fevereiro 08, 2021

 H á três décadas de existência, por que não dizer, de resistência, o Bando de Teatro Olodum continua a observar as esquinas e becos de Salvador para transcrever nos palcos as histórias do cotidiano , do seu povo baiano e toda sua arte.

O Bando de Teatro Olodum nasceu em 17 de outubro de 1990, depois de uma parceria entre o diretor Marcio Meirelles e o Grupo Cultural Olodum. um dos motivos de montar a companhia foi eliminar um incômodo de não ver negros representando nos palcos.

Desde de sua fundação,  fica acertado, que o Bando tem autonomia para escolher o seu repertório e interferir de maneira autoral no processo criativo de cada trabalho, levantando discussões contemporâneas, abordando problemas que até hoje continuam presentes na sociedade.

Nos primeiros anos, seus integrantes (todos negros) enfrentam o estigma de que não são artistas e que representam no palco as suas próprias histórias de vida. Mas o preconceito não impede que o grupo se imponha e contribua de forma relevante para a inclusão de temas sociais e políticos na vida cultural baiana. O foco principal é o combate ao racismo.

Além da palavra, a música e a dança servem de elos de comunicação e viram marcas registradas na trajetória do Bando. Esses dois alicerces ganham ainda mais força como base estética de linguagem do grupo com a chegada do diretor de movimento Zebrinha (1993) e do diretor musical Jarbas Bittencourt (1996).

Cada espetáculo não apenas mais um, não se tratando de mais uma peça, mas sim, de um grito, um desabafo social.

Sendo uma companhia de teatro assumidamente como Negra levando toda sua militância aos palcos, utilizando-se da arte não só como entretenimento, mas também reflexão.

Vemos essas reflexões em Obras como “Essa É Nossa Praia”, que aborda temas como intolerância religiosa, ideologia do branqueamento e marginalidade. Já em “Cabaré da Rrrrrraça”, que levou ao palco discussões sobre negritude.

 

Entre desafios e conquistas em três décadas, o Bando vem colecionando desafios, conquistas e prêmios.

O primeiro espetáculo estreou em janeiro de 1991 - três meses após a criação do grupo – em uma das salas de um casarão da antiga Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), no centro histórico da capital baiana.

Vinte e dois atores formaram a equipe que apresentou "Essa É Nossa Praia", encenada por Marcio Meirelles e pela diretora francesa Chica Carelli (co-fundadora da companhia).  Com seus passos questionados por parte da cidade. Coube apenas ao público do centro de Salvador, onde o grupo se instalou, o papel de reconhecimento do perfil vanguardista que as obras carregavam. Um incômodo uma vez que

esses espetáculos com suas personagens que representava exatamente um perfil idêntico de boa parte da população, incomodando a alta sociedade baiana que não tinha nenhuma identificação com o povo que agora ocupava seu lugar na arte.

Apesar de resistências por sua baianidade, com aquele modo de falar. Grande parte dos baianos demorou muito para se identificar com a linguagem expressa pelo grupo.

O segundo espetáculo "O novo mundo" foi responsável por percorrer o caminho do sagrado, através da abordagem cênica das nações do candomblé presentes na cultura da Bahia e em 1992, o Bando rompeu a geografia baiana para expandir o trabalho por outras regiões. Levando ao, Rio de Janeiro, as peças “Essa É Nossa Praia” e “Ó Pai, Ó!”.

Mas quem pensa que o sucesso do Bando de Teatro Olodum parou por ai, se engana entre 1996 e 2003, a companhia ultrapassou as fronteiras levando as obras para locais como Londres, Angola, Portugal e Alemanha. E deste modo anos mais tarde, acumulou importantes prêmios como reconhecimento de seus trabalhos.

Formado por atores negros o grupo resistiu e resiste ao preconceito e as dificuldade que a pesar de toda sua historia e premiações o grupo ainda encontra resistências e dificuldades por falta de patrocínio.

Mas como um grito de resistência, no palco, o grupo leva o desabafo, com peças que retratam as labutas de um povo. Tudo isso sem abrir mão das técnicas que estão presentes, e com suas referências clássicas.  Mas sempre com seu diferencial, o comprometimento em retratar, de perto, problemas sociais.

“Muito interessante que, Além das próprias narrativas, os atores acionam as ruas e becos da capital baiana para construir os espetáculos. Fazendo destes locais um o laboratório. Com o intuito de transformar a comunidade e levar para as pessoas não apenas reflexão, mas autoconhecimento e reconhecimento do valor que tem.

O Teatro Vila Velha, casa do grupo, em Salvador e para comemorar os trinta anos o Bando de Teatro Olodum irá relembrar os grandes sucessos não têm relação com repetir a fórmula que deu certo, mas compartilhar o legado histórico em meio aos desafios.

O ator Lázaro Ramos, que se formou no bando e atuou desde os 15 anos, lembra que é um dos grupos de teatro com maior longevidade na América Latina. “Foi esse grupo que me falou o que era teatro quando estava tentando entender quem eu era. Eu encontrei caminho, os primeiros artistas que vi e pensei quero ser igual”,

Com mais de 40 espetáculos, o grupo revelou talentos como: Jorge Washington, Érico Brás, Leno Sacramento, Sérgio Laurentino, Lázaro Ramos entre outros.


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