DIREITO DE VIVER
De: Marcondys França
PERSONAGENS:
MAÍRA
EVALDO (Pai de Maíra)
BERNADETE (Mãe de Maíra)
CONSUELO (Florista)
CRISTINA (Filha de Consuelo)
LUIS ROBERTO (Filho de Maíra criado por Consuelo)
LISETE (Empregada de confiança de Maíra)
LUIS ALBERTO
CONSTANZA (Mãe de Luís Alberto)
DIVA (Empregada de Constanza)
DR. AUGUSTO
PRIMEIRO ATO
CENA I
MAÍRA: - Bom dia Diva?!
DIVA: - Bom dia! Que animação é essa?
MAÍRA: - Estou feliz!
DIVA:: - Coisa rara nesta casa. Com aquela jararaca...
MAÍRA: - Já nem me importo mais com o mal humor de Dona Constanza.
DIVA:: - Parece até que viu o passarinho verde!
MAÍRA: - Vi não?! Vou ver. Verde, azul, amarelo... De todas as cores.
DIVA: - Cuidado menina! Quem brinca com fogo um dia se queima.
MAÍRA: - Ele disse que me amava.
DIVA:: - E você acreditou?
MAÍRA: - E por que não haveria de acreditar?
DIVA:: - Não seja tola, menina.
MAÍRA: - Então você não acredita mesmo que um cara como Luís Alberto possa se interessar por uma garota como eu?
DIVA:: - Maíra, você é linda. Mas isso não é tudo. Nesta casa fala mais alto o interesse.
MAÍRA: - Luís Alberto não é assim.
DIVA:: - Não se iluda, meu bem.
MAÍRA: - Nos amamos. E vamos nos casar.
DIVA:: - Não seja ingênua.
MAÍRA: - Não estou entendendo... Por que você está dizendo estas coisas.
DIVA:: - Me dói o coração dizer isto... Mas Senhor Luís Alberto lhe iludiu... Mentiu pra você. O que queria de você a empregadinha, já conseguiu. Usou e agora vai jogar fora.
MAÍRA: - Cala-te! Você está com inveja. Não teve a mesma sorte que eu. Vou me casar com Luís Alberto e seremos muito felizes.
DIVA: - Escuta aqui bela adormecida, é hora de acordar. Seu príncipe não tem nada de encantado. É um homem de carne e osso, que te usou o quanto pode e agora irá te descartar.
MAÍRA: - Você está sendo cruel... Por que?
DIVA: - Por que te quero bem. Não quero que sofra... Desejo que abra o olho antes que seja tarde...
MAÍRA: - O que sabe?
DIVA: - Nada...
MAÍRA: - Estou grávida.
DIVA: - Ôh, menina! Que pensa que esta fazendo da tua vida?
MAÍRA: - Aconteceu...
DIVA: - Senhor Luís Alberto partirá semana que vem.
MAÍRA: - Que?
DIVA: - Sinto muito. Ac hei que devia saber.
MAÍRA: - Não pode ser...
DIVA: - Bem vinda a vida real. (Sai)
MAÍRA: - Luís Alberto teria me contado. (Sai)
CENA II
(Maíra entra do canto direito do palco deixando cair o xale, parece nervosa, aperta as mãos uma entre a outra. Observa o local, demonstra ansiedade. Luis Alberto lhe abraça por trás).
MAÍRA: - Ah, que susto!
LUIS ALBERTO: - Perdão se lhe assustei. Confesso não se minha intenção.
MAÍRA: - Foi apenas um susto. Já passou...
LUIS ALBERTO: - Que bom. (A beija) Senti sua falta.
MAÍRA: - (Esquiva-se)
LUIS ALBERTO: - Que foi?
MAÍRA: - Parece –me feliz.
LUIS ALBERTO: - E, estou. Não era pra está? Fui aceito.
MAÍRA: - Fiquei sabendo.
LUIS ALBERTO: - E não está feliz por mim? Meu Deus! Fui aceito na melhor universidade de medicina do país... Vou cursar em...
MAÍRA: - E eu Luís Alberto? E eu? E quanto a mim?
LUIS ALBERTO: - Meu amor... Oh, minha pequena! Então é isto. Por isso está assim tão distante... Tão pensativa.
MAÍRA: - Quando partirá?
LUIS ALBERTO: - Apenas na semana que vem. Até lá... Podemos aproveitar...
MAÍRA: - E quanto nossos planos? Nossos sonhos? Tudo que sempre desejamos... A vida a dois?...
LUIS ALBERTO: - Hei, calma! Estou indo estudar. Logo que me forme estarei de volta.
MAÍRA: - E quanto tempo levará isto?
LUIS ALBERTO: - Incluindo a especialização... Uns...
MAÍRA: - Não precisa responder.
LUIS ALBERTO: - Assim que retornar... Ficaremos juntos.
MAÍRA: - Você me ama?
LUIS ALBERTO: - Que?
MAÍRA: - Me ama?
LUIS ALBERTO: - Que pergunta!
MAÍRA: - Meu Deus! Como fui ingênua... Fui apenas mais um brinquedinho em tuas mãos.
LUIS ALBERTO: - Assim você me ofende. Pequena...
MAÍRA: - Também, o que esperar de um playboyzinho mimado?!
LUIS ALBERTO: - Por que está sendo tão áspera comigo?
MAÍRA: - Só agora percebo o quanto fui tão tola.
LUIS ALBERTO: - Droga! Eu aqui pensando em uma despedida em grande estilo...
