maio 16, 2012

DIREITO DE VIVER (TEATRO)


DIREITO DE VIVER
De: Marcondys França
PERSONAGENS:
MAÍRA
EVALDO                     (Pai de Maíra)
BERNADETE              (Mãe de Maíra)
CONSUELO                (Florista)
CRISTINA                   (Filha de Consuelo)
LUIS ROBERTO         (Filho de Maíra criado por Consuelo)
LISETE                        (Empregada de confiança de Maíra)
LUIS ALBERTO
CONSTANZA              (Mãe de Luís Alberto)
DIVA                            (Empregada de Constanza)
DR. AUGUSTO
FABRÍCIO                   (Filho de Diva)

SEGUNDO ATO
CENA I
(Augusto entra em cena feliz com um envelope na mão)
AUGUSTO: - Bia...
BIA: - Senhor?
AUGUSTO: - Maíra, onde esta?
BIA: - Saiu senhor.
AUGUSTO: - Disse onde iria?
BIA: - Não senhor.
AUGUSTO: - Que pena!
BIA: - Mas acho que já deve está voltando. Faz algum tempo que saiu...
AUGUSTO: - Desejava tanto encontra-la.
BIA: - O senhor quer que eu lhe prepare um drinque?
AUGUSTO: - Não. Obrigado Bia. Embora hoje eu deseje comemorar.
BIA: - Comemorar?
AUGUSTO: - É. Depois de vinte anos, tenho em minhas mãos algo que mudará completamente a nossa vida.
BIA: - Se é uma boa notícia... Que seja bem vinda a esta casa então.
AUGUSTO: - Depois de vinte anos... Vou poder proporcionar a minha querida Maíra a tão esperada felicidade... (Sente uma pontada no coração)
AUGUSTO: - Ai meu Deus! (Cai)
BIA: - Que foi? Seu Augusto... O senhor esta bem?
AUGUSTO: - Não...
BIA: - Ai meu Deus! O senhor está ficando pálido. Senhor... (Desespero) Senhor... Meu Deus! Ai... Não faz isso comigo, não.
MAÍRA: - Bia?
BIA: - Senhora...
MAÍRA: - Que está acontecendo aqui?
BIA: - È o senhor Augusto.
MAÍRA: - Que foi?
BIA: - Não sei. Deu um troço nele e desabou...
AUGUSTO: - Maíra...?
MAÍRA: - Sim, meu querido.
BIA: - Que faço senhora?
MAÍRA: - Não fique ai feito uma estátua! Chame uma ambulância.
BIA: - Sim senhora
AUGUSTO: - Maíra...
MAÍRA: - Calma meu querido, tudo vai ficar bem...
AUGUSTO: - Maíra... O envelope...
MAÍRA: - Não se esforce tanto! Logo a ambulância estará aqui.
AUGUSTO: - Chegou a minha hora.
MAÍRA: - Não diga bobagem.
BIA: - Já estão vindo.
MAÍRA: - Graças a Deus!
AUGUSTO: - Quero que saiba...
MAÍRA: - Psiu! Não se esforce... Onde estão que não chegam?
BIA: - Calma senhora!
MAÍRA: - Como posso ter calma? Cada minuto que perdemos...
AUGUSTO: - Maíra?
MAÍRA: - Estou aqui.
AUGUSTO: - Sempre te amei...
MAÍRA: - Sei disso meu querido.
AUGUSTO: - Você me fez um homem muito feliz...
MAÍRA: - Não fale assim. Não fale como estivesse despedindo-se de mim.
AUGUSTO: - Foi Deus que a pos em minha vida. Você me trouxe alegria devolvendo-me a razão de viver.
MAÍRA: - Não meu querido. Você é que foi, é e sempre será o anjo que veio pra me proteger. E por isso eu te ordeno que aguente firme.
AUGUSTO: - Eu... Consegui...
MAÍRA: - O que?
AUGUSTO: - Seu filho...
MAÍRA: - Meu filho? (Piora)
BIA: -
AUGUSTO: - Seu filho...
MAÍRA: - Psiu! Calma... Depois... Você... (Augusto falece no colo de Maíra)
(Piora)
MAÍRA: - Augusto? Augusto... (Desespero) Não! Não...
BIA: - Senhora... Está morto. Seu Augusto, esta morto. Sinto muito. Não há o que fazer.
MAÍRA: - Não pode ser. Isso não pode está acontecendo. Meus Deus! Por que? Por que ele? Augusto sempre foi um homem tão bom.
BIA: - Venha senhora. Não há mais o que fazer. Logo os paramédicos chegarão. Enquanto isso, vou lhe preparar um calmante.
MAÍRA: - Não. Vou ficar aqui, ao lado dele. É o mínimo que posso fazer por ele neste momento. (Coloca-o em seu colo e caricia seus cabelos carinhosamente) Meu querido... Adeus! Você foi a melhor pessoa que conheci. (Barulho de ambulância. Apagam-se as luzes)

CENA II
 (Entram Luís Alberto, Cristina e Consuelo)
LUIS ALBERTO: - Vamos mãe...
CRISTINA: - Desse jeito vamos chegar no final da festa!
CONSUELO: - Calma crianças. Não quero chegar feito uma marmota! Afinal, hoje é um dia muito especial pra você meu filho.
LUIS ALBERTO: - De qualquer jeito você é linda mãe.
CONSUELO: - Nossa! Olha que eu acredito.
CRISTINA: - Concordo com meu irmão. Você está maravilhosa!
CONSUELO: - Opinião de filhos não vale.
LUIS ALBERTO: - Posso saber por quê?
CONSUELO: - Jamais vocês me diriam se estivesse feia.
CRISTINA: - Querendo ganhar mais elogios!
LUIS ALBERTO: - Mãe... Estou tão feliz de poder compartilhar com vocês, minha família, este dia tão especial.
CONSUELO: - Você merece, meu filho.
LUIS ALBERTO: - Se não fosse a senhora... Jamais teria conseguido.
CONSUELO: - Filho... Este é o resultado dos seus esforços. Sua dedicação lhe trouxe aqui.
CRISTINA: - Vamos parar com essa rasgação de seda... Assim não vamos chegar a tempo de vê meu querido irmão receber o tão desejado canudo.
LUIS ALBERTO: - Meninas! Então vamos... Damas? (Oferece os braços e saem)

CENA III
(Maíra está sentada, abatida veste preto. Entra Lisete com uma bandeja)
BIA: - Senhora...
MAÍRA: - Desculpe-me Bia. Não percebi sua presença.
BIA: - Trouxe um lanchinho.
MAÍRA: - Obrigada! Mas vamos deixar para uma outra hora.
BIA: - Senhora, precisa se alimentar.
MAÍRA: - Não sinto vontade.
BIA: - Se continuar assim ficará doente.
MAÍRA: - Por que tem que ser assim?
BIA: - Não temos como impedir a vontade de Deus.
MAÍRA: - Toda minha vida é uma seqüência de desgraças.
BIA: - Não diga isso senhora. Deus sabe o que faz. Não cai uma só folha que não seja pela vontade de Dele.
MAÍRA: - Não entendo. Por que Deus me tirou Augusto?
BIA: - Chegou a hora dele senhora. E quando chega a hora, temos que ir.
MAÍRA: - Por que ele e não eu?
BIA: - Não era seu momento. Seu marido está em um bom lugar.
MAÍRA: - São tantas perdas...
BIA: - Muitos ganhos também. A senhora mesmo me contou o quanto sofreu. Mas Deus colocou em seu caminho doutor Augusto e sua vida mudou.
MAÍRA: - Que adianta todo esse dinheiro se o vazio que me invade a alma é imensa?
BIA: - Não diga isso!
MAÍRA: - Perdi meu filho. Nunca mais o vi. Nem sei como ele é... Meu maior desejo é encontrar meu filho e abraçá-lo.
BIA: - Ninguém melhor que eu sabe disso.
MAÍRA: - Meu pai nunca me perdôo, morreu de desgosto. Minha mãe me tem como morta e agora Deus me tira o homem que amo, a única pessoa que foi generosa comigo.
BIA: - Ele se foi. Mas a vida continua. E seu sonho de encontrar esse seu filho? Vai desistir?
MAÍRA: - Tem razão... Preciso reagir. Encontrar meu filho é minha motivação para viver.
BIA: - Beba ao menos o suco.
MAÍRA: - Obrigada! (Bebe. Se Levanta)
BIA: - Vai sair?
MAÍRA: - Preciso respirar um pouco.
BIA: - Senhora... Seu Augusto, antes de morrer... Disse que tinha algo a lhe dizer, e que isto irá lhe trazer muita alegria.
MAÍRA: - E o que era?
BIA: - Isso eu não sei não senhora... Mas pelo que percebi, tem a haver com este envelope.
MAÍRA: - Um envelope? Que será?
BIA: - Abra senhora...
MAÍRA: - (Abre) Ah, meus Deus! (Emoção) Bia... É o endereço. Augusto encontrou meu filho.
BIA: - Que bom senhora! (Se abraçam)
MAÍRA: - Meu Deus! Que felicidade.
BIA: - E agora, que vai fazer?
MAÍRA: - Estranho... Esperei tanto por este momento, e agora não sei o que fazer.
BIA: - É... Mesmo porque a senhora precisa chegar com cuidado...
MAÍRA: - Tem razão. Por mais que eu seja a mãe dele, meu filho não me conhece. Preciso pensar... Bia, peça pra tirar meu carro da garagem.
BIA: - Mas pra onde vai assim?
MAÍRA: - Vou procurar a Diva. Quem sabe ela não pode me ajudar.
BIA: - Claro senhora. Com licença.
MAÍRA: - Ah, meu filho! Meu bebe... Hoje deve está um homem. (Sai)

