivo por sinal.





MIGUEL

Parece urubu... só trás notícias ruins.



HENRIQUE

Calma Miguel.



MIGUEL

Como posso ter calma? Como pode

me pedir pra ter calma? Tem noção do que significa?



HENRIQUE

Claro...



MIGUEL

Olha para tudo isto em sua volta... Está vendo? Eu ajudei a construir, tudo isso... Agora me diga: é justo? É justo eu dividir todo meu patrimônio com alguém, que se quer eu conheço?



HENRIQUE

É seu irmão.



MIGUEL

Pro inferno! Irmão um cacete. Um estranho. Isso sim!



HENRIQUE

Um cópia perfeita sua.



MIGUEL

Bem pirata. Não tem nada a ver comigo.



HENRIQUE

Bom, vamos ao que interessa... segundo as orientações de sua falecida mãe, o testamento só poderá ser lido na presença de ambos os filhos.



MIGUEL

Não podia ter feito isso comigo...



HENRIQUE

Mas fez. E não podemos burlar as leis...



MIGUEL

Tem que haver um jeito... Tem que ter. Temos que tirar esse cara da jogada. Entende?



HENRIQUE

Miguel...



MIGUEL

Você é advogado, deve saber de alguma maneira de jogar esse estranho que se diz meu irmão, pra escanteio.



HENRIQUE

Isto só seria possível...



MIGUEL

Continue... diga.



HENRIQUE

Deixa pra lá.



MIGUEL

Não, agora fala.



HENRIQUE

Juridicamente você seria único herdeiro se seu irmão, estivesse morto.



MIGUEL

Ninguém sabe da existência desse filho da minha mãe...



HENRIQUE

Consta no testamento, e isto é, irrevogável.



MIGUEL

A menos que comprovada a morte dele. Não é isto?



HENRIQUE

Sim. Mas está vivo. E bem vivo!



MIGUEL

Maldição! (Anda de um lado para o outro)



HENRIQUE

Aqui está o endereço do seu irmão, Gabriel.



MIGUEL

Que falta de criatividade da minha amada mãe. Miguel e Gabriel!



HENRIQUE

Nomes de anjos.



MIGUEL

Lúcifer também foi um anjo.



HENRIQUE

Bom, preciso ir. (Se levanta) Miguel, não faça nenhuma bobagem.



MIGUEL

Está certo Dr. Henrique Cardoso de Moraes.



HENRIQUE

Quem está lhe aconselhando agora, é o amigo. Passar bem. (Sai)



MIGUEL

Meu bem, meu mau! Ah, irmãozinho... (Fixando no papel em sua mão) Um de nós tem que morrer, e não serei eu. Isso eu lhe garanto. (Pega o telefone) Cíntia?





SECRETÁRIA

Sim...



MIGUEL

Localize Dr. Henrique...



SECRETÁRIA

Sim senhor.



MIGUEL

É hora do jogo... (Toca o telefone)



SECRETÁRIA

Dr. Henrique.



MIGUEL

Obrigado.



SECRETÁRIA

Obrigado? Ele agradeceu? Ih... Dá até medo.



MIGUEL

Henrique? Estou te ligando pra te

pedir, pra marcar um encontro entre eu e meu irmão... Claro! Pensei no que conversamos, e passando o susto, estou disposto a: Dar a Cesar o que é de Cesar! (Rir) Se esse é o último desejo de minha falecida mãe? Fique tranquilo. Tudo bem, tudo, acredite. Vou seguir suas recomendações. Vou em missão de paz. Um abraço meu caro! (Desliga) Isso é o que veremos. (Pensativo, com olhar frio)





9 – INT. CASA DE GABRIEL – DIA







Henrique chega bate palmas.



TEKA

Deve ser o tal advogado...



GABRIEL

Então atende lá. (Ele toma cerveja)



HENRIQUE

Boa noite?



GABRIEL

Beleza, mano?!



TEKA

Vou pegá um tira gosto.



HENRIQUE

Não se incomodem...



TEKA

Que isso moço. A gente é pobre, mas recebe bem as visita.



GABRIEL

Toma uma breja, truta?



HENRIQUE

Não, obrigado.



GABRIEL

O doutor deve está acostumado com aquelas bebidas caras... Mas tranquilo, de boa . Mas diz ai,  que o moço quer tanto falá comigo, tá ligado?



HENRIQUE

É sobre sua mãe...



GABRIEL

Êh... Que fita é essa?



HENRIQUE

Sei que deve ser difícil pra

você falar sobre isso.



GABRIEL

Mãe?! E eu tenho lá mãe? Nunca tive; tá ligado?



HENRIQUE

Sinto muito.



GABRIEL

Que foi? A véia bateu as botas, é mano?



HENRIQUE

Faleceu.



TEKA

Aqui está o tira gosto, no capricho!



GABRIEL

Num precisa ficá sem jeito não, truta. Nem tinha nenhum contato com essa mulher; tá ligado?



TEKA

Mulherzinha intragável, abandonou o Biel moleque de tudo.



GABRIEL

Graças a ela, nesse vida, comi o pão que o diabo amassou, tá ligado?



HENRIQUE

Deixou para você uma herança...



TEKA

Grana?



GABRIEL

Nem todo dinheiro do mundo, pode pagá as porradas que tomei nesse vida...



TEKA

Ai gente! Calma Bie! Deixa o moço

falá. Quanto?



GABRIEL

Que isso Teka? Falano assim... Que o moço vai pensá da gente? O moço vai pensar que nós é cheio dos interesse...



HENRIQUE

Sua mãe acumulou durante toda vida muito dinheiro e bens...



TEKA

Enquanto o filho passava um perrengue danado!



HENRIQUE

E com sua morte, deixou tudo para seus dois únicos herdeiros... Você e seu irmão Miguel.



GABRIEL

Ai mano?... E se eu num quisé?



TEKA

Pirou? Num tá loko, num cherô pó... Claro que quer. Vamo mudá de vida, tirá o pé da lama. Isso é o mínimo que essazinha ai que te botô no mundo poderia fazê. Ah,

Moleque, é nois!



GABRIEL

Tá veno tu errada? Tenho saúde

mina e posso trabalhá.



TEKA

Essa é boa... A vida resovê te sorrir e tu vira as costa pra ela? Só seno Mané!



HENRIQUE

Vai renunciar sua parte na herança?



TEKA

Craro que não. Ele só precisa de um tempo... Sabe como é moço, tem essa história da rejeição da mãe... Mas da grana, a gente não abre mão, não. Isso Já Mé!



HENRIQUE

Bom, tenho que ir... Vocês estão com meu cartão. Depois faremos outro contato para marcar uma reunião entre você e seu irmão para acertar os detalhes da partilha de bens. Boa noite!

GABRIEL: - Boa... (Henrique sai)



TEKA

Tá loco, é?



GABRIEL

Não quero nada que venha dessa mulher.



TEKA

E vai vive assim? A vida inteirinha fugindo dos GCM, enfiado na lama, afundado na merda?



GABRIEL

Êh mano que fita errada agora é essa? Nunca recramou... Se liga!



TEKA

Antes cê num era rico.



GABRIEL

Rico? Isso tá me cheirando a treta... e das boas.



TEKA

Ih, homim... deixa de ser pé frio. A vida enfim tá sorrino pra nóis... Então vamo sorrir pra ela também. Agora bebe. Bebe pra esfriaá a cabeça. Mais tarde tem comemoração. Sabe que vou fazê?



GABRIEL

Que? (Fala no ouvido dele) Cachorrona!



TEKA

Adoro!



GABRIEL

Pra que esperar...



TEKA

Agora não... não...



GABRIEL

Agora sim. Acendeu, tem que apagar... (Saem)

(Cenas da periferia noite, em seguida entra a cena panorâmica dia)





10 – EXT. CASA DE GABRIEL – DIA





Miguel chega na comunidade, segue em direção da casa de Gabriel.



TEKA

Jesus!



MIGUEL

Oi? Posso fala com Gabriel?



TEKA

Você...



MIGUEL

Sim. Sou irmão do Gabriel.



TEKA

Caraca moleque!