MAÍRA: - Desde de quando Luís Alberto, encontros em uma gruta é em encontro em grande estilo?
LUIS ALBERTO: - Nossa! Hoje você está bem azeda.
MAÍRA: - Estou grávida!
LUIS ALBERTO: - Como é que é?
MAÍRA: - Grávida. (Silêncio)
LUIS ALBERTO: - Não pode ser... Deve ser algum engano.
MAÍRA: - Engano?
LUIS ALBERTO: - Sempre tomamos toda precaução.
MAÍRA: - O preservativo falhou.
LUIS ALBERTO: - Meu Deus! Que loucura.
MAÍRA: - Loucura foi um dia acreditar na possibilidade que uma empregadinha podia ser amada por um... (Tenta sair. Ele segura)
LUIS ALBERTO: - Espera.
MAÍRA: - (Há um raio de esperança em seu semblante)
LUIS ALBERTO: - Não precisa se preocupar... Daremos um jeito.
MAÍRA: - Um jeito?
LUIS ALBERTO: - Conheço uma pessoa de confiança, um médico...
MAÍRA: - Aborto?
LUIS ALBERTO: - Está no começo...
MAÍRA: - Acredita mesmo que vou matar meu filho?
LUIS ALBERTO: - Maíra, não seja tola...
MAÍRA: - Tola fui quando me apaixonei por você. Mas agora estou vendo o que antes não enxergava. Você não passa de um fraco.
LUIS ALBERTO: - Maíra, me escuta...
MAÍRA: - Não se preocupe. Este filho é meu, só meu... (Sai correndo e chorando)
LUIS ALBERTO: - Maíra... Maíra... Droga! (Sai)
CENA III
CONSTANZA: - Maíra?
MAÍRA: - Sim senhora (Entra desconcertada)
CONSTANZA: - Sirva-me meu chá.
MAÍRA: - É pra já... (Sente se mal)
CONSTANZA: - Você está bem?
MAÍRA: - Sim... Só um pouco... (Tontura)
CONSTANZA: - Que isso?! Que desastrada. Tenha mais cuidado.
MAÍRA: - Desculpe-me senhora. (Deixa cair a bandeja)
CONSTANZA: - Sente-se. O que há com você? Está pálida.
MAÍRA: - Não estou me sentindo bem. Mas a senhora não precisa se preocupar. É só um mal estar. Logo passará.
CONSTANZA: - Não... deixe isso aí... Peça a Diva para vir limpar esta sujeira. Vá descansar um pouco.
MAÍRA: - Que isso senhora... Não precisa. Eu mesma limpo...
CONSTANZA: - É uma ordem. Agora vá.
MAÍRA: - Com licença. (Saí)
CONSTANZA: - Deus queira que eu esteja enganada... Mas essa moça está grávida. Isso vai mal!
DIVA: - Com licença senhora.
CONSTANZA: - Fique a vontade. Diva...
DIVA: - Senhora?
CONSTANZA: - Você conhece bem a Maíra?
DIVA: - Sim senhora.
CONSTANZA: - Sabe se ele tem um namorado?
DIVA: - Bem... Acredito que sim. Por que senhora?
CONSTANZA: - Por nada. Só por curiosidade.
DIVA: - Com licença. (Sai)
CONSTANZA: - È... Acho que terei que contratar uma nova empregada.
CENA IV
(Bernadete está sentada fazendo tricô, entra Maíra)
MAÍRA: - Mãe...
BERNADETE: - Que cara é essa Maíra? O que está acontecendo?
MAÍRA: - Preciso lhe falar uma coisa.
BERNADETE: - Não... Não é o que estou pensando, é?
MAÍRA: - Sinto muito mãe.
BERNADETE: - Que você fez?
MAÍRA: - Aconteceu.
BERNADETE: - O que... Aconteceu?
MAÍRA: - Mãe...
BERNADETE: - Você se entregou aquele rapaz? É isso que está querendo me dizer, é? Estragou sua vida.
MAÍRA: - Aconteceu mãe.
BERNADETE: - Aconteceu por que você permitiu. E agora? Que vão dizer os outros de você? Perdida!
EVALDO: - Que diabo você está dizendo mulher?
BERNADETE: - Sua filha.
EVALDO: - Que tem Maíra? Que andou aprontando?
BERNADETE: - Pergunte a ela.
EVALDO: - Maíra...
MAÍRA: - Nada pai... Nada. Mãe?
BERNADETE: - Conta pro teu pai o que acabou de me dizer.
EVALDO: - Quero a verdade.
MAÍRA: - Sinto muito meu pai!
EVALDO: - Sente? (Puxa o Cinto) Vamos vê o quanto sente.
MAÍRA: - Por favor, pai... Não...
BERNADETE: - Sem vergonha! Nossa filha está perdida.
EVALDO: - Sua ramera! (Vai bater)
MAÍRA: - Não pai... Pelo amor de Deus! Não...
BERNADETE: - Não use o nome de Deus em vão.
MAÍRA: - Estou grávida.
EVALDO: - O que?
MAÍRA: - Grávida! Sinto muito pai.
EVALDO: - Você sabia disso?
BERNADETE: - Juro que não. Estou tão surpresa quanto você.
EVALDO: - Sem vergonha... (Arrasta-a Pelos cabelos) Sua meretriz...
MAÍRA: - Não pai! Pelo amor de Deus, não faça isso. Mãe?!
EVALDO: - Na minha casa não é lugar de mulher da vida. Fora daqui. Nunca mais quero te vê na minha frente.
