agosto 11, 2017

ALGO EM COMUM

De: Marcondys França
Personagens:
CAIO
SABRRINA

(Ouve-se a campanhia, as luzes ascende-se. O público vê uma sala com decora moderna e de bom tom. Na parede central uma tela ilustrando um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo)

CAIO:
- Pois não?

SABRINA:
 -Boa noite?

CAIO:
- Boa.

SABRINA:
-Me desculpe, mas será que eu poderia falar com você?. (Há um certo nervosismo na voz dela)

CAIO:
- Nos conhecemos?

SABRINA:
- Acredito que não!

CAIO:
- O que você deseja então?


SABRINA:
- Ah, desculpe-me! É que estou tão, nervosa...

CAIO: (Ele não entende)

SABRINA:
-Você é o Caio...

CAIO:
- Como sabe meu nome?

SABRINA:
- Ah, que falta de educação minha! Sou Sabrina.

CAIO:
- Não estou entendendo.

SABRINA:
- Posso entrar?

CAIO:
- Talvez você esteja me confundindo com outra pessoa.

SABRINA:
- Pode está certo que não.

CAIO:
- Algum tipo de brincadeira?

SABRINA:
- Esteja certo que não.
CAIO:
- Me desculpe mas...

SABRINA:
- Temos alguém em comum.

CAIO:
-Como é que é?

SABRINA:
- Posso entrar?

CAIO:
- Acho melhor não!

SABRINA:
- Não seria conveniente conversamos aqui na porta.

CAIO:
- Acho que não temos o que conversar.

SABRINA:
- Será que não mesmo? Você não tem nenhum interesse em saber quem sou?

CAIO:
- Por que deveria?

SABRINA:
- Sempre quis saber quem era.

CAIO:
- Por favor. (Mostra o caminho)
SABRINA:
- Obrigada.
CAIO:
- Bebe algo?
SABRINA:
- Uma soda por gentileza.
CAIO:
- Com gelo?
SABRINA:
- Por favor.
CAIO: (Prepara a soda e faz para si um wisky)
SABRINA: (Observando a tela na parede)
- Um bonito quadro.
CAIO:
- Gosto de arte.
SABRINA:
- Este é diferente.
CAIO:
- Gosto de coisas diferentes...

SABRINA:
- Ousadas...
CAIO:
- Ás vezes.
SABRINA:
- Você que escolheu a decoração?

CAIO:
 - Tive ajuda.
SABRINA:
- É um estilo inconfundível.
CAIO:
- Olha...
SABRINA: (Pega um porta retrato com a foto de Caio e seu amor)
- Onde foi tirada essa foto?
CAIO:
- Numa viagem a Natal.
SABRINA:
- É um lugar encantador. Lua de Mel?
CAIO:
- Talvez.
SABRINA:
- Minha Lua de mel foi incrível. Você o ama?
CAIO:
- No que mudaria?
SABRINA:
- No que mudaria?!... Seria tão mais fácil se as pessoas fossem honestas umas com as outras. Não acha?

CAIO:
- Acredito que primeiro é preciso que sejamos honestos com nós mesmo.
SABRINA:
- Uma questão de escolha?
CAIO:
- Talvez de opinião...

SABRINA:
- Nem sempre podemos escolher o que desejamos.
CAIO:
 - E isso causa sofrimento.
SABRINA:
- Contentamento. Aprendemos a aceitar a vida como ela é...
CAIO:
- Não seria como a fazemos?

SABRINA:
- Medo da solidão...
CAIO:
- Nem sempre está no meio da multidão é está acompanhado.
SABRINA:
- Dói!


CAIO:
- O que?
SABRINA:
- A solidão a dois.
CAIO:
- Acredito que sim.
SABRINA:
- Não sente?
CAIO:
- O que?

SABRINA:
 - Solidão...
CAIO:
- Não quando tenho certeza que vai voltar.
SABRINA:
- É constante?
CAIO:
- O que?
SABRINA:
- Esta certeza?

CAIO:
- Acredito no amor.
SABRINA:
- Nas juras?