GABRIEL

Quem é Teka?



MIGUEL

Gabriel...



GABRIEL

Miguel.



TEKA

Nossa! Tô até arrupiada, oh?



MIGUEL

Posso entrar?



TEKA

Craro! Num é educado deixa o moço prantado ai fora.



GABRIEL

Entra ai véio...



MIGUEL

Obrigado!





11 – EXT.CENTRO DA CIDADE – DIA





Gabriel vendendo seus produtos, um cliente aparece, compra um produto e sai.



FERNANDO

Gabriel?



GABRIEL

Eu.



FERNANDO

Sou Fernando.



GABRIEL

E como sabe meu nome, mano?



FERNANDO

Sou primo da Teka.



GABRIEL

O advogado?



FERNANDO

Isso...



GABRIEL

Teka fala demais...



FERNANDO

Me pediu pra lhe procurar...



GABRIEL

Só que agora tô enrolado. Num

posso parar o meu trabalho pra bater

papo...



FERNANDO

Pelo que Teka me disse, num se trata só de um papo, mas de um assunto muito importante. Se for verdade o que disse minha prima...



GABRIEL

Escuta mano, de boa, agora num dá... Num leva mal não brol, mais podemos conversar lá em casa, belê?



FERNANDO

Tudo bem. Então, posso passar em sua casa hoje à noite?



GABRIEL

Belê, pode sim. Passa lá.



FERNANDO

Então até a noite.



GABRIEL

Belê, tranquilo, de boa!





12 – EXT.CASA DE MADAME ZORA - DIA





QUIRINA

É aqui.



TEKA

Tem certeza?



QUIRINA

Claro!



TEKA

Num vai bater um fio errado, hein?



QUIRINA

É o que tá escrito aqui.



TEKA

E tu sabe lê?



QUIRINA

Fiz o colegial... Na cola, mas fiz!



TEKA

Deixa eu vê... (Pega o papel) Que com tu, tô esperta! Madame Zorra...



QUIRINA

Zora!



TEKA

Que disse?



QUIRINA

Deixa pra lá.



TEKA

É, é aqui mermo.



QUIRINA

Vamo bater palma, né?



TEKA

Bate você...



QUIRINA

Por que eu?



TEKA

Por que você quem me trouxe aqui neste fim de mundo... Só espero que essa mulher seja quente!



QUIRINA

Qué voltar? Ainda dá tempo!



TEKA

Depois dessa caminhada toda? É ruim... Tá na chuva é pra molhar! Oh, de casa?! De casa?!



PIOLHO

Oi?



QUIRINA

Madame Zora?



PIOLHO

Vai querer uma consulta com Madame?



TEKA

Vem cá moleque... Te conheço?



PIOLHO

Não senhora.



TEKA

Que senhora? Moleque desaforado...

Senhora aqui só se for tua mãe.



QUIRINA

Calma Teka! É só uma criança,



TEKA

Muito de um mal educado. (Ponha as mão na cintura e fala alto)



QUIRINA

Num grita...



TEKA

Tô gritanno? Tô? Tô gritano? Spu chique meu bem.



PIOLHO

Vocês querem ou não uma consulta com Madame Zora?



QUIRINA

Sim, nós quer.



PIOLHO

Por aqui por favor.

(TECA SE BENZE) (Entram)





13 – INT.CASA DE MADAME ZORA - DIA



PIOLHO

Esperem aqui. Vou avisar a Madame Zora.



QUIRINA

Tá sentino energia?



TEKA

Num começa não... Segura a onda.



QUIRINA

Aqui tem vibrações... (Se levanta) Eu sinto.



TEKA

Senta ai vai... Fica quetinha.





14 – INT. CASA DE MADAME ZORA - DIA



PIOLHO

Madame... Madame...



ZORA

Que é Piolho?



PIOLHO

Tem duas moças ai...



ZORA

E o que tá fazeno aqui? Vai moleque. Escuta um pouco da conversa. Faz tudo como já combinamos...



PIOLHO

E o que que eu digo pras elas?



ZORA

Que Madame esta sintonia com os espíritos, e assim que acabar a conexão com além... Atende as moças. Adora vai, vai que vou arrumar o ambiente. E num esquece dos efeitos!



PIOLHO

Deixa comigo! (Sai) (ZORA OLHA PELA CORTINA)



ZORA

Essa parece fácil de enganar. (Senta) Deixa me concentrar.





15 – INT. CASA DE MADAME ZORA – DIA





PIOLHO

Madame Zora já vai atender...



TEKA

Vai demorá muito?



PIOLHO

Madame esta sintonia com os espíritos, e assim que acabar a conexão com além... Atende as moças.



TEKA

Ai moleque! Aprendeu.



PIOLHO

Assim que Madame estive pronta, eu aviso. (Sai)



TEKA

Que acha? (Liga o celular)



QUIRINA

É assim mesmo. Essa deve ser das boas...



TEKA

Pelo menos a conexão dela tá melhor que o meu raifaz!



QUIRINA

Eu até já desisti. Aqui muito mal tem sinal. O que você quer que as cartas te diga?



TEKA

Sobre a herança. Quero sabe se essa grana vem logo ou não pra minha mão. 



(PIOLHO ESTÁ ESCONDIDO COM UM COPO NO OUVIDO E OUVI A CONVERSA)



QUIRINA

E amor?



TEKA

Ih! Isso eu já tenho... Biel é louco por mim. É só estralar os dedos! Esse home tá aqui, ó! Faço direitinho, querida! (Riem)



QUIRINA

Você tirou a sorte grande!



TEKA

E eu que num abra o olho não... Aquele periguete, tá doida pra colocá as patinha dela no meu homi. Mulé que casa num dorme, se não outra leva.



QUIRINA

Isso é insegurança! Gabriel é louco por tu.



TEKA

Sei segurá meu homi.



QUIRINA

E tu volta a trabalhar quando?



TEKA

Antes dessa história de herança, eu tava pensano em ir buscar roupa lá na Bolívia, mas agora meu bem, sou chique! Sou Rica!



QUIRINA

Tem sorte mulhê. Aproveita!





16 – INT. CASA DE MADAME ZORA - DIA



PIOLHO

Esperem aqui. Vou avisar a Madame Zora.



QUIRINA

Tá sentino energia?



TEKA

Num começa não... Segura a onda.



QUIRINA

Aqui tem vibrações... (Se levanta) Eu sinto.



TEKA

Senta ai vai... Fica quetinha.





17 – INT. CASA DE MADAME ZORA – DIA



PIOLHO

Madame... Madame...



ZORA

Que é Piolho?



PIOLHO

Tem duas moças ai...



ZORA

E o que tá fazeno aqui? Vai moleque. Escuta um pouco da conversa. Faz tudo como já combinamos...



PIOLHO

E o que que eu digo pras elas?



ZORA

Que Madame esta sintonia com os espíritos, e assim que acabar a conexão com além... Atende as moças. Adora vai, vai que vou arrumar o ambiente. E num esquece dos efeitos!



PIOLHO

Deixa comigo! (Sai) (ZORA OLHA PELA CORTINA)



ZORA

Essa parece fácil de enganar. (Senta) Deixa me concentrar.



18 – INT. CASA DE MADAME ZORA – DIA



PIOLHO

Madame Zora já vai atender...



TEKA

Vai demorá muito?



PIOLHO

Madame esta sintonia com os espíritos, e assim que acabar a conexão com além... Atende as moças.



TEKA

Ai moleque! Aprendeu.



PIOLHO

Assim que Madame estive pronta, eu aviso. (Sai)



TEKA

Que acha? (Liga o celular)



QUIRINA

É assim mesmo. Essa deve ser das boas...



TEKA

Pelo menos a conexão dela tá melhor que o meu raifaz!



QUIRINA

Eu até já desisti. Aqui muito mal tem sinal. O que você quer que as cartas te diga?



TEKA

Sobre a herança. Quero sabe se essa grana vem logo ou não pra minha mão.  (PIOLHO ESTÁ ESCONDIDO COM UM COPO NO OUVIDO E OUVI A CONVERSA)



QUIRINA

E amor?