MAÍRA: - Pai...
EVALDO: - Não me chame de pai. Não tenho filha! Pra mim você está morta. Morta!
MAÍRA: - Mãe...
EVALDO: - mulher, pega as roupas dessazinha... Anda logo. (Joga as roupas de Maíra)
MAÍRA: - Mãe...
BERNADETE: - Não ouviu teu pai?
MAÍRA: - Mãe... (Recolhe as roupas e sai)
CENA V
DIVA: - O que houve menina?
MAÍRA: - Você tinha razão.
DIVA: - Que roupas são essas?
MAÍRA: - O tempo todo você esteve certa.
DIVA: - Oh, Deus! Venha cá... (Abraça) Não meu bem. Isso vai passar.
MAÍRA: - Eles me colocaram pra fora de casa.
DIVA: - Sinto muito.
MAÍRA: - E agora, que vou fazer?
DIVA: - Por enquanto poderá ficar aqui.
MAÍRA: - E quando Dona Constanza descobrir?
DIVA: - Até lá, daremos um jeito. Pensaremos em alguma coisa.
MAÍRA: - Ele quer que eu tire a criança...
DIVA: - É sempre assim. Esta gente não tem coração.
MAÍRA: - Jamais mataria meu filho.
DIVA: - Se Dona Constanza souber, te enxota daqui como um cão sarnento. Jamais ela admitirá que o filhinho dela tão adorado tenha um filho com uma empregada.
MAÍRA: - Vou ter essa criança.
DIVA: - Está mesmo certa disso?
MAÍRA: - Aborto é um crime! Meu filho tem direito de viver.
DIVA: - Mas como terá esse filho, sozinha?
MAÍRA: - Não sei... Mas ainda que isto custe a minha vida... Esse beber viverá.
DIVA: - O que eu puder... Eu farei. Conte comigo.
MAÍRA: - Obrigada! Você é uma pessoa iluminada. Ah, Diva! Me abrace com força... Preciso tanto de um abraço.
DIVA: - Claro! Sua louca... Agora vamos, entre. (Saem)
CENA VI
CONSTANZA: - Que bom que chegou.
LUIS ALBERTO: - Ah, a senhora?!
CONSTANZA: - Estava a sua espera.
LUIS ALBERTO: - Não precisava se incomodar.
CONSTANZA: - Incomodo algum. Queria apenas brindar com meu filho tão querido a sua aprovação numa das maiores universidade do país.
LUIS ALBERTO: - Que isso...
CONSTANZA: - Orgulho. Seu pai ficaria muito orgulhoso de você. Este sempre foi o sonho dele.
LUIS ALBERTO: - Fico feliz mamãe.
CONSTANZA: - Não me parece.
LUIS ALBERTO: - Mas estou.
CONSTANZA: - Algo lhe preocupando?
LUIS ALBERTO: - Não. Apenas cansaço. Boa noite...
CONSTANZA: - Luís Alberto...
LUIS ALBERTO: - Sim mamãe?
CONSTANZA: - Nada, nem ninguém irá atrapalhar a carreira brilhante que terás no futuro.
LUIS ALBERTO: - Por que a senhora está dizendo isto?
CONSTANZA: - Prometi a teu pai no leite de morte que o educaria para ser um grande homem... E cumprirei minha promessa.
LUIS ALBERTO: - Quanto a isso, não com que se preocupar.
CONSTANZA: - Sei que não. Amanhã mesmo partirá.
LUIS ALBERTO: - A senhora está enganada...
CONSTANZA: - Ora meu querido! Jamais me engano. Antecipei sua partida. Assim você terá tempo de se adaptar as novas instalações antes das aulas iniciarem. O seu novo apartamento, está pronto. Providenciei tudo. Está do jeito que você gosta.
LUIS ALBERTO: - Não precisava se preocupar.
CONSTANZA: - Como não? Qual mãe não se preocupa com o bem estar de seu filho? Não fujo a regra! Agora descanse. Amanhã cedo partirá. Boa noite meu querido!
LUIS ALBERTO: - Boa noite. (Sai)
CENA VII
DIVA: - Maíra...
MAÍRA: - Que foi Diva?
DIVA: - Acabei de escutar um conversa muito louca lá na sala...
MAÍRA: - Que você ouviu?
DIVA: - A megera e o filhote de cascavel.
MAÍRA: - Luís Alberto?
DIVA: - Cobra tem nome?
MAÍRA: - Diva!?
DIVA: - Ele parte amanhã cedo.
MAÍRA: - Mas como?
DIVA: - A diaba de saia antecipou a viagem do filho...
MAÍRA: - Mas por que?
DIVA: - A cobra parece ser paranormal...
MAÍRA: - Você acha que...
DIVA: - Com toda certeza! Deve está desconfiada que você está grávida. E liga uma coisa a outra...
MAÍRA: - Sabe que o filho dela...
DIVA: - É pai desta criança.
MAÍRA: - Se desconfia, então por que afasta Luís Alberto de mim?
DIVA: - Que cabecinha de vento essa a sua. A carreira dele é mais importante de que qualquer coisa.
MAÍRA: - Mas carrego o neto dela em minha barriga.
DIVA: - Essa mulher é capaz de tudo. Escuta o que eu estou lhe dizendo Maíra. Essa bruxa é capaz de tirar essa criança de sua barriga com as próprias mãos.
MAÍRA: - Meu Deus!
