De: Marcondys França
PERSONAGENS:
CORRINHO (Mãe)
SEBASTIÃO (Pai)
JANICE (Filha)
PAUMIRA (Amiga)
CORRINHO (Mãe)
SEBASTIÃO (Pai)
JANICE (Filha)
PAUMIRA (Amiga)
PEÇA EM UM ATO
JANICE:
- Meu Santo Antônio, vou te deixar assim de
cabeça para baixo, até o senhor me arrumar um marido. Onde já se viu, já estou
na idade de casar e até agora nada!
CORRINHO:
- Ocê que se aquete menina! Já disse que é bem
mio ficar sorteira.
JANICE:
- Mainha... Per todos os santos do mundo. Num
diga uma derrota dessa não. Vá que Santo Antônio escuta uma coisa dessa. Ai é
que num caso mermo! No caritó num fico. De jeito maneira.
CORRINHO:
- Deixa de fuleragem menina! Te quebro os
dentes. Ta achano o que? Que vou permiti pouca vergonha aqui em casa é? Quero
morrer tesga se deixar ocê com quarquer um...
JANICE: - Que vida disgraçada é minha... Nem direito de mim casar eu tenho.
JANICE: - Que vida disgraçada é minha... Nem direito de mim casar eu tenho.
CORRINHO:
- Tu tá é com fogo na bacurinha. Sei be como
acabar com isso. Um bom banho de água fria. (Janice sai)
SEBASTIÃO:
- Que gritaria é
essa, Corrinho? Mai que diacho ta aconteceno aqui? Lá do fundo do quintá dá pra
ouvi esse tereretetê!
CORRINHO:
- Ô, Tião... É
nossa fia, que agora inventou quer casá.
SEBASTIÃO: - Uai! E isso num era já de se esperá? É bão... Mió assim, pelo meno, ela num pensa como muitas peldidas que tem poraí. Que vive correno atrás dos machos.
SEBASTIÃO: - Uai! E isso num era já de se esperá? É bão... Mió assim, pelo meno, ela num pensa como muitas peldidas que tem poraí. Que vive correno atrás dos machos.
CORRINHO:
- Oschem, e desde
de quando ocê aprova vê sua filha de chamego com desses cabras?
SEBASTIÃO:
- Prefiro ela namorando aqui nesta sala na
nossa presença.
CORRINHO:
- Num tô acreditano no que tô ouvino...
SEBASTIÃO:
- O sonho de quarquer pai e vê sua fia bem
casada.
CORRINHO:
- Vou inté sai daqui porque meus ouvidos não
aguentam ouvi mais tantas asneiras. (Sai)
SEBASTIÃO:
- Mai quem tá bateno palma lá fora?
PAUMIRA:
- Bom dia, seu Tião?!
SEBASTIÃO:
- Bom dia, Parmira.
PAUMIRA:
- A Nicinha está?
SEBASTIÃO:
- Tá sim. Vou chamá. Janice! Janice!
JANICE:
- Oi!
SEBASTIÃO:
- Que oi o que cabrita. Sinhô!
JANICE:
- Tá bom pai. Discupa.
SEBASTIÃO:
- Num tá esqueceno nada?
JANICE:
- Benção. (Ele
sai) Que cara é essa? Inté parece que comeu e num gostou.
PAUMIRA:
- Que cara é essa? Inté parece que comeu e num
gostou.
JANICE:
- Tô quereno casá, mas mainha num quer que nem
se toque no assunto.
PAUMIRA:
- E teu pai?
JANICE:
- Painho, é a favor...
PAUMIRA:
- Então é meio caminho andado. E ocê tem arguém
em vista?
JANICE:
- É ai que ta
probrema. Aqui, todo mundo conhece todo mundo... E arrajar um marido é difíci.
PAUMIRA:
- Os homis aqui de
Cacimba de Dentro ou é casado ou já tem compromisso.
JANICE:
- Mais Santo Antônio tem que me ajudar. Ou me
ajuda, ou afogo ele naquele copo. E em último caso, quebro o pescoço dele.
PAUMIRA:
- Vigi santíssima! Ai que num casa mermo.
JANICE:
- Ah, eu caso. Nem que eu tenha que embregar o
padre.
PAUMIRA:
- Que desespero!
Sorte sua... Hoje tem festa. A festa do Arraiá do Zé Perneta. Vem gente de
todas as bandas.
JANICE: - Ah! Então, tenho que ficar linda. De hoje num passa.
JANICE: - Ah! Então, tenho que ficar linda. De hoje num passa.
PAUMIRA:
- Mai tua mãe?
JANICE:
- Vou escondida.
PAUMIRA:
- Isso vai dar
confusão.
JANICE:
- E se encontrar
um pretendente, fujo cum ele.
PAUMIRA:
- Ficou louca?