TEKA

Ih! Isso eu já tenho... Biel é louco por mim. É só estralar os dedos! Esse home tá aqui, ó! Faço direitinho, querida! (Riem)



QUIRINA

Você tirou a sorte grande!



TEKA

E eu que num abra o olho não... Aquele periguete, tá doida pra colocá as patinha dela no meu homi. Mulé que casa num dorme, se não outra leva.



QUIRINA

Isso é insegurança! Gabriel é louco por tu.



TEKA

Sei segurá meu homi.



QUIRINA

E tu volta a trabalhar quando?



TEKA

Antes dessa história de herança, eu tava pensano em ir buscar roupa lá na Bolívia, mas agora meu bem, sou chique! Sou Rica!



QUIRINA

Tem sorte mulhê. Aproveita!





19 – INT. CASA DE MADAME ZORA - DIA





PIOLHO

Madame Zora já vai atender.



TEKA

Até que fim! Pensei que ia passá o dia todo aqui, sentada!



QUIRINA

Calma Teka.



TEKA

Fale isso pra minha bunda... Tá quadrada!



QUIRINA

Deixa de exagero!



PIOLHO

Por aqui. (ENTRAM)





20 – INT. CASA DE MADAME ZORA – DIA





ZORA

Sejam bem vindas! Entrem, fiquem a vontade! Piolho... Vá... Feche a cortina.



PIOLHO

Sim senhora. Sua benção mãe Zora.



ZORA

Deus o abençoe, meu filho! (Beija a mão e sai) Um anjo esse menino!



QUIRINA

Seu filho?



ZORA

Pobrezinho, abandonado pela mãe, chegou aqui, e ficou. E como posso ajudar vocês?



QUIRINA

É que minha amiga aqui...



TEKA

Vem cá?! Pedi porta vóz?



QUIRINA

Ai credo!



TEKA

Sabe o que é Madame Zóia...



ZORA

Zora!



TEKA

Zorá. Tô cum probreminha ai e queria sabê, como é que as coisas tá, né?!



ZORA

Madame entende! Prefere búzios ou tarô?



TEKA

Que acha Quirina?



QUIRINA

Ué?! Num disse que não precisa de porta foz...



TEKA

Deixa de ser chata!



ZORA

Então vamos de tarô. A moça tá meio carregada! Precisa relaxar. Abrir a áurea... Abrir caminhos para que as cartas se abram, (acende uma vela) e que meus conselheiros espirituais me ajudem a prever o seu futuro... (Corta a carta) Hum! O jogo abriu.



TEKA

E o que a senhora viu Madame?



ZORA

Essa carta...



TEKA

Que tem essa carta?



ZORA

É um alerta...



TEKA

Alerta?



ZORA

Você é muito amada... 



TEKA

Disso eu já seio... Novidade nenhuma.



QUIRINA

Deixa a Madame falá. Continue Madame...



ZORA

Tem uma mulher entre vocês...



TEKA

Deixa ela... Minhas unhas está afiada pra marcar a cara dessa cadela toda.



ZORA

Mas esse homem te ama muito. E essa outra carta aqui, revela que você não correr perigo não.



TEKA

Num é pra se gabá, não... Cuido bem do meu homi!



ZORA

Emocionalmente, você está bem. Mas tem algo relacionado a dinheiro... (SEGURA

FORTE NA MÃO DE QUIRINA)



TEKA

E o que diz Madame?



ZORA

Olha essa carta... (Mostra a carta) Que você tem uma boa quantidade de dinheiro pra receber.



TEKA

E assim... Isso vai demorar muito?



ZORA

Não... Creio que não. Pois tudo pode acontecer em dias, semanas ou meses.



TEKA

Que diz mais? Agora me interessei.



ZORA

Hum!



TEKA

Putz! Viu a cara que ela fez?



QUIRINA

Deixa ela falá.



ZORA

Essa carta não é boa... Não é mesmo não...



TEKA

Tenho até medo de sabe.



QUIRINA

Num veio até aqui pra dá pra trás.



ZORA

Essa carta... A morte.



QUIRINA

Alguém vai morrer?



ZORA

Não necessariamente. Significa renascimento, mas aliada a esta, o louco, apresenta obstáculos, e também saiu o enforcado, em resumo, minha querida, vem tempestade por ai...



TEKA

Por que desgraça sempre vem acompanhada?



ZORA

Pelo que vejo aqui... Não é nada com você. Mas com alguém próximo.



TEKA

Desenrola essa fita, que tô confusa.



ZORA

Infelizmente, alguém próximo poderá ficar doente, ou até morrer. (Zora finge sentir uma dor na cabeça e se desconecta)



QUIRINA

A senhora está bem?



ZORA

Vocês precisam ir...



TEKA

Gente!? Que babado! Que isso?



ZORA

Acabou a consulta. Minha filha, você está bem carregada. Olha aqui está o que precisa fazer, pra tirar essa urubucubaca de cima  de você. Basta seguir as intruções. (TECA PEGA O PAPEL. LÊ)



TEKA

Um despacho?



ZORA

Isso mesmo meu bem.



QUIRINA

Pode deixar Madame, faremos tudo que está escrito.



ZORA

Espero que sim.



TEKA

Bom, num entendi nada! Tô até zonza...



QUIRINA

Paga a madame e vão bora, que temos um longo caminho.



TEKA

Aqui madame... Salgado, né?



ZORA

Todo dinheiro arrecadado por minhas consultas vão para obras sociais.



QUIRINA

Obras sociais?



ZORA

Sim. Ajudo muitas.



TEKA

Aqui está...



ZORA

Não, não pego em dinheiro... Piolho?! (O MENINO ENTRA) Pode entregar a esse anjo, que das mãos dele, vai direto para os mais necessitados. E que Deus o abençoem.



PIOLHO

Por aqui, por favor... (Elas passam por ele)



ZORA

Dá isso aqui pestinha. (Toma o dinheiro e guarda no sutiã) Mas fácil que imaginava. (Puxa um cigarro, ascende e fuma)





21 – INT. CASA DE MADAME ZORA – DIA





QUIRINA

Que achou?



TEKA

Sei não... Sinistro! Sinistro.





22 – INT.CASA DE GABRIEL – DIA



TEKA

Repara não moço, essa casa num é tão luxuosa quanto as casa que o sinhô deve tá acostumado...



GABRIEL

Toma uma breja?



MIGUEL

Não, obrigado.



TEKA

Tu quer? Eu pego...



GABRIEL

Quero uma geladinha.



TEKA

E você?



MIGUEL

Não se preocupe. Nada.



GABRIEL

Então tá...



MIGUEL

Olhando assim... Até que não

somos tão parecidos...



GABRIEL

Ai véio, o dinheiro faz de nós diferente.



MIGUEL

Dinheiro! Sempre ele. Que une, que separa...



TEKA

Uma lourinha bem gelada! Tem certeza que não quer?



MIGUEL

Tenho. Será que poderia nos deixar a sós?



GABRIEL

Não tenho segredos com minha mulhé.



TEKA

Que isso mozão! Conversa com teu irmão... Vai ser bom, afinal, são tanto tempo, né? Vou lá na casa da Rita, é que ela queria fala comigo... Bom, vou lá... (Sai)



GABRIEL

Tamo só... Que manda?



MIGUEL

Só eu e você. Imagino que você não vê a hora de colocar a mão na tua parte da herança.



GABRIEL

Por que, cara?



MIGUEL

Por que? O que?



GABRIEL

Por que ela me abandonou?



MIGUEL

Não pense que foi fácil pra nossa mãe... Tinha que deixar um de nós dois pra trás... E infelizmente foi você.



GABRIEL

Nunca se quer, quis saber como estava o filho que abandonou...



MIGUEL

Nossa mãe sofreu muito pra chegar onde chegou...



GABRIEL

Mudou de vida, ficou rica... E nem assim, veio a minha procura. Sabe o que é passar de reformatória a reformatório? Não. Tu num sabe. Num faz ideia, tá ligado? Por que nunca passou por isso. Sempre viveu lá, no bem bom.



MIGUEL

Ela lhe procurou. Mas nunca lhe encontrou. Isso, a matava a cada dia.