DIVA: - Ela é tão má, que até Deus duvida. Está víbora é o diabo em forma de gente. Sei bem o que estou dizendo. Se eu fosse você... Ficaria bem longe dela.
MAÍRA: - Diva, você sabe alguma coisa sobre Dona Constanza que eu não sei?
DIVA: - É melhor não saber.
MAÍRA: - Diva?
DIVA: - Antes de você o Senhor Luís Alberto engravidou outra empregada... Ah, deixa essa história pra lá.
MAÍRA: - Não... Preciso saber...
DIVA: - Dona Constaza a obrigou fazer um aborto e a pobrezinha não resistiu.
MAÍRA: - E Luís Alberto?
DIVA: - Sofreu por algum tempo. Mas logo esqueceu.
MAÍRA: - Meu Deus! Quem é esse homem? Que tipo de pessoa permite uma barbárie dessa?
DIVA: - O tipo de pessoa que não se comove com o sofrimento alheio.
MAÍRA: - Preciso falar com ele.
DIVA: - Está louca?
MAÍRA: - Sim. Estou.
DIVA: - Não faça isso... Por tudo que há de mais sagrado... Não vá...
MAÍRA: - Preciso ter uma ultima conversa com ele.
DIVA: - Então tome cuidado.
MAÍRA: - Pode deixar. Terei. (Sai)
DIVA: - Que Deus a proteja.
CENA VIII
LUIS ALBERTO: - Maíra...
MAÍRA: - Então, partirá amanhã...
LUIS ALBERTO: - É. Ás notícia aqui nesta casa correm rápido.
MAÍRA: - E quando iria me dizer? Nunca?
LUIS ALBERTO: - Você sabe que preciso partir.
MAÍRA: - E quanto eu e ...
LUIS ALBERTO: - Custava me esperar?
MAÍRA: - E nosso filho?
LUIS ALBERTO: - Não fazia parte dos meus planos.
MAÍRA: - Você acha que planejei? Foi fruto de nosso amor, um presente de Deus.
LUIS ALBERTO: - Presente de Deus? Será que não percebe que esta criança só veio pra nos atrapalhar...
MAÍRA: - Nos atrapalhar? A mim não atrapalha em nada. Amo tanto meu filho quanto te amo.
LUIS ALBERTO: - Se você escolhesse apenas me amar, poderíamos ser muito felizes.
MAÍRA: - Não se pede a uma mulher pra escolher entre um homem, mesmo que seja o amor de sua vida ou a um filho...
LUIS ALBERTO: - Então já fez a sua escolha. Vai mesmo preferir ficar com esta criança.
MAÍRA: - Esta criança, meu filho, será amada por mim até o último dia da minha vida.
LUIS ALBERTO: - Maíra, meu amor... Desista desta criança e seremos felizes.
MAÍRA: - Não sou uma assassina. Não me peça para tirar a vida do meu próprio filho, do nosso filho.
LUIS ALBERTO: - Eu não tenho filho algum. E quem me garante que este filho é mesmo meu? (Dar uma tapa no rosto dele)
MAÍRA: - Nunca mais abra sua maldita boca para dizer tamanho absurdo. Não admito que ponha em dúvida minha honestidade. Tem razão Luís Alberto... Este filho não é seu. É meu. Perdi meu tempo em vir até aqui... Não há com que se preocupar. (Sai)
LUIS ALBERTO: - Droga!
CENA IX
CONSTANZA: - Diva...?
DIVA: - Senhora
CONSTANZA: - Vá vê se meu filho está pronto...
LUIS ALBERTO: - Sim minha mãe... Estou pronto.
CONSTANZA: - Está esperando o que sua demente? Ajude-o com as malas.
LUIS ALBERTO: - Não, não precisa.
CONSTANZA: - Claro que precisa. Afinal, pago empregados pra que?
LUIS ALBERTO: - Pode deixar Diva.
CONSTANZA: - Onde está a inútil da outra?
MAÍRA: - Aqui senhora.
CONSTANZA: - Muito bem... Você pega uma mala e a Diva a outra.
LUIS ALBERTO: - Mamãe...
CONSTANZA: - Meu príncipe, deixa que com os criados eu me entendo. Nossa! Está encantador. Vai arrasar corações! Que mulher, resistira a tal charme? Mas preste atenção, meu filho... Fique longe de algumas desqualificadas, do tipo, caça dotes. Lembre-se você é um príncipe, então... Se relacione com gente de sua classe, nobre. Não essa gentinha ralé. E vocês o que estão fazendo ai, paradas, feitos dos jarros, dos mais fajutos... Andem... Levem essas malas para o carro. (As duas saem)
LUIS ALBERTO: - Não precisava humilhar as nossas empregadas...
CONSTANZA: - Ora, meu filho! Sei bem que estou fazendo. Quando entrar naquele carro, não olhe para trás. Vida nova lhe espera meu filho. Agora vamos, ou vai perder o voo. (Saem)
DIVA: - (Ampara Maíra que entra aos prantos) Oh, minha querida não fique assim. (Cruzam o palco até saírem de cena)
CENA X
CONSTANZA: - Maíra?
MAÍRA: - Senhora?
CONSTANZA: - Sente-se...
MAÍRA: - Sentar, senhora?
CONSTANZA: - Exatamente, meu bem...
MAÍRA: - Obrigada, estou bem assim.
CONSTANZA: - Mas prefiro que se sente.
MAÍRA: - Sim senhora.
CONSTANZA: - Melhor assim. Lhe chamei aqui meu bem, por que quero ter uma conversa muito franca com você. Espero que você seja muito honesta comigo.