CENA III
CONSUELO: - Não vejo a hora de chegar em casa, meus pés estão me matando.
CRISTINA: - Espera. Gente! Esqueci minha bolsa...
CONSUELO: - Ah, meu Deus! Então vamos voltar!
CRISTINA: - Mas a senhora disse que seus pés...
CONSUELO: - Nada que não consiga suportar.
LUIS ROBERTO: - Se não se importam vou esperar aqui. Confesso que meus pés também estão me matando.
CRISTINA: - Não nos importamos. Vamos mãe... (Saem)
(Entra Maíra e senta-se ao lado de Luis Alberto)
LUIS ROBERTO: - Aceita? (Dar um lenço)
MAÍRA: - Obrigada!
LUIS ROBERTO - A senhora está bem?
MAÍRA: - Não se preocupe. Vai passar.
LUIS ROBERTO - Posso lhe ajudar?
MAÍRA: - Infelizmente não.
LUIS ROBERTO - Sinto muito.
MAÍRA: - Não quero lhe incomodar.
LUIS ROBERTO - Sou bom ouvinte.
MAÍRA: - Não é uma boa história.
LUIS ROBERTO - Só pelo fato de ser uma história já merece minha atenção.
MAÍRA: - Quem sabe em, um, outro momento.
LUIS ROBERTO - Isto quer dizer que lhe verei outra vez. Com todo respeito.
MAÍRA: - Quem sabe. Tudo é possível.
LUIS ROBERTO - Engraçado... Tenho a impressão que já nos conhecemos.
MAÍRA: - Também tive esta impressão. Mas creio que seja apenas uma coincidência.
LUIS ROBERTO - Perdão. Mas não acredito em coincidências.
(Entra Consuelo e Cristina)
CONSUELO: - Luís Alberto, vamos...
LUIS ROBERTO - Ah, essa é...?
MAÍRA: - Maíra.
CONSUELO: - Maíra?
MAÍRA: - Consuelo!
LUIS ROBERTO - Vocês se conhecem?
MAÍRA: - Meu Deus! Esperei tanto por esse momento.
CONSUELO: - Está me confundindo senhora.
MAÍRA: - Não. Tenho certeza que é você quem tanto procurava.
CONSUELO: - Sinto muito. Mas não sou quem pensa.
MAÍRA: - Meu filho?
CONSUELO: - Não diga uma só palavra. Estás louca.
LUIS ROBERTO - Mãe!
CONSUELO: - Fique longe dos meus filhos.
MAÍRA: - E meu filho? Onde está? Por favor... Onde está meu filho?
CONSUELO: - Não sei do que está falando.
MAÍRA: - Por favor... Me diga! Onde está meu filho?
CRISTINA: - Mãe o que está acontecendo? Conhece essa mulher?
CONSUELO: - Não. Nunca há vi antes. É uma louca. Louca! Vamos. (Sai com Cristina)
LUIS ROBERTO - Senhora, Este é meu cartão.
CONSUELO: - Vamos Luis Alberto. (Saem)
MAÍRA: - Meu filho! Meu Deus! É meu filho. Posso sentir. Obrigado Deus! Obrigado.
CENA VII
(Entra Luis Alberto Consuelo e Cristina)
LUIS ROBERTO - Vou tomar um banho. (Sai)
CRISTINA: - Mãe...
CONSUELO: - Se for falar daquela louca é melhor desistir.
CRISTINA: - Por que está com tanto medo?
CONSUELO: - Medo? Eu? Do que teria medo?
CRISTINA: - Aquela mulher não me parecia louca.
CONSUELO: - Vamos esquecer essa história.
CRISTINA: - Por que? Nunca teve segredos conosco.
CONSUELO: - Não há segredos. Não sei quem é aquela mulher. (Chora)
CRISTINA: - Mãe!
CONSUELO: - Não posso com isso!
CRISTINA: - Divida comigo. Será mais fácil.
CONSUELO: - Aquela mulher tem o poder de destruir nossa família.
CRISTINA: - Como mãe?
CONSUELO: - Se o que guardei durante vinte anos for revelado... Eu não suportarei.
CRISTINA: - Ela falou de um filho. Que filho é esse?
CONSUELO: - Há vinte anos atrás me entregou o seu filho.
CRISTINA: - Luis Alberto não é seu filho?
CONSUELO: - É. Sempre foi e sempre será.
CRISTINA: - Ela dele que ela estava falando, não é?
CONSUELO: - Por favor, não vamos falar disso agora. Teu irmão não pode saber dessa história. Me prometa que não vai comentar esse assunto com ele.
CRISTINA: - Mãe, ele tem o direito de saber.
CONSUELO: - Saber o que? Que foi abandonado por aquela mulher? Entregue a uma estranha? E se eu não fosse quem sou? Se eu fosse uma bandida, mau caráter?
CRISTINA: - Mesmo assim. É direito dele saber!
CONSUELO: - Você vai me prometer que não vai comentar este assunto perto dele.
CRISTINA: - Tá bom. Prometo! Mas depois vamos continuar esta conversa. (Saem)
CENA VII
(Entra Maíra)
MAÍRA: - Bia... Bia?
BIA: - Que foi senhora?
MAÍRA: - Meu filho.
BIA: - Que tem seu filho.
MAÍRA: - Encontrei meu filho.
BIA: - Graças a Deus! Como foi isso senhora?
MAÍRA: - Um milagre! Por um milagre. Estive lado a lado com ele.
BIA: - Como sabe que é seu filho?
MAÍRA: - Desde o começo senti. Mas, só tive a certeza quando reencontrei aquela mulher.
BIA: - A Consuelo?
MAÍRA: - É. Consuelo. A mulher que esteve com meu filho todos estes anos. E ele é lindo.
BIA: - E onde está ele senhora?
MAÍRA: - Aqui está o endereço. (Mostra o cartão)
BIA: - Então ele já sabe.
MAÍRA: - Ainda não. Mas agora tenho o endereço e não mais o perderei.
BIA: - Que bom senhora. Mas a outra concorda em contar a verdade?
MAÍRA: - Acredito que não. Mas vou procurá-la. Sou mãe. Tenho o direito.
BIA: - Tem que ir com cuidado. Talvez seu filho não conheça a verdadeira história da vida dele.
MAÍRA: - Tem razão. Devo me aproximar aos poucos. Por favor Bia, prepare um banho bem relaxante.
BIA: - Sim senhora. (Sai)
MAÍRA: - Meu filho! Meu filho... (Beija o cartão)