GABRIEL

Culpa! Apenas culpa. Tá ligado? E culpa não é amor. Você teve amor, eu não. Muita outras mulher é, com muito menas condição, não abre mão de seus filhos e, enfrenta as maior dificuldade, mais tá junto. Tá ligado?



MIGUEL

Você nunca vai lhe perdoar... Não é mesmo?



GABRIEL

Sei lá... Há muita mágoa revolta.



MIGUEL

Então por que vai ficar com algo que venha dela?



GABRIEL

É por isso que veio, né truta? Por isso... Pela grana?



MIGUEL

Não faz sentido ficar com algo que pertenceu a quem tanto odeia.



GABRIEL

Ai meu irmão... É meu de direito. Vai repará em morte, tudo que deixou de fazê por mim nessa porra de vida,



MIGUEL

Eu sabia! Odeia a mãe, mais não abre mão do dinheiro!



GABRIEL

Que veio fazer aqui Miguel? Desenrola logo vai...



MIGUEL

Quer saber? Nunca, se quer um dia, nossa mãe se lembrou que tinha um outro filho, que não fosse eu. Pra ela, você nunca existiu, morreu naquele dia em que foi abandonado. Mas como sou generoso, vim lhe fazer uma proposta.



GABRIEL

Pro inferno com sua proposta. Tá me tirano, mano? Num tô a venda.



MIGUEL

Apenas ouça... Depois decida. Te ofereço essa quantia (Dar um cheque) que mudará toda sua vida, em troca você abre mão de sua parte na herança. Mesmo por que não sabemos o que diz o testamento... Pode não ter mais que isso.



GABRIEL

Se não fosse uma boa bolada... você num se daria o trabalho de saí do seu bem bom, pra vim aqui no meu cafofo. E tu tá é com cuzinho na mão... Tá preocupado grafinão?



MIGUEL

Não estou.



GABRIEL

Abrir mão! E deixar tudo pra tu

veio? É brincadeira! Fala sério!? Isso nunca. Sabe que faço com essa merda de cheque? (Rasga) Isso.



MIGUEL

Tudo bem! Não se preocupe meu irmão... Terá tudo que lhe é direito. Meu advogado irá cuidar de tudo. Não precisa se preocupar.



GABRIEL

Deve tá me achano, muito trouxa... Seu advogado?



MIGUEL

Sim, claro... Você não precisará gastar nenhum centavo.



GABRIEL

Ai veio... Vou bater uma real. Na humildade, agradeço sua falsa bondade, mas já tenho um advogado que vai cuidá de tudo pra mim, tenho certeza que essa divisão será feita de forma correta, véio.



MIGUEL

Claro. Bom, foi um prazer lhe conhecer. (Tenta apertam mas sem êxodo)



GABRIEL

Bum digo o mesmo.



MIGUEL

Quem sabe que com o tempo, podemos nos conhecer melhor, e deste modo, encontrar algumas afinidades.



GABRIEL

Cai fora...



MIGUEL

(Sai sem jeito, receioso)



GABRIEL

Miguel...



MIGUEL

Sim...



GABRIEL

E nunca mais apareça.

(Miguel sai, Gabriel pega uma cerveja e senta-se pensativo)



TEKA

Caraca! Que carrão. E ai? Como foi?



GABRIEL

Um tremendo de um cuzão!



TEKA

Num tô entendeno...



GABRIEL

Vamo pegá outra breja que te conto tudo.



TEKA

Quero sabê, tudo nos mínimos detalhes. (Saem)





23 – EXT. CENTRO DA CIDADE – DIA





Gabriel vendendo seus produtos.



FERNANDO

Gabriel?



GABRIEL

Eu.



FERNANDO

Sou Fernando.



GABRIEL

E como sabe meu nome, mano?



FERNANDO

Sou primo da Teka.



GABRIEL

O advogado?



FERNANDO

Isso...



GABRIEL

Teka fala demais... Fala até pelos cotovelos veio...



FERNANDO

Me pediu pra lhe procurar...



GABRIEL

Só que agora tô todo enrolado. Num posso parar o meu trampo pra bater um papo contigo...



FERNANDO

Pelo que Teka me disse, não se trata só de um papo, mas de um assunto muito importante. Se for verdade o que disse minha prima...



GABRIEL

Escuta mano, de boa, agora num dá... Num leva mal não véio, mais podemos conversar lá em casa, passa lá em casa mais tarde véio, belê?



FERNANDO

Tudo bem. Então, posso passar em sua casa hoje à noite?



GABRIEL

Belê, pode sim. Passa lá.



FERNANDO

Então até mais tarde.



GABRIEL

Belê, tranquilo, de boa!



FERNANDO SAI E GABRIEL OBSERVA.



GABRIEL

Vai, vai nessa... Vai... Advogado!



GABRIEL VOLTA A VENDER SEDU DVDs.





24 – INT. SALÃO DE BELEZA - DIA



Teka chega ao salão de beleza.



CHERRY

Olha!... Quem é viva sempre aparece!



TEKA

E quero viver por muito tempo, Bi! Ainda mais agora...



CHERRY

Tô sabeno...



TEKA

Tem horário livre?



CHERRY

Tenho. Senta ai...



TEKA

Quero tratamento de rainha...



CHERRY

Já tá exercitando é?



TEKA

Ih... Que foi, Bi? Num tô entendeno.



CHERRY

Que isso amiga? Pra cima de moá. Todo mundo já sabe.



TEKA

Sabe o que?



CHERRY

Tá na boca do povo meu bem.



TEKA

Como é que é?... (Se levanta nervosa e vai para fora do salão)





25 – INT.SALÃO DE BELEZA - DIA



TEKA

Olha aqui povinho... Meu nome não é bafômetro não... pra andar na boca dessa gentinha? (Vai a porta e grita) Escuta aqui gentinha... meu nome num é bafômetro não, pra andar de boca em boca... (Voltando) Antes de falar de mim deita na BR. Beijinho no ombro meu bem...



CHERRY

Que isso mona?! E precisa desse escândalo todo?



TEKA

Gentinha que num tem o que fazer! Isso é falta... Muita falta, oh...



CHERRY

Calma Mona... (Puxando Teka pra dentro)



TEKA

Vou até pedir pra pai de Ogum tirar um êbô. Olho gordo é fogo!



CHERRY

Entra vai... Vomos cuidar desse visu...





26 – EXT. CASA DE GABRIEL/COMUNIDADE – DIA



Fernando passa pela viela, Gaby está sentada na janela com fone de ouvido, ouvi um batidão, ao perceber Fernando se interessa e vai atrás dele.



FERNANDO

(Bate palmas)

Gabriel... Gabriel?! Teka?



GABY

Oi?



FERNANDO

Oi.



GABY

Tá procurano o Gabriel?



FERNANDO

Sim, estou.



GABY

Tá não.



FERNANDO

Deve ainda está no trampo.



GABY

Ih, moço. Já deve ter voltado. É que na maioria das vezes ele dá uma passada lá do bar do bigode.



FERNANDO

Você sabe onde fica esse bar?



GABY

Sei sim...



FERNANDO

Pode me dizer como chego lá?



GABY

E o moço, que quer com Gabriel?



FERNANDO

Sou primo da Teka.



GABY

Ish, tinha que ser logo primo da múmia!



FERNANDO

Oi?



GABY

Nada... Mesmo por que uma coisa, nada tem a ver com a outro.



FERNANDO

Não entendi.

GABY

Você num prefere espera... Eu tô sozinha, e você pode esperar na minha casa. Moro aqui...



FERNANDO

Melhor não.



GABY

Que foi? Você é gay?



FERNANDO

Não. Mas não quero encrenca. Onde fica o bar?



GABY

Passando a viela, primeira a

esquerda.



FERNANDO

Obrigado. (Sai)



GABY

É gay! Ai papai... Se te pego! (Coloca o fone no ouvido e volta a ouvir à música)





27 – INT.SALÃO DE BELEZA - DIA



CHERRY

Calma mona!



TEKA

Oh, gentinha viu...



CHERRY

Mas me diz uma coisa... Essa tal herança, é mesmo verdade, ou conversa do povo?