MAÍRA: - Claro, senhora.
CONSTANZA: - Muito bem. Minha querida, tenho notado algumas alterações no seu comportamento...
MAÍRA: - (Se levanta) Perdão senhora, prometo...
CONSTANZA: - Sente-se. Ainda não terminei. Meu bem, está é uma conversa amigável. Não sei por que estás tão tensa... Afinal, não sou este monstro que pintam a meu respeito.
MAÍRA: - Si que não...
CONSTANZA: - Que bom que saiba. Assim, será mais tranquila, esta nossa conversa.
MAÍRA: - Claro senhora.
CONSTANZA: - Como lhe disse... Tenho lhe observado, e notei mudanças nos seu comportamento, tem sentido tonturas, enjoos, esta mais sensível... E seu corpo... Está mais... Como posso dizer...
MAÍRA: - Dei uma engordada.
CONSTANZA: - Esta grávida?
MAÍRA: - Eu?
CONSTANZA: - Quem mais poderia ser?
MAÍRA: - Não senhora.
CONSTANZA: - Por quanto tempo acha que poderá ainda esconder esta barriguinha? (Passa a mão na barriga de Maíra) Ah, minha querida, este é um estágio na vida da mulher, tão especial...
MAÍRA: - Senhora... (Se levanta)
CONSTANZA: - Não precisa mentir.
MAÍRA: - Sim estou.
CONSTANZA: - Foi o que imaginei. De quantos meses?
MAÍRA: - Uns três.
CONSTANZA: - Sei... Então seu namorado deve está muito feliz.
MAÍRA: - Não tenho namorado.
CONSTANZA: - Curioso. Isso quer dizer o que?
MAÍRA: - Que terei sozinha este filho.
CONSTANZA: - Por que? O pai não assumira?
MAÍRA: - Não. O pai, é um fraco. E não desejo que um franco, um homem de caráter duvidoso seja pai do meu filho.
CONSTANZA: - É muita coragem sua decidir ter um filho, sozinha. Já pensou isso?
MAÍRA: - Penso nisso todos os dias. Mas, sou jovem, tenho dois braços, duas pernas e muita disposição para o trabalho.
CONSTANZA: - Se eu lhe fizer uma pergunta você me responde com sinceridade?
MAÍRA: - Se a resposta estiver a meu alcance.
CONSTANZA: - Creio que sim. Por acaso, esta criança que trás em teu ventre e fruto de uma aventura com meu filho?
MAÍRA: - Em primeiro lugar, com todo respeito, não sou aventureira. Esta criança em meu ventre é fruto do amor que sentia por... Pelo homem por quem me apaixonei.
CONSTANZA: - Luís Alberto?
MAÍRA: - Por que a senhora não faz essa pergunta a ele?
CONSTANZA: - Era o que eu temia!
MAÍRA: - Não precisa ter medo. Não quero nada de vocês. Não me interessa nada. Nem mesmo o nome desta família.
CONSTANZA: - Acha mesmo, que permitiria o nome da minha família, num filho bastado de uma empregadinha?
MAÍRA: - Quero que a senhora pegue este nome e...
CONSTANZA: - Cuidado menina! Você esta dentro de minha casa. E eu não admito ser desrespeitada debaixo do meu próprio teto, e ainda mais por uma criada.
MAÍRA: - Nossa conversa termina aqui.
CONSTANZA: - Espere. Você não pode ter esse filho.
MAÍRA: - Quem decidi isso sou eu.
CONSTANZA: - Quanto quer para não ter esse filho.
MAÍRA: - Não há dinheiro neste mundo que me faça interromper esta gravidez.
CONSTANZA: - Não seja tola.
MAÍRA: - Encoste suas mãos imundas em mim e conhecerá a minha fúria.
CONSTANZA: - Esta demitida. Saia já desta casa e não apareça nunca mais.
MAÍRA: - Sim senhora. (Sai).
CONSTANZA: - Acidentes acontecem!
CENA XI
DIVA: - Ah, menina! Você poderia ter mentido pra megera.
MAÍRA: - Mentir? Como? Ela já sabia a verdade...
DIVA: - Mesmo assim, negasse.
MAÍRA: - O que tem que ser será.
DIVA: - E agora? Que vai fazer?
MAÍRA: - Sinceramente não sei.
DIVA: - Nem tem pra onde ir.
MAÍRA: - Vou arrumar um emprego...
DIVA: - Assim? Ninguém lhe dará emprego grávida.
MAÍRA: - Não sei o que fazer. Não tenho pra onde ir...
DIVA: - E seus pais?
MAÍRA: - Não... Meu pai é das antigas. Não volta atrás. A palavra dada uma vez... Já era. Não tem volta.
DIVA: - Ah, meus Deus! Tem que haver um jeito.
MAÍRA: - Que jeito? Esse é meu destino.
DIVA: - Que destino! Menina, que fez em outra vida? Deve ter feito algo muito grave... Eu, hein! Misericórdia!
MAÍRA: - Deixa eu sair antes que a jararaca venha me expulsar.
DIVA: - Calma, ai... O Padre Jeremias da paróquia de Santo Estevão... Acho que ele poderá te ajudar, pelo menos por enquanto.
MAÍRA: - Como chego até ele?
DIVA: - Vou anotar num papel o endereço. Ponto. Aqui esta. É só dizer que fui eu que lhe mandei...
MAÍRA: - Ah, Diva! Você é mesmo um anjo.