CENA VIII
LUIS ROBERTO – Cristina, o que há com nossa mãe?
CRISTINA: - Como assim? Não entendi.
LUIS ROBERTO – Não percebeu que esta agindo de modo estranho?
CRISTINA: - Não mano. Acho que é impressão sua.
LUIS ROBERTO – Será que você não esta me escondendo nada?
CRISTINA: - Eu? O que estaria escondendo de você?
LUIS ROBERTO – Sei lá.
CRISTINA: - Acho que você é que está estranho. Nossa mãe esta como sempre. Só pensa em trabalho.
LUIS ROBERTO – Já disse que quando eu começar advogar nossa mãe irá se aposentar.
CRISTINA: - Ih! Então a coitadinha vai precisar trabalhar mais uns dez anos.
LUIS ROBERTO – Tenho uma entrevista.
CRISTINA: - Não diga.
LUIS ROBERTO – E se quer saber, esta vaga é minha!
CRISTINA: - é assim que se fala.
LUIS ROBERTO – Bom maninha... Fui!
CRISTINA: - Boa sorte!
LUIS ROBERTO – Obrigado. (Sai)
CRISTINA: - Acordou?
CONSUELO: - Estou com minha cabeça estourando. Não preguei os olhos!
CRISTINA: - Beto está desconfiado.
CONSUELO: - Escuta aqui, teu irmão, não deve e não pode saber dessa história.
CRISTINA: - Mãe... É melhor a senhora conta-lhe a verdade.
CONSUELO: - Pra que? Pra destruir a vida dele?
CRISTINA: - Já parou pra pensar que ele gostaria de conhecer a história da vida dele. É um direito dele.
CONSUELO: - Pare com isso! O que quer? Me torturar, é isso?
CRISTINA: - Oh, mãe... Calma. Perdão.
CONSUELO: - Me prometa que não vai mais tocar neste assunto.
CRISTINA: - Tá bom mãe. Eu prometo.
CONSUELO: - Melhor assim.
CRISTINA: - Agora, tenho que ir. Beijos!
CONSUELO: - Vai com Deus, filha.
CENA X
MAÍRA: - O que faz aqui?
CONSTANZA: - Quanto tempo não?
MAÍRA: - A senhora não é bem vinda a esta casa...
LISETE: - Perdão senhora, se soubesse...
MAÍRA: - Tudo bem Lisete. Deixe-nos a sós.
CONSTANZA: - Obrigada.
MAÍRA: - Sabe que não é bem vinda a esta casa...
CONSTANZA: - É... Tenho que reconhecer. Se deu bem.
MAÍRA: - Diga logo o que deseja.
CONSTANZA: - Maíra... Vim conhecer meu neto.
MAÍRA: - Conhecer seu neto? Que nato? O neto que você insistiu que eu abortasse?
CONSTANZA: - Sinto muito.
MAÍRA: - Não. A senhora não sabe um terço do mal que me causou.
CONSTANZA: - É passado. Pelo que vejo estás bem.
MAÍRA: - Bem estaria se não tivesse me separado do meu filho há vinte anos atrás.
CONSTANZA: - Meu neto não mora com você?
MAÍRA: - A senhora não tem neto. Meu filho não é seu neto.
CONSTANZA: - Você não sabe o quanto me arrependo.
MAÍRA: - Arrependimentos não cicatrizam as dores do passado.
CONSTANZA: - Vou morrer...
MAÍRA: - Todos morremos um dia.
CONSTANZA: - O câncer está me matando.
MAÍRA: - Gostaria de dizer-lhe que sinto muito. Mas não posso. Não sou fingida!
CONSTANZA: - Não lhe culpo. Há muita mágoa em teu coração.
MAÍRA: - Não me venha com essa... Não adianta dar uma de pobre arrependida. Não acredito na senhora. Então diga logo por que veio.
CONSTANZA: - Tudo bem. É a verdade que deseja, não é? Então... Perdi meu filho. Luis Alberto...
MAÍRA: - Luis Alberto morreu?
CONSTANZA: - Há quinze anos. Desde então minha vida terminou. Nunca superei a perda...
MAÍRA: - E o que quer de mim?
CONSTANZA: - Não me deixou nenhum neto com a mulher com quem se casou.
MAÍRA: - Então, provavelmente a senhora lembrou-se do filho bastardo da empregadinha que a senhora enxotou da sua casa.
CONSTANZA: - Meu único herdeiro.
MAÍRA: - Meu filho não precisa do seu dinheiro sujo.
CONSTANZA: - Não seja egoísta. É direito dele.
MAÍRA: - Não precisamos do seu dinheiro. Perdeu seu tempo. Meu filho e eu nos separamos a vinte anos atrás e desde então, nunca mais soube notícias.
CONSTANZA: - Então... Você não sabe onde está meu neto?
MAÍRA: - Que ironia, não é? A senhora desejou tanto que ele sumisse...
CONSTANZA: - Lamentável!
MAÍRA: - Mesmo com tanto dor por não tê-lo aqui ao meu lado. Sabe que em vinte anos, nunca senti tanta felicidade de dizer a alguém que perdi meu filho.
CONSTANZA: - Também o que esperar de uma irresponsável...
MAÍRA: - Não admito que me ofenda dentro de minha casa. Dona Constaza, é com muita honra que hoje a coloco para fora da minha casa. Fora! Rua... Rua.
CONSTANZA: - Você pode ter toda fortuna do mundo. Mas nunca deixará de ser o que sempre foi, uma empregadinha! (Sai)
MAÍRA: - Diabo de saia!
CENA XI
FABRÍCIO: - Agora és um doutor!
LUIS ROBERTO: - Ainda sem trabalho.
FABRÍCIO: - Mas pelo que me disse, as coisas estão no jeito pra dar certo.
LUIS ROBERTO: - É... Estão se acertando.
FABRÍCIO: - Mas sinto que estás tanto quanto  aéreo...
LUIS ROBERTO: - E estou.
FABRÍCIO: - Aposto que tem dedo de mulher.
LUIS ROBERTO: - Não consigo parar de pensar naquela mulher.
FABRÍCIO: - Hum! O jovem doutor apaixonado.
LUIS ROBERTO: - Não. Apenas perplexo.
FABRÍCIO: - É uma nova forma de interpretar uma possível paixão?
LUIS ROBERTO: - Sabe quando você vê uma pessoa pela primeira vez, e parece que você já a conhece a anos?
FABRÍCIO: - Amores de vidas passadas!
LUIS ROBERTO: - Não brinque. É sério.
FABRÍCIO: - Quem é esta deusa que lhe enfeitiçou?
LUIS ROBERTO: - Feitiço não. Apenas de deixou intrigado.
FABRÍCIO: - Quem é esta jovem dama?
LUIS ROBERTO: - Não é tão jovem assim.
FABRÍCIO: - Hum! Dizem que panela velha é que faz comida boa.
LUIS ROBERTO: - Você... Sempre levando as coisas pro lado da maldade.
FABRÍCIO: - Não estas atraído por essa... Jovem senhora?
LUIS ROBERTO: - Estou confuso.
FABRÍCIO: - Comum na nossa idade. Que deseja no máximo se divertir.
LUIS ROBERTO: - É tem razão
FABRÍCIO: - Até que enfim! Ao menos uma vez me dar razão. Mas por hora tenho uma ideia melhor... Vamos comemorar a tua formatura. Doutor Luís Roberto, ilustríssimo advogada. Futuro maior jurista do país.
LUIS ROBERTO: - Que Deus lhe ouça meu amigo! (Saem)