CHERRY

Pra você posso falá. E escuta aqui bocha... se espalhá, te corto a língua.



BIA

Ai credo! Minha boca é um túmulo. Sou mais confiável que padre em confessionário. Se eu fosse contar tudo que ouço aqui, minha querida, daria um livro. E que livro meu bem.



CHERRY

Ai Cherry, que língua felina! Quero morrer sua amiga. Mas é verdade. Meu marido vai recebe ai uma grana boa sim, e hoje, eu quero, fazer tudo... Quero uma transformação geral! Por que minha linda, eu num ando, desfilo! (Risos)



CHERRY

Adoro! Quer fica bonita, né?



TEKA

Bonita eu já sou. Quero fica chique! Igualzinha aquelas moça da revistas.



CHERRY

Deixa comigo! Vou te dar um tratamento de estrela. E vamos começar por esses cabelos... Tá pesado, sem vida, precisando de um brilho...



TEKA

Quê que é? Vai destruir agora? Bi, tô aqui pensano em ir sábado fazê umas comprinhas...



CHERRY

É bom. Que mulher num gosta de fazer umas comprinhas. Ainda mais agora que você tá chique!



TEKA

Renovar meu guarda-roupa... Chega aqui (Encosta o ouvido) Só tem trapo.



CHERRY

Conheço uma lojinha de acessórios... maravilhosa.



TEKA

Onde?



CHERRY

Lá na vinte e cinco...



TEKA

Me leva lá.



CHERRY

Só se for na segunda. Não posso fechar o salão. Perco dinheiro.



TEKA

Então tá bom. Segunda.



CHERRY

Agora deixa comigo. Vai sair daqui outra mulher.



TEKA

Hum! Capricha amiga.





28 – INT. RUA/ENCRUZILHADA - NOITE



QUIRINA

Ai... Vão acabar vendo a gente aqui...



TEKA

Qual o probrema?



QUIRINA

Vão saí por ai dizeno que a gente tá fazeno macumba. Que a gente é macumbeira.



TEKA

Cagano pra essa gentinha... E peraí... Macumbeira não. Espírita! Macumbeira é coisa de pobre. Espírita é mais chique! Já viu algum rico dizer que é macumbeiro? Não. Em tudo que revista as celebridade, dizem que são espírita. Por que? Por que é bem mais chique, meu bem.



QUIRINA

E o que trouxe ai?



TEKA

Farinha, ovo e pinga.



QUIRINA

Só isso?



TEKA

É o que tem pra hoje.



QUIRINA

Vai oferecer a que santo?



TEKA

Tranca rua, dizem que assim como fecha, abre os caminho...



QUIRINA

Por que tá fazeno isso?



TEKA

Deixa de ser curiosa... E me ajuda.



QUIRINA

Tô sentino uns arrepio...



TEKA

Coloca ai vai...



QUIRINA

Tó achando essa oferenda muito pobrezinha...



TEKA

Tó trazeno o que tenho de melhó em casa; tá?



QUIRINA

E o frango?



TEKA

Não me faz pergunta difícil... Não tenho um puto hoje. Se tivesse um frango, acha que ia desperdiçar? Ia devorar!



QUIRINA

Com essa miséria, sei não... Capaz do santo se revoltar.



TEKA

Santo num é como certas gente. Ingrata! E no mais, hoje ele abre meus caminho e amanhã eu pago. Esse é o combinado. Isso aqui é só um agradinho.



QUIRINA

E essa vela? Tá usada.



TEKA

Faltou luz, e precisei usar. Era a única que tinha em casa. Queria o que? Que eu ficasse no escuro? O santo entende...



QUIRINA

Sei não... Essa oferenda...



TEKA

Isso não é oferenda é despacho, meu bem.



QUIRINA

Então faz logo isso e vambora...



TEKA

Acende a vela.



QUIRINA

Já tô ficano com medo...



TEKA

Num sei de que?



QUIRINA

De ser vista. Tô sentino uma coisa...



TEKA

Frescura. Agora fica quetinha que vou fazer a reza. Me dá o cigarro...



QUIRINA

Reza? Que reza?



TEKA

Pega o papel ai... O cigarro?



QUIRINA

Num era pra ser charuto?



TEKA

Fica quetinha, fica.

(Começa a rezar e Quitéria recebe um entidade, Teka com medo)



TEKA

Meu Deus do céu, virgi Maria Santíssima que diabo é isso? Oh, meu pai... Tá virano os zoios... Num é que a diaba tá manifestada! Oh, meu pai! Tá manifestada.  (sai correndo)





29 – INT. BOTECO – NOITE





GABRIEL

Ah! É você truta?!



FERNANDO

Fui lá na tua casa e não tinha ninguém...



GABRIEL

Senta ai mano... Uma breja?



FERNANDO

Aceito. Sobre essa grana, é verdade?



GABRIEL

Parece que é. (Acende um cigarro) Nunca que esperava por isso... Só na morte que ela lembrou de mim...

FERNANDO: - Dureza cara! Mas vai superar essa.



GABRIEL

Claro! Sempre me virei sozinho, mermo... Num preciso dela pra nada. Tá ligado?



FERNANDO

Mas é verdade que a tua mãe era montada na grana?



GABRIEL

É. A veia era montada no dinheiro.



FERNANDO

Então você é herdeiro...



GABRIEL

Junto com meu irmão, tá ligado...?



FERNANDO

E teu irmão?



GABRIEL

Um merdinha de bosta! Um convencido. Nariz empinado, almofadinha, todo metido, cheio de ser o dono do mundo.



FERNANDO

O que importa, é o que você tem direito. Cara se isso for verdade, você é um cara rico, montado na grana.



GABRIEL

Pó mano, ele veio me oferece dinheiro pra abrir mão da herança, tá

ligado?



FERNANDO

Então escuta aqui... Vou verificar tudo isso pra você. Por enquanto, não aceita nenhuma proposta, nem assine qualquer papel sem antes me consultar; ok?



GABRIEL

Tá certo. Olha... (Retira um cartão do bolso) Esse é o cartão do advogado do Miguel, meu irmão. Se é que posso chamá de irmão, tá ligado?



FERNANDO

Vou fazer um levantamento sobre todos os bens em nome de sua mãe, e assim saberei de quanto estamos falando.



GABRIEL

Só aceito essa merda de herança por causa da Teka e pra baixar o topete daquele filho de uma...



FERNANDO

Hei, calma! É bom ir pra casa descansar um pouco.



GABRIEL

Tá certo. Tá certo! Hei quanto é aqui? (Paga e sai)





30 – EXT. RUA – NOITE





QUIRINA

Bela amiga você.



TEKA

Queria que eu fizesse o que?



QUIRINA

Me abandonou lá, sozinha...



TEKA

Claro! Tava manifestada. Tive medo. Mas já passou.

QUIRINA

E agora?



TEKA

É só esperar... Quando eu tiver montada na grana, a primeira coisa que vou fazê é virar rainha da bateria, depois, poso nua numa dessas revistas, fico famosa, gravo um cd...



QUIRINA

E tu canta?



TEKA

E precisa cantá pra ser cantora de funk?



QUIRINA

Ah, tá!



TEKA

Depois arranjo um amante, me deixo fotografá saindo de um flat... Pra saí nessas revistas de fofocas. Ah, meu bem! O caminho para se torna uma celebridade é áduo.



QUIRINA

Teria a coragem de fazer isso com teu marido?



TEKA

Depois eu nego, assim que todas fazem... Publicidade é tudo!



QUIRINA

Na minha opinião, cê perdeu o juízo.



TEKA

Ôh, você hoje tá do contra.





31 – EXT. RUA/COMUNIDADE - DIA



MANU

E ai cara? Tó sabeno, se deu bem na fita. Vai dá um de magnata!



GABRIEL

Que nada! Papo desse zé povinho, gente que não tem nada pra fazé, fica inventano. Tá ligado, gata?

MANU

E eu num tô sabeno que tu vai enchê a água...



GABRIEL

Larga disso! É só boato, gata.



MANU

Ih, vai ficá de caô? Logo comigo Biel? Eu? Que fui tua mina por tanto tempo.