DIVA: - Escuta aqui, menina... Vê se cria juízo. É não some. Quero ter sempre notícias suas. O que eu puder, te ajudo. Sabe disso, não sabe?
MAÍRA: - É... Sei. (Se abraçam)
DIVA: - Vai com Deus minha querida. (Maíra sai)
CENA XII
(Seis meses se passaram Maíra entra sentindo dores e dar luz a seu filho no centro do palco. Com seu xale enrola a criança e protege. O tempo se prepara para uma grande tempestade)
MAÍRA: - Meu filhinho! Meu filhinho... Ah, meu anjinho... Mamãe não vai deixar nada lhe acontecer... Nada. Mamãe te ama, viu? Muito. Aconteça o que acontecer, não há nada neste mundo que mamãe ame, mas que você. Você se chamará: Luís Roberto. Luís Roberto, o meu filho. O meu tão amado filho.
CENA XIII
(Consuelo vende flores. Entra Maíra com uma criança nos braços)
CONSUELO: - Flores senhora?
MAÍRA: - Por favor senhora... Preciso de sua ajuda.
CONSUELO: - Minha ajuda, mas como posso lhe ajudar?
MAÍRA: - Cuida do meu filho.
CONSUELO: - O que?
MAÍRA: - Não tenho condições de criá-lo.
CONSUELO: - Não... Não posso!
MAÍRA: - A senhora pode mais que eu?
CONSUELO: - Mas é seu filho.
MAÍRA: - Estou fazendo isso por que não tenho onde ficar, nem ao menos o que dar para ele comer.
CONSUELO: - Senhora, não pode desistir de seu filho.
MAÍRA: - Estou desesperada. Se estou fazendo isto é para o bem dele. Se continuar comigo ficará doente, morrerá.
CONSUELO: - Meu Deus!
MAÍRA: - Não tenho casa nem comida. E entrega-lhe a senhora é um ato de amor a vida do meu bebe.
CONSUELO: - Senhora...
MAÍRA: - Por favor! Lhe suplico!
CONSUELO: - Dei-me a criança.
MAÍRA: - Como se chama?
CONSUELO: - Consuelo.
MAÍRA: - Sou Maíra. Filhinho, mamãe te ama muito. Muito mesmo! Se faço isso, faço por amor. (Entrega o filho)
CONSUELO: - Cuidarei de seu filho como se fosse meu.
MAÍRA: - Senhora, não sabe o quanto lhe sou grata. Como posso lhe encontrar?
CONSUELO: - Moro naquela casa verde de esquina.
MAÍRA: - Meu bebe, mamãe logo voltará. Eu te amo, viu filho?!
CONSUELO: - Senhora é melhor eu ir... Esta criança precisa de cuidados.
MAÍRA: - Promete que cuidará bem dele?
CONSUELO: - Que pergunta senhora!
MAÍRA: - O nome dele é Luís Roberto...
CONSUELO: - Luís Roberto, é um belo nome.
MAÍRA: - Assim que puder, virei busca-lo.
CONSUELO: - Sabe onde me encontrar. Agora preciso ir... Vem vindo um temporal.
MAÍRA: - Deixa eu dar um beijo no meu anjinho... Adeus meu filhinho... (Consuelo sai com a criança) Adeus não... Até logo. (Sai) Meu filhinho, meu bebe... Mamãe te ama. (Cai de joelhos) Ah, meu Deus! Meu filho... (Apagam-se as luzes)
CENA XIV
DIVA: - Maíra! Que faz aqui? Se Dona Constanza lhe vê aqui...
MAÍRA: - Por favor... Me deixe ficar. Só por essa noite.
DIVA: - E seu filho?
MAÍRA: - Acabei de entregar nas mãos de uma senhora...
DIVA: - Oh, minha amiga! Que sofrimento!
MAÍRA: - Estou arrasada! Mas se Luís Roberto ficasse comigo... Nem sei o que poderia acontecer.
DIVA: - Canalha!
MAÍRA: - Tem notícia de Luís Alberto?
DIVA: - É melhor não saber...
MAÍRA: - Diva?
DIVA: - Tá bom, também não precisa me olhar desta forma.
MAÍRA: - Desembucha...
DIVA: - Está noivo da filha de um milionário. Uma serigaita...
MAÍRA: - Isso é de menos. Pior que poderia me acontecer... Já aconteceu. Fui obrigada a me separar do meu filho.
DIVA: - É provisório. Agora, temos que pensar em algo... Como por exemplo, um novo emprego pra você.
MAÍRA: - Tem razão. Sabe de Alguma coisa?
DIVA: - Tem um senhor, Dr. Augusto. Vive sozinho em uma mansão... A empregada dele, uma espécie de governanta, esta se aposentando... E pra sua sorte, precisa contratar alguém de confiança.
MAÍRA: - Será que... Ele me contrataria?
DIVA: - Isso só saberemos amanhã... Amanhã eu te levo lá. Enquanto isso, você descansa que amanhã tem que está muito bem para impressionar ao velho doutor.
MAÍRA: - Diva... Obrigada!
DIVA: - Oh, minha amiga. Você ainda será muito feliz. Agora vê se dorme e faz silêncio. Não podemos deixar a megera lhe perceber. Boa noite!
MAÍRA: - Boa noite. Se é que conseguirei pregar os olhos.
DIVA: - Precisa. (Sai)
MAÍRA: - (Cheira o manto) Filhinho, mamãe vai consegui este emprego e vai lhe buscar.