CENA XII
CONSUELO: - Você?
MAÍRA: - Posso entrar?
CONSUELO: - Não temos nada para conversar. Deixe-me em paz.
MAÍRA: - Esperei vinte anos por esse momento.
CONSUELO: - Fique longe da minha família.
MAÍRA: - Meu filho.
CONSUELO: - Teu filho? Que filho?
MAÍRA: - A criança com quem você desapareceu.
CONSUELO: - Ninguém vai acreditar numa história tão absurda dessas.
MAÍRA: - Luís Roberto é meu filho.
CONSUELO: - E como pretende provar?
MAÍRA: - Eu confiei em você naquele momento de desespero.
CONSUELO: - Que mãe confiaria a vida de seu filho nas mãos de uma estranha?
MAÍRA: - Farei o que for possível para ter meu filho de volta.
CONSUELO: - Luís Roberto é meu filho. Você entrou-lhe em meus braços. Eu o criei. Eu sou a única mãe que ele conhece.
MAÍRA: - Você foi cruel! Roubou de mim os melhores anos de vida que eu teria ao lado do meu filho...
CONSUELO: - Não... Eu dei a Luís Roberto que talvez você jamais seria capaz de dar-lhe. Amor!
MAÍRA: - Não diga uma sandice dessas! Entregar-lhe naquele momento foi um ato de amor.
CONSUELO: - Não. Foi covardia. Você foi covarde, omissa, negligente... E agora vinte anos depois que reparar seu erro destruindo a minha família?
MAÍRA: - Não. Eu só quero meu filho.
CONSUELO: - Não é seu filho. Entenda isto de uma vez... Você não tem um filho. Não há laço nenhum que a una a Luís Roberto.
MAÍRA: - Isto é ele que terá que decidir...
CONSUELO: - Não percebe que isto poderá destruir a vida dele. Por que esta fazendo isto conosco? Se ama mesmo Luís Roberto, fique longe dele, deixe-o continuar sendo feliz. Deixo-o viver a vida dele... Seguir o seu destino em paz...
MAÍRA: - Há vinte anos a senhora modificou o destino de nossas vidas e não vou deixa-la fazer isto outra vez.
CONSUELO: - Não. Você que alterou o destino de nossas vidas. E não tenho culpa pelo seu arrependimento. Agora por favor, saia da minha casa.
MAÍRA: - Luís Roberto saberá toda verdade.
CONSUELO: - E jamais lhe perdoará. Agora sai, e nunca mais volte a esta casa. (Maíra sai)
CENA XIII
DIVA: - Maíra?
LISETE: - Saiu.
DIVA: - Será que demora?
LISETE: - Não sei.
DIVA: - Ah, meu Deus! Logo hoje.
LISETE: - Algum problema, Diva?
DIVA: - Pra variar...
LISETE: - Posso ajudar.
DIVA: - Maíra vai precisar muito de nós.
LISETE: - Ai, ai! Que foi? Outra desgraça?
DIVA: - A mãe dela está nas ultimas...
LISETE: - Coitada de Dona Maíra!
DIVA: - Vinte anos que não vê a mãe...
LISETE: - Nossa!
DIVA: - Agora a mãe deseja vê-la antes de bater as botas.
LISETE: - Quem sabe não quer pedir perdão.
DIVA: - Não sei se eu perdoaria. Pelo que Dona Maíra me contou... A mãe foi omissa no momento que a coitadinha mais precisou.
LISETE: - Mas eu acho que deve perdoar. Guardar mágoas não faz bem. Dizem até que causa câncer. (Bate na boca três vezes e se benze) Ave Maria, ave Maria, Ave Maria!
DIVA: - O que Maíra vai decidir... Não sei. Mas seja lá qual decisão tomar vou apoiar.
LISETE: - Diva, bom será que ela vá vê a mãe. Se ela morrer e dona Maíra não for, mais tarde ela poderá se arrepender.
DIVA: - É... Vamos vê. Ate logo... Pede a Maíra pra me ligar com urgência.
LISETE: - Tudo bem... Darei o recado. (Sai)
CENA XIV
MAÍRA: - Mãe...
BERNADETE – Maíra, é você?
MAÍRA: - Sim sou eu.
BERNADETE – Minha filha... Chegue mais perto.
MAÍRA: - Oi mãe?
BERNADETE – Dei-me tua mão.
MAÍRA: - Que houve com a senhora, mãe?
BERNADETE – Estou morrendo filha.
MAÍRA: - Diga bobagem... A senhora ainda vai viver muito.
BERNADETE – Não filha. Sei que estou chegando ao fim.
MAÍRA: - A senhora é forte.
BERNADETE – Não filha. Sempre fui uma fraca. Nunca me perdoei por...
MAÍRA: - Não vamos falar disso...
BERNADETE – Esperei vinte anos...
MAÍRA: - Já passou mãe.
BERNADETE – Me perdoa filha?
MAÍRA: - Não sei se posso fazer isso mãe...
BERNADETE – Perdoa essa velha idiota que abriu mão da própria filha por medo.
MAÍRA: - Seu medo, sua covardia... Fez com que eu perdesse meu filho.
BERNADETE – Sinto muito.
MAÍRA: - Você podia ter ficado ao meu lado... Podia ter pedido pra ele parar... Mas não. Preferiu ficar ali, parada, calada, assistindo a tudo feito uma pedra.
BERNADETE – Perdão filha! Perdão...
MAÍRA: - Como posso perdoa-la, se a cada vez que fecho meus olhos aquela imagem me vem a cabeça como se fosso um pesadelo que se repete por todas as noites nestes vinte anos?
BERNADETE – Oh, minha filha! Se soubesse o quanto tenho sofrido.
MAÍRA: - Então não sofra mais. Saber que eu sou a causa deste teu sofrimento me faz sofrer.
BERNADETE – Ah, você... É tão ranzinza quanto teu pai!
MAÍRA: - Não me fale dele. Por favor, mãe.
BERNADETE – Minha filha... Tire este ódio do teu coração. Apesar de tudo, de tudo que fiz de errado, e do que deixei de fazer... Em todo esse tempo, eu nunca deixei de te amar.
MAÍRA: - Apesar da minha raiva, de toda essa mágoa mãe. Também nunca deixei de ama-la. Claro que nunca concordei com sua submissão ao papai, mas sabia que a senhora o amava e por isso aceitava calada todas suas barbaridades.
BERNADETE – Então perdoa a esta velha mãe...
MAÍRA: - Claro, mãe. Claro que lhe perdoo.
BERNADETE – Agora sim. Posso morrer em paz.
MAÍRA: - Não diga isso. Vou lhe pagar o melhor tratamento...
BERNADETE – Não. Poupe teu dinheiro minha filha. Minha doença está num estágio bem avançado, não tem mais jeito.
MAÍRA: - Terás tudo que for preciso para ter um maior conforto.
BERNADETE – Você virá me visitar?
MAÍRA: - Sim, mãe. Virei. Sua benção.
BERNADETE – Que Deus a proteja e abençoe, minha filha! (Bernadete beija a mão de Maíra, que lhe retribui com um beijo na testa. Bernadete dorme num sono profundo. Maíra chora, sai. Apaga-se as luzes)

CENA XV
CRISTINA: - Mãe?
CONSUELO: - Oh, filha!
CRISTINA: - Vim o mais rápido que pude.  Que foi? Me pareceu aflita.
CONSUELO: - Aquela mulher...
CRISTINA: - A mãe do Bebeto...
CONSUELO: - A mãe de Luís Roberto sou eu.
CRISTINA: - Desculpe-me. Fui infeliz em meu comentário. Cla ro! A senhora é a verdadeira mãe do Bebeto.
CONSUELO: - Esteve aqui.
CRISTINA: - E agora mãe?
CONSUELO: - Esta ameaçando contar tudo ao Luís Roberto.
CRISTINA: - E agora mãe?
CONSUELO: - Estou desesperada.
CRISTINA: - Não acha que chegou a hora de contar-lhe...
CONSUELO: - Não. Nunca. Teu irmão não pode conhecer esta história.
CRISTINA: - Mãe...
CONSUELO: - Cristina, não suportarei perder meu filho pra aquela mulher inconsequente.
CRISTINA: - Não acha que se ele tenha que saber, melhor será que seja através da senhora.
CONSUELO: - Teu irmão não irá saber...
CRISTINA: - Com esta mulher rondando a nossa casa... Uma hora dessas...
CONSUELO: - Ela não nos encontrará. Venderei esta casa e iremos para bem longe. Não vou perder meu filho pra esta mulher.
CRISTINA: - Já lhe passou pela cabeça que Bebeto é adulto que entenderá tudo que se passou? Desta forma não necessariamente irá morar com aquela senhora.
CONSUELO: - É rica. Jovem...
CRISTINA: - Meu irmão tem caráter.
CONSUELO: - Morreria só de pensar que eu preferiria ela a mim.
CRISTINA: - Oh, mãe! Isso não vai acontecer.
CONSUELO: - Vamos embora e pronto. Venderei esta casa e recomeçaremos a vida em outro lugar.
CRISTINA: - Mãe...
CONSUELO: - Esta decidido.

