ATO III – CENA I
PENELOPE: - Hei gato!? Vem sempre aqui?
TÁRCIO: - De vez em quando.
PENELOPE: - Engraçado! Conheço todos. Nunca te vi aqui.
TÁRCIO: - É que dou sempre uma passada rápida.
PENELOPE: - Ah, entendi. É daqueles que curti só uma rapidinha. (Pega na genitália dele) Nossa! Que mala!
TÁRCIO: - Ah!
PENELOPE: - Que foi?
TÁRCIO: - Sou tímido.
PENELOPE: - Sei como acabar com qualquer timidez. Faço uma gulosa como ninguém! E ai?
TÁRCIO: - O que?
PENELOPE: - Que procura?
TÁRCIO: - Vendo o movimento.
PENELOPE: - Só vendo? Pra que só vê se pode fazer... Você é um cara muito interessante.
TÁRCIO: - Obrigado. Mas só quero no momento... Ficar olhando.
PENELOPE: - Não sabe o que esta perdendo. Então?
TÁRCIO: - O que?
PENELOPE: - Que curte?
TÁRCIO: - Natureza.
PENELOPE: - Ishi! Sou quase natural. Algumas pequenas mudanças. Ativo ou passivo?
TÁRCIO: - Que?
PENELOPE: - Come ou dá? Já sei... Compreensivo. Total flex.
TÁRCIO: - Aqui é calmo né?
PENELOPE: - É. As vezes o bicho pega. Que foi? Tá com medo?
TÁRCIO: - Medo? Não.
PENELOPE: - Então... Que quer fazer?
TÁRCIO: - Eu?
PENELOPE: - Você.
TÁRCIO: - Eu...
PENELOPE: - O que decidir eu topo.
TÁRCIO: - É que...
PENELOPE: - Já sei. Está esperando alguém.
TÁRCIO: - É. Estou.
PENELOPE: - Namorado?
TÁRCIO: - Não.
PENELOPE: - Então tenho chance.
TÁRCIO: - Mais ou menos. Estamos nos conhecendo.
PENELOPE: - Se conhecendo aqui? Hum! Bafon... Sabe, te achei uma graça.
TÁRCIO: - Aqui é sempre assim tão calmo?
PENELOPE: - Que nada. Geralmente aqui ferve. Mas como teve uma morte recentemente...
TÁRCIO: - Morte?
PENELOPE: - Mataram um carinha. As bibas estão todas receosas.
TÁRCIO: - E como esse cara foi morto?
PENELOPE: - O gayzinho fazia a alegria de muita gente aqui... Passava o rodo geral
TÁRCIO: - Você o conhecia?
PENELOPE: - Só de vista.
TÁRCIO: - Por que acha que o matara?
PENELOPE: - Sei lá... Também meu bem, nem quero saber.
TÁRCIO: - Mas era conhecido?
PENELOPE: - Oh! Muito.
TÁRCIO: - Você o conhecia?
PENELOPE: - Na verdade sim.
TÁRCIO: - Então você ficou muito abalado.
PENELOPE: - Abalada. No dia que ele morreu ainda conversamos um pouco.
TÁRCIO: - É? E sobre o que conversaram?
PENELOPE: - Homens, meu bem. Necas! O casinho dele é uma graça.
TÁRCIO: - Então ele tinha um caso?
PENELOPE: - Ôh! De anos.
TÁRCIO: - O caso dele também frequentava aqui?
PENELOPE: - Não. O coitado nem desconfiava.
TÁRCIO: - Você conhece o caso dele?
PENELOPE: - Hei? Que interesse é esse no falecido? Você é da polícia?
TÁRCIO: - Não... Não. Claro que não. Só curiosidade.
PENELOPE: - Ah, que bom! Que susto.
TÁRCIO: - É que fiquei curioso.
PENELOPE: - Ih! Vai chover...
TÁRCIO: - Que pena.
PENELOPE: - Vem comigo...
TÁRCIO: - Pra onde?
PENELOPE: - Moro aqui próximo. Vem...
TÁRCIO: - Não sei.
PENELOPE: - Hei cara. Só um pouco.
TÁRCIO: - É... Um pouco.
PENELOPE: - Não vai tirar nenhum pedaço.
TÁRCIO: - Então tá.
PENELOPE: - Venha.
TÁRCIO: - Seja lá o que Deus quiser.
ATO III – CENA III
EDNALDO: - Escuta. Ouve bem que vou lhe dizer... Não estou mais suportando... Está demais pra mim...
TÂNIA: - Que está querendo dizer?