CENA XV
DIVA: - Doutor Augusto...
AUGUSTO: - Diva! Como vai?
DIVA: - Bem, obrigado.
AUGUSTO: - Sente-se.
DIVA: - Está é a moça que lhe falei...
AUGUSTO: - Então, está é a famosa Maíra?
DIVA: - Sim.
MAÍRA: - Como vai senhor?
AUGUSTO: - Prazer em conhecê-la.
MAÍRA: - O prazer é todo meu senhor.
AUGUSTO: - Diva me contou sua história... Fiquei muito comovido. Mas não pense que estou lhe contratando por isso...
MAÍRA: - Então...?
AUGUSTO: - Isso mesmo menina. Você será minha nova governanta.
MAÍRA: - Meu Deus! Nem posso acreditar
DIVA: - Acredite amiga.
AUGUSTO: - Não estou lhe contratando por piedade, mas pelas boas referencias que a Diva me passou sobre você.
MAÍRA: - Tenho certeza que o senhor não irá se arrepender.
AUGUSTO: - Sei que não.
DIVA: - E quando Maíra poderá começar?
AUGUSTO: - Minha governanta fica até semana que vem.
MAÍRA: - Por mim começaria hoje...
AUGUSTO: - Sabe que é uma boa ideia. Assim, Laura lhe passa todo serviço.
MAÍRA: - Ótimo!
DIVA: - Então, Maíra... Está em boa mão.
MAÍRA: - Obrigada amiga! Obrigada.
DIVA: - Você merece.
MAÍRA: - E você será madrinha do meu filho.
DIVA: - Madrinha eu?
MAÍRA: - É. Aceita?
DIVA: - Claro.
MAÍRA: - Desculpa senhor.
AUGUSTO: - Não seja por isso. Quanto a seu filho Maíra, pode trazê-lo pra ficar perto de você. Afinal, esta casa é tão grande, tem tanto espaço. Uma criança aqui só traria alegrias.
MAÍRA: - Nem posso acreditar.
AUGUSTO: - Pois acredite.
DIVA: - O senhor é muito generoso.
MAÍRA: - Então, vou buscar meu filho...
AUGUSTO: - Fique a vontade.
MAÍRA: - Obrigada senhor. Obrigada! Com licença.
DIVA: - Com licença senhor.
AUGUSTO: - Fiquem a vontade.
CENA XVI
MAÍRA: - E nesta rua. Aquela casa. É naquela casa que ela mora. É lá que meu filho está.
DIVA: - Então vamos...
MAÍRA: - De casa... De casa...
SENHORA: - Pois não?
MAÍRA: - Dona Consuelo? Preciso falar com Dona Consuelo.
SENHORA: - Não conheço nenhuma Consuelo.
MAÍRA: - Como não!? Disse-me que morava aqui.
SENHORA: - Sinto muito... Mas moro aqui há uns dez anos.
DIVA: - A senhora tem certeza que não conhece Dona Consuelo?
SENHORA: - A mais absoluta. Conheço todo mundo nesta rua. E aqui não mora nenhuma Consuelo.
MAÍRA: - (Histérica) Meu filho... Meu filho? Meu filho, Diva? Onde está meu filho?
DIVA: - Oh, minha amiga! Está tal de Consuelo te enganou. Se é que se chama mesmo Consuelo.
MAÍRA: - Ela sequestrou meu filho, Diva.
DIVA: - Então não devemos perder tempo... Vamos à polícia.
MAÍRA: - Vamos.
CENA XVII
DIVA: - Calma minha amiga.
MAÍRA: - Aquela mulher... Sequestrou meu filho.
DIVA: - A polícia está a procura. Logo irá localiza-la.
MAÍRA: - Estou sentindo um aperto no coração... Uma sensação ruim...
DIVA: - Está nervosa. Tome, beba esta água com açúcar.
MAÍRA: - E agora, que farei?
DIVA: - Não nada o que fazer, se não esperar.
MAÍRA: - Não.
DIVA: - Hei, onde vai?
MAÍRA: - Vou procurar meu filho.
DIVA: - Espera. Esta louca?
MAÍRA: - Sim estou. É meu filho, Diva. Meu filhinho... Quero meu filho!
DIVA: - Ficar andando por ai sem destino, não vai ajudar...
MAÍRA: - Ficar aqui parada também não. (Sai)
DIVA: - Maíra... Oh, meu Deus! Que destino cruel!
CENA XVIII
AUGUSTO: - Sinto muito.
MAÍRA: - A polícia fez o que pode. Mas não tem uma só pista.
AUGUSTO: - Posso pagar um investigador...
MAÍRA: - O senhor faria isto por mim?
AUGUSTO: - Claro.
MAÍRA: - O senhor pode descontar do meu salário...
AUGUSTO: - Que isso Maíra. O lugar de um filho, é ao lado da mãe.
MAÍRA: - Não devia ter entregue meu filho a um estranha...
AUGUSTO: - Fez o que precisava. A necessidade lhe obrigou a tomar essa atitude.
MAÍRA: - Por que Deus é tão cruel comigo?! Ah, perdão... Não devia lhe incomodar com meus problemas.
AUGUSTO: - Minha querida. Seus problemas são também meus, afinal, você também mora nesta casa.
MAÍRA: - O senhor é tão bom.
AUGUSTO: - Posso lhe fazer uma proposta?
MAÍRA: - Proposta?
AUGUSTO: - É...
MAÍRA: - Claro.