GABRIEL

Num tô dizeno...



MANU

E por falá nisso, gato... Vai dizê que tu não sente falta? Das nossas loucuras... Das nossas noites calientes.



GABRIEL

Hê tempinho bom! Num provoca não...



MANU

Pode ter replay!



GABRIEL

Botava pra arregaçá.



MANU

Verdade. E eu adorava. Vamo dá uma entrada?



GABRIEL

Num quero probrema pra minha cabeça não...



MANU

Que probrema que nada... Vem, entra vai... só um bucadinho. Uma rapidinha.



GABRIEL

Te liga gata... E sou home lá homem pra rapidinha. Tu é cachorra mermo, hein?!



MANU

Sou... Sou mermo. (O encosta na parede) Agora vem... Prova da tua nega...

TEKA: - Larga meu homi sua vagabunda.



GABRIEL

Calma ai... Num é que tu tápensano.



TEKA

Num tô pensano. Tô veno com meus próprios olho, essa cachorrada. Essazinha ai, toda oferecida, se esfregando em você.



MANU

Ôh, dona Maria, volta pro tanque, vai...



TEKA

Como é que é? Sua pirainha de quinta. Que foi que disse?



MANU

Quem não dá assistência, abre concorrência, minha querida!



TEKA

Querida é o diabo que o carregue.



MANU

Não vou ficar aqui batendo boca contigo sabe por que? Tenho mais que fazer.



TEKA

Vai... correr... vai mermo... Sua cachorra sarnenta. Sei que vai fazê... Vai fazê ponto na Indianópolis...



MANU

Vou fazer engolí essa ofença.



GABRIEL

Para com isso. Entra Manu, e você vamo.



TEKA

Me solta. Me solta... que vou furar os olhos dessa vadia com minhas unhas.



MANU

Então vem pra cima! Tô moreno de medo... Tô até temeno!

(SAEM AOS TAPAS)



GABRIEL

Parem com isso... Solta...



MANU

Se tu não sabe segurá teu homem, probrema teu.



TEKA

Invejosa, recalcada... Num se conforma de ter perdido Biel pra mim.



MANU

Macumba! Só assim pra segurá um home. Sua velha!



GABRIEL

Entra. Por favor, entra.



MANU

Só por que você ta mim pedino. Se não ia deixa minha marquinha na cara dessa múmia.



TEKA

Escuta aqui sua vaca... Passa bem longe de mim... Se cruzar o meu caminho vai se arrepender...



MANU

Tô moreno de medo! Nem vou dormi essa noite. Biel... foi bom pra você? Pra mim foi ótimo! (Entra)



GABRIEL

Vamos pra casa.



TEKA

E você me solta! Safado... Tira as mão de mim... (Sai batendo nele) Cachorro, sem vergonha... merece um par de chifre! Merece ser corno. Solta!



GABRIEL

Para com isso!



TEKA

Você me paga! Vai ter troco... (Sai na frente)



GABRIEL

Caraca!





32 – EXT. CENTRO DA CIDADE – DIA





HENRIQUE

Gabriel



GABRIEL

Que é mano? Que quer? Tá me seguino?



HENRIQUE

Teu irmão...



GABRIEL

Pera ai... Não tenho irmão, tá ligado mano? Aquele truta num é meu irmão.



HENRIQUE

Tudo bem... Henrique quer falar contigo.



GABRIEL

Meu truta que é advogado vai fala com ele.



HENRIQUE

Mas é com você que ele quer falar, antes... É um assunto pessoal.



GABRIEL

Tenho nada pra fala com ele... Nada!



HENRIQUE

Sua mãe deixou uma carta...



GABRIEL

Carta?



HENRIQUE

Sim. E quer te entregar. Acho importante... Cara, é tua vida. Nesta carta pode haver respostas para suas perguntas, suas inquietações.



GABRIEL

Tá certo, tá certo. Eu vou...



HENRIQUE

Vai?



GABRIEL

Vou. Num tô falano que vou.



HENRIQUE

Te pego aqui...



GABRIEL

Fechô!



HENRIQUE

Sabe Gabriel... Acho que não devia contar a sua mulher, sobre o encontro com teu irmão...



GABRIEL

E por que não?



HENRIQUE

Ela não se simpatiza muito com ele.



GABRIEL

E com razão. Mas não digo nada. Pelo menos, por enquanto.



HENRIQUE

Então, até amanhã.



GABRIEL

Belê, fechô. (Henrique observa Gabriel caminha)





33 – EXT. LADO DE FORA DA MANSÃO DE MIGUEL – DIA





Teka chega a mansão de Miguel.



TEKA

Andei feito uma desgraçada... As casa é chiquetosa, mas pra chegá até aqui... Deus me livre! Bom, pelo endereço, é essa aqui. (Assovia)

Mora bem, hein?!

(Aperta o interfone)



EMPREGADA

Pois não?



TEKA

Quero falá com Miguel.



EMPREGADA

Quem gostaria?



TEKA

Quem gostaria é uma ova! Quero. Que parte não entendeu queridinha?



EMPREGADA

Preciso saber quem devo anunciar.



TEKA

Olha aqui baixa renda... Num sou alto falante de pamonha pra ser anuciada... Diz pro almofadinha do teu patrão, que quem deseja falá cum ele é Dilma.



EMPREGADA

Dilma de onde?



TEKA

Ainda é burra! A presidenta.



EMPREGADA

Se não parar com a brincadeira vou acionar a segurança.



TEKA

Escuta aqui meu bem... Diz pro teu patrão que quem deseja falá com ele é a Teka.



EMPREGADA

Teka de onde?



TEKA

Meu saco! A cunhada dele.



EMPREGADA

Só um momento.



TEKA

Saco! Agora vai me deixa cozinhando nesse sol. Depois pobre que num tem educação.





34 – EXT. RUA – DIA





Cíntia está ansiosa, e demonstra todo nervosismo em suas pernas e mãos, em movimentos repetitivos. Parece articular planos diabólicos em sua mente)



FERNANDO

Cintia?...



CINTIA

Sim?



FERNANDO

Sou Fernando...



CINTIA

Você?



FERNANDO

Sim, eu.



CINTIA

Perdão! É que imaginava alguém mais experiente.



FERNANDO

Sinto muito decepcioná-la.



CINTIA

Que isso!... (Retira os óculos escuros)



FERNANDO

Pode se impressionar.



CINTIA

Mesmo?



FERNANDO

Que deseja de tão importante para falar comigo? Disse ao telefone que era de meu interesse.



CINTIA

E, é. (Tira da bolsa uma carteira de cigarro) Tem fogo? (Insinuante)



FERNANDO

Desse fogo, não...



CINTIA

Faz bem. Sabe Fernando, aqui é meio arriscado...



FERNANDO

Se veio em busca de um acordo...



CINTIA

Não seja tolo; o único acordo que irei lhe propor, irá beneficiar, ambas as partes, neste caso, eu e você.



FERNANDO

Não entendi.



CINTIA

Sou secretária de Miguel...



FERNANDO

E?



CINTIA

Sei muito mais que imagina.



FERNANDO

Estou tranquilo. Vou pedir na justiça a quebra de sigilo bancário e levantamento de bens...



CINTIA

Ai que eu entro.



FERNANDO

Como assim?



CINTIA

Ah, tolinho... Henrique é raposa velha e Miguel um crápula... Acha mesmo que não trataram de ocultar o máximo de informações sobre toda fortuna?



FERNANDO

E como pode me ajudar?



CINTIA

Sou uma secretária de confiança, cuido inclusive de documentações importantes e sigilosas.



FERNANDO

E que quer em troca?



CINTIA

Uma porcentagem sobre o valor bruto...



FERNANDO

Que?



CINTIA

Nada mais justo! Você ganha, eu ganho, e ficamos quites. No fim, todos saem satisfeitos dessa história.



FERNANDO

E qual seu plano?



CINTIA

Olhando assim... Você não é de se jogar fora. Vamos pra um lugar mais tranquilo, relaxamos um pouco, e acertamos os detalhes desse nosso acordo, por que tenho certeza que vamos chegar a um... Conheço um lugar maravilhoso. Eu pago. Que me diz?