EDNALDO: - Que qualquer dia desses não suportarei mais, ai...
TÂNIA: - Ai?
EDNALDO: - Você deverá se preocupar.
TÂNIA: - Não estou entendo.
EDNALDO: - Não de se estranhar.
TÂNIA: - Não zombe de mim.
EDNALDO: - Mimada. Isso que você é.
TÂNIA: - Não. Sou a sua tábua de salvação. Se não fosse por mim não seria o que é.
EDNALDO: - Você não passa de uma pobre menina rica... Menina não. Já deixou de ser a muito tempo. Agora não passa de uma velha esquizofrênica.
TÂNIA: - Que vai fazer?
EDNALDO: - Me dá nojo ficar aqui olhando pra essa tua cara de pobre coitada.
TÂNIA: - Perdão amor, perdão! Você está certo. Tem toda razão. Tem acontecido tanta coisa... Acho que a morte do meu irmão tem me deixado assim, com os nervos a flor da pele.
EDNALDO: - Tenho pena de você.
TÂNIA: - Vou melhorar. Juro!
EDNALDO: - Você é doente.
TÂNIA: - Serei boazinha... Como sempre fui.
EDNALDO: - Te enxerga... (A pega pelo braço e a leva para o espelho) Olha pra você. Se veja. Olha a que ponto chegou. Você é ridícula.
TÂNIA: - Me sinto tão carente. Mas, prometo... Vou melhorar.
EDNALDO: - Vou embora desta casa.
TÂNIA: - se sair por esta porta... Me mato! Eu me mato.
EDNALDO: - Louca.
TÂNIA: - Sim... Sou louca. Louca por você. Não sei viver sem você.
EDNALDO: - Vou dormir no quarto de hospedes.
TÂNIA: - Não... Por favor, fique. Não me deixe sozinha.
EDNALDO: - Estou cansado.
TÂNIA: - Amor...
EDNALDO: - Tânia, não piore as coisas. (Sai)
TÂNIA: - Meu Deus! Que foi que eu fiz?
ATO III – CENA IV
PENELOPE: - Hei gato... Entra.
TÁRCIO: - Obrigado.
PENELOPE: - Ah, me parece tão tenso... Relaxa gato!
TÁRCIO: - Tô bem.
PENELOPE: - Hum, é tímido! Sabe que gosto... Os tímidos na cama são...
TÁRCIO: - Tem água?
PENELOPE: - Água? Claro. Só um pouquinho... (Sai)
TÁRCIO: - Ah, meu Deus! Que enrascada.
PENELOPE: - Aqui está gato.
TÁRCIO: - Você disse que conhecia o cara que morreu no parque...
PENELOPE: - Pois é menino! Que pena! Um desperdiço. Que pedaço!
TÁRCIO: - Você o viu no dia que...
PENELOPE: - Hei... Espera ai... Você não é da polícia não é?
TÁRCIO: - Claro que não. Só tô começando...
PENELOPE: - É?
TÁRCIO: - É temos que ter certos cuidados...
PENELOPE: - Coitado. Sempre ia lá. Nessa dia o vi com um cara bonito, musculoso. Então pensei: Que cara de sorte! Ah, eu no meio daqueles dois pedaços!
TÁRCIO: - Você acha que foi esse cara?
PENELOPE: - Não. Esse cara vive lá. É um tremendo pegador. Só escolhes os tops. Agente meu bem, vê com os olhos e lambe com a testa.
TÁRCIO: - E depois?
PENELOPE: - Vamos mudar de assunto? Vamos falar de você.
TÁRCIO: - Eu?
PENELOPE: - É.
TÁRCIO: - Como lhe disse. Levei bolo.
PENELOPE: - Mais ficou com o docinho aqui. E por sinal, bem recheado.
TÁRCIO: - Bom, acho que chegou minha hora.
PENELOPE: - Mas já?
TÁRCIO: - Pois é.
PENELOPE: - E vai me deixar aqui, assim?
TÁRCIO: - Eu volto outro dia.
PENELOPE: - Já sabe o caminho.
TÁRCIO: - Então até... logo...
PENELOPE: - Até. Puta que pariu... Que bunda!
ATO III – CENA V
(Na mansão)
TERESA: - Nossa! Dona Mara está arrasada.
SELMA: - Também não é pra menos.
TERESA: - Como Dona Marisa é diferente de dona Tânia.
SELMA: - As duas juntas não valem uma. Deus me livre, nunca vi uma família tão complicada quanto esta!
