agosto 22, 2012

O CORPO (Texto Teatro- ATO II-CENA V)


ATO II – CENA V
SELMA: - Mas que coisa, né?
TERESA: - Tá espantada porque?
SELMA: - Como pode um rapaz tão jovem, tão bonito, morrer assim...
TERESA: - É, é realmente uma coisa chocante.
SELMA: - Você fala com tanta naturalidade de uma situação tão triste.
TERESA: - Ainda dizem que dinheiro trás felicidade.
SELMA: - Pode não traze. Mas ajuda.
TERESA: - Não impediu a morte do seu Marcos.
SELMA: - Você fala com tanta naturalidade! Até parece que não sentiu a morte do rapaz.
TERESA: - Antes ele que eu.
SELMA: - Credo!
TERESA: - Acha que fosse eu ou você, ou até mesmo a puxa saco da Nanci, alguém ia chorar nossa morte? Ah, minha queridinha! Não se iluda.
SELMA: - Credo. É uma vida que foi tirada.
TERESA: - Quantas vidas são tiradas todos os dias e ninguém se quer se dar ao trabalho de jogar uma flor durante o sepultamento.
SELMA: - Mas seu Marcos... Filho do deputado... Primeira página!
TERESA: - Não saiu nada no jornal. Nada além da notícia sobre a morte... Tava escrito lá, que seu Marcos estava sequestrado e foi morto.
SELMA: - Barela! Tudo isso só pra calar os maus comentários. Doutor Egídio comprou os jornalistas. Quem pode, pode!
TERESA: - É sempre assim... Se fosse um qualquer sairia na primeira página: Suspeito de envolvimento com o tráfico!
SELMA: - Num vê o caso da vadia da Marina? Essa hora deve está trepando feito uma vaca. Tudo isso pra manter o seu maldito vício.
TERESA: - Tenho pena desta moça. Dependência química é uma desgraça.
SELMA: - Que pode ser evitada. Basta dizer não.
TERESA: - Mas tem gente que é fraca.
SELMA: - Se trabalhasse como nós, não tinha tempo pra isso não.
TERESA: - É como dizia minha velha mãe: Cabeça vazia, morado do diabo!
SELMA: - Coitado do capeta. Tudo que as pessoas fazem de ruim, a culpa é dele.
TERESA: - E não é?
SELMA: - E o livre arbítrio?
TERESA: - Tenho pena. É gente de cabeça fraca.
SELMA: - Entrou nessa por que nunca teve um bom corretivo. Sempre passaram a mão na cabeça dela. Se logo no começo tivessem quebrado ela toda na bancada...
TERESA: - Se bancada resolvesse, não haveria tantas clínicas...
SELMA: - Dinheiro jogado no lixo! E olha que um tratamento desse vale uma fortuna. Pra que? Pra depois vê a desgraçada dizer: Foi mal, tive uma recaída. E que paga a conta? Eu, você, o povo... Por que o dinheiro que o deputado usa é público, nosso. Agora te pergunto: E se fosse teu filho, ou meu... Sabe qual tratamento receberia? De choque! Rico drogado é dependente químico, pobre é bandido.
TERESA: - Isso é verdade...
SELMA: - Pensa que somos cegas. Seu Marcos num era chegado na fruta...
TERESA: - Que?
SELMA: - A fruta que ele gosta, eu chupo até o caroço! (Riem)
TERESA: - Quero morrer tua amiga.
SELMA: - E olha que as amigas são as piores inimigas. Sabem todos nossos podres!
TERESA: - Isso é verdade.
SELMA: - E a outra? Além de estéreo é a mulher mais infeliz que conheço.
TERESA: - Com toda essa grana?
SELMA: - Má amada. O marido só tá com ela por causa do dinheiro. Um picareta!
TERESA: - Coitada!
SELMA: - Bem aquela história... Pobre menina rica! E você que se cuide.
TERESA: - Por que?
SELMA: - Edinaldo não passa de um tremendo galinha!
TERESA: - Deus me livre!
SELMA: - Basta manter as pernas fechadas!
TERESA: - Credo!
SELMA: - E eu num vi como ele olha pra tu?!
TERESA: - Impressão tua.
SELMA: - Nasci ontem não. E se Nanci perceber. Te coloca no olho da rua.
TERESA: - De confusão eu quero distância. (Telefone Toca)
SELMA: - Residência dos Melo de Andrede! Bom dia. Bem, aqui quem fala é a empregada... Sim... entendo... Um minuto por favor. É da polícia.
TERESA: - Me dá isso aqui. Alô? Pois não... Pode falar... Sei... No momento não será possível... Isto. Estão no velório. Pode deixar. Darei o recado. Peraí... (Pra Selma) Papel e caneta. Pode falar... Tudo bem. Sim.  Anotei. Darei o recado... O senhor pode ficar despreocupado. Pro senhor também.
SELMA: - Que foi?
TERESA: - Apareceu a margarida!
SELMA: - Do que tá falando mulé?
TERESA: - Marina. Presa.
SELMA: - Presa?
TERESA: - Não é a primeira e nem será a ultima vez.
SELMA: - Que família!
TERESA: - Se fosse o pai dela deixava morfar na cadeia pra vê se aprende.
SELMA: - Seria um escândalo.
TERESA: - E isso é o que seu Egídio menos deseja.
SELMA: - Vamos voltar a nosso serviço que hoje o dia promete
TERESA: - Oh! E se promete! (Saem)

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