CENA XVI
DIVA: - Fique calma. Beba essa água.
MAÍRA: - Mesmo depois de tudo que aconteceu. Era minha mãe. Não deseja um fim como este...
DIVA: - Fez o que pode.
MAÍRA: - Mas no fundo nunca a perdoei.
DIVA: - Como não? Você custeou todo tratamento...
MAÍRA: - Isso é o de menos.
DIVA: - Foi até lá. Conversou com ela... Se fez presente.
MAÍRA: - Dizem que perdoar é esquecer e eu nunca consegui esquecer...
DIVA: - Isso não é verdade. Se for verdade, não há face da Terra um ser que consiga perdoar.
MAÍRA: - Minha mãe, morta!
DIVA: - Sinto muito minha amiga.
MAÍRA: - Será que morrerei sem o perdão do meu filho?
DIVA: - Maíra... Você não tem que perdão. Conhecemos está história, e nela você é a maior vítima.
MAÍRA: - Mas não é assim que meu filho poderá intender.
DIVA: - Tenha fé. Você sempre acreditou que um dia encontraria seu filho. Agora que o encontrou...
MAÍRA: - Posso ser apenas uma estranha pra ele.
DIVA: - Teu amor... Esse grande amor que trás em teu peito, esse amor de mãe... Irá te ajudar a conquistar o amor de seu filho.
MAÍRA: - E se isso não for possível?
DIVA: - Não perca a fé. Acredite!
MAÍRA: - Aquela mulher esta disposta a tudo pra que meu filho acredite que foi por mim abandonado.
DIVA: - Aproxime-se dele. E com cuidado, aos pouco, vai conquistando sua confiança.
MAÍRA: - Tem razão. Não devo ficar aqui lamentando. Logo agora que estou tão perto do que sempre almejei.
DIVA: - Isso mesmo! Agora sim. Está é Maíra que eu conheço.
MAÍRA: - Vou ligar pra Luís Roberto. Ele me deu cartão com telefone...
DIVA: - Isso mesmo amiga. Faça isso. Agora tenho que ir...
MAÍRA: - Obrigada por tudo.
DIVA: - Que isso! Se precisar... Sabe onde me encontrar. (Saem)

CENA XVI
LUIS ROBERTO: - Isso não esta certo!
CRISTINA: - Não julga a atitude de nossa mãe.
LUIS ROBERTO: - Vender nossa casa? Casa que conquistou com tanto trabalho? Ir pro interior? Que está havendo com nossa mãe?
CRISTINA: - Tem os motivos dela.
LUIS ROBERTO: - Que motivos são esses?
CRISTINA: - Talvez nossa mãe queira descansar.
LUIS ROBERTO: - Me parece esta fugindo de alguma coisa.
CRISTINA: - Impressão sua. A única fuga que nossa mãe pretende... É desta agitação da cidade grande.
LUIS ROBERTO: - Sei não... Desde do dia da minha formatura percebi que ela tem agido de forma estranha...
CRISTINA: - Impressão sua. Acredito que ela acredite que em uma cidade menor você tenha mais chance de se estabelecer profissionalmente.
LUIS ROBERTO: - Aqui as chances são maiores. Há mais possibilidades.
CRISTINA: - Meu irmão... Confie em nossa mãe. Ela só deseja o melhor para nós.
LUIS ROBERTO: - Sinto muito minha irmã. Mas se nossa mãe decidir partir... Creio que terei que escolher...
CRISTINA: - Está querendo dizer que não irá?
LUIS ROBERTO: - Preciso me estabelecer profissionalmente. E não há lugar melhor que este.
CRISTINA: - Isso há deixará muito triste.
LUIS ROBERTO: - Não a minha felicidade que deseja? Então entenderá.
CRISTINA: - É por sua felicidade que esta fazendo este sacrifício.
LUIS ROBERTO: - O que esta sabendo que eu não sei?
CRISTINA: - Nada. Apenas sei que tudo que nossa mãe faz, faz por nossa felicidade. Agora tenho que ir... Tchaú! (Sai)
LUIS ROBERTO: - Está acontecendo algo muito estranho aqui. Mas o que será?

CENA XVI
FABRÍCIO: - Mas que loucura mãe...Então depois de vinte anos madrinha conseguiu enfim localizar seu filho.
DIVA: - Pois é. O que parecia ser o passo mais difícil... Perto desta nova realidade agora é fichinha.
FABRÍCIO: - De um jeito ou de outro, ela terá que procura-lo e contar-lhe a verdade.
DIVA: - A mãe adotiva dele está disposta a envenenar a cabeça do filho contra sua verdadeira mãe.
FABRÍCIO: - Mas a verdade sempre prevalece.
DIVA: - Este caso é muito mais complicado que imagina.
FABRÍCIO: - Não entendo. Madrinha entregou o filho por necessidade, não foi?
DIVA: - Claro. Mas mesmo assim não deixa de ser visto como um abandono. O que todos vão pensar, mesmo diante de toda história, é que uma mãe passe o que passar jamais abandone seu filho.
FABRÍCIO: - Então, a mãe adotiva vai alegar que a madrinha quis se livrar do problema o entregando a uma estranha...
DIVA: - Exatamente.
FABRÍCIO: - Coitada da madrinha! Desde criança que acompanho esse sofrimento!
DIVA: - É meu filho... De um jeito ou de outro, não há pra onde fugir, a verdade tem que ser contada.
FABRÍCIO: - E qual o medo dela em procura-lo e contar esta verdade?
DIVA: - Ser rejeitada.
FABRÍCIO: - Mas esse é um risco que tem que correr.
DIVA: - Inevitável!
FABRÍCIO: - Diga a madrinha que o que precisar pode contar comigo.
DIVA: - Ah, filho! Que orgulho tenho de você.
FABRÍCIO: - Temos muito que agradecer. Se não fosse ela...
DIVA: - Nem sei o que seria de nós. Esta casa, sua faculdade...
FABRÍCIO: - Ela merece ser feliz.
DIVA: - Sempre generosa.
FABRÍCIO: - Bom, agora tenho que ir... Me deseje sorte. Tenho uma entrevista muito importante.
DIVA: - Boa sorte meu querido.
FABRÍCIO: - Beijo!
DIVA: - Vai com Deus!  (Saem)

CENA XVII

LUIS ALBERTO: - Bom dia senhora!
MAÌRA: - Bom dia.
LUIS ALBERTO: - Desculpe-me o atraso.
MAÌRA: - Tudo bem.
LUIS ALBERTO: - No telefone a senhora me pareceu aflita...
MAÌRA: - Sim, estava um pouco aflita.
LUIS ALBERTO: - É estranho...
MAÌRA: - O que?
LUIS ALBERTO: - Sempre que há vejo, é como já lhe conhecesse há muito tempo.
MAÌRA: - Mesmo?
LUIS ALBERTO: - É.
MAÍRA: - E isso é bom?
LUIS ALBERTO: - Talvez. Não sei bem... Não sou místico.
MAÍRA: - Quem sabe no passado já tivemos alguma relação... Parentesco.
LUIS ALBERTO: - Não... Não creio. Não acredito muito em superstições.
MAÌRA: - Por falar em passado... Me parece ter sido uma criança muito feliz.
LUIS ALBERTO: - E fui. Uma pestinha! Mas feliz. Minha mãe conta cada coisa que eu aprontava!
MAÍRA: - Deve amar muito sua mãe...
LUIS ALBERTO: - Uma mulher extraordinária! A senhora credita que nos criou simplesmente lavando roupas pra fora?
MAÍRA: - Acredito. Uma coisa não dá pra negar. O criou muito bem.
LUIS ALBERTO: - Somos muito unidos. Tenho muito orgulho de ter uma família como a minha.
MAÍRA: - E por uma hipótese você descobrisse que a tua mãe, este mulher, que a vida inteira acreditou ser sua mãe, não fosse sua mãe?
LUIS ALBERTO: - Impossível! Somos muito parecidos.
MAÍRA: - Num faz de conta. Só imagine...
LUIS ALBERTO: - É como minha vida não tivesse existido. De repente eu seria um ser que viveu uma vida de mentirinha. Acho que isso acabaria com minha vida. Já pensou... Não ser quem acredita que seja uma vida inteira?
MAÌRA: - É... Seria muito complicado!
LUIS ALBERTO: - Ficaria pinel Mas em que possa ajuda-la?
MAÍRA: - Há! É que meu falecido marido me deixou uns bens... E eu penso em vende-los...
LUIS ALBERTO: - Então o correto seria procurar um bom e confiável corretor de imóveis. Eu sou apenas um recém formado advogado.
MAÍRA: - É ai que entra seu trabalho. Quero fundar uma ONG...
LUIS ALBERTO: - Uma ONG?
MAÌRA: - Isso. Que dar apoio suporte a mães que perderam seus filhos...
LUIS ALBERTO: - É um projeto bonito. Audacioso, mas bonito!
MAÌRA: - E, eu preciso de alguém que me ajude nessa parte legal... Então pensei em você.
LUIS ALBERTO: - Me sinto lisonjeado. Mas sou apenas um recém saído da faculdade.
MAÍRA: - E eu uma sonhadora que deseja colocar em prática um desejo muito antigo.
LUIS ALBERTO: - por que a senhora que fazer isso?
MAÌRA: - Há vinte anos perdi um filho...
LUIS ALBERTO: - Sinto muito!
MAÌRA: - Não... Está vivo.
LUIS ALBERTO: - Há!
MAÌRA: - E esta ONG é a chance que tenho de tê-lo de volta.
LUIS ALBERTO: - Entendo.
MAÌRA: - Então, aceita?
LUIS ALBERTO: - Bom... O que dizer? Preciso do trabalho.
MAÌRA: - Não sabe o quanto fico feliz.
LUIS ALBERTO: - Obrigado senhora. Lhe agradeço a oportunidade e a confiança.
MAÍRA: - Eu que lhe sou grata por aceitar.
LUIS ALBERTO: - Então... Tenha um bom dia.
MAÍRA: - Obrigada! (Saem)
CENA XVII