CAIO:
 - No olhar.
SABRINA:
- O olhar é fogo que queima, arde, sem tocar.
CAIO:
- Nos gestos simples, mais verdadeiros.
SABRINA:
- E a velhice? Sabe algo sobre Amistedã?
CAIO:
- Projetos!
SABRINA:
- União?
CAIO:
- Respeito.
SABRINA:
- Sente-se inseguro?
CAIO:
- Me previno.
SABRINA:
- Da vida?
CAIO:
- A vida é cheia de incertezas. Mesmo não sabendo quando, a única certeza que temos é que um dia temos que partir.
SABRINA:
- Seguro?

CAIO:
- Previdência.
SABRINA:
- Ah! Negócios...
CAIO:
- Investimento.
SABRINA:
- É sábio de sua parte.
CAIO:
- Acordo comum.
SABRINA:
- Sente-se amado?
CAIO:
- O amor é uma renovação.
SABRINA:
- Gostaria de me sentir como nos conhecemos...
CAIO:
- Não podemos frear o tempo.
SABRINA:
- Éramos tão jovens.
CAIO:
- O tempo passa.
SABRINA:
- E com ele tudo mudou.
CAIO:
- Você sabia.

SABRINA:
- Nunca tive certeza! O amor me cegou.
CAIO:
- Ou fechou os olhos para não enxergar o que via.
SABRINA:
- Medo de perder.
CAIO:
- É preciso recuar para permanecer.
SABRINA:
- Faço isso todos os dias.
CAIO:
- Um campo minado!
SABRINA:
- Por isso não enfrento.

CAIO:
- E sofre outros tipos de retaliações.
SABRINA:
- Este é o preço que tenho que pagar.
CAIO:
- Precisa de ajuda.
SABRINA:
- Eu preciso de amor.
CAIO:
- Não se é amado quando se omite...


SABRINA:
- A omissão é uma forma de permanecer bem, diante de todos.
CAIO:
- É pior...
SABRINA:
- No começo falávamos de filhos...
CAIO:
- E por que não tiveram?
SABRINA:
- Medo.
CAIO:
- Medo?
SABRINA:
- Medo.
CAIO:
- Do que?
SABRINA:
- Queríamos um casal.
CAIO:
- Talvez vocês não se sentissem preparados!
SABRINA:
- Nunca soube dividir meus sentimentos com mais de uma pessoa.
CAIO:
- Talvez sua vida tivesse outro sentido.

SABRINA:
- O medo não deixou.
CAIO:
- Se não enfrentamos nossos medos não sairemos do lugar.
SABRINA:
- Me sinto imóvel! Estática... Entende?
CAIO:
- É preciso estímulo para se chegar a algum lugar.
SABRINA:
- É uma coisa interna.
CAIO:
- Que precisa é de uma força interna.
SABRINA:
- Tinha medo que meu filho fosse igual ao pai.
CAIO:
- Seria íntegro.
SABRINA:
- Mas faria alguém sofrer como sofro.
CAIO:
- Nem todos agem da mesma forma.
SABRINA:
- Questão de modelos.
CAIO:
- Temos o livre arbítrio.

SABRINA:
- Nem sempre. Escolhas trazem consequências.
CAIO:
- Comodismo também. É preciso tentar.
SABRINA:
- Só sei o que é sofrer.
CAIO:
- Então não seria a hora de saber o que é ser feliz.
SABRINA:
- Vê-lo voltando pra casa todas as noites.
CAIO:
- Mesmo sabendo que é pela metade?
SABRINA:
- Uma gota de água no deserto faz milagres.
CAIO:
- Quando não mata.
SABRINA:
- É melhor morrer com a sensação de ser saciada, que esta sede que sinto.
CAIO:
- Procure ajuda profissional.
SABRINA:
- Nunca quis uma filha. A rejeição é um sentimento que castiga nossa alma.
CAIO:
- Medo de que passasse por isso?
SABRINA:
- Ou que fosse mais feliz que eu...
CAIO:
- Esse é o desejo de toda mãe.
SABRINA:
- Não sei.
CAIO:
- Ainda é tempo.
SABRINA:
- Como ser mãe se nem mesmo sabe-se o que é ser mulher?
CAIO:
- Encontre alguém que lhe desperte esta sensação.
SABRINA:
- Sexo...
CAIO:
- Desculpe?...
SABRINA:
- Tem uma vida ativa?
CAIO:
- Fugaz.
SABRINA:
- Quem é?...
CAIO:
- Não entro em detalhes. Esta é minha intimidade.