FERNANDO

Putz, demoro!



CINTIA

Meu carro está estacionado na rua de trás... Vamos?



FERNANDO

Bora! (Saem)





35 – EXT. CASA DE MIGUEL – DIA





Miguel está sentado à beira da piscina, lendo jornal.



EMPREGADA

Dr. Miguel? Com licença... Está ai fora uma moça querendo falar com o senhor.



MIGUEL

Uma moça, aqui em casa?



EMPREGADA

Sim senhor... Diz que se chama Teka.



MIGUEL

Teka?



EMPREGADA

Sim senhor.



MIGUEL

Isso é lá nome de gente? Não conheço ninguém com esse nome.



EMPREGADA

Diz ser sua cunhada.



MIGUEL

Teka. Com esse nome só podia ser.



EMPREGADA

Que faço?



MIGUEL

Deixa-a entrar.



EMPREGADA

Sim senhor. (Sai)



MIGUEL

Só me faltava essa.





36 – EXT. CASA DE MIGUEL – DIA





A empregada abre o portão.



TEKA

Até que enfim... Já tava criano raiz



EMPREGADA

Dr. Miguel lhe espera.



TEKA

Oh, num diga!



EMPREGADA

Por aqui por favor. Dr. Miguel Lhe espera na piscina...



TEKA

Onde fica?



EMPREGADA

A sua esquerda.





37 – INT. CASA DE MIGUIEL – DIA





Abre o portão.



TEKA

Hei... Num mim acompanha que num sou novela. É porali né?



EMPREGADA

Sim. Aceita um suco?



TEKA

Dessa casa num tomo nenhum copo dágua.



EMPREGADA

Como quiser. (Sai)



TEKA

Caraca! Que casa é essa? Meu Deus! Só nos luxos.



38 – INT. ESCRITÓRIO DE MIGUIEL





CÍNTIA

(No telefone) Fernando? Cíntia. Escuta... tenho boas novas, é meu querido... Não brinco em serviço. Me encontra em meia hora; como onde? No mesmo lugar querido! Quem disse que não podemos aliar negócios ao prazer. (Desliga) Ah, Miguel! Você está em minhas mãos. Com esses documentos, sou eu quem dito as regra do jogo.





39 – INT. CASA DE MIGUEL - DIA



MIGUEL

Em que posso lhe ajudar?



TEKA

Quem disse que vim aqui te pedi ajuda?



MIGUEL

Então, o que veio fazer aqui, em minha casa?



TEKA

Escuta aqui Miguel, sou pobre, mais não sou burra, não...



MIGUEL

Do que está falando?



TEKA

Acha mermo, que pode ir na minha casa, ou madá, aquele teu pau mandado lá, pra tentá enrolá meu marido? Se pensa que vai colocá sozinho a mão em toda essa grana, tá é muito enganado. Seguro morreu de veio!



MIGUEL

Não seja ridícula!



TEKA

Tu ai... Com essa carinha de anjo, todo bacana, mergulhado nas grife... Mas tu? Num me engana não... Por trás dessa carinha de bom moço, fino e educado, tu é podre. Num presta não, se jogá na vitrine, num vale um real.



MIGUEL

Não faço ideia do que esteja falando.



TEKA

Tô falano que nem você, nem aquele advogadozinho de merda, vai consegui passá a perna no meu marido. Nós vai querer tudo que de direito é nosso.



MIGUEL

Nosso? Você é uma oportunista.



TEKA

Não me ofenda. (Dá um tapa na cara dele) Sou mulé do teu irmão.



MIGUEL

Vadia! (Se prepara para revidar)



TEKA

Bate, bate... Bate mermo. Vou daqui direto pra delegacia prestar queixa.



MIGUEL

Que petulância! Como se atreve a entrar na minha casa, me ofender? Retire-se já daqui. Ou...



TEKA

Ou o que?



MIGUEL

Mando a segurança lhe jogar porta a fora.



TEKA

Ainda vai me aturar muito, Miguel.



MIGUEL

Lúcia?



EMPREGDA

Sim senhor...



MIGUEL

Acompanhe essa mulher até a saída.



TEKA

Vou sim. Mas fique sabeno que isso num termina aqui. Vou te avisano, mexeu com Gabriel, mexeu comigo. E quando pisa no meu calo, viro uma fera! E olha que hoje tô mansa.



MIGUEL

Ou sai agora, ou chamo a segurança.





TEKA

Calma, doutorzinho... Pode fica pianinho... Sou pobre, mais tenho educação. Conheço o caminho, e num preciso dessa pit bul fêmea atrás de mim, não. (Sai. Puxa a calcinha que a incomoda)



MIGUEL

Esta mulherzinha está proibida de chegar perto desta casa, entrar nem pensar. Entendeu?



EMPREGDA

Sim senhor...



MIGUEL

Se estiver rondando a casa. Chama a segurança. Agora vá e desinfeta toda casa. Tá esperando o que? (Ela sai)



40 – INT. ESCRITÓRIO DE MIGUEL - DIA



HENRIQUE

Tudo certo. Do jeito que o senhor pediu. Só mandar o motorista busca-lo.



MIGUEL

Agora quero ver se esse favelado, não desaparece de vez!



HENRIQUE

Acho isso tudo, muito arriscado.



MIGUEL

Não pago pra achar meu caro.



HENRIQUE

E se ele contar pra mulher que vem a seu encontro?



MIGUEL

Nego! E ainda processo aquela piranha de calúnia e difamação.



HENRIQUE

Mas tem uma coisa...



MIGUEL

O que?



HENRIQUE

Sendo ela esposa. Casada ou não em comunhão de bens, o fato de ser parceira fixa, companheira, terá direito a parte que de direito pertence marido.



MIGUEL

Na comunidade, acidentes acontecem. Sempre acontecem. Gatos, vazamento de gás, uma combinação perfeita. E... BUM! Tudo pros ares, inclusive a periguete!



HENRIQUE

Vai provocar um incêndio na comunidade, pondo em risco outras vidas...



MIGUEL

Eu não. Jamais seria capaz de uma atrocidade dessas... Mas você sim. Fara! Ou encontrará alguém que faça.



HENRIQUE

Eu?



MIGUEL

Sim, você. Também acho melhor você pegar meu irmãozinho tão querido, no lugar do motorista, assim, fica entre nós mais este segredo. Terminada nossa reunião.



HENRIQUE

Com licença.



MIGUEL

Toda. Henrique?



HENRIQUE

Sim?



MIGUEL

Não faça o que eu não faria. (Henrique sai) Xeque mate!





41 – EXT. RUA VINTE E CINCO DE MARÇO – DIA





Teka e Cherry descem a ladeira porto geral, muito movimentada por pessoas, sentido Rua vinte e cindo de março, em São Paulo. As duas muito alegres entram em algumas lojas e saem com bastantes sacolas e pacotes.



TEKA

Oh, meu pai! Isso aqui é mesmo um paraíso. Tem de tudo!



CHERRY

Não te disse?



TEKA

Depois de ontem... Só umas comprinhas pra aliviá...



CHERRY

Eu soube... Você é aquela periguete se atracaram no meio da rua...



TEKA

Só num deformei aquele rostinho de puta, por que Biel me segurou.



CHERRY

Dava qualquer coisa pra ter visto esse pega pra capar!



TEKA

Isso por que num gosta de fofoca...



CHERRY

E num gosto mermo... Mas nada como umas boa porradas!



TEKA

Vamos naquela lojinha ainda não entramo lá...



CHERRY

Calma, muita calma nessa hora... Deixa eu descansá um pouco. Já subimos essas ladeiras umas dez vezes. Haja folego!



TEKA

E é só o começo, meu bem... Daqui pro shopping,



CHERRY

Upa lelê!



TEKA

Que foi?



CHERRY

Tõ botando os bofes pra fora.



TEKA

Deixa de ser mole. Quando morrê descasa... Agora vamo.



CHERRY

Já entamo numas cem lojas.



TEKA

Ainda falta umas coisinhas...



CHERRY

Tem certeza que vai continuar gastando tanto? Daqui a pouco estoura o limite do cartão.