AUGUSTO: - Como você sabe, sou viúvo... Não tenho filhos... E gostaria que você se casasse comigo.
MAÍRA: - Como é que é?
AUGUSTO: - Calma, deixa eu te explicar...
MAÍRA: - Mas não posso me casar com o senhor...
AUGUSTO: - Sou velho demais não é?
MAÍRA: - Não... Não é isso. Senhor Augusto, me sinto muito honrada com seu pedido. Mas não podemos nos casar...
AUGUSTO: - Por que não? Sou livre. E você também.
MAÍRA: - Mas não o amo. Não seria honesta.
AUGUSTO: - Já está sendo honesta. Casa-se comigo e seja minha companheira.
MAÍRA: - Sinto muito, mas não posso.
AUGUSTO: - Seja minha esposa apenas no papel. E no dia a dia uma amiga querida. Alguém que eu possa cuidar...
MAÍRA: - Obrigada. Pra ser amiga, não precisamos casar.
AUGUSTO: - Quero que seja minha herdeira...
MAÍRA: - Herdeira eu?
AUGUSTO: - É. Você.
MAÍRA: - Mas por que eu?
AUGUSTO: - Por que não você?
MAÍRA: - Não sei se não mereço isso...
AUGUSTO: - Sei que merece. Isso e muito mais. Pense nisso. Agora vamos providenciar um investigador pra procurar seu filho. (Saem)
CENA XIX
CONSTANZA: - Onde estava?
DIVA: - Perdão senhora...
CONSTANZA: - Estou aqui a horas lhe procurando e ninguém sabe do seu paradeiro.
DIVA: - Precisei dar uma saída.
CONSTANZA: - Por acaso esteve com aquela empregadinha que diz ter um filho de Luís Alberto?
DIVA: - Não senhora. É minha tia... Não está bem... Então...
CONSTANZA: - Espero que não esteja mentindo.
DIVA: - Não... (cruza os dedos) Juro senhora!
CONSTANZA: - Tenho que descobrir onde se enfiou esta... Mulherzinha insolente.
DIVA: - Perdão, senhora... Mas por que tanto ódio. Afinal, esta criança é seu neto.
CONSTANZA: - Neto? Então é um menino?
DIVA: - Não sei. É só um modo de falar.
CONSTANZA: - Tenho que encontrar essa criança...
DIVA: - A senhora irá reconhecer seu neto quando o encontrar?
CONSTANZA: - Não... Essa criança nunca vai desejar ter nascido.
DIVA: - Cruz credo! É só um anjinho enviado por Deus.
CONSTANZA: - É um demônio que veio pra usurpar minha fortuna. Essa empregadinha não passa de uma caçadora de fortunas, enganou meu filho aplicando o golpe da barriga.
DIVA: - A senhora está enganada.
CONSTANZA: - Esta defendendo aquela oportunista Diva?
DIVA: - Não senhora.
CONSTANZA: - Acho bom. Agora me sirva um chá.
DIVA: - Sim senhora. Com licença. (Sai)
CONSTANZA: - Tolinha! Pensa que me engana... Vai me levar aquela mulher e a este bastardinho. (Sai)
CENA XX
MAÍRA: - Diva...
DIVA: - Está louca? Que faz aqui?
MAÍRA: - Precisava falar com você.
DIVA: - É loucura... Não percebe? A bruaca hoje está com o cão no coro.
MAÍRA: - Conta uma novidade! Essa aí é o diabo em forma de gente!
DIVA: - Ela te odeia amiga. Fez ameaças até a teu filho...
MAÍRA: - Que tipo de ameaças?
DIVA: - Deseja-o morto.
MAÍRA: - Meus Deus! Como alguém pode ser tão cruel?
DIVA: - Você não sabe da missa um terço...
MAÍRA: - Augusto... Me pediu em casamento.
DIVA: - E você aceitou, é claro!
MAÍRA: - Não...
DIVA: - Como não? Esta louca?
MAÍRA: - É que...
DIVA: - Para... Isso só acontece uma vez a cada século. E você foi escolhida. A vida esta lhe dando uma chance...
MAÍRA: - Eu sei... Mas não o amo.
DIVA: - Amor? Você viu o que o amor lhe trouxe. Só tristezas e sofrimentos.
MAÍRA: - Não seria justo me casar só porque Augusto é rico...
DIVA: - Não é justo você jogar sua única chance fora. Amiga, está sua tábua de salvação.
MAÍRA: - Que está dizendo?
DIVA: - Casada com doutor Augusto, a megera da Constaza não poderá lhe atingir. E também precisa encontrar teu filho...
MAÍRA: - Que tem haver meu filho com isto?
DIVA: - Acha que encontrara seu filho com facilidade se não tiver dinheiro? Esta mulher deve está longe com seu filho. E o dinheiro irá lhe ajudar nesta busca.
MAÍRA: - Tem razão.
DIVA: - Minha querida. Doutor Augusto é inteligente, um homem vivido, sabe que você não está apaixonada por ele... Sendo assim, não está o enganando. Maíra, não jogue no lixo esta oportunidade. As vezes a sorte não bate na mesma porta duas vezes.
MAÍRA: - Preciso ir antes que a megera me perceba aqui.
DIVA: - Ih! O chá? Vou ouvir um monte.
MAÍRA: - Obrigada por me ouvi. (Abraça)
DIVA: - Ah, minha querida! Estarei sempre aqui. (Saindo)
Maíra... (Para) Dê uma chance a felicidade. (Sai)
FIM DO PRIMEIRO ATO
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