janeiro 23, 2011

ENTRANDO NUMA FRIA (TEXTO DE TEATRO)

ENTRANDO NUMA FRIADe: Marcondys França
PERSONAGENS:
PAI
FILHO
LOBINHO (Amigo)
POLICIAL 1
POLICIAL 2
PEÇA EM 1 ATO
CENA IPAI: - Acorda! Escola...
FILHO: - Ah, pai!
PAI: - Vai se atrasar.
FILHO: - Só mais um pouco, vai...
PAI: - Filho...
FILHO: - Tá bom pai.
PAI: - Joga uma água nesse rosto que esta horrível.
FILHO: - Também... Que queria? Acabo de acordar.
PAI: - Fiz um café reforçado.
FILHO: - Belê.
PAI: - Que isso... Belê? Dá pra usar o português correto? Sabe que detesto gírias. Basta pedir: Obrigado, por exemplo.
FILHO: - Brigado.
PAI: - Obrigado.
FILHO: - obrigado!
PAI: - Está vendo? Assim é bem melhor, e não dói nada. Agora é melhor se apressar.
FILHO: - Tô indo.
PAI: - Estou indo. Hei? Não toma mais a benção?
FILHO: - Benção.
PAI: - Que Deus abençoe.
FILHO: - Fui. (Sai)
PAI: - E te proteja.
CENA IILOBINHO: - Tô ligado que cê é novo na escola.
FILHO: - É.
LOBINHO: - Tô ligado truta. Cê vem de buzão?
FILHO: - Não. Na caminhada.
LOBINHO: - Maneiro. Ah, já ia me esqueceno... Sou Lobinho.
FILHO: - Legal. Eu sou Robson.
LOBINHO: - Que vai fazê depois da aula?
FILHO: - Vou pra casa.
LOBINHO: - Nem pensá.
FILHO: - Se eu não chegar, meu pai me mata.
LOBINHO: - Oh, camarada! Tá comigo, tá com Deus! Esquenta a cuca não. O mano aqui tem um esquema da hora...
FILHO: - Esquema?
LOBINHO: - Num vai me dizê que é de dá pra trás...
FILHO: - Que isso!
LOBINHO: - Tu tá veno aquela loja ali?
FILHO: - Tô
LOBINHO: - E lá que será teu batismo. Só quero vê se tu passa no teste.
FILHO: - Teste?
LOBINHO: - É. Teste. Pra fazê parte da turma tem que passá no teste.
FILHO: - E como é esse teste?
LOBINHO: - Hei, calma! No tempo certo vai sabê.
CENA IIIFILHO: - Pai... Cheguei.
PAI: - Que bom filho. Como foi a aula?
FILHO: - Normal.
PAI: - Hei, que boné é esse?
FILHO: - Essa bombeta? Achei...
PAI: - Procurou o dono?
FILHO: - Ta brincano, né pai?
PAI: - Não.
FILHO: - Se eu perguntasse de que é, sabe quantos donos apareceria?
PAI: - Se metem o problema é deles. Você tem que fazer a sua parte. Esse boné é novo. Olha só... Está até com a etiqueta.
FILHO: - Pega leve pai. Alguém perdeu, e eu achei, pronto... O senhor tem que complicar sempre.
PAI: - Escuta aqui... Amanha você vai devolver esse boné, não é seu, e não o quero aqui. (Campanhia)
LOBINHO: - E ai coroa?!
FILHO: - Ah, pai... Esse é o Lobinho.
PAI: - Lobinho?
LOBINHO: - A seu dispô!
FILHO: - Meu colega de escola.
LOBINHO: - Caraça! Cheguei na hora boa... Rango! Dá pra descolar um suco pra nós?
FILHO: - Pai...
PAI: - Vou pegar. (Sai)
LOBINHO: - Ai carinha, tenho um esquema pra manhã.
FILHO: - Depois agente fala sobre isso... Aqui é sujeira.
LOBINHO: - É teu velho?
FILHO: - É. Ta desconfiado.
LOBINHO: - A parada é quente...
FILHO: - Sujou...
LOBINHO: - Foi mal.
PAI: - Suco...
LOBINHO: - Valeu coroa. Hum! Muito bom. Agora tenho que ir... Te vejo amanha, lá na escola. Falô coroa. (Sai)
PAI: - Não te quero na compania desse garoto.
FILHO: - Por que não?
PAI: - Não me parece boa influencia pra você.
FILHO: - O senhor tem que parar com essa mania de achar que sou melhor que os outros. (Sai)
PAI: - Tem algo de errado com esse moleque. (Sai)
CENA IVLOBINHO: - E ai mano, belê?