CRISTINA: - Quem era?
FABRÍCIO: - Teu irmão... Arranjou em emprego.
CRISTINA: - Que maravilha!
FABRÍCIO: - vai trabalhar para uma ONG.
CRISTINA: - Uma ONG?
FABRÍCIO: - É... Que procura crianças desaparecidas.
CRISTINA: - Crianças desaparecidas...
FABRÍCIO: - Diz ele quem o convidou foi aquela senhora que ele encontrou no dia da festa de formatura...
CRISTINA: - Ah, não!
FABRÍCIO: - Que foi?
CRISTINA: - Não, nada... É que lembrei de uma coisa.
FABRÍCIO: - Algo que eu possa ajudar?
CRISTINA: - Infelizmente não.
FABRÍCIO: - Você ficou pálida assim de repente.
CRISTINA: - Impressão tua.
FABRÍCIO: - Não. Calma... Senta ai. Cristina o que está acontecendo?
CRISTINA: - Se essa mulher for quem estou pensando...
FABRÍCIO: - Qual o problema com esta mulher?
CRISTINA: - Bebeto, não pode se aproximar dela.
FABRÍCIO: - Por que?
CRISTINA: - Nada.
FABRÍCIO: - Calma! Confie em mim...
CRISTINA: - É uma longa história.
FABRÍCIO: - Tenho todo tempo do tempo.
CRISTINA: - Não posso. Não é um segredo meu. Se lhe conto. Traiu a confiança da minha mãe. Agora tenho que ir. (Sai)
FABRÍCIO: - Que loucura.

CENA XVIII
LUIS ALBERTO: - Mãe!
CONSUELO: - Hei, calma! Que euforia é esta?
LUIS ALBERTO: - É felicidade!
CONSUELO: - É? E qual o motivo desta felicidade?
LUIS ALBERTO: - Arrumei um emprego! Ué? Não vai ficar feliz pelo filhão?
CONSUELO: - Claro. Mas quanto a ir...
LUIS ALBERTO: - Mãe... Escuta, eu não jogar fora esta oportunidade. Se a senhora quiser ir pro interior... Posso fazer visitas...
CONSUELO: - Meu filho...
LUIS ALBERTO: - Não me impeça de ser feliz mãe. É minha vida. E este emprego caiu do céu. Dona Maíra...
CONSUELO: - Maíra?
LUIS ALBERTO: - É. A senhora conhece? Aquela senhora...
CONSUELO: - Não.
LUIS ALBERTO: - Me pareceu conhece-la.
CONSUELO: - Mas não há conheço. E quero que fique longe dela.
LUIS ALBERTO: - Por que? Qual seu medo? Tudo bem que apesar de ser alguns anos mais velha ela seja ainda atraente...
CONSUELO: - Não seja tolo. Não diga bobagens.
LUIS ALBERTO: - Tem medo que eu possa me apaixonar?
CRISTINA: - Mãe...
CONSUELO: - Oi filha.
CRISTINA: - Preciso falar com a senhora
CONSUELO: - Claro. Depois continuaremos essa conversa Luís Roberto.
LUIS ALBERTO: - Tá bom.
CRISTINA: - Já está sabendo
CONSUELO: - Já.
CRISTINA: - E agora?
CONSUELO: - Não sei.
CRISTINA: - Conte a verdade.
CONSUELO: - Não posso.
CRISTINA: - Uma dessas, ele saberá. E jamais irá lhe perdoar por esconder.
CONSUELO: - Isso é o que eu mais temo.
CRISTINA: - O circulo esta se fechando... Mãe, não tem como fugir. Conte a verdade.
CONSUELO: - Não vou perder meu filho pra esta mulher... Não vou! (Se abraçam e saem)
CENA IX
LISETE: - Nossa! Da gosto de vê... A senhora está tão animada.
MAÍRA: - Faz tempo que não me sentia assim...
LISETE: - Que bom senhora. A senhora merece.
MAÍRA: - Esperei tanto tempo por isso.
LISETE: - E eu não sei... Sou testemunha de parte de sua luta. Mas Deus é pai e não é padrasto.
MAÍRA: - É muita felicidade poder ter meu filho perto de mim.
LISETE: - Deve ser difícil pra senhora, não é? Ter seu filho ali, do seu ladinho... E não poder dizer nada.
MAÍRA: - Verdade. Mas só de está próxima dele... Já me basta.
LISETE: - Deve está um homenzarrão.
MAÍRA: - Não é por que é meu filho não... Mas é um belo pedaço de homem.
LISETE: - Diva disse que o pai era muito bonito.
MAÍRA: - Ah, não Lisete... Não vai querer acabar com meu dia. Não me fale daquele traste. Se não fosse por sua corvardia, eu e meu filho não teríamos nos separados.
LISETE: - É passado senhora. Esquece isso... Perdoe.
MAÍRA: - Tem razão. Ficar remoendo passado é sofrer duas vezes. E agora eu quero é ser feliz.
LISETE: - Está certa.
MAÍRA: - Sabe que me deu fome...
LISETE: - Ah, então vou lhe preparar um lanchinho bem caprichado.
MAÍRA: - Obrigada minha querida! (Sai Lisete)

CENA X
FABRÍCIO: - Ah, cara! Você tirou a sorte grande.
LUÍS ROBERTO: - Quem diria que o emprego iria bater em minha porta?!
FABRÍCIO: - Cara, você é o cara mais sortudo do mundo.
LUÍS ROBERTO: - Calma ai... Não é só sorte não... Vou ter que ralar pra caramba. Tenho que estudar tudo sobre ONG.
FABRÍCIO: - Então essa coroa deve está montada na grana.
LUÍS ROBERTO: - Isso é verdade... Mas como vou cuidar da parte jurídica dessa ONG, tenho que esta preparado. Afinal, não posso decepcionar...
FABRÍCIO: - Toma cuidado cara...
LUÍS ROBERTO: - Que está dizendo?
FABRÍCIO: - Vai acabar se apaixonando por essa coroa... Se é que já não está.
LUÍS ROBERTO: - Hei, para com isso! Mas respeito pra falar de dona Maíra.
FABRÍCIO: - Maíra?
LUÍS ROBERTO: - É Maíra. Por que essa cara de espanto?
FABRÍCIO: - Será?
LUÍS ROBERTO: - Será o que?
FABRÍCIO: - Que... Estamos falando da mesma pessoa?
LUÍS ROBERTO: - Não... Não vai me dizer que conhece dona Maíra?
FABRÍCIO: - Se for a mesma pessoa... Estamos falando da minha madrinha.
LUÍS ROBERTO: - Madrinha?
FABRÍCIO: - É. Minha Madrinha. Foi ela que custeou meus estudos do começo até o fim. Até a casa que temos foi graças a sua ajuda. Uma pessoa maravilhosa.
LUÍS ROBERTO: - Então essa senhora é gente fina.
FABRÍCIO: - Finíssima e de muito respeito. E ai de você se magoar a minha madrinha.
LUÍS ROBERTO: - Meu relacionamento com sua madrinha meu caro é puramente profissional.
FABRÍCIO: - Acho bom...
LUÍS ROBERTO: - Se é tua madrinha, por que você não pede pra trabalhar nesta nova ONG?
FABRÍCIO: - Sei não... Não pega bem se oferecer.
LUÍS ROBERTO: - Então meu amigo, deixa comigo...
FABRÍCIO: - Que você vai fazer?
LUÍS ROBERTO: - Me aguarde! (Sai)
FABRÍCIO: - Vê lá o que vai fazer... (Saem)