TERESA: - Acho seu Edinaldo tão frio com a mulher.
SELMA: - Não viu nada!
TERESA: - Por que?
SELMA: - Um cafajeste. Faz da coitada, gato e sapato. O que segura este casamento, é a grana.
TERESA: - Será?
NANCI – Estão ai...
TERESA: - Sim senhora.
NANCI: - Fazendo futrica.
TERESA: - Aconteceu mais alguma coisa Nanci?
NANCI: - Menina, vira essa boca pra lá.
TERESA: - Do jeito que as coisas andam nesta casa... Se eu fosse dona Mara, mandava era tirar um ebô!
NANCI: - Mas graças a Deus não é. Bom, seu Egídio pediu pra avisá-las que, como vocês trabalham na casa, assim como os demais empregados, serão convocados para depor.
TERESA: - Tenho que ir na delegacia?
SELMA: - Nunca nem passei na porta de uma.
TERESA: - Mas por que nós?
SELMA: - Por nós sabemos muito... Empregados sempre sabem de coisas... Já vi num filme.
TERESA: - Temos que dizer o que sabemos?
NANCI: - Muito pelo contrário meninas. Vão dizer apenas que como funcionários nosso contato com a família é apenas profissional, e não nos envolvemos na pessoal de nossos patrões.
TERESA: - Temos que mentir?
NANCI: - Não. Apenas omiti. Não sei, não vi e não ouvi nada. Entenderam?
SELMA: - Sim senhora.
TERESA: - E o delegado vai engolir isto?
NANCI: - Você sabe de algo que não sabemos?
TERESA: - Eu? Não... Claro que não. Não senhora...
NANCI: - Foi o que pensei. Também não se esqueçam que está cheio de jornalistas lá fora... Então, não falem mais do que devem. Agora voltem a seu trabalho. (Saem)
ATO III – CENA VI
MARINA: - Teresa...
TERESA: - Ai! Que susto! Assim você me mata, Marina.
MARINA: - Preciso de um favor seu.
TERESA: - Pode falar.
MARINA: - Me empresta cinquenta reais.
TERESA: - Fala sério! É brincadeira, né? Mesmo por que se eu tivesse cinquentinha, tava rica.
MARINA: - Me dá o que você tem.
TERESA: - Um real, serve?
MARINA: - Tá brincando.
TERESA: - Sério. Pra que a senhora quer esse dinheiro?
MARINA: - Pagar uma dívida.
TERESA: - No que a senhora se meteu?
MARINA: - Um caras ai...
TERESA: - Cuidado dona Marina... Essa gente é perigosa.
MARINA: - Por isso que tô te pedindo.
TERESA: - Então por que a senhora não pede a seu pai? Pra ele isso não é nada.
MARINA: - Jamais me daria. Pensaria que é pra comprar...
TERESA: - E não é?
MARINA: - Tô limpa. Faz um mês. Um mês. Tô limpa!
TERESA: - Olha aqui Marisa... Não nasci ontem. Dá pra perceber que você tá na maior fissura.
MARINA: - Você é igual a todo mundo... Igualzinha! Oh... Mas fica esperta, tá?! (Sai)
TERESA: - Essa não tem jeito.
ATO III – CENA VII
LUDIMILA: - Filhinha... Olha que chegou...
ISABEL: - Que?
LUDIMILA: - Uma intimação.
ISABEL: - Intimação?
LUDIMILA: - Temos que comparecer a delegacia para depor.
ISABEL: - Mas por que?
LUDIMILA: - Como por que? Você era noiva do Marcos.
ISABEL: - E?
LUDIMILA: - E... Se fosse mais esperta teria subido ao alta com ele, e agora meu bem, você seria uma jovem, bela e rica viúva.
ISABEL: -Não começa mãe.
LUDIMILA: - Se pelo menos tivesse engravidado... Teria garantido o teu futuro.
ISABEL: - Não sou obrigada a ouvi tantas asneiras...
LUDIMILA: - Era só ter um filho e pronto.
ISABEL: - Como você fez com meu pai?
LUDIMILA: - Não diga bobagem. Não seja injusta. Amava seu pai.
ISABEL: - Todo mundo sabe o que lhe interessava no meu pai...
LUDIMILA: - Não diga o que não sabe.
ISABEL: - Mas deu tudo errado né? Ele faliu.
LUDIMILA: - É o que recebo por lhe dar o melhor...
ISABEL: - Não adianta tentar jogar a culpa de seus devaneios em cima de mim. Não vou me sentir culpada. Não sou e jamais serei como você, uma alpinista social. (Bofetada)
LUDIMILA: - Meças suas palavras... Não admito que fale assim comigo. Que sempre quis é o seu bem.