TEKA

E sou mulhé de pensar em limite? Não há limite para ser feliz! Sou rica! Rica!



CHERRY

Antes vai parar no SPC



TEKA

Melhor meu nome no SPC que na boca desse zé povinho do bairro. Se sujar... Depois limpo! Agora vamos...



CHERRY

Tem outro jeito?





42 – INT.ESCRITÓRIO DE MIGUEL - DIA



CÍNTIA

De Miguel?



MIGUEL

Sim?



CÍNTIA

Posso falar com o senhor?



MIGUEL

Fala logo que estou com pressa...



CÍNTIA

Se acha mesmo o dono do mundo, né?



MIGUEL

Que atrevimento é esse? Tw coloco no olho da rua.



CÍNTIA

Isso! Coloca. Eu pago pra vê. Mas antes analise esses documentos.



MIGUEL

Que isso? Que documentos são esses?



CÍNTIA

Veja com seus próprios olhos, doutor! (Sacastica)



MIGUEL

(Abre o envelope) Como conseguiu isto?



CÍNTIA

Sabe Miguel... Essa é a vantagem de ser invisível.



MIGUEL

O que você quer?



CÍNTIA

Logo saberá. (Pega a bolsa) Há! Tenho cópias. E estão bem seguras. (Sai)



MIGUEL

Vagabunda! (Dar um soco na mesa. Pega o celular) Henrique...?





43 – INT. CASA DE GABRIEL/QUARTO – NOITE





GABRIEL E TEKA ESTÃO NA CAMA.



TEKA

Biel?



GABRIEL

Hum... (Sonolento)



TEKA

Tá dormino?



GABRIEL

Tava.



TEKA

Sabe...



GABRIEL

Não, num sei... O que?



TEKA

Eu tava aqui pensano.



GABRIEL

E num dá pra cê pensá baixo?



TEKA

Que saco! Ôh, será que dá, pra mim dá uma atençãozinha?



GABRIEL

Fala vai...



TEKA

É sobre a dinheirama que cê vai recebê...



GABRIEL

Ah, não... Agora não.



TEKA

Mas é coisa séria.



GABRIEL

Teka... Preciso durmi, levanto cedo amanhã...



TEKA

Num sei porque ainda tá nessa vidinha? Meu amor agora você é rico, num precisa mais vivê assim...



GABRIEL

Ah, tá! Então quem vai pagá as conta no fim do mês?



TEKA

Que se dane as conta. Logo vamo tê dinheiro a rodo.



GABRIEL

Enquanto ainda num temos.

Preciso trabalhá. Por que essa grana tá garantida. (Se levanta)



TEKA

Que foi? Vai onde?



GABRIEL

Beber água! E dá um mijão.



TEKA

Mozão... Sabe? Tô querendo... Vamos fazê um free...



GABRIEL

Quer um sex drive é?



TEKA

Safado!



GABRIEL

Cachorra!



TEKA

Adoro! (Entram debaixo do cobertor)



GABRIEL

Assim num levanto amanhã...



TEKA

E que disse que quero amanhã? Quero hoje.





44 – INT. CASA DE GABRIEL/CENTRO DA CIDADE/QUARTO – DIA





Teka acorda assustada como se tivesse tido um pesadelo. Olha pra Gabriel e se tranquiliza. Caminha até a janela e abre a cortina deixando o sol invadir o quarto. Gabriel acorda.



GABRIEL

Teka?!... Que hora é essa?



TEKA

É cedo.



GABRIEL

Deixa eu levantar...



TEKA

Biel... Eu tive um pressentimento.



GABRIEL

Que bobagem! Tá tudo bem... Olha, e hoje vai ser o melhor dia... Vou vender pra caraca. Vou tomar um banho. (Ela corre até ele e o abraça)

Que foi?!



TEKA

Deixa eu te abraçar! Só te abraçar.



GABRIEL

Eita, abraço gostoso! (Ela entra no banheiro e ela fica pensativo)





45 – EXT. RUA DESERTA – DIA





Gabriel e Henrique estão no carro. Henrique para o carro.





GABRIEL

Que lugar é este?



HENRIQUE

Teu irmão lhe espera.



GABRIEL

É só seguir reto e virar a esquerda, e logo verá um galpão.





46 – EXT. GALPÃO ABANDONADO – DIA



Henrique abre a porta do carro e Gabriel desce. Gabriel segue uma rua deserta, como se fosse rua sem saída. Segue andando chega no endereço indicado. Empurra o portão do lugar, que encontrava-se semiaberto, entra desconfiado por ser um galpão, um terreno baldio repleto de restos de materiais de construção e carros abandonados





GABRIEL

Miguel?



MIGUEL

(está de costas para Gabriel, vira-se ao ouvir a voz de gabriel)

Gabriel! Ao Arcanjo Gabriel foi confiada a missão mais alta que jamais havia sido confiada a alguém. Sabe, as vezes me pergunto, por que será que minha mãe deu o nome de Gabriel a você.



GABRIEL

Por que me trouxe aqui, cara?



MIGUEL

Você pode ser sangue do meu sangue... mas nunca, nunca... Jamais será meu irmão, nunca.



GABRIEL

Não faço nenhuma questão.



MIGUEL

O pior erro que você cometeu na tua vida, maninho, foi cruzar o meu caminho.



GABRIEL

Você é podre! Um lixo de pessoa. É pior que bicho. Só pensa nesse maldito dinheiro. Meu maior desejo é que suma.



MIGUEL

Sumir? Taí... uma boa ideia. Até que enfim o plebeu disse algo inteligente?! Mas quer saber? Na história da humanidade, sempre há, o bem e o mau... E você é o anjo, e eu embora tenha nome de anjo, prefiro, ser o gênio, o gênio do mal. Por que não vou realizar nenhum dos três desejos, e sim, vou te tirar seu único desejo. E não serei eu que vou sumir. Maninho!



GABRIEL

Você é doente!



MIGUEL

Sua opinião pouco me interessa! (Puxa a arma)



GABRIEL

Que está fazeno, mano? Abaixa essa porra!



MIGUEL

(Aponta uma arma para o irmão) Advinha?



GABRIEL

Pelo amor de Deus cara... Abaixa isso. É perigoso, tá ligado?



MIGUEL

Que foi? O favelado se acovardou? Onde está toda sua malandragem?



GABRIEL

Deixa de onda... Não vai fazer isso. Tu num tem moral, pra isso.



MIGUEL

Vai pagar pra vêr?



GABRIEL

Não teria coragem...



MIGUEL

Vê-se... que não me conhece. (Engatilha)



GABRIEL

Para com isso cara... Tenho família.



MIGUEL

Não se preocupe... Vou cuidar daquela piranha que você chama de mulher.



GABRIEL

Cara, sou teu irmão.



MIGUEL

Irmão? Que irmão? Nunca tive irmão algum. Não há lugar pra nós dois.



GABRIEL

Tá loco? Se me apagar... Vão descobrir.



MIGUEL

Ora meu irmão... Numa cidade como esta... tão insegura, violenta. Ainda mais você de uma comunidade. Sabe que vão dizer quando encontrarem seu corpo? Associação ao tráfico. Guerra de gangues, acertos de contas...



GABRIEL

Não vai sair bem desta.



MIGUEL

Adeus meu irmão... Foi um desprazer te conhecer.



GABRIEL

Não!



Gabriel não vendo saída se agarra com o irmão, segura a arma na tentativa de tirá-la do irmão. Se atracam em uma luta corporal. Ouve-se um disparo da arma. Após um silencio... ainda agarrados, closes nos rostos de cada um. Lágrimas escorrem dos olhos de Gabriel, e sangue da boca de Miguel que está com olhar frio e congelado. Gabriel afasta-se aterrorizado e tristes de Miguel que deixa cair a arma no chão. Gabriel sai aos poucos da cena, close direto em Miguel, que aparece ferido no peito, roupa e mãos sujas de sangue. Câmera do rosto de Miguel vai pouco a pouco subindo até mostrar o céu nublado, no qual a parece a palavra fim.







  F I M





FADE OUT.





(SOBEM OS CRÉDITOS)

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