CENA XI
CONSUELO: - Tem que haver uma maneira de fazer teu irmão a desistir dessa ideia de ir trabalhar nesta ONG.
CRISTINA: - Mas como vamos convencê-lo? Pra ela está é apenas a sua grande chance.
CONSUELO: - Essa mulher dos inferno veio pra destruir nossa família.
CRISTINA: - Bebeto não vai querer ir pro interior. Isso é uma coisa fora de questão.
CONSUELO: - Não vou deixar essa mulherzinha tirar meu filho de mim.
CRISTINA: -  Oh, mãe!
CONSUELO: - Será que não percebe o que ela esta fazendo? Está seduzindo teu irmão. E aos poucos vai conquistando a confiança dele, pra depois, contar uma história triste... Comover teu irmão...
CRISTINA: - Por isso ainda acho que a senhora deva contar-lhe toda verdade sobre o passado dele.
CONSUELO: - E se ele preferi ela?
CRISTINA: - Bebeto a amo mãe.
CONSUELO: - Será que vale mesmo apena contar a verdade, mesmo que esta verdade destrua nossas vidas?
CRISTINA: - Por mais que isso traga sofrimentos, é preciso que seja dito. Mãe, acabe com esse sofrimento. Sofrer por sofrer, a senhora já esta sofrendo.
CONSUELO: - Isso está acabando comigo.
CRISTINA: - Então mãe?! Conte a verdade antes que seja tarde demais.
CONSUELO: - Prometo que vou pensar...
CRISTINA: - Sabe que pode contar comigo
CONSUELO: - Sei filha. Sei.
CRISTINA: - Lembra que sempre nos dizia? O amor transforma...
CONSUELO: - Por que liberta...
CRISTINA: - Liberte.
CONSUELO: - Tenho medo...
CRISTINA: - Mãe...
CONSUELO: - No que vai se transformar.
CRISTINA: - Bebeto é adulto. Vai suportar.
CONSUELO: - Eu sei. Só não sei se eu suportarei.
CRISTINA: - Sim, suportará. E eu estarei aqui. (Saem abraçadas)

CENA XII
LISETE: - Bom dia!
LUÍS ROBERTO: - Bom dia. Sou Luís Roberto. Dona Maíra me aguarda...
LISETE: - Claro. Por favor, entre. Fique a vontade... (Sai)
MAÍRA: - Bom dia. Não... Fique sentado.
LUÍS ROBERTO: - Bom dia Dona Maíra.
MAÍRA: - Que bom que aceitou a trabalhar comigo.
LUÍS ROBERTO: - Deu uma lida sobre o assunto... Na verdade andei me informando...
MAÍRA: - isso é bom.
LUÍS ROBERTO: - Dentro do seguimento que a senhora quer... pensei em um nome para a ONG...
MAÍRA: - É? E em quem nome pensou?
LUÍS ROBERTO: - Aqui... Veja.
MAÍRA: - Anjos da Cidade... É um belo nome. Será que já não há alguma ONG com esse nome?
LUÍS ROBERTO: - Fiz uma pesquisa preliminar. E pra minha surpresa não encontrei nenhuma.
MAÍRA: - Eu adorei. Esse nome expressa bem a ideia do que pretendemos...
LUÍS ROBERTO: - Ser uma espécie de anjo para quem precisa?
MAÍRA: - Sabe Luís Roberto, você não pode imaginar o que significa pra quem mais necessita uma mão estendida, alguém disposto a nos ajudar.
LUÍS ROBERTO: - Fale como se tivesse passado por isso.
MAÍRA: - Busco apostar no que acredito. Acredito em anjos. E pra mim anjos são pessoas iluminadas por Deus, dispostas a ajudar a seu próximo, mesmo que estes muitas vezes não possa lhes pagar por isso...
LUÍS ROBERTO: - Isso tem haver com a história do seu filho.
MAÍRA: - Meu filho? De certa forma sim.
LUÍS ROBERTO: - Desculpa meu atrevimento... Mas como foi que a senhora perdeu seu filho? Está morto?
MAÍRA: - Não. Graças a Deus não. Está bem. E é um homem brilhante.
LUÍS ROBERTO: - Então tem contato com ele.
MAÍRA: - Podemos dizer que sim. Eu sei que ele é meu filho, ele não.
LUÍS ROBERTO: - Deve ser muito difícil pra senhora.
MAÍRA: - Era mais difícil quando eu não sabia onde estava.
LUÍS ROBERTO: - Por que não se aproxima e o diz que a senhora é sua mãe.
MAÍRA: - Aconteceram coisas que ele desconhece.
LUÍS ROBERTO: - então conte-o.
MAÍRA: - Tenho medo de afasta-lo outra vez.
LUÍS ROBERTO: - A senhora é uma mulher tão incrível... Não creio que ele não aceite.
MAÍRA: - Você acha?
LUÍS ROBERTO: - Claro senhora. Olha só, a coisa maravilhosa que a senhora está preste a fazer. Vai investir seu dinheiro em ajudar ao próximo.
MAÍRA: - Apenas vou retribuir com o que a vida me fez.
LUÍS ROBERTO: - Seu filho foi sequestrado?
MAÍRA: - Não exatamente.
LUÍS ROBERTO: - Como assim?
MAÍRA: - è uma longa história.
LUÍS ROBERTO: - Tenho todo tempo do mundo. Afinal, agora o que mais vou ouvir através desta ONG, são histórias...
MAÍRA: - Isso é verdade.
LUÍS ROBERTO: - Que tal começar pela sua.
MAÍRA: - Faz tanto tempo...
LUÍS ROBERTO: - Sinto que deseja compartilhar esta história.
MAÍRA: - Eu era muito jovem, sonhadora... Ingênua demais... Acreditei em algumas palavras... Também, era tudo encantador. Cai feito um patinho nas lábias dele...
LUÍS ROBERTO: - O pai do seu filho?
MAÍRA: - É. Eu trabalhava numa mansão maravilhosa, mais parecia um palacete... Imagine só... Uma pobre caiçara, dentro daquele mundão de luxo. E como todo conto, havia um príncipe, o homem mais lindo que havia visto em toda minha vida.
LUÍS ROBERTO: - E então se apaixonou.
MAÍRA: - Exato. Vivemos uma intensa história de amor. Com juras e promessas de amor eterno. O príncipe e a pebléia. A história perfeita onde o amor vence a barreira da diferença social. Mas como em todo conto, havia uma bruxa... Capaz de qualquer coisa para afastar o casal de apaixonados...
LUÍS ROBERTO: - E ela conseguiu?
MAÍRA: - Ele teve que escolher, entre a posição social ou o amor da jovem que daria tudo que não tinha por amor a ele.
LUÍS ROBERTO: - E ele escolheu...
MAÍRA: - abandoná-la, mesmo sabendo que ela esperava um filho dele.
LUÍS ROBERTO: - Que canalha.
MAÍRA: - Ele partiu. Ela foi demetida. Seu pai a pós pra fora de casa como se escorraça um cachorro sarnento.
LUÍS ROBERTO: - Nossa!
MAÍRA: - Depois que o bebe nasceu, sem ter pra onde ir, encontrou uma senhora em quem confiou, e pra salvar a vida de seu filho, protegendo-o da fome e do frio, o entregou nas mãos dessa senhora...
LUÍS ROBERTO: - E depois, que aconteceu?
MAÍRA: - Nunca mais eu vi meu filho.
LUÍS ROBERTO: - Sinto muito.
MAÍRA: - Foram vinte anos de procura. E agora que o encontrei... Não posso dizer-lhe: Eu sou sua mãe!
LUÍS ROBERTO: - Calma senhora. Eu não queria que se sentisse mal.
MAÍRA: - Eu sou vitima... Mas temo que ele não entenda.
LUÍS ROBERTO: - Tenho certeza que ele a entenderá.
MAÍRA: - como pode ter certeza?
LUÍS ROBERTO: - Eu entenderia.
MAÍRA: - Jura?
LUÍS ROBERTO: - Verdade.
MAÍRA: - Você é um bom rapaz.
LUÍS ROBERTO: - Obrigado. Sou um admirador de sua coragem. Poucas mulheres tem sua determinação. Muitas teriam desistido. Bom, acho que preciso ir. Vou dar entrada nas papeladas.
MAÍRA: - Obrigada. Não sabe o quanto me fez bem me abrir pra você.
LUÍS ROBERTO: - senhora, conte sempre comigo.
MAÍRA: - Eu o acompanho...
LUÍS ROBERTO: - Bom dia senhora.
MAÍRA: - Bom dia, Luís Alberto.
LISETE: - Por que não aproveitou a oportunidade e contou toda verdade. Devia ter dito que a senhora é a mãe dele.
MAÍRA: - Acha que não tive vontade? Me segurei pra não contar. Mas preciso ser cautelosa. Uma parte da história ele já conhece... Agora só falta...
LISETE: - A senhora dizer que é sua mãe.
MAÍRA: - Exatamente. E esta é a parte mais difícil.
LISETE: - Ah, senhora! Venha, vou lhe preparar um suco.

