agosto 20, 2012

O CORPO (Texto de Teatro - ATO II – CENA II e III)


ATO II – CENA II
EDINALDO – Animada esta hoje!
TÂNIA – Ainda bem que essa... Mulherzinha, inconveniente se foi.
EDINALDO – Notícias do filho pródigo?
TÂNIA – Pela cara do meu pai... Algo muito grava aconteceu.
EDINALDO – Que novidade!  
TÂNIA – Não é momento pra brincadeiras. Estou aflita!
EDINALDO – É minha querida... Não duvido nada que seu papaizinho esteja por trás disso tudo que está acontecendo.
TÂNIA – Chega! Já não basta toda essa atenção? Vai colocar mais lenha nesta fogueira
EDINALDO – Seu pai pensa que pode manipular todos! A única que o interessa é o poder! O grande poderoso! O dono do mundo!
TÂNIA – Chega! Basta.
EDINALDO – Pensei que pudéssemos compartilhar pensamentos...
TÂNIA – Não seja cruel. Estamos passando por um momento difícil.
EDINALDO – Não duvido nada que teu irmãozinho seja encontrado numa sarjeta.
TÂNIA – Meu Deus! Como pode ser tão insensível? Isola.
EDINALDO – Já parou pra pensar que teu irmão pode está hora ter virado um presunto?
TÂNIA – Chega? Que tortura é essa? Se não pode ajudar... Então não atrapalha.
EDINALDO – Eu? Torturando? Essa especialidade é do seu pai.
TÂNIA – Você é cruel.
EDINALDO – Mas tenho minhas mãos limpas.
TÂNIA – Esta insinuando que meu pai é um assassino?
EDINALDO – Que nunca suja as mãos. Basta um telefonema e alguns reais.
TÂNIA – Chega! Papai jamais faria isso.
EDINALDO – Teu irmão está morto.
TÂNIA – Que?
EDINALDO – Isso mesmo.
TÂNIA – Não... (Lágrimas)
EDINALDO – Encontraram o corpo.
TÂNIA – Como foi isso?
EDINALDO – Pergunte a seu pai. Ele sabe bem como se faz este tipo de coisa.
TÂNIA – Meu pai jamais seria capaz de matar alguém. Ainda mais... Marcos. Seu filho.
EDINALDO – Marcos era gay.
TÂNIA – Que absurdo é este?
EDINALDO – Sempre desconfiei que havia algo de errado com ele.
TÂNIA – Mas como isso é possível. Estava noivo, ia se casar...
EDINALDO – Teatro! Aposto que estava combinado com aquelas golpistas.
TÂNIA – Nada isso faz sentido.
EDINALDO – Vai se preparando. Tem muita poeira escondida debaixo deste tapete.
TÂNIA – Meu irmão! Meu Deus! Meu irmãozinho...
EDINALDO – Um gay. Condição que seu pai jamais aceitaria. Isto é muito ruim para a imagem do futuro candidato ao senado. Um homem que está acima do bem e do mal. O defensor dos bons costumes e da moral.
TÂNIA – Não! (Rompante) Meu pai não é nenhum assassino.
EDINALDO – Isto é só uma bombinha. O pior, ainda está por vir. Está casa esta cercada de minas... Qualquer passo em falso... Bum! (Sai)
TÂNIA – Não... Meu irmão morto! Não pode ser... Marcos. Meu Deus! (Entra Nanci)
NANCI – Que foi minha menina? Que foi? (Abraça)
TÂNIA – Marcos...
NANCI – Não...
TÂNIA – Está morto. Morto!
NANCI – Oh, minha querida! Acalma-se. Vou pegar uma calmante.
TÂNIA – Não... Por favor... Fique.
(Entra Dona Liz vestida de luto segurando uma rosa vermelha)
NANCI – Dona Liz?
TÂNIA – Vó? Que faz aqui?
LIZ: – Precisam de mim.
NANCI – Devia está no seu quarto...
LIZ: – Será mesmo? Ainda sou a matriarca desta casa.
TÂNIA – Vó...
LIZ: – Sou mais forte que todos você juntos. Posso está velha, mas a velhice não me fez ficar apática as situações. Quero participar dos acontecimentos desta casa, desta família. Só desejo que não me ignorem, não me tratem feito uma demente. Estou viva, tão viva quanto está rosa. Rosa esta que pode enfeitar tanto os momentos felizes, quanto os infelizes. A vida meu anjo é como essa rosa, bela, mas cheia de espinhos, e só depende de nós, remover os espinhos.
TÂNIA – Não a ignoramos vó. Apenas queremos lhe poupar.
LIZ: – A tentativa de me pouparem me fazem sentir como se eu morresse cada dia um pouquinho mais. É como se me enterrassem viva.
TÂNIA – Perdão vó. Na tentativa de acertar, erramos.
LIZ: – Sinto que a morte está rondando esta casa.
TÂNIA – Por isso esta vestida assim?
LIZ: – Meu coração está de luto. Meu menino se foi, não é?
TÂNIA – Vó. (Se abraçam)
LIZ: – Seja forte minha querida. Ele está bem. Sei que está.
TÂNIA – Nanci... Acho que vamos precisar do Dr. Onofre.
NANCI – Vou ligar pra ele.
LIZ: – Mara vai precisar. (Saem)
ATO II – CENA III
(Na delegacia)
DELEGADO: - Rodrigues...
RODRIGUES: - Pois não chefe?I
DELEGADO: - Desta vez tiramos a sorte grande! Todos os holofotes estão sobre nós. (Risos) Veja. (Entrega uma pasta)
RODRIGUES: - É a conclusão da perícia.
DELEGADO: - Isso mesmo! Temos um trabalho em tanto pela frente.
RODRIGUES: - É peixe grande.
DELEGADO: - Exatamente. A minha experiência me diz que o papaizinho vai querer abafar o caso.
RODRIGUES: - Ainda sem suspeitos!
DELEGADO: - Trate de arrumar um. Casos como esse são raros e quando vem parar em nossas mãos, não podemos facilitar e desperdiçar a visibilidade que podemos ter na mídia. Meu caro, casos como esses, geralmente é nosso passaporte para uma boa promoção.
RODRIGUES: - Aqui diz a vítima foi morto por um objeto pontiagudo, mas que não se trata de faca ou punhal.
DELEGADO: - E o que está esperando? Vá atrás de pistas.
RODRIGUES: - Sim senhor.
DELEGADO: - Quero um relatório  amanhã cedo em cima da minha mesa. E de preferencia com novidades. Amanhã isso aqui vai está cercado por reportes! A fama nos espera.
RODRIGUES: - E quanto aquela reporte?
DELEGADO: - Aquela xereta?
RODRIGUES: - Exatamente.
DELEGADO: - Diga que estamos investigando e que assim que tivermos novidades vamos convocar uma coletiva. Coletiva!
RODRIGUES: - Sim senhor.
DELEGADO: - Bom meu caro. Vamos nos preparando para nosso minuto de fama. Há! Convoque, família, amigos, inimigos... Quero depoimentos. Temos que ter um suspeito.
RODRIGUES: - Sim senhor.
DELEGADO: - Essa bichona é nosso passaporte para ascensão profissional. Vi a página dois? Diz que a vítima manteve relações sexuais antes do falecimento. Tava queimando a rosca! (Risos) Afinal, já diz o ditado: Pra que guardar se a terra há de comer! (Risos)
RODRIGUES: - Bom... O papo está divertido... Mas preciso ir. Tenho que trabalhar.
DELEGADO: - Sei que dará o melhor neste caso. Dará! Dará não. Fará. (Risos. Saem)

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