SABRINA:
- Desculpe-me. Você me acha interessante?
CAIO:
- Um prato cheio pra quem tem fome.
SABRINA:
- Isso responde a minha pergunta?
CAIO:
- Acredito que sim.
SABRINA:
- Se não... Você se sentiria atraído por mim?
CAIO:
- Talvez. Como posso saber!
SABRINA:
- Ele tem um bom gosto.
CAIO:
- Obrigado.
SABRINA:
- Você também.
CAIO:
- Acredito que sim.
SABRINA:
- Ah meu Deus! O que há de errado comigo? (CHORA)
(Caio levanta-se e pegar um copo com água)
CAIO:
- Beba.
SABRINA:
- Obrigada. Desculpe-me. Me descontrolei.
CAIO:
- Todos perdemos o controle de vez enquanto.
SABRINA:
-Você parece uma boa pessoa.
CAIO:
- Tento.
SABRINA:
- É cheguei a te odiar.
CAIO:
- Talvez em seu lugar me odiaria também.
SABRINA:
- Que alívio! Pensei que fosse o começo da loucura.
CAIO:
- Esta passando por um momento difícil.
SABRINA:
- As vezes sinto que me ama.
CAIO:
- Talvez não queira magoa-la.
SABRINA:
- Proteger?
CAIO:
- Muitas vezes na tentativa de proteger acabamos ferindo, pessoas queridas.
SABRINA:
- Mentir.
CAIO:
- Omitir.
SABRINA:
- A mentira passa a ser uma verdade quando a verdade é uma mentira.
CAIO:
- Mas o sofrimento é real.
SABRINA:
- Num mundo de lágrimas falsas.
CAIO:
- E o futuro?
SABRINA:
- Então não pensa.
CAIO:
- Vivo o presente. Projeto o futuro. É algo tão longe que às vezes foge entre nossos dedos como água, antes mesmo de chegar.
SABRINA: (Vê outra foto)
- Posso?
CAIO:
- Claro.
SABRINA:
- É muito bonita!
CAIO:
- Minha ex.

SABRINA:
- Você a amava?
CAIO:
- Sim...
SABRINA:
- Então por que a deixou?
CAIO:
- Foi preciso.
SABRINA:
- Honestidade?
CAIO:
- Carinho.
SABRINA:
- Como soube?
CAIO:
- Por mim.
SABRINA:
- Soube sozinha.
CAIO:
- Sofre?
SABRINA:
- Tento compreender.
CAIO:
- Por isso se sente perdida.
SABRINA:
- Talvez.

CAIO:
- Não conseguiria salvar.
SABRINA:
- Não quero salvar. Não é isso que me motiva.
CAIO:
- Alta piedade?
SABRINA:
- Amor.
CAIO:
- Amor sem paixão é amizade.
SABRINA:
- É contentamento.
CAIO:
- Até quando?
SABRINA:
- Até que volte.
CAIO:
- E se não voltar?
SABRINA:
- Irei junto.
CAIO:
- Se o caminho não for o mesmo?
SABRINA:
- Sempre voltou. Precisa de mim.
CAIO:
- E você do que precisa?

SABRINA:
- Da certeza.
CAIO:
- Um contrato.
SABRINA:
- É temos.
CAIO:
- Pode ser recendido.
SABRINA:
- A multa seria alta.
CAIO:
- Consequências.
SABRINA:
- Sei a hora de avançar.
CAIO:
- Sente dificuldades de recuar?
SABRINA:
- Não sou mulher de desistir.
CAIO:
- Por isso sofre.
SABRINA:
- Todos sofremos. Até mesmo os mais fortes como você.
CAIO:
- Como pode saber?
SABRINA:
- Amor e egoísmo andam lado-a-lado.

CAIO:
- Existem situações que temos ceder.

SABRINA:
- O medo de quem cede é o da perda total.
CAIO:
- Muitas vezes depois de uma grande perda, reconstruímos nossas vidas com grande vitória.
SABRINA:
- Ás vezes as incertezas nos paralisa.
CAIO:
- Bebe mais?
SABRINA:
- Por favor. wisky.
CAIO:
- Com gelo?
SABRINA:
- Sim. (levanta e olha novamente o quadro. Caio se aproxima com o copo)
CAIO:
 - Tesão?
SABRINA:
- Passa.
CAIO:
- Sintonia. Quando se sabe sintonizar...
SABRINA:
- Odeio...
CAIO:
- Eu sei.
SABRINA:
- Não sabe.
CAIO:
- Odeia o amor que sente.
SABRINA:
- Dizem que tem alma feminina.
CAIO:
- Nem todos os lados opostos se atraem.
SABRINA:
- O mau e o bem.
CAIO:
- Controle.
SABRINA:
- Nunca se descontrola?