JANICE:
- Louca é ficá no
caritó. Agora vamos.
PAUMIRA:
- pra onde?
JANICE:
- Pra tua casa.
Acha mermo que vou correr o risco de mainha me prender pra num ir a festa. (Olha para Santo Antônio) Olha Santo
Antõnio, vê se faz sua parte. (Saem)
CORRINHO:
- Oh, minha virgi
santíssima, cadê minha fia? Onde se enfiou essa dismiolada?
SEBASTIÃO:
- Que disispero é
esse mulé? Inté parece que morreu arguém.
CORRINHO:
- Se num morreu,
vai morrê. Tua fia, num vortô pra casa. Passaou a noite fora. Sabe que isso quê
dizê?
SEBASTIÃO:
- Que se
divertiu...
CORRINHO:
- Sei bem qual a
diversão de uma moça que passa a noite fora sem os oios atentos dos pais.
SEBASTIÃO:
- Ocia devia
confiar mais na tua fia.
CORRINHO: - Confio, desconfiando. Ta pensano o que? Ninguém me engana, não. To ficano veia, mai num sou cega não, nem tão pouco lesada.
CORRINHO: - Confio, desconfiando. Ta pensano o que? Ninguém me engana, não. To ficano veia, mai num sou cega não, nem tão pouco lesada.
SEBASTIÃO:
- Teu mal é que vê
mardade em tudo.
CORRINHO:
- Seio bem que to
falando. Essa hora minha fia deve está disgraçada.
JANICE:
- Mainha...
Painho...
CORRINHO:
- Onde tu tava até
uma hora dessa sua desinfeliz.
JANICE:
- Ai que estresse!
Tava na festa.
CORRINHO:
- Ai, num disse...
JANICE:
- E tenho
novidades!
SEBASTIÃO:
- Que novidade é
essa?
JANICE:
- Eu vô casá.
SEBASTIÃO:
- Mai que boa
notícia fia minha!
CORRINHO:
- Casá? E por que
um casamento tão avexado?
JANICE:
- Por que tô
apaixonada.
CORRINHO:
- Tá perdida, né
isso?
JANICE:
- Não. Estou
encontrada.
CORRINHO:
- Pra se casá com
esse cabra que nem seio quem, só se passar por cima de meu cadavé.
SEBASTIÃO: - deixa a menina em paz! Se ela quer casá, vai casa, e pronto.
SEBASTIÃO: - deixa a menina em paz! Se ela quer casá, vai casa, e pronto.
JANICE:
- Quer saber
mainha... Num foi ele que buliu comigo não. Fui eu que buli com ele.
CORRINHO:
- Sem vergonha!
Num tem um pingo de bril nessa cara.
SEBASTIÃO:
- Que diacho é
isso que ocê ta dizeno?
JANICE:
- Painho, ele e de
confiança. É dono de uma pequena fazenda... Dispois que nóis casá vamo pra lá.
CORRINHO:
- Homi de Deus...
Faça arguma coisa. Num vê que essa menina virou a cabeça de vez?
JANICE:
- Painho, ele vem
aqui hoje conversar com o senhô. O Ademilso é uma boa pessoa.
SEBASTIÃO:
- O jeito que tem
é marcar esse casamento logo... (Palmas)
JANICE:
- Deve ser ele.
SEBASTIÃO:
- Então atende.
Num deixa o rapaz esperando.
JANICE:
- Paumira?
PAUMIRA:
- Posso falá com
oscê?
JANICE:
- Claro...
PAUMIRA:
- Então vamo lá
dentro?
CORRINHO:
- Por que esse
segredinho?
SEBASTIÃO:
- Aqui não temos
cerimônia...
JANICE:
- Pode falá...
PAUMIRA:
- Não sei...
CORRINHO:
- Fala Parmira. O
que tanto quer falar com nossa fia...
JANICE:
- Pode falá.
PAUMIRA:
- É sobre o
Ademilso.
JANICE:
- Fala.
PAUMIRA:
- Ele num é
fazendeiro coisa nenhuma.
CORRINHO:
- Eu sabia.
JANICE:
- Mai vai casá
comigo.
PAUMIRA:
- Vai não.
SEBASTIÃO:
- Como não?
JANICE:
- Que ta dizano?
PAUMIRA:
- Que ele já é
casado.
CORRINHO:
- Um homi casado!
SEBASTIÃO:
- eu capo esse
disgraçado.
JANICE:
- Não painho!
PAUMIRA:
- Num vai adiantá.
Já se mandou. E ninguém sabe pra onde.
JANICE:
- Então, num vai
me casá?
CORRINHO:
- Não. E ainda vai
ficá falada em toda cidade.
JANICE:
- Isso foi agoro!
Agoro! Agora estou encahada de vez! (Sai
Chorando)
CORRINHO:
- Eu te disse, num
disse... Eu te disse!
F I M