CENA XIII
FABRÍCIO: - Que coisa mais louca... A madrinha, contratando o Bebeto pra trabalhar com ela...
DIVA: - Calma ai... O Bebeto, é o Luís Roberto?
FABRÍCIO: - Claro! Que outro Bebeto conhecemos?
DIVA: - Meu Deus! Que ironia do destino... O tempo todo esteve aqui, bem debaixo do meu nariz... E eu nunca percebi.
FABRÍCIO: - Que tá pegando? Pirou mãe?
DIVA: - Filho... O Bebeto, o Luís Roberto... É o filho perdido da sua madrinha.
FABRÍCIO: - Caraca mãe! Que isso? Como pode isso? A vida inteira procurando esse filho... E ele esteve sempre aqui.
DIVA: - Bem debaixo do nosso nariz.
FABRÍCIO: - Caramba! Que coisa de louco.
DIVA: - Filho... Agora temos que ajudar a tua madrinha a se aproximar do filho...
FABRÍCIO: - Mas ele vai trabalhar com ela...
DIVA: - Eu sei. Mas temos que ajudar a preparar o terreno para esse reecontro entre mãe e filho.
FABRÍCIO: - Que barra! E quanto a mãe dele? A outra mãe?
DIVA: - Essa mulher tirou da Maíra o que ela tinha de mais precioso, o filho. E agora ela tem que prestar contas.
FABRÍCIO: - Deus! Não queria está na pele do meu amigo.
DIVA: - Nem eu.
FABRÍCIO: - A vida inteira acreditando que uma pessoa é sua mãe... E depois... Escuta aqui dona Diva, você é minha verdadeira não é?
DIVA: - Não... Não... Não. Te encontrei na lata de lixo. Claro seu moleque. E não duvide nunca disso.
FABRÍCIO: - Eu sei mãe. Que bom que você é minha mãe.
DIVA: - E você meu filho. Agora vamos... É hora do trabalho. (Saem)
CENA XIV
CONSUELO: - Que faz aqui?
MAÍRA: - Precisamos conversar...
CONSUELO: - Já disse que não tenho nada a falar com você.
MAÍRA: - Prefere que eu converse com Luís Roberto?
CONSUELO: - Entre. Mas por favor seja breve.
MAÍRA: - Vinte anos não foram breves.
CONSUELO: - O que você quer?
MAÍRA: - Consuelo, sei que está sofrendo, por que sei que ame meu filho como se fosse seu...
CONSUELO: - É meu filho.
MAÍRA: - De certa forma sim. Você o criou. Apesar de tudo que sofri com a ausência do meu filho, lhe sou grata pelo homem de caráter que você tornou meu filho.
CONSUELO: - Deixo-nos em paz.
MAÍRA: - Paz? Paz é uma coisa que não tenho há vinte anos.
CONSUELO: - Você me deu seu filho.
MAÍRA: - Não... Eu o entreguei para cuidar dele até que eu voltasse para pegá-lo.
CONSUELO: - Não... Apenas me entregou. E eu o amei desde o primeiro momento.
MAÍRA: - Você não imagina o quanto sofri.
CONSUELO: - O que que de mim.
MAÍRA: - Não podemos voltar o tempo... Não terei mais como viver os momentos que uma mãe pode vivenciar ao ver cada fase de seu filho, os primeiros passos, as primeiras palavras, cuidar quando doente, levar ao parquinho,o primeiro dia de aula, a primeira namorada, essas coisas simples e importantes... Que toda mãe vive ao lado de seu filho.
CONSUELO: - Você abriu mão disso quando o entregou em meus braços.
MAÍRA: - Isso não é verdade... Você desapareceu com meu filho.
LUIS ROBERTO: - Dona Maíra? Mãe, o que esta acontecendo aqui?
CONSUELO: - Nada meu filho. Está mulher é uma louca.
MAÍRA: - Ou conta ou eu conto.
LUIS ROBERTO: - Contar o que?
CONSUELO: - Não dê ouvidos a está destrambelhada.
MAÍRA: - Lembra aquela história que lhe contei?
LUIS ROBERTO: - Sobre seu filho...
CONSUELO: - Não... Não a ouça filho. Esta mulher é uma mentirosa.
MAÍRA: - O que verdade? Conte-o.
LUIS ROBERTO: - Mãe, você sabe onde esta o filho dela?
CONSUELO: - Sei.
LUIS ROBERTO: - Mãe...
CONSUELO: - Meu filho... Esta mulher abandonou seu filho com poucos dias de nascido...
MAÍRA: - Mentira. Eu entreguei meu filho a esta mulher, e ela desapareceu com ele.
LUIS ROBERTO: - Mãe, por que fez isso?
CONSUELO: - Por que ela me deu o seu filho e eu o criei com todo amor, carinho e dedicação...
LUIS ROBERTO: - Meu Deus! Que diabo está acontecendo aqui? Não... Vocês não estão fazendo isto comigo...
MAÍRA: - Calma meu filho!
LUIS ROBERTO: - Meu filho? Afinal, quem é minha mãe?
CONSUELO: - Eu sou tua mãe, filho.
MAÍRA: - Ela te criou. Mas sua mãe sou eu. Acho que precisa saber toda verdade. E de certa forma, já sabe. Não quero força-lo a nada, nem mesmo que me ame, apenas quero que saiba que vinte anos não foram capazes de apagar o amor que sinto por você meu filho.
CONSUELO: - Luís Roberto...
MAÍRA: - Bom... Acho melhor ir. Creio que vocês tem muito que conversar. Luís Roberto, espero que não me odeie. Mas a verdade tem que ser dita, sempre. Você sabe onde me encontrar. Até breve, meu filho... Tua mãe te ama, muito. (Sai)
CONSUELO: - Meu filho...
LUIS ROBERTO: - Como pode fazer isto?
CONSUELO: - Não... Será que não entende meu filho, eu o salvei... Se eu não tivesse feito o que fiz, talvez nem estaria vivo.
LUIS ROBERTO: - Você me separou da minha mãe...
CONSUELO: - Eu sou tua mãe.
LUIS ROBERTO: - Não, não é... A minha vida inteira não passou de uma grande mentira.
CONSUELO: - Por favor, não fale assim...
LUIS ROBERTO: - O que quer que eu diga? Que acho admirável sua atitude... (Bofetada)
CONSUELO: - Vai atrás de sua mãe. Ela não é a mocinha e eu a vilã? Então? Vai... Vai atrás dela.
LUIS ROBERTO: - É exatamente isso que vou fazer. (Sai)
CONSUELO: - Não! Não... Não... Não... (Prantos) Meu filho! (Apagam-se as luzes).
F I M

REPÓRTER GLOBAL RETORNA APÓS CIRURGIA

A repórter Global Ananda Apple retoma ao trabalho no Quadro Verde, do Bom Dia São Paulo, após mais de dois meses afastada da Gl...