CAIO:
- Temos nosso dia ruim.
SABRINA:
- Quando percebo o descontrole, me tranco no banheiro e passo horas me maquiando.
CAIO:
- Máscara!

SABRINA:
- E o que vejo é um estranho no banheiro.

CAIO:
- Fuja.

SABRINA:
- Fecho os olhos e penso. É uma fase, assim como esta maquiagem, logo que lavada, some.

CAIO:
- E some?
SABRINA:
- Eu fico.
CAIO:
- E por que não vai?
SABRINA:
- Não sei o caminho.
CAIO:
- Medo.
SABRINA:
-Vingança.
CAIO:
- Preferi sofrer ao deixar partir?
SABRINA:
- O ódio é alimentado pela presença.
CAIO:
- A ausência pode ser a cura.
SABRINA:
- Existem feridas que são incuráveis.
CAIO:
- E o que quer?
SABRINA:
- O que tem.
CAIO:
- Não percebe a diferença.
SABRINA:
- Não me importaria de ser igual.
CAIO:
- É um mundo a parte.
SABRINA:
- Dentro do meu.
CAIO:
- Sinto muito.
SABRINA:
- Deixe-o.
CAIO:
- Para outro?
SABRINA:
- Seria menos um.
CAIO:
- E você teria mais um.
SABRINA:
- Sou incansável.
CAIO:
- Nem todas batalhas podemos vencer.

SABRINA:
- Se não posso vencer posso ao menos me aliar.
CAIO:
- É loucura.
SABRINA:
- Todos somos.
CAIO:
- Não te ama.
SABRINA:
- Não importa. Eu o amo.
CAIO:
- Isto é doença.
SABRINA:
- É amor.
CAIO:
- Ilusão.

SABRINA:
- Somos felizes mesmo distantes!

CAIO:
- A distância é um m protesto para manter a paz.

SABRINA:
- O inferno esta aqui!
CAIO:
- É por isso que há fogo. O paraíso te incomoda.
SABRINA:
- É monótono.

CAIO:
- Converse.

SABRINA:
- Sei a resposta.

CAIO:
- Por que foge?

SABRINA:
- Pra não mais me ferir.

CAIO:
- Prefiro o sonho. Surge sem programação
.
SABRINA:
- Pesadelos também.

CAIO:
- A luz espanta a escuridão.

SABRINA:
- A novidade expulsa o amor. (Pega a bolsa, levanta-se)

CAIO:
- O perdão reconstrói uma vida.

SABRINA:
- Deixe-o.

CAIO:
- Se quiser ficar...

SABRINA:
- É meu.

CAIO:
- Não é propriedade.

SABRINA:
- Você é como o tempo...

CAIO:
- Pretendo deixar boas marcas.

SABRINA:
- Não te quero mal.

CAIO:
- Nem eu a você. Por que veio?

SABRINA:
- Pra pedir.

CAIO:
- O que ha fez pensar que seria atendida.


SABRINA:
- Mais de dois passos me motivaram.
CAIO:
- Um só bastaria para entender que não há acordo.
SABRINA:
- Negociações.
CAIO:
- Não a vida não é um contrato.
SABRINA:
- Passa.
CAIO:
- O que é bom e real fica.
SABRINA:
- Ruim e frustrante também.
CAIO:
 - Procura não cultivar.
SABRINA:
- É como mato, nasce sem permissão. (Sabrina saindo)
CAIO:

- Por favor... (Ela vira-se em direção a ele) Não volte mais aqui. (Ela sai, ele tranca a porta, respira fundo)

                  FIM

JOÃO ASSUNÇÃO PREFERE SEGUIR CAMINHO DIFERENTE DE PAI FAMOSO

Segundo publicado no site NA TELINHA, João Assunção filho de  Fabio Assun ção decidiu trilhar um caminho diferente do pai e ir p...