ISABEL: - Me jogando nos braços de qualquer homem que tenha a conta bancaria maior que seu caráter.
LUDIMILA: - Não despeje em mim, seu fracasso minha filha.
ISABEL: - Fracasso?
LUDIMILA: - É... Fracasso.
ISABEL: - Do que está falando?
LUDIMILA: - Vamos parar por aqui... Se não vamos entrar em um terreno muito perigoso.
ISABEL: - Tarde demais. Agora, fale.
LUDIMILA: - Não. Melhor não.
ISABEL: - Não tem coragem... A verdade dói né?
LUDIMILA: - Cala a boca.
ISABEL: - O que há de errado com você?
LUDIMILA: - Ao contrário do que você pensa, nunca tive nada de mãos beijadas.
ISABEL: - Por isso precisava se vender?
LUDIMILA: - Que disse?
ISABEL: - Todo mundo sabe... Não se casou por amor.
LUDIMILA: - Amor? Que sabe de amor? Não se iluda menina... Só os tolos acreditam em amor. Resisti as dificuldades do dia-a-dia. Queria vê você se entregar a um homem que não é capaz de lhe dar nem o básico, viver uma vida de privações. Sorrir com estomago vazio, roncando de fome. Amor? O que é o amor com o bolso vazio, sem mesmo alguns centavos para comprar um pãozinho...
ISABEL: - Amava o Marcos. Não me importava sua fortuna. Por esse amor seria capaz de qualquer coisa.
LUDIMILA: - Grande coisa. Lhe trocou por um...
ISABEL: - Como você é má. Você é cruel.
LUDIMILA: - A vida é cruel.
ISABEL: - Nada está provado. É só especulação.
LUDIMILA: - O pior cego é aquele que não quer enxergar.
ISABEL: - Por que? Por que mãe... Por que fez isso comigo? (Chora)
LUDIMILA: - Sinto muito filhinha! Mamãe está aqui.
ISABEL: - Eu o amava mãe.
LUDIMILA: - Eu sei meu anjo.
ISABEL: - E agora?
LUDIMILA: - O tempo não volta... Mas podemos reparar.
ISABEL: - Que?
LUDIMILA: - Temos que dá um jeito...
ISABEL: - Do que está falando agora?
LUDIMILA: - Não podemos sair de mãos abanando dessa história.
ISABEL: - Mãe...
LUDIMILA: - Descanse filha. Deixa tudo com a mamãe. Eu cuidarei de você. (Saem)
ATO III – CENA VIII
EGÍDIO: - Ednaldo...
EDINALDO: - Senhor.
EGÍDIO: - Temos que abafar o caso...
EDINALDO: - Sei disso senhor...
EGÍDIO: - Não podemos deixar essa história vazar.
EDINALDO: - Seria um grande escândalo.
EGÍDIO: - Aqui reportezinha de quinta! Cada vez chega mais perto da verdade.
EDINALDO: - Isto seria muito ruim para sua campanha.
EGÍDIO: - Temos que convencer esta mulherzinha insolente a desistir de publicar o que sabe sobre o caso.
EDINALDO: - Suborno?
EGÍDIO: - Se for preciso.
MARA: - Por que subornar alguém para não contar a verdade?
EGÍDIO: - Mara?
MARA: - Perdão! Foi inevitável ouvir a conversa.
EDINALDO: - Com licença. (Sai)
MARA: - O que esta escondendo de mim Egidio?
EGÍDIO: - Eu... Escondendo? Nada, nada...
MARA: - Não me traga como idiota. Não subestime minha inteligência...
EGÍDIO: - Não querida...
MARA: - Chega Egídio. Que mesmo que eu descubra a verdade através dos jornais?
EGÍDIO: - De que verdade você esta falando?
MARA: - A verdade que me esconde. O que realmente aconteceu com meu filho?
EGÍDIO: - Mara...
MARA: - Vai continuar mentindo pra mim?
EGÍDIO: - Não. Que mesmo saber?
MARA: - Quero.
EGÍDIO: - Nosso filho foi assassinado.
MARA: - Já imaginava.
EGÍDIO: - Foi isso.
MARA: - Por que?
EGÍDIO: - A polícia continua...
MARA: - Não me venha com essa baboseira de que estão investigando. Você sabe muito mais que isso...
EGÍDIO: - Seu filho eu um pederasta, estava naquele lugar se encontrando com outros homens...