FILHO: - Belê.
LOBINHO: - Está pronto?
FILHO: - Se meu velho descobrir que cabulei aula...
LOBINHO: - Esquece teu veio. Hoje tu vai sabê o que é adrenalina.
FILHO: - Qual é a parada?
LOBINHO: - Tá veno aquela loja?
FILHO: - To. E daí?
LOBINHO: - Artigos de primeira.
FILHO: - E a segurança?
LOBINHO: - Vai medrar meu irmão?
FILHO: - Claro que não.
LOBINHO: - Trouxe a bombeta?
FILHO: - Trouxe.
LOBINHO: - Põe. E evita olhar pras câmeras.
FILHO: - Então vamos...
LOBINHO: - Hei... Calma ai. Relaxa! Trouxe uma coisinha pra nós.
FILHO: - Como conseguiu?
LOBINHO: - Eu sou o cara. Esse é teu. (Passa um bazeado)
(Acendem e saem fumando)
CENA VPAI: - De onde veio esse casaco?
FILHO: - Ah, é do meu amigo. É do Lobinho. Ele me emprestou.
PAI: - Já conversamos sobre isso.
FILHO: - Ta pai. Vou pro quarto. Tenho que estudar.
PAI: - Hei, espera ai. Escuta aqui rapazinho... Estou falando com você.
FILHO: - Dá pra me deixar em paz só por um minuto? Que saco! (Sai)
PAI: - Tem algo de errado com esse garoto. (Sai. Entra o filho falando no celular)
FILHO: - Belê... Vou dá um perdido velho e daqui a mais ou menos uns vinte minutos to ai. Mas me diz uma coisa... A parada é quente? Então ta. Falo. (Escreve um bilhete e sai) Pai, fui pra casa de uns amigos fazer um trabalho de escola e já volto.
PAI: - Pra onde foi esse moleque? (Encontra o bilhete) Pai fui pra casa de uns amigos fazer um trabalho de escola e já volto. (Pega o celular e liga) Fora de área. Esse menino está aprontando alguma. Não sei por que, mas sinto isso. Queira Deus que eu esteja enganado. (Telefone) Alô... O que? Não... Não pode ser. Polícia? Há algum engano. Sim. É meu filho. Está bem, já estou indo para aí. (Sai)
CENA VI
POLICIAL: - Senhor posso ajudar?
PAI: - Estou procurando meu filho... Recebi uma ligação...
POLICIAL: - Há, o senhor deve ser pai de uns dos moleques que furtavam uma loja de departamentos aqui no centro...
PAI: - Furto?
POLICIAL: - É... Furto. E como não é difícil de imaginar... Um dia a casa cai e a dele caiu. Oh, Juarez... Trás o elemento. (O policial trás Robson)
FILHO: - Não fiz nada pai. Foi tudo um engano. Eu juro que ia pagar.
PAI: - Estou decepcionado com você Robson.
POLICIAL: - O senhor conhece isto?
FILHO: - É meu pai.
PAI: - Não.
POLICIAL: - E isto?
PAI: - Também não.
POLICIAL: - E isto?
PAI: - Não identifico nada dessas coisas. Não são do meu filho.
POLICIAL: - É que imaginei. Dá pra vê que o senhor é uma pessoa honesta e não compartilhar com as coisas erradas que seu filho anda fazendo. Mas sinto muito em dizer-
lo, seu filho foi pego em flagrante ao lado de um já velho conhecido nosso e será encaminhado a Fundação Casa.
FILHO: - Pai... Por favor, me tira daqui, pai...
PAI: - Por favor...
POLICIAL: - Infelizmente, há uma queixa formal... Seu filho foi pego em flagrante e há imagens das câmeras de segurança que comprovam o delito.
FILHO: -
PAI: - Há Robson...
POLICIAL: - Leve-no.
FILHO: -
PAI: - Pai... Pai...
POLICIAL: - Sinto muito senhor. O que tem a fazer é procurar um bom advogado, o quanto antes melhor. De preferência antes que o transferimos para Fundação Casa. (O pai sai desnorteado)
F I M

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