janeiro 07, 2011

AS ENCALHADAS (TEATRO:COMÉDIA)

AS ENCALHADAS
De: Marcondys França

PERSONAGENS:
ANINHA
MARIA
ROSINHA
GERALDO
ANTÔNIO
RONALDO
PADRE
POLICIA

CENA I
ANINHA: - Já ta chegano o dia da festa de São João...
MARIA: - É...
ROSINHA: - Mais uma festa de São João.
ANINHA: - E agente ainda nem se caso.
MARIA: - Santo Antônio esqueceu de nois.
ROSINHA: - Vou colocá ele dentro do congelador. E vai ficá lá, até arranjar um noivo pra eu. Digo, pra nóis.
ANINHA: - Casei de rezar toda noite pra esse Santo casamenteiro... E nada. Nadica de nada!
MARIA: - Já pulei fogueira, já amarrei nome na boca de sapo, e nada!
ROSINHA: - Oh! Já num seio pra que santo recorrê. De A a z já foram todos.
ANINHA: - Tô cansada de ficá aqui, chupano dedo. Veno todo mundo se casá.
MARIA: - E eu num suporto mais ser uma sorterona.
ROSINHA: - Temos que mudar isso. Temos de deixá de ser encalhadas.
ANINHA: - Prefiro ser uma perdida...
MARIA: - Credo! Bate na boca três veis mulé.
ANINHA: - Perdida sim, sorteira nunca.
ROSINHA: - Embestelhou de vez é?
MARIA: - Perdida num casa.
ROSINHA: - Vai continuá encalhada. No caritó!
ANINHA: - Caritó, não! Deus me livre e guarde. Então o que vou fazê?
MARIA: - Vamos rezar.
ROSINHA: - E fazer promessa.
ANINHA: - Num agüento mais tanta novena!
MARIA: - Tenha fé...
ROSINHA: - Agora puxa o terço, e reza. (Elas saem rezando)

CENA II
ANINHA: - Meninas... Tive um sonho... Sei não. Mas acho que foi um sinal. Nossa Senhora da Guia, ta me guiando rumo ao altar. E ai de Santo Antônio se num fizé a parte dele.
MARIA: - E que foi que ocê sonho?
ROSINHA: - Que sina foi esse?
ANINHA: - Ah, foi lindo! Sonhei que eu tava casando toda de branco, de branco é claro, por que sou pura. E o buquê? Ah! Era de fulo de laranjeira.
MARIA: - Se no sonho ocê é pura... Por que a flor de laranjeira?
ROSINHA: - É?
ANINHA: - Por que sou a noiva... E a noiva escolhe o buquê que quiser.
MARIA: - Também sonhei..
ROSINHA: - Mentira.
ANINHA: - Conta?
MARIA: - Ah! Era um rapais tão lindo. Só veno. Nem eu acredito!
ROSINHA: - Eu também não.
MARIA: - Vai querer agora mandá nos meus sonhos?
ROSINHA: - Não... Eu, não. De jeito maneira.
MARIA: - E você? Num sonhou?
ROSINHA: - Não. Pra que sonhá? Eu vou é ter tudo isso de verdade. É por isso que rezo. Rezo muito!
ANINHA: - Mas só rezá num adianta.
MARIA: - Que vamos fazê?
ROSINHA: - Meninas... Vamo a luta!
ANINHA: - Como assim?
MARIA: - Fé sem obra num tem valo.
ROSINHA: - Que quer dizê?
MARIA: - Vamo a caça.
ROSINHA: - Caça.
MARIA: - O mundo é um campo de batalha. E nóis num vamo ficá aqui de braços cruzados. Meninas... Os nossos futuros noivos nus espera. Em forma. Marchando... Um, dois, três, Quatro... (Saem)
CENA III
ANTÔNIO: - Onde estamos?
RONALDO: - Sei lá...
GERALDO: - Isso aqui é o escafundó.
ANTÔNIO: - Melhor aqui, que na prisão.
RONALDO: - Também, quem vai procurar agente aqui neste fim de mundo.
GERALDO: - Isso é ótimo. Aqui é um bom lugar pra se esconder... Jamais vão pensar em nos procurar aqui.
ANTÔNIO: - Mas temos que encontrar um lugar pra ficar.
RONALDO: - Também não posemos levantar suspeitas. Não podemos sair por ai gastando todo dinheiro.
GERALDO: - Que adianta dinheiro, se não podemos gastar?
ANTÔNIO: - Quer voltar pra cadeia?
GERALDO: - Não.
ANTÔNIO: - Então faz o que eu digo.
RONALDO: - E qual é seu plano?
GERALDO: - Que tem em mente?
ANTÔNIO: - Vamos fingir que somos três irmãos, e que viemos nesta cidade em busca de trabalho...
RONALDO: - Trabalho?
GERALDO: - Ah, não... Com tanto dinheiro... Trabalhar?
ANTÔNIO: - É só pra despistar.
RONALDO: - Olha!
GERALDO: - Que?
ANTÔNIO: - Deixa eu vê esse papel.
RONALDO: -Que diz?
GERALDO: - Vai ter uma grande festa...
ANTÔNIO: - Festa?
GERALDO: - Festa a São João. Isso é ótimo! Podemos aproveitar a festa pra fazer alguns contatos.
ANTÔNIO: - Será que vai ter mulher?
RONALDO: - É hoje que vou forrojear!
GERALDO: - E não esqueçam... Somos irmãos, e do interior. (Sai)