MARA: - Outros homens?
EGÍDIO: - Para praticar sexo...
MARA: - Não pode ser...
EGÍDIO: - Vê por que não queria que soubesse? É vergonhoso para nossa família.
MARA: - Por que o mataro?
EGÍDIO: - Isso ainda não sabemos.
MARA: - Estava noivo.
EGÍDIO: - Sempre foi contra. Este noivado aceitou só de fachada.
MARA: - Não faz sentido.
EGÍDIO: - Sei que é um choque. Mas tem que aceitar os fatos por piores que sejam... Ainda descobriremos muito mais... Coisas que serão difíceis aceitar.
MARA: - Por que nunca nos disse?
EGÍDIO: - Por que é vergonhoso.
MARA: - Era meu filho.
EGÍDIO: - Mas está morto. E nós temos que prosseguir. Almoça comigo?
MARA: - Não me sinto bem. Quero ir pra casa.
EGÍDIO: - Pedirei ao nosso motorista para leva-la.
MARA: - Obrigado! (Saem)
ATO III – CENA XI
(Num bar)
RODRIGUES: - Pensei que não viesse...
MÔNICA: - Espero não me arrepender.
RODRIGUES: - Tenho certeza que não se arrependerá.
MÔNICA: - O que tem pra mim?
RODRIGUES: - Hei, calma! Relaxa.
MÔNICA: - Não acha que só por que vim até aqui vai conseguir levar pra cama...
RODRIGUES: - Que pensamento fértil!
MÔNICA: - Não é atoa que sou jornalista.
RODRIGUES: - Sabe que não é uma má ideia.
MÔNICA: - Péssima!
RODRIGUES: - Ao menos um drink você bebe comigo...
MÔNICA: - Não bebo em serviço.
RODRIGUES: - Não estamos em serviço.
MÔNICA: - Eu estou. Preciso finalizar esta matéria o quanto antes.
RODRIGUES: - Não tem medo?
MÔNICA: - Na minha profissão não há espaço para medos...
RODRIGUES: - Está mexendo com gente graúda.
MÔNICA: - Me interesso pela verdade. E é isso que pretendo publicar.
RODRIGUES: - E por isso seria capaz de qualquer coisa...
MÔNICA: - Menos ir pra cama com você.
RODRIGUES: - Sou tão repugnante assim?
MÔNICA: - Sinceramente? Não. Mas não confundo trabalho com diversão.
RODRIGUES: - Então tenho uma chance?
MÔNICA: - Quem sabe!
RODRIGUES: - O rapaz tinha um relacionamento.
MÔNICA: - Disso eu já sei. Aliás, dois.
RODRIGUES: - Já tenho o endereço do cara com quem o defunto se relacionava.
MÔNICA: - Isso é bom. É quente?
RODRIGUES: - Quentíssimo!
MÔNICA: - Então me passa...
RODRIGUES: - Que recebo em troca?
MÔNICA: - Quanto vale?
RODRIGUES: - Apenas um beijo teu.
MÔNICA: - Isso é golpe baixo.
RODRIGUES: - Pegar ou largar.
MÔNICA: - No rosto.
RODRIGUES: - Sendo assim... Rasgo no meio...
MÔNICA: - Não! Tá bom... Eu beijo...
RODRIGUES: - Ótimo. (Ela o beija) Nossa! Que frio. Por um instante pensei que estivesse beijando um cadáver.
MÔNICA: - Queria o que meu bem, um beijo apaixonado?
RODRIGUES: - Não... No mínimo caloroso.
MÔNICA: - O endereço...
RODRIGUES: - Acho bom caprichar! (Ela o beija)
MÔNICA: - Satisfeito?
RODRIGUES: - É... Não foi o que eu imaginava, mas já é um começo... (Entrega o papel) Aqui...
MÔNICA: - Valeu!
RODRIGUES: - Hei... Boa noite pra você também...
MÔNICA: - Boa! (De longe)
RODRIGUES: - Ainda te pego de jeito! (Bebe e sai)
ATO III – CENA X
(Na mansão)
SELMA: - Bom dia...
LUDIMILA: - Preciso falar com Mara.
SELMA: - Perdão senhora. Mas Dona Mara não está.
LUDIMILA: - Não tem problema eu espero.
SELMA: - Mas senhora...
LUDIMILA: - Que faz ai parada? Sirva-nos alguma coisa...
NANCÍ: - O que está acontecendo aqui Selma?
ISABEL: - Desculpe-nos Nanci, já estamos de saída. Vamos mamãe?
LUDIMILA: - Engano seu filhinha. Viemos conversar com Mara...
NANCÍ: - Dona Mara não está.
LUDIMILA: - Sendo assim... Não vejo outra opção, a não ser esperar.
NANCÍ: - Creio que não seja uma boa idéia.
LUDIMILA: - Você não é paga pra crer e sim pra obedecer. Por tanto se ponha na sua condição de...
ISABEL: - Mamãe!
LUDIMILA: - Empregada. E como boa empregada que deva ser. Peça a sua subordinada para nos servir um drink.
NANCÍ: - Como boa empregada... Só sigo ordens dos meus patrões. E só não peço para os seguranças lhe arrastarem daqui pra fora em respeito a sua filha que é um doce.
LUDIMILA: - escute aqui sua insolente...
ISABEL: - Mamãe, chega!
NANCÍ: - Se deseja espera... Que espere. Vamos Selma. (Saem)
ISABEL: - Que desagradável mamãe.
LUDIMILA: - Essa empregadinha má educada não perde por esperar... Deixa você entrar de vez pra essa família.
ISABEL: - Não viaja mãe. Acabou! Será que não percebeu? Marcos está morto.
LUDIMILA: - Escuta aqui sua imbecil... Eu falo, você fica calada. Vê se não estraga tudo.
ISABEL: - Que está planejando desta vez?
LUDIMILA: - O teu futuro.
ISABEL: - Não vou ficar aqui pra presenciar esse circo de horrores...
LUDIMILA: - Melhor mesmo. Vá... Em casa conversamos.
ISABEL: - Nancí?
NANCI: - Senhora?
ISABEL: - você pode abrir a porta pra mim?
NANCI: - Sim senhora. (Isabel sai. Voltando, campanhia toca) Dona Mara... Ludimila esta a sua espera.
LUDIMILA: - Mara querida!
MARA: - Como vai?
LUDIMILA: - Melhor agora...
MARA: - Pena que não estou em condições de lhe dar atenção minha querida...
LUDIMILA: - Há que pena! Pois o assunto que me trás aqui é muito importante...
MARA: - Em outro momento.
LUDIMILA: - O sobre o Marcos.
MARA: - Meu filho?
LUDIMILA: - Sim. Tenho boas novas...
MARA: - Não entendi.
LUDIMILA: - Vamos ser avós.
MARA: - Que?
LUDIMILA: - Isso mesmo! Não é maravilhoso? Isabel está grávida.
MARA: - Grávida?
LUDIMILA: - É grávida.
MARA: - Não entendo...
LUDIMILA: - Como não? Cinco anos de namoro...
MARA: - Então, meu filho ia ser pai?
LUDIMILA: - Exatamente. Estou tão radiante! Isabel se sentiu mal, então a levei ao hospital e o médico confirmou... Claro que é bem recente. Mas de certo modo, Marcos continuará entre nós através deste filho.
MARA: - Estou surpresa.
LUDIMILA: - Também fiquei. Mas confesso, estou feliz.
MARA: - Meu filho... Ia ser pai.
LUDIMILA: - Achei que tinha que lhe dar esta notícia...
MARA: - Vez bem. E Isabel?
LUDIMILA: - Sentiu-se mal. Então achei melhor que fosse pra casa. Sabe como é... Gravidez, no começo... Indisposição, enjoo... Bem mas agora que lhe dei a notícia, deixa eu ir... Isabel precisa dos meus cuidados.
MARA: - Isabel terá toda assistência que precisar...
LUDIMILA: - Quanto a isso, não tenho nenhuma dúvida. Beijos querida!
MARA: - Nanci, acompanhe-a... (Ludimila sai) Isabel grávida!
NANCI: - Senhora acredita nesse mulher?
MARA: - Você não?
NANCI: - Essa mulher é tinhosa. Capaz de tudo pra se dar bem.
MARA: - Até mesmo articular uma história como essa?
NANCI: - Ela é capaz de coisas que até o diabo duvida.
MARA: - Se for uma invenção, será logo desmascara.
NANCI: - isso lhe trouxe esperança.
MARA: - Filho do meu filho!
NANCI: - Se fosse a senhora pedia DNA.
MARA: - Não tenha dúvida. Egídio irá exigir.
NANCI: - Certo ele. Nessa gente não dá pra confiar.
MARA: - Vou para meu quarto. Estou um pouco indisposta.
NANCI: - Se precisar de alguma coisa...
MARA: - Obrigada, minha querida. (Saem)
ATO III – CENA XI
(Na delegacia)
RODRIGUES: - O senhor mandou me chamar?
NILTON: - Sim... Veja.
RODRIGUES: - Que é?
NILTON: - O laudo definitivo.
RODRIGUES: - Então... A causa da morte... Algo perfurante, possível material ponte agudo de superfície plástica. Suposto assassino canhoto...
NILTON: - Exatamente. Isso elimina muitos suspeitos.
RODRIGUES: - Quando começamos a ouvir a família e amigos?
NILTON: - A partir de amanhã.
RODRIGUES: - Ótimo. Mas o que vamos fazer quando descobrir a verdade?
NILTON: - O que tem que ser feito.
RODRIGUES: - Arquivar o processo?
NILTON: - Exatamente. Há muitos interesses por trás desse caso.
RODRIGUES: - Entendi. Mas se tudo deve ficar como está, porque ouvi as testemunhas?
NILTON: - Seguir protocolos, meu caro.
RODRIGUES: - Frustrante!
NILTON: - É a lei do poder. Manda quem pode, obedece quem é inteligente.
RODRIGUES: - Com licença.
NILTON: - Toda.
ATO III – CENA XII
(Mônica vai a casa de Júnior)
MÔNICA: - Olá...
JÚNIOR: - Posso ajuda-la?
MÔNICA: - Creio que sim. Há, sou Mônica...
JÚNIOR: - Nos conhecemos?
MÔNICA: - Ainda não. Posso entrar?
JÚNIOR: - Claro.
MÔNICA: - Obrigada. Aconchegante seu ap.
JÚNIOR: - Obrigado.
MÔNICA: - Você e o Marcos?
JÚNIOR: - Você o conhecia?
MÔNICA: - Infelizmente só conheci, depois de morto.
JÚNIOR: - Você é dá polícia?
MÔNICA: - Não.
JÚNIOR: - Então o que quer?
MÔNICA: - Apenas conversar com você...
JÚNIOR: - Conversar? Não entendo...
MÔNICA: - Júnior... Como sabe, será investigado... A polícia já sabe de sua ligação com o Marcos...
JÚNIOR: - Quem é você?
MÔNICA: - Hei, calma. Sou apenas uma jornalista investigativa...
JÚNIOR: - Não tenho nada a lhe dizer. Por favor saia.
MÔNICA: - Sabe que será um dos suspeitos...
JÚNIOR: - Não.
MÔNICA: - Você e Marcos estavam juntos a quanto tempo?
JÚNIOR: - Não é da sua conta.
MÔNICA: - Posso lhe ajudar.
JÚNIOR: - Não preciso de sua ajuda.
MÔNICA: - Acha mesmo que a família do Marcos vai aceitar sua versão numa boa?
JÚNIOR: - Não me interessa a opinião deles. Nunca me interessou.
MÔNICA: - Meu caro, você será o primeiro suspeito... Vão deduzir que ele queria cair fora e você não aceitando poderia ter o matado.
JÚNIOR: - Isso não é verdade. Estávamos muito bem.
MÔNICA: - Mesmo?
JÚNIOR: - Ele iria acabar o noivado e vinha morar comigo.
MÔNICA: - Então amam-se de verdade.
JÚNIOR: - Claro. Só não estávamos morando juntos por causa da família. Marcos tinha medo que descobrissem e esse escândalo acabasse interferindo na vida pública do pai.
MÔNICA: - Então sacrificava-se pela família.
JÚNIOR: - A família era tudo pra ele.
MÔNICA: - E você aceitava numa boa ser colocando em segundo plano?
JÚNIOR: - Nunca fui posto em segundo plano. Os momentos que tínhamos juntos eram plenos. Eu era amado tanto quanto amava.
MÔNICA: - acho bonito isso. Imagino o quanto era difícil pra você dividir o homem que amava com uma mulher.
JÚNIOR: - Tranquilo. Eles não tinham intimidades.
MÔNICA: - Você está me dizendo que eles não transavam?
JÚNIOR: - Exatamente.
MÔNICA: - Então, era um noivado de fachada?
JÚNIOR: - Não exatamente.
MÔNICA: - Como assim?
JÚNIOR: - Ela não sabia que ele era gay.
MÔNICA: - Então, ela era enganada.
JÚNIOR: - Não sei, acho que queria se enganar. Cinco anos... E nada.
MÔNICA: - Tem casal que quer se preservar até o casamento.
JÚNIOR: - Fala sério! Só cego não vê o que é obvio!
MÔNICA: - Como soube da morte?
JÚNIOR: - Notícia ruim corre rápido. Vi na teve.
MÔNICA: - deve ter sido um golpe duro.
JÚNIOR: - Foi. Mas o pior é ir aquele velório e não poder me despedir dele como o grande amor da minha vida.
MÔNICA: - Percebi teu sofrimento... Confesso que estranhei.
JÚNIOR: - Está sendo muito duro continuar sem ele.
MÔNICA: - ele que o mantinha?
JÚNIOR: - Não. Trabalho. Vivo do meu trabalho. Construímos isto juntos.
MÔNICA: - Bom gosto.
JÚNIOR: - Vai escrever sobre ele?
MÔNICA: - Pretendo.
JÚNIOR: - Sabe que se falar sobre nós... Destruirá a imagem que a sociedade tem sobre ele.
MÔNICA: - Prefere que esta vida de mentirinha que ele criou em torno de vocês permaneça?
JÚNIOR: - Muitos sofrerão com a verdade.
MÔNICA: - E sua dor, não importa?
JÚNIOR: - Posso lidar com ela.
MÔNICA: - Por que você acha que o mataram?
JÚNIOR: - Não sei. Não faço ideia. Marcos era gente boa, pacato, não tinha inimigos.
MÔNICA: - você tem certeza que a noiva e a família dele não sabiam de nada?
JÚNIOR: - Pelo menos, acho que não.
MÔNICA: - Obrigado por conversar comigo.
JÚNIOR: - Mônica...
MÔNICA: - Sim?
JÚNIOR: - Não publica nada, não.
MÔNICA: - Quando for publicar... Te aviso.
JÚNIOR: - É justo.
MÔNICA: - Obrigada por me receber.
JÚNIOR: - Obrigado por ouvir minha versão.
MÔNICA: - Fico feliz que tenha tido uma linda história de amor.
JÚNIOR: - A mais linda, acredite.
MÔNICA: - Acredito. Bom, bom nessa... Até.
JÚNIOR: - Até. (Sai)
ATO III – CENA XIII
(No apartamento de Ludimila)
ISABEL: - Até que enfim...
LUDIMILA: - A sorte foi lançada.
ISABEL: - Do que está falando? Que você andou aprontando desta vez?
LUDIMILA: - Isso é jeito de se falar com sua mãe? Me prepara um drink.
ISABEL: - Não tem.
LUDIMILA: - Como não?
ISABEL: - Acabou.
LUDIMILA: - Droga! Mas isso é por pouco tempo...
ISABEL: - É? Posso saber por que?
LUDIMILA: - Por que, depois da conversa que tive com Mara...
ISABEL: - Tenho até medo de perguntar o teor desta conversa...
LUDIMILA: - Claro que foi sobre você...
ISABEL: - Eu?
LUDIMILA: - Claro. Tinha que resolver sua situação.
ISABEL: - Que situação.
LUDIMILA: - Filha! Você é viúva de um dos caras mais ricos desta cidade...
ISABEL: - Não sou viúva, não éramos casados.
LUDIMILA: - Mas tem que cuidar do bebê.
ISABEL: - Que bebê?
LUDIMILA: - Deste bebê que esta esperando.
ISABEL: - Ficou louca?
LUDIMILA: - Não filhinha! Esta é nossa cartada final.
ISABEL: - Não acredito que...
LUDIMILA: - Fique feliz! Você será a mãe do ano.
ISABEL: - Você é louca!
LUDIMILA: - Mara ficou feliz.
ISABEL: - Vou procura-la e desfazer esta história criada por sua cabeça doentia.
LUDIMILA: - Preste atenção... Você vai querer viver uma vidinha medíocre o resto de sua existência. Está é sua única chance...
ISABEL: - Você é louca. Não estou grávida.
LUDIMILA: - Mas pode ficar.
ISABEL: - Que?
LUDIMILA: - Isso não é difícil.
ISABEL: - Não acredito no que estou ouvindo da minha própria mãe.
LUDIMILA: - Quero providenciar o seu futuro...
ISABEL: - Será que você é tão burra? Ainda que eu apareça grávida... Vão pedir teste de DNA.
LUDIMILA: - Isso agente dá um jeito.
ISABEL: - Que jeito?
LUDIMILA: - Compramos um.
ISABEL: - Você é louca. Não farei parte disso.
LUDIMILA: - Fará sim. Me deve isso. Renunciei minha vida por você.
ISABEL: - Não... Não farei. (Sai)
LUDIMILA: - Há, fará. Se fará. Ou não me chamo Ludimila. (Sai)