janeiro 31, 2013

LIÇÃO DE VIDA - TEATRO (ATO I CENA I E II)


LIÇÃO DE VIDA
De: Marcondys França
Personagens:
VALTER
NERISSA (Mulher de Valter)
LISANDRA (Filha)
LEANDRO (Filho)
OBERON (Pai de Valter)
ARIELE (Assistente Social)
PRIMEIRO ATO
CENA I
(Oberon esta sentado em uma poltrona, parece nostálgico)
VALTER: - Ainda acordado papai?
OBERON: - Sim... A insônia insiste em não me abandonar...
VALTER: - Precisamos averiguar isto. Suas insônias estão mais constantes.
OBERON: - Com o passar do tempo, o pesar da idade... As lembranças, a saudade, o pesar das horas nos atormentam.
VALTER: - Nostalgia...
OBERON: - Não. Apenas lembranças, de um tempo que não volta mais. O que nos restam, se não memorias, ou flashs de memorias, de tudo que foi vivido e ou que deixamos de viver acreditando que tínhamos todo tempo do mundo.
VALTER: - Ainda não acabou. Tem muito ainda que viver... Então pra que desperdiçar... O passado é importante, mais não deve deixar que seja muito mais importante que o presente.
OBERON: - Tem razão. Aproveitar o presente! Hoje entendo o futuro não existe, por que hoje passara a ser passado e amanha? Presente. Irônico não?
VALTER: - Então viva  papai... Viva intensamente cada segundo, cada minuto, cada hora, cada dia...
OBERON: - Não desperdiço, nem deixo de viver... No mais sou cercado de amor... Só que não dá pra deixar de recordar os momentos vividos...
VALTER: - Mamãe lhe faz muita falta, não é mesmo?
OBERON: - Sim, faz. Mas prefiro pensar que ela está bem, feliz... Que neste momento, ela está num lugar muito especial, tão especial quanto ela, sentada na relva verde, sentindo o vento acariciado sua face, contemplando a beleza de um lindo lago azul de águas transparentes... Sendo protegida pela sombra de uma árvore.
VALTER: - Oh, pai! Sempre achei que devias ser um poeta.
OBERON: - Não é poesia... É como imagino que seja o outro plano...
VALTER: - Não vamos mais falar disso... Eu estou aqui. Nós estamos aqui com o senhor.
OBERON: - O ruim de se viver muito... E presenciar a partida de todos que conhecemos e amamos...
VALTER: - Não diga isto. Queremos que viva bastante. Desejo que presencie meus filhos casarem, que segure em seu braços o seu bisneto...
OBERON: - Bisneto... Ah! Espero ter forças, não ser tão velho que não possa segurar...
VALTER: - O senhor é forte feito um touro! (Riem) Eu ajudo.
OBERON: - Sendo assim... Me sinto animado. Só espero que não demore muito.
VALTER: - Também não precisa ser pra tão logo, né?
OBERON: - Eu espero.
VALTER: - Mas falando sério... Me preocupa vê-lo assim, calado. Quietinho, num cantinho...
OBERON: - Diz o poeta: “E preciso que se aprenda a conviver com o silêncio, ele nos dirá em poucas palavras, tudo aquilo que precisamos ouvir”.
VALTER: - Pai... Quero que saiba, sempre estarei aqui.
OBERON: - Tem sua família. Não deve se importar com um velho...
VALTER: - Hei! Psiiii! Não diga isto. O senhor faz parte desta família.
OBERON: - Não quero ser um estorvo...
VALTER: - Não é. É meu pai, meu amigo de sempre, meu herói que sempre admirei.
OBERON: - Oh, filho! Sou o pai mais orgulhoso do mundo.
VALTER: - Se sou este homem, com estes valores, é por que segui seu exemplo, de honestidade e humanidade. (Se abraçam)
OBERON: - Meu querido filho.
VALTER: - Agora vamos... É tarde.
OBERON: - Claro. Vamos, filho.
VALTER: - E o senhor tente dormir. (Saem)
CENA II
NERISSA: - Precisamos conversar...
VALTER: - Bom dia Nerissa.
NERISSA: - Pra você o dia sempre está bom...
VALTER: - Não estou entendendo.
NERISSA: - Será? Ou finge que não entende?
VALTER: - Seja mais clara.
NERISSA: - Temos que dar uma solução...
VALTER: - Não estou entendendo...
NERISSA: - Não percebe que Lisandra já é uma moça, não dar mais para continuar no mesmo quarto que o irmão.
VALTER: - Que quer que eu faça?
NERISSA: - O que tem que ser feito.
VALTER: - Já conversamos sobre isto.
NERISSA: - Querido...
VALTER: - Não. Negativo...
NERISSA: - Valter...
VALTER: - Já disse que não. Não vou colocar meu pai num asilo.
NERISSA: - sabe que isso será inevitável.
VALTER: - Que esta dizendo?
NERISSA: - Seu pai vai precisar de cuidados...
VALTER: - Meu pai não é um objeto descartável.
NERISSA: - Não disse que era.
VALTER: - Mas age como se fosse. Como um objeto que depois de velho se descarta...
NERISSA: - Só acredito que seria viável...
VALTER: - o que?
NERISSA: - Calma. É que eu estive pesquisando... E encontrei um lugar...
VALTER: - Não. Nem começa.
NERISSA: - Por favor... Apenas me ouça. Olha, veja... (Dar um panfleto)
VALTER: - Um asilo.
NERISSA: - Não. Um lar... Olha bem... É diferente de tudo que já vimos.
VALTER: - nenhum lugar é melhor que o seio da família.
NERISSA: - Se quiser, podemos fazer uma visita. Conhecer...
VALTER: - Você esta louca.
NERISSA: - Solicitei a visita de um representante...
VALTER: - Não fez isso.
NERISSA: - Fiz.
VALTER: - É imperdoável.
NERISSA: - Acho bom você dar atenção. A situação aqui em casa esta ficando insustentável.
VALTER: - Realmente esta.
NERISSA: - Se continuar... Você terá que escolher.
VALTER: - Escolher?
NERISSA: - Sim. Escolher. Ou eu, ou ele. Os dois não dá.
OBERON: - Não será preciso.
VALTER: - Pai?
OBERON: - Sua mulher tem razão. Estou incomodando.
VALTER: - Nada disso.
OBERON: - Estou sendo demais.
VALTER: - Não está. É meu pai.
OBERON: - Não posso atrapalhar sua vida.
NERISSA: - Deu para escutar atrás da porta seu Oberon?
OBERON: - Sou velho, mais não sou surdo.
NERISSA: - Devia agradecer por todos esses anos...
VALTER: - Chega Nerissa!
NERISSA: - Chega mesmo. Estou no meu limite.  (Sai)
OBERON: - Ela tem razão.
VALTER: - Está louca.
OBERON: - Filho  já vivi o bastante... Não destrua sua família por causa de um velho.
VALTER: - Para. O senhor não é um velho... É meu pai.
OBERON: - E por ser seu pai, filho, te peço, ouça sua mulher.
VALTER: - Isso é loucura.
OBERON: - Acha que ficarei feliz aqui sabendo da insatisfação da sua mulher por causa da minha presença?
VALTER: - Oh, pai...
OBERON: - Por mim... Ouça o que ela tem a lhe dizer.
VALTER: - Mas pai...
OBERON: - Ficarei bem. Vá com ela conhecer este lugar. Pode ser bom.
VALTER: - Não posso fazer isso. Vai contra meus princípios.
OBERON: - Tem hora que temos que tomar certas decisões mesmo contra nossa vontade. Mas são decisões para o bem de todos. (Sai)
VALTER: - Droga! Que situação?! (Sai)

MINHA INFANCIA


AH, QUE SAUDADE SINTO DOS MEUS BRINQUEDOS PREFERIDOS
QUE ACREDITAVA QUE TINHAM VIDA
E EU OS DEFENDIA
ENCANTADO COM SEU MUNDO DE FAZ DE CONTA.
TÃO FRÁGEIS, QUERIDOS,
ME ENSINAVAM A CRESCER
ENTRE UMA BRINCADEIRA OU OUTRA
ME ENCONTRAVA SONHANDO
FORMANDO MINHA PERSONALIDADE
SENSÍVEL NUM MUNDO CHEIO DE POSSIBILIDADES
QUE ME MOSTRAVA QUE NO BRINCAR
EU, AINDA IMATURO, APRENDIA,
A VIVER A VIDA.
HOJE HOMEM, SOU CRIANÇA...
SEM PERDER A ESPERANÇA
AINDA BRINCA DE RECORDAR
DE UMA ÉPOCA TÃO FELIZ
QUE SEI QUE NÃO VOLTA
MAS QUE NÃO DÁ PRA ESQUECER
E POR ISSO NÃO ME CANSO DE RECORDAR.

janeiro 29, 2013

OS CINCO R’s E O CUIDADO COM MEIO AMBIENTE


Já sabemos que cuidar do meio ambiente é responsabilidade de todos nós.

Para isso é preciso saber alguns conceitos que envolvem todo processo de preservação.
Vamos iniciar com o conceito de reciclagem que se trata do reaproveitamento do material descartado como matéria-prima, e este material, é reutilizado na confecção do mesmo produto ou de outro produto diferente.

Para isso é preciso que se faça a coleta seletiva separando o lixo seco do lixo úmido.
O material reciclável (plástico, papel, metal e vidro) deve está limpo e seco. Para isso a sociedade deve se mobilizar fazendo esta separação da forma adequada e colocar na porta de sua residência no dia da coleta seletiva para que seja encaminhado para as centrais de triagem. Se no bairro onde você reside não tem atendimento pelo roteiro de coleta seletiva, o material poderá ser encaminhado para os chamados PEVs (Centro de Entrega Voluntária), estes PEVs pode ser encontrados em praças, hiper mercado ou os ECOPONTOS.

É de suma importância que se faça a reciclagem pois assim deixamos de retirar da natureza matéria-prima desnecessariamente, deste modo estaremos contribuindo para preservação do meio ambiente. Com este ato estaremos aumentando a vida útil dos aterros sanitários e contribuindo para geração de emprego e renda, uma vez que todo processo envolve a participação das cooperativas.

Quanto aos cinco R’s vamos entender  melhor.

REDUZIR – ao máximo o lixo que produzimos;
REUTILIZAR – tudo que for possível;
RENOVAR – reparar objetos usados;
RECUPERAR – devolução de materiais para que sejam usados novamente e
RECICLAR – realizar a coleta seletiva em casa, no trabalho e na escola.

janeiro 27, 2013

O CORPO (ATO 4)

ATO IV – CENA I


(Na redação)

SELMA: - Boa tarde!

TÁCIO: - Boa. Em que posso ajuda-la?

SELMA: - Tenho uma informação bombástica!

TÁCIO: - Não diga! Sobre o que?

SELMA: - Acha que sou trouxa? Vim negociar...

TÁCIO: - E o que você tem que possa nos interessar?

SELMA: - Você não parece jornalista.

TÁCIO: - E não sou. Sou fotografo.

SELMA: - Quero falar com a Mônica...

TÁCIO: - Posso saber o que?

SELMA: - Sigiloso.

TÁCIO: - Ela é muito ocupada...

SELMA: - Se não quer a informação... Vendo pra outro jornal...

TÁCIO: - Espere. É sobre o corpo encontrado...

SELMA: - Marcos. O corpo tem nome... Marcos!

TÁCIO: - O que sabe sobre ele?

SELMA: - Só falo com essa talzinha...

TÁCIO: - Tá bom... Só um minuto. Vou localizá-la.

SELMA: - Ótimo.

TÁCIO: - Tudo bem... Só um minuto. (Pega o celular) Mônica? Escuta... Onde está? Que bom. Sobe. Tem aqui uma moça que diz ter informações bombásticas sobre o Marcos... Como que Marcos? O falecido. Quem é? (Pra Selma) Quer saber quem é você.

SELMA: - Diz a ela que sou empregada na mansão...

TÁCIO: - É empregada da Mansão do Dr. Egídio. Tudo bem... (Desliga) Já esta vindo.

SELMA: - Vai demorar muito?

TÁCIO: - Não. Está no anda de baixo.

SELMA: - Espero que não demore. Tenho pressa.

MÔNICA: - Oi?!

SELMA: - Mônica?

MÔNICA: - A própria.

TÁCIO: - Bom... Vou pegar uma água... (Sai)

SELMA: - Não acha estranho não sair nada além de um assalto seguido de morte nos jornais...

MÔNICA: - Por que será? Tenho a impressão que sabe de algo...

SELMA: - Muito mais que imagina.

MÔNICA: - Como o que?

SELMA: - A vida oculta do falecido que a família faz tanta questão de esconder.

MÔNICA: - Que sabe além do fato do falecido ser homossexual?

SELMA: - Como sabe?

MÔNICA: - Sou jornalista. Meu trabalho é investigar. Seu nome é?

SELMA: - Selma.

MÔNICA: - Selma... Creio que foi contratada por ser uma pessoa de confiança. O que está fazendo é crime...

SELMA: - Crime?

MÔNICA: - Usar de informações confidenciais, invadir a vida alheia, pra se beneficiar... Que será que o Sr Egídio diria ou faria se soubesse?

SELMA: - Por favor... Não diga nada.

MÔNICA: - Cai fora daqui. (Selma sai)

TÁCIO: - E?

MÔNICA: - Nada demais. É só uma idiota se achando esperta. Agora vamos trabalhar. (Saem)



ATO IV – CENA II

TERESA: - Bom dia.

HÉLIO: - Bom dia.

TERESA: - Dona Mara os espera. Por aqui por favor...

HÉLIO: - Obrigado.

MARA: - Boa tarde meus queridos.

HÉLIO: - Boa tarde.

VIRGÍNIA: - Como vai dona Mara?

HÉLIO: - E a senhora Dona Liz?

DONA LIZ: - Dentro do possível, bem.

MARA: - Sentem-se, por favor.

HÉLIO: - Obrigado.

VIRGÍNIA: - Com licença.

DONA LIZ: - Fiquem a vontade.

MARA: - Teresa, sirva-nos um chá.

TERESA: - Sim senhora.

HÉLIO: - Sentimos muito...

MARA: - Sabemos que sim. Vocês eram os melhores amigos do Marcos.

DONA LIZ: - Eram sempre presentes na vida do meu neto.

MARA: - Por isso os chamamos aqui.

HÉLIO: - Se for algo possamos ajudar...

MARA: - Mãe... Não acha melhor subir...

DONA LIZ: - Não me trate como se eu fosse uma inútil... Não subestime a minha inteligência.

MARA: - Mamãe...

DONA LIZ: - Meu jovens... O que minha filha deseja saber é sobre os segredos do Marcos.

HÉLIO: - Segredos?

MARA: - A vida oculta do meu filho.

VIRGÍNIA: - Vida oculta?

MARA: - Sim. Foi por causa desse segredo que meu filho está morto.

HÉLIO: - Não entendi.

DONA LIZ: - Entendeu sim. Marcos era gay.

MARA: - Admiro sua lealdade... Mas precisam nos ajudar.

VIRGÍNIA: - Dona Mara...

MARA: - Sei que davam cobertura a vida dupla que ele vivia.

HÉLIO: - Como podemos ajuda-la?

MARA: - Quem era o rapaz... que...

DONA LIZ: - O namorado do Marcos.

VIRGÍNIA: - Não sabemos muito...

DONA LIZ: - Não precisam mentir. Sabemos que sabem.

MARA: - Só gostaria de conhecer essa pessoa.

HÉLIO: - Não sei se posso fazer isso...

MARA: - Quem é ele?

VIRGÍNIA: - Por que a senhora que conhecê-lo.

MARA: - Se meu filho o amou e foi feliz... É que ele deve ser uma pessoa muito especial.

VIRGÍNIA: - E é.

MARA: - Quero falar com ele. Preciso conhecer essa parte da vida do meu filho que eu não participei.

HÉLIO: - Dona Mara, com todo respeito... Não podemos fazer isso... É a intimidade dele...

VIRGÍNIA: - Deixe-nos consulta-lo primeiro. Se ele nos permitir...

DONA LIZ: - É justo.

MARA: - Por favor...

HÉLIO: - Agora vamos...

VIRGÍNIA: - Obrigada pelo chá.

MARA: - Espero que nos ajude.

DONA LIZ: - É muito importante para nós.

HÉLIO: - Logo tenha resposta... Ligo pra senhora.

VIRGÍNIA: - Até logo.

MARA: - Eu os acompanho.

VIRGÍNIA: - Até mais.

MARA: - Até. (Saem)

DONA LIZ: - Acha que vão nos ajudar a encontrar esse rapaz.

MARA: - Estou bem confiante mamãe. Agora venha, é hora do seu remédio. (Saem)

ATO IV CENAIII

(Marina é presa por porte de drogas)

TÂNIA: - Boa noite...

NILTON: - Só aguardar ser chamados.

EDNALDO: - Gostaríamos de falar com o delegado.

NILTON: - Só aguardar...

EDNALDO: - (Pega o celular) Alô... Dr. Egídio?

NILTON: - Espere... O senhor disse, dr. Egígio?

EDNALDO: - Exatamente.

NILTON: - Por favor... Sentem-se.

EDNALDO: - Podemos falar com o delegado?

NILTON: - Dr. Ednaldo... Delegado.

EDNALDO: - Prazer.

NILTON: - O senhor?

EDNALDO: - Assessor do Dr. Egídio.

NILTON: - Claro. Então já sabem...

EDNALDO: - Sim... E nos sentimos completamente envergonhados...

NILTON: - Imagino. Um prato cheio pra imprensa.

TÂNIA: - Então, todos já sabem?

NILTON: - Não. Logo que soube de quem era filha o elemento...

TÂNIA: - Marina.

NILTON: - Perdão. Mas a moça foi pega com uma quantidade razoável de droga. Enquadrada como traficante.

TÂNIA: - Marina não é traficante.

EDNALDO: - Uma irresponsável. Doutor, que podemos fazer?

NILTON: - Em nome do Dr. Egídio, posso dar um jeito...

EDNALDO: - Imagino que isso terá um custo.

NILTON: - Sobre isso conversaremos depois.

TÂNIA: - Posso ver minha irmã.

NILTON: - Claro! Rodrigues...

RODRIGUES: - Senhor?

NILTON: - Traga a moça.

RODRIGUES: - É pra já.

TÂNIA: - Como ela está?

NILTON: - Esquenta não... A moça teve tratamento vip.

MARINA: - Vieram zombar da minha cara?

EDNALDO: - Por mim apodreceria aqui.

MARINA: - Babaca!

TÂNIA: - Que pensa que esta fazendo?

MARINA: - Vivendo.

TÂNIA: - E isso é lá vida?

MARINA: - O que é vida? Isto que você vive ao lado desse encostado?

EDNALDO: - Cala a boca.

MARINA: - Quem vai fazer calar? Você?

EDNALDO: - Deveriam deixar você apodrecer numa cela. Quem sabe assim você aprenderia.

MARINA: - Sou a única que tem a coragem de dizer a verdade. Nesta família ninguém presta... São todos mascarados...

EDNALDO: - Cala essa boca. Você não passa de uma vadia drogada!

TÂNIA: - Chega vocês dois. Temos que sair daqui... Daqui a pouco a imprensa chega e teremos outro escândalo.

MARINA: - Escândalo? É essa vidinha de mentirinha que vocês vivem... Um casal perfeito, só diante da plateia, por que na cama... (Rir)

TÂNIA: - Agora chega! (Esbofeteia) Já passou do limite.

MARINA: - Prefiro apodrecer aqui do que ir com vocês...

EDNALDO: - Não seja por isso...

TÂNIA: - Não. Marina, por favor.

NILTON: - Vamos fazer o seguinte... Eu peço que o detetive Rodrigues acompanhe a moça até sua casa.

MARINA: - Praquela casa não volto. Nunca mais!

NILTON: - A moça volta sim... Nem que eu tenha que lhe entregar algemada.

MARINA: - Vou lhe denunciar...

NILTON: - Primeiro responderá ao processo. Você não é primaria... Por isso não poderá responder em liberdade. A escolha é sua.

TÂNIA: - Marina...

MARINA: - Já entendi.

EDNALDO: - Não sei como lhe agradecer.

NILTON: - Depois conversamos.

EDNALDO: - Vamos Tânia.

TÂNIA: - Marina...

MARINA: - Esquece que eu existo.

NILTON: - Detetive leve-a. (Saem)

ATO IV CENA IV

(No escritório)

LUDIMILA: - Que bom que você pode me receber.

EGÍDIO: - Espero que seja breve.

LUDIMILA: - Mara já deve ter adiantado o assunto.

EGÍDIO: - Espero que não seja um golpe.

LUDIMILA: - assim você me ofende e ofende a honra da minha filha.

EGÍDIO: -Então Isabel está grávida?

LUDIMILA: - Fiquei surpresa, porém feliz.

EGÍDIO: - Não seja idiota. Meu filho era gay.

LUDIMILA: - Não seja ridículo. Se ele fosse gay não teria engravidado minha filha.

EGÍDIO: - Seu golpe deu errado.

LUDIMILA: - Não me ofenda.

EGÍDIO: - Você que esta subestimando minha inteligência.

LUDIMILA: - Isabel está grávida.

EGÍDIO: - Se está grávida não é do meu filho.

LUDIMILA: - Posso lhe processar...

EGÍDIO: - Primeiro terá que provar a paternidade... Já ouviu falar em teste de DNA?

LUDIMILA: - Vou esfregar o resultado na sua cara.

EGÍDIO: - Sai do meu escritório...

LUDIMILA: - Vou pedir tudo que for necessário para minha filha.

EGÍDIO: - Deus permita que sua filha esteja grávida... E que seja do Marcos. Caso contrário, lhe meto numa boa cela.

LUDIMILA: - Vai engolir cada palavra. (Sai)

EGÍDIO: - Vadia!

ATO IV CENAVI

(Laudo final da morte)

RODRIGUES: - Com licença...

NILTON: - Chega ai... (Dá a pasta) Ai está.

RODRIGUES: - Que é?

NILTON: - Como que é? Está a tempo empenhado neste caso...

RODRIGUES: - (Lê) Então essa foi a causa de sua morte?

NILTON: - Agora é definitivo. O laudo é incontestável.

RODRIGUES: - Possível arma... Objeto pontiagudo não identificado... Possivelmente material plástico. Material plástico?

NILTON: - E se dê uma lida mais abaixo vai vê que o possível criminoso tinha entre um metro e cinquenta a um metro e sessenta e cinco. Pela força aplicada e a forma que atingiu a vítima, suspeita-se que seja uma mulher, e que esta mulher é canhota.

RODRIGUES: - Isso já limita o número de suspeitos.

NILTON: - Exatamente.

RODRIGUES: - Então vamos começar o nosso trabalho...

NILTON: - Espera ai rapaz.

RODRIGUES: - Que foi?

NILTON: - Caso encerrado.

RODRIGUES: - como assim? Estamos a um passo de desvendar este mistério...

NILTON: - Doutor Egídio já providenciou tudo. O secretário de segurança pública a pedido do ministro da justiça, acabou de me ligar pedindo o arquivamento do caso.

RODRIGUES: - Isso é foda! Puta que pariu! Tanto trabalho pra que?

NILTON: - É o poder. Manda quem tem obedece quem é inteligente.

RODRIGUES: - Isso não está certo.

NILTON: - Não há certo, ou errado... O que há é que o poder é podre, e quando se mexe com os poderosos, fede... Liberado para um próximo caso.

RODRIGUES: - É revoltante!

NILTON: - É a realidade. (Sai)

RODRIGUES: - Se eu não posso fazer nada... Sei quem pode desmascarar estes malditos corruptos. (Pega o celular) Alô... Mônica? Tudo bem? Tenho uma bomba pra você... Isso mesmo. Posso te encontrar? Onde? Positivo! (Sai)





ATO IV CENAVII

(Na redação)

MÔNICA: - Vamos trabalhar?

TÁCIO: - Do que tá falando mulher?

MÔNICA: - Consegui...

TÁCIO: - O que?

MÔNICA: - Aqui tem tudo sobre o que provocou a morte do Marcos.

TÁCIO: - Isso não que dizer nada.

MÔNICA: - Não?

TÁCIO: - Não.

MÔNICA: - E se eu lhe disser que há uma grande possibilidade de quem matou o Marcos foi uma mulher.

TÁCIO: - Uma mulher? Naquele lugar?

MÔNICA: - Exatamente.

TÁCIO: - Diria que impossível. Surreal.

MÔNICA: - Não... O assassino... É uma pessoa próxima.

TÁCIO: - Será?

MÔNICA: - Vamos investigar todas as pessoas próximas do Marcos, mulheres entre 1.50m a 1.65 e que seja canhota.

TÁCIO: - Como faremos isso?

MÔNICA: - Começamos pela família... Depois amigos...

TÁCIO: - E você acha mesmo que a família dele vai deixar você pisar naquela casa?

MÔNICA: - Conheço alguém que possa nos ajudar... Lá de dentro.

TÁCIO: - A empregada?

MÔNICA: - Exatamente.

TÁCIO: - Não vai aceitar. Esqueceu do último encontro?

MÔNICA: - Vou usar a mesma arma que ela...

TÁCIO: - Extorsão?

MÔNICA: - Não. Troca de favores. Ela me ajuda, eu não conto que ela me procurou com informações em troca de dinheiro.

TÁCIO: - você é cruel.

MÔNICA: - Não meu querido. Eu sou viva! Agora vamos.

TÁCIO: - Espera... (Saem)



ATO IV CENAVIII

(Mara vai a casa de junior)

MARA: - Bom dia.

JÚNIOR: - Bom dia.

MARA: - Eu sou...

JÚNIOR: - sei quem é a senhora. Dona Mara... Mae do marcos.

MARA: - Exatamente.

JÚNIOR: - Por favor entre.

MARA: - Com licença.

JÚNIOR: - Fique a vontade. Sente-se por favor.

MARA: - Obrigada.

JÚNIOR: - A senhora aceita...

MARA: - Não... Não precisa se preocupar... Estou bem...

JÚNIOR: - Claro.

MARA: - Então, era aqui... Aqui que meu filho se refugiava...

JÚNIOR: - Não. Aqui era o segundo lar do seu filho.

MARA: - Por que nos escondeu?

JÚNIOR: - Não queria lhes magoar.

MARA: - Talvez tudo seria diferente.

JÚNIOR: - Também creio nisso.

MARA: - de muito bom gosto.

JÚNIOR: - Foi ele que me ajudou a decorar.

MARA: - Meu filho tinha bom gosto. (Vê uma foto do filho. Chora) Meu filho...

JÚNIOR: - Vou pegar uma água.

MARA: - Não precisa. (Júnior sai) Meu filho... Que saudade!

JÚNIOR: - Aqui. Beba.

MARA: - Obrigada. Você o amava?

JÚNIOR: - Muito. (Sem jeito)

MARA: - Foram felizes?

JÚNIOR: - Sempre.

MARA: - E a noiva?

JÚNIOR: - Sabia que era só faixada.

MARA: - Que?

JÚNIOR: - Não devia ter dito...

MARA: - Faixada?

JÚNIOR: - Só estava com ela, por vocês.

MARA: - Mas ela está grávida.

JÚNIOR: - Impossível.

MARA: - Que quer dizer?

JÚNIOR: - Que seu filho nunca teve nada com esta moça.

MARA: - Eram noivos.

JÚNIOR: - Marcos nunca transou com ela.

MARA: - Como sabe?

JÚNIOR: - Não mentiria pra mim. Não sobre isso.

MARA: - Então o que fazia naquele lugar? Dizem...

JÚNIOR: - Que era um lugar de pregação...

MARA: - Suspeito.

JÚNIOR: - Tínhamos brigado. Foi uma briga muito feia... Exigi que ele terminasse o noivado e assumisse de vez a nossa relação. Então se sentiu pressionado e foi...

MARA: - parar naquele lugar.

JÚNIOR: - Exatamente.

MARA: - Se ele não teve nada com ela...

JÚNIOR: - Posso lhe garantir.

MARA: - Então a gravidez...

JÚNIOR: - O pai não é o Marcos. Isso lhe garanto.

MARA: - Vamos deixar esta conversa de lado. Vim pra falar sobre vocês... E agora? O que pretende fazer?

JÚNIOR: - Tenho que continuar...

MARA: - Precisa de ajuda?

JÚNIOR: - Não, obrigado. Tenho minha profissão...

MARA: - E o que faz?

JÚNIOR: - Sou cabelereiro. Tenho um salão...

MARA: - Entendo. Bom, Júnior... Obrigada por me receber.

JÚNIOR: - Que isso! Foi um prazer.

MARA: - Se precisar de alguma coisa...

JÚNIOR: - Obrigado. (Ela sai) Caraca!

ATO IV CENA IX

(NO APARTAMENTO DE LUDIMILA)

LUDIMILA: - Como está se sentindo?

ISABEL: - Como estou me sentindo? Péssima!

LUDIMILA: - Um dia vai me agradecer...

ISABEL: - Você é um monstro. Que tipo de mãe dopa a filha e entrega a um estranho?

LUDIMILA: - O Sérgio é um cara de muita confiança...

ISABEL: - E se este cara estiver doente?

LUDIMILA: - Tá louca menina?

ISABEL: - Claro... Transou comigo sem preservativo. E se ele tiver alguma doença infecto contagiosa.

LUDIMILA: - Não tem. Dá pra parar de ser melodramática? Em algumas semanas você estará gravida.

ISABEL: - E se não estiver?

LUDIMILA: - Tentamos outra vez. Você tem um mês para engravidar.

ISABEL: - Você é doente.

LUDIMILA: - Não meu bem... Estou cuidando da nossa previdência. (Campanhia) Ah, não... O que quer aqui?

MÔNICA: - Seria educado me deixar entrar.

LUDIMILA: - Não preciso ser educada com você... Se insistir, chamo a polícia.

MÔNICA: - Ótimo. Chama! Sabe o que tenho aqui em minhas mãos? Tudo sobre a sua vida.

LUDIMILA: - Fofocas. Coisas dessas revistas de mexericos...

MÔNICA: - Que será que vão achar quando souber que você foi suspeitar de matar um milhionário envenenado em 77?

LUDIMILA: - Cala-se. Fui inocentada.

MÔNICA: - Posso?

LUDIMILA: - Entra. (Furiosa)

MÔNICA: - Prometo ser breve. Como vai Isabel?

ISABEL: - Bem...

MÔNICA: - Não me parece bem.

LUDIMILA: - Ela está cansada.

MÔNICA: - Você não me oferece uma água.

LUDIMILA: - Não.

ISABEL: - Eu pego.

MÔNICA: - Que gentil.

LUDIMILA: - Que quer?

MÔNICA: - Conhece os amigos do Marcos?

LUDIMILA: - Amigos?

MÔNICA: - Mulheres.

LUDIMILA: - Mulheres? Que isso?

MÔNICA: - É o que desejo.

LUDIMILA: - Por que não pergunta a família dele?

MÔNICA: - Acha mesmo que me receberiam.

LUDIMILA: - Preciso responder?

ISABEL: - Aqui está. (Entrega o copo)

MÔNICA: - Hei?

ISABEL: - Que foi?

MÔNICA: - Você é canhota?

ISABEL: - Sou.

MÔNICA: - Olha que coincidência... Minha mãe também era.

LUDIMILA: - Você não veio aqui só por isso...

MÔNICA: - Por que Isabel não seguiu a mesma carreira que você?

ISABEL: - Não tenho altura.

MÔNICA: - Mede quanto?

ISABEL: - Um sete.

MÔNICA: - Interessante. Poderia ser modelo fotográfica. Tem um rosto bonito vai por mim.

LUDIMILA: - Que uma manchete? Então escreva neste jornaleco, que minha filha, está grávida.

MÔNICA: - Grávida?

LUDIMILA: - Exatamente. Minha filha terá o futuro herdeiro... Filho do Marcos.

ISABEL: - Mãe?

MÔNICA: - Isabel, não parece feliz...

LUDIMILA: - Ainda está abalada com a morte do seu grande amor.

ISABEL: - Eu estou cansada... Com licença. (Sai)

MÔNICA: - Essa menina não está bem.

LUDIMILA: - Ficará.

MÔNICA: - Boa cartada! Mas o jogo ainda não terminou. Bem... Preciso ir. Obrigada pela hospitalidade. (Sai)

LUDIMILA: - Vai carniça!

ATO IV CENA X

MARINA: - O que você quer?

DONA LIZ: - Filha, não fale assim com sua mãe.

MARINA: - Não tenho mãe.

DONA LIZ: - Não diga isto.

MARINA: - Será que não percebe que não é bem vinda?

MARA: - Então é aqui que você vive.

MARINA: - É. E aqui sou feliz.

MARA: - Vive?! (Risos) Se é que pode chamar isso de viver...

MARINA: - Acha mesmo que vida só há debaixo do conforto?

DONA LIZ: - Marina... Isso não é lugar pra você.

MARINA: - Não? Onde é lugar pra mim? Naquela mansão mal assombrada... De tantas mágoas, mentiras, infelicidade e desamor...

MARA: - Eu vim lhe propor uma trégua...

MARINA: - Faça-me rir.

DONA LIZ: - Escute sua mãe.

MARINA: - Que palhaçada é está?

MARA: - Você tem razão Marina...

MARINA: - Do que está falando, agora?

DONA LIZ: - Escute filha...

MARINA: - Fala, vai... Mas fala logo que estou compressa.

MARA: - Falhei como mãe. Falhei... Reconheço. Na tentativa de proteger meus filhos, eu os expos aos piores sofrimentos...

MARINA: - Que lindo! Vai ganhar o óscar por sua interpretação.

DONA LIZ: - Não seja sarcástica.

MARINA: - Vai... Segue enfrente com seu teatrinho...

MARA: - Você... Entregue a estes entorpecentes... Teu irmão, perdeu a vida por esconder... Que...

MARINA: - Era gay.

MARA: - Gay. Tua irmã...

MARINA: - A mulher mais infeliz do mundo. Vive num casamento sem amor... Onde o marido a faz de gato e sapato... A coloca mais baixo que a sola de um sapato...

MARA: - Quero consertar as coisas...

MARINA: - Não há mais jeito. Não percebe?

DONA LIZ: - pra tudo há um jeito.

MARINA: - Vão fazer o que? Me internar novamente numa dessas clínicas? Vai dá uma de Jesus Cristo? Vai ressuscitar Marcos? Vai tirar minha irmã daquele casamento infeliz? Arrancando do coração dela todo amor que ela sente por aquele crápula? Hein?

MARA: - Quero que me ajude...

MARINA: - Lhe ajudar?

MARA: - É filha. Me ajudar... Sou eu quem preciso de você.

MARINA: - Sinto muito mamãe... Eu... morrei. Estou morta. Você me mataram...

DONA LIZ: - Não diga bobagem menina!

MARINA: - Agora saiam...

DONA LIZ: - Não se trata assim a família.

MARINA: - Família? Eu não tenho família.

DONA LIZ: - Olha aqui menina...

MARA: - Deixe mamãe, deixe.

DONA LIZ: - Mimada! O que precisa...

MARINA: - Não podem me dar. Nunca puderam...

MARA: - Filha...

MARINA: - Saiam.

MARA: - Vamos mamãe. (Saem)

ATO IV CENA XI

MÔNICA: - Que bom que veio...

DETETIVE: - Tinha dúvida?

MÔNICA: - Sem piadinhas, por favor...

DETETIVE: - Nossa! Quanta seriedade...

MÔNICA: - Tenho um suspeito...

DETETIVE: - Você não esquece isso mesmo...

MÔNICA: - Jamais. Vou publicar essa matéria.

DETETIVE: - Se fosse você não confiava muito nisso...

MÔNICA: - Não nadei tanto pra morrer na praia.

DETETIVE: - Que descobriu?

MÔNICA: - Tenho quase certeza de quem assassinou o Marcos.

DETETIVE: - Quem é sua aposta?

MÔNICA: - Alguém muito próximo.

DETETIVE: - O frutinha?

MÔNICA: - O Júnior? Não.

DETETIVE: - Quem?

MÔNICA: - A noivinha.

DETETIVE: - Tá brincando.

MÔNICA: - Não. Tudo bate.

DETETIVE: - Mas ainda falta a arma do crime.

MÔNICA: - Meu fotografo... Encontrou isso...

DETETIVE: - Que isso?

MÔNICA: - Um prendedor de cabelo japonês.

DETETIVE: - Como sabe que isso foi arma usada?

MÔNICA: - Só pode ter sido. Como lá só há um... Que dizer que quem matou, tem o outro.

DETETIVE: - E o que quer fazer com isso?

MÔNICA: - Nem parece que é dá polícia. Precisamos que este objeto seja periciado.

DETETIVE: - Tenho um amigo na perícia.

MÔNICA: - Pode fazer isso?

DETETIVE: - Por você... Mas vai ter um preço.

MÔNICA: - Ah, é? Qual?

DETETIVE: - No momento certo você saberá.

MÔNICA: - Bom... Preciso ir.

DETETIVE: - Mas já?

MÔNICA: - É.

DETETIVE: - Por que será que tenho sempre a impressão que você está fugindo de mim?

MÔNICA: - Por que gosto de brincar de gata e rato. (Sai)

DETETIVE: - Tchaú... (Sai)

ATO IV CENA XII

(Todos na mansão)

EGÍDIO: -Nanci...

NANCI: - Senhor?

EGÍDIO: - Mara?

NANCI: - Deuma saída senhor

EGÍDIO: - Mara sabe que detesto que atrase o jantar.

NANCI: - Mas já deve está voltando...

EDNALDO: - Egídio... Desculpe-nos o atraso.

EGÍDIO: - Que bom que chegaram.

TÂNIA: - Papai...

EGÍDIO: - Filha... Que marca é está?

TÂNIA: - Me machuquei. Escorreguei... E bati o rosto.

EDNALDO: - Já pedi pra ter cuidado... Mas sabe como é sua filha.

NANCÍ: - Doutor... é que Dona Ludimila...

EGÍDIO: - Essa mulher não...

EDNALDO: - Quer que eu dê um jeito?

LUDIMILA: - Que maravilha! A família reunida... Não há nada mais incrível que a família unida. Não é mesmo Egídio?

EGÍDIO: - o que você quer?

LUDIMILA: - Sem cerimonias meu caro... Somos parentes.

EGÍDIO: - Nanci... Coloque mais um lugar há mesa.

NANCÍ: - Sim senhor.

EGÍDIO: - Até que enfim...

MARA: - Fui vê Marina.

TÂNIA: - E ela? Como está?

DONA LIZ: - Como sempre. Só faltou nos enxotar...

LUDIMILA: - Ainda bem que minha Isabel não me dá este trabalho.

DONA LIZ: - Você está sendo desagradável. (Campanhia)

SELMA: - Eu atendo.

LUDIMILA: - Estou apenas participando da conversa... Afinal de contas somos da família.

MARA: - Quem disse que somos da família?

DONA LIZ: - Ora, Isabel terá um filho...

MARA: - Filho?

LUDIMILA: - Isso já não é novidade... É?

MARA: - Marcos nunca se deitou com sua filha.

LUDIMILA: - Que? Que absurdo é este?

DONA LIZ: - Meu neto nunca transou com sua filha.

EGÍDIO: -

MARA: - Meu filho era gay. E você sabe disso. Se tua filha esta grávida, não é do meu...

ISABEL: - Não estou grávida.

LUDIMILA: - Cala boca.

ISABEL: - Fiz o exame...

LUDIMILA: - Cala-se...

ISABEL: - E graça a você...

LUDIMILA: - Cale essa boca.

ISABEL: - Eu estou contaminada...

TÂNIA: - Que?

EDNALDO: - Deixe ela falar

ISABEL: - estou com o vírus da aids...

DONA LIZ: - Meu Deus!

LUDIMILA: - Isso não é verdade.

ISABEL: - O seu amiguinho... É portador do vírus. Satisfeita agora?

EGÍDIO: - que me explicar o que está acontecendo aqui?

DONA LIZ: - Você cale essa boca. Não diga mais nada.

ISABEL: - Tire essa suas mãos sujas de mim.

DONA LIZ: - Que isso... Sou tua mãe.

ISABEL: - Mãe? Sabe o que significa ser mãe? (Para todos) Essa mulher que aqui está... Essa que se diz ser minha mãe... Foi capaz de me dopar... É, é isso mesmo... Me dopou e me entregou a um estranho... Tudo isso, sabe por que? Pra dá um golpe em vocês... Tudo por dinheiro. Esse maldito dinheiro! Agora olha eu aqui... Estou contaminada...

TERESA: - Com licença... É que tem um detetive ai fora...

EGÍDIO: - Detetive?

TERESA: - É.

MARA: - Peça para ele entrar.

EGÍDIO: - Não.

MARA: - eu quero ouvi o que este detetive tem a dizer.

DETETIVE: - Boa noite.

EGÍDIO: - O que o trás aqui senhor detetive?

DETETIVE: - Estava a procura da senhorita Isabel.

LUDIMILA: - Isabel?

ISABEL: - Eu?

DETETIVE: - Sabe por que estou aqui, não sabe?

ISABEL: - Sei.

LUDIMILA: - Não. Filha... Não diga nada, não responda nada, vou providenciar um advogado...

ISABEL: - Minha vida acabou mãe... Sou uma infeliz! É isso mesmo, sou a pessoa mais infeliz da face da terra.

TÂNIA: - Que está dizendo Isabel...

ISABEL: - Fui trocada por meu noivo por outro homem... Todos esses anos... E nunca se quer meu noivo me tocou... Não sentia nada, nada, nada... Nada além de pena de mim. Eu? Eu era apenas um estandarte, um troféu, que servia de enfeite... Deste modo ninguém desconfiaria que ele... Ele tinha, um amante... Um amante não... Um marido. Um homem, que o satisfazia do modo que eu... Eu não podia...

TÂNIA: - Meu Deus!

DETETIVE: - Isto lhe pertence?

LUDIMILA: - Não.

ISABEL: - Sim.

DONA LIZ: - Isabel... Que você fez?

ISABEL: - Naquela noite ele me deixou em casa como sempre... Me deu um beijo no rosto... Me deu até logo e entrou no carro... Eu já desconfiava. Então peguei meu carro e o segui. E ele estava lá... Agarrado com outro homem... Ele o beijava de tal jeito que nunca... Nunca, jamais me bejou...

LUDIMILA: - Chega filha.

ISABEL: - Cale-se.

MARA: - Continue.

EDNALDO: - Que aconteceu?

ISABEL: - Me percebeu... Tentou se explicar... Explicar!? Então me confessou... Que não sentia nada por mim, que eu... era apenas uma amiga... e que jamais poderia se casar comigo... Eu fiquei louca! Comecei a bater nele. Ele me segurou forte... Então, peguei meu prendedor de cabelo, e o atingi...

MARA: - Você matou meu filho.

DONA LIZ: - Meu Deus!

TÂNIA: - Assassina! Matou meu irmão.

DETETIVE: - É melhor vir comigo.

ISABEL: - Eu juro que não queria... Foi um acidente... Aconteceu. Ninguém, mais amou o Marcos que eu.

MARA: - Quem ama não mata.

ISABEL: - Mata. Vocês matou Marina...

DETETIVE: - Vamos...

LUDIMILA: - Filha...

ISABEL: - Você me matou.

EGÍDIO: - Vai mofar numa cela.

ISABEL: - Já sou uma morta. Morta! Morri, no dia que tirei a vida di homem que eu amava. (Saem)

EGÍDIO: - Quanto a você sua vagabunda... Sai desta casa.

MARA: - Ludimila... Sua vigarista, nossos advogados vão lhe processar. (Ludimila sai)

TÂNIA: - Papai... Me ajude...

EDNALDO: - Que isso Tânia?

DONA LIZ: - Siga enfrente... Esse é o momento.

TÂNIA: - Quero me divorciar.

EDNALDO: - Ficou louca?

TÂNIA: - Eu não cai papai...

EDNALDO: - Cale-se.

EGÍDIO: - Foi...?

TÂNIA: - Sim papai. Foi ele... me bateu.

EDNALDO: - Hei, calma ai... Foi só uma briguinha...

EGÍDIO: - Sai desta casa.

EDNALDO: - Não vai fazer isso...

EGÍDIO: - Duvida?

EDNALDO: - Sabe que sei...

EGÍDIO: - E você do que sou capaz. Agora saia...

EDNALDO: - Você vem comigo...

TÂNIA: - Não. Nunca mais você vai tocar em mim. Acabou.

EDNALDO: - Idiota.

TÂNIA: - Fui.

DONA LIZ: - saia daqui rapaz. Não ouviu? (Edinaldo sai)

MARA: - Filha... Você foi muito corajosa.

TÂNIA: - Mamãe... E agora?

MARA: - Você vai ter a chance de recomeçar.

EGÍDIO: - acho que não há mais clima para jantar...

MARA: - Nós vamos lá pra cima...

EGÍDIO: - Vou dar alguns telefonemas... (Saem)

CENA FINAL

DETETIVE: - Bom... Conseguimos.

MÔNICA: - É conseguimos.

DETETIVE: - E agora?

MÔNICA: - Agora? Vim lhe mostrar isto.

DETETIVE: - Um livro?

MÔNICA: - É. Meu primeiro livro!

DETETIVE: - Sugestivo...

MÔNICA: - Gostou do titulo?

DETETIVE: - O corpo!

MÔNICA: - O corpo.

DETETIVE: - Não vão deixar lançar...

MÔNICA: - Troquei os nomes... Transformei a realidade em ficção... Então? Ninguém pode me proibir de lançar meu livro.

DETETIVE: - Você é demais...

MÔNICA: - Você acha.

DETETIVE: - Acho.

MÔNICA: - E é só isso?

DETETIVE: - Que que ouvir?

MÔNICA: - Pensei que ia me convidar...

DETETIVE: - Te convidar?

MÔNICA: - Pra um lugarzinho mais tranquilo... Mais íntimo...

DETETIVE: - Isso é um convite?

MÔNICA: - Convite? Não. Uma intimação.

DETETIVE: - Opa! Só se for agora. (A pega nos braços e saem de cena)

FIM

O CORPO (ATO III)

ATO III – CENA I


PENELOPE: - Hei gato!? Vem sempre aqui?

TÁRCIO: - De vez em quando.

PENELOPE: - Engraçado! Conheço todos. Nunca te vi aqui.

TÁRCIO: - É que dou sempre uma passada rápida.

PENELOPE: - Ah, entendi. É daqueles que curti só uma rapidinha. (Pega na genitália dele) Nossa! Que mala!

TÁRCIO: - Ah!

PENELOPE: - Que foi?

TÁRCIO: - Sou tímido.

PENELOPE: - Sei como acabar com qualquer timidez. Faço uma gulosa como ninguém! E ai?

TÁRCIO: - O que?

PENELOPE: - Que procura?

TÁRCIO: - Vendo o movimento.

PENELOPE: - Só vendo? Pra que só vê se pode fazer... Você é um cara muito interessante.

TÁRCIO: - Obrigado. Mas só quero no momento... Ficar olhando.

PENELOPE: - Não sabe o que esta perdendo. Então?

TÁRCIO: - O que?

PENELOPE: - Que curte?

TÁRCIO: - Natureza.

PENELOPE: - Ishi! Sou quase natural. Algumas pequenas mudanças