CENA IV
ROSINHA: - Parece que nóis foi as primeiras a chegar.
MARIA: - Melhô assim.
ROSINHA: - Desse jeito agente escolhe o mio partido.
ANINHA: - Sabe que tem razão.
ROSINHA: - Olha?
MARIA: - Ual! Que partidão!
ANINHA: - Quem são esses?
ROSINHA: - Será... Que são os maridos que Santo Antônio mandou pra nóis?
MARIA: - Ta me dano um calo.
ANINHA: - To inté sem ar!
ROSINHA: - Tão oiando pra cá.
MARIA: - Tô de perna bamba!
ANINHA: - Ah, acho que vou dismaiá.
ROSINHA: - Se dismaiá fica no chão e perde o marido.
MARIA: - Eu que num arriscaria.
ANINHA: - Olha, ta vindo pra cá.
ROSINHA: - Jesus, Maria, Josè... Me segura, me segura ou eu me jogo nos braços dele.
MARIA: - Tome tento! Moça oferecida, num casa.
ANTÔNIO: - Boa noite!
MARIA: - Boa.
ANTÔNIO: - Me dá honra dessa dança?
MARIA: - Mas eu nem te conheço...
ANTÔNIO: - Bem, senhora...
MARIA: - Senhorita.
ANTÔNIO: - Senhorita. Me chamo Antônio.
MARIA: - Antônio é? Que belo nome. E eu me chamo Maria, mas pode me chamar de Marinhinha, E eu aceito a dança. Upá! O senhô é forte, né?
ANTÔNIO: - A senhorita ainda num viu nada.
MARIA: - Sinhô! (Dançam)
ANINHA: - Num acredito. Mal a festa começou. Maria já se deu bem.
ROSINHA: - Olha... O outro... Ta vindo pra cá.
ANINHA: - Disfarça.
ROSINHA: - Por que?
ANINHA: - Vai que pensa que somos facis.
RONALDO: - As senhoras...
ANINHA: - Senhoritas.
GERALDO: - As senhoritas, nos dá a honra dessa dença?
ANINHA: - Bem que eu gostaria, mas não posso deixar minha irmã sozinha.
RONALDO: - Aquele, é meu irmão. E ele deseja muito tirar sua irmã pra dançar. Se for inconveniente.
ANINHA: - Claro que não. Ela aceita.
ROSINHA: - Aceito?
ANINHA: - Aceita. (Todos dançam)
GERALDO: - Amanhã podemos passar na sua casa.
ANINHA: - Não convém. Sabe o que é... O povo daqui é muito faladó.
GERALDO: - Mas somos gente boa. Honesta. E temos boas intenções.
ANINHA: - Sendo assim...
GERALDO: - Então até amanhã.
ANINHA: - Inté. (Eles saem)
ROSINHA: - Ah, meu Santo Antônio!
ANINHA: - Milagre!
MARIA: - Vamos desencalha!
ANINHA: - Meninas! Vamos pra casa. Temos que preparar um bolo de fubá. É pelo estombo que segura um homi. Vamo. (Saem)

CENA V
RONALDO: - Estamos com a faca e o queijo nas mãos.
GERALDO: - Que tem em mente?
ANTÔNIO: - Se agente se casa...
RONALDO: - Casar?
GERALDO: - Casar de verdade?
ANTÔNIO: - É. Agente vai morar com aquelas três caipiras...
RONALDO: - Casar não.
GERALDO: - Não seja tolo. Estamos sendo procurados.
ANTÔNIO: - Agente se casa, com nomes falsos... Dá um tempo por aqui. E depois que a poeira baixar... Agente se manda.
RONALDO: - Isso num ta certo.
GERALDO: - O que num tá sendo certo?
RONALDO: - Coitadas das moças.
GERALDO: - Coitadas coisa nenhuma. Estamos fazendo um favor. Se não for com nós, com quem elas vão casar?
ANTÔNIO: - Então vamos pedir a mão das caipiras em casamento.
GERALDO: - E já marcar o casório.
ANTÔNIO: - Pra quando?
RONALDO: -
GERALDO: - Pra ontem. Agora vamos. (Saem)
CENA VI
ANINHA: - Está tudo pronto.
ROSINHA: - Ah, eu to tão tensa!
MARIA: - Olha... Lá vem eles.
ANINHA: - Lembrem-se... Ajam com naturalidade! Não demonstrem que estão ansiosas. Homens, não gostam de mulheres fácis.
RONALDO: - Bom dia!
ANINHA: - Bom dia.
RONALDO: - Podemos entrar?
ANINHA: - Claro. Por favo, senhô...
ROSINHA: - Bolo.
GERALDO: - Obrigado.
MARIA: - Café?
ANTÔNIO: - Obrigado.
ROSINHA: - Mais bolo?
ANINHA: - Calma. Ainda não terminaram o primeiro pedaço.
RONALDO: - Nós viemos aqui...
ROSINHA: - Diga... Diga... Diga...
ANINHA: - Calma! Por favor... Continue.
RONALDO: - É que eu e meus irmão estamos aqui para pedir a mão das senhoritas em casamento.
MARIA: - Mão, braço, pernas, pescoço...
ANINHA: - Vamos pensar...
ROSINHA: - Pensado. Aceitamos.
MARIA: - De acordo. (Futuca Aninha)
ANINHA: - Claro!
RONALDO: - Sendo ass
GERALDO: - Sendo assim podemos marcar a data.
ANTÔNIO: - Amanhã.
ANINHA: - Amanhã?
ROSINHA: - Ótimo!
MARIA: - Amanhã, é uma ótima data.
ROSINHA: - Um ótimo dia pra casar.
RONALDO: - Então, combinado.
ANINHA: - Combinado.
ROSINHA: - Combinadíssimo!
MARIA: - Combinadérremo!
RONALDO: - Não vão faltar.
GERALDO: - Vamos está lá esperando.
ANTÔNIO: - Não faltem.
ANINHA: - Estaremos lá.
ROSINHA: - Podem esperar.
MARIA: - Lá estaremos.
RONALDO: - Até...
AS TRÊS: - Até!
CENA VII
PADRE: - Não entendo porque essa pressa em casar... Muito mal conhecem esses homens.
ANINHA: - Padre... Por tudo que é mais sagrado. Santo Antônio, fez a parte dele. Agora esperamos que o senhor faça a sua.
ROSINHA: - É só nos casá.
PADRE: - São as primeiras noivas que chegam a igreja, antes do noivo.
MARIA: - E correr o risco dos noivos desistir? Isso nunca.
PADRE: - se seus pais fossem vivos...
ROSINHA: - Mais não estão. Agora padre... Se concentre apenas nesses casamentos.
RONALDO: - Que surpresa... Já chegaram?
GERALDO: - São as noivas mais pontuais que já vimos.
ANTÔNIO: - Estou pasmo!
PADRE: - Então vamos logo acabar com esse carnaval fora de época.
ANINHA: - Então pula o sermão...
ROSINHA: - Vá direto ao que interessa.
MARIA: - Vá logo pro sim.
GERALDO: - É padre... As moças tem pressa.
PADRE: - Bom vamos dar início a cerimônia... (Ouve-se cirene da polícia)
ANTÔNIO: - Sujou!
RONALDO: - Vamos dar o pé.
GERALDO: - Por ali... Por ali. (Saem correndo)
ROSINHA: - Não...
MARIA: - Volte...
ANINHA: - Caritó não!
PADRE: - Eitá moças de pouca fé! Acho melhor vocês começarem o terço o quanto antes. E devem agradecer a Deus pelo livramento. Seus quase maridos são três foragidos da polícia. Bandidos perigosíssimos.
AS TRÊS: - E nós... ENCALHADAS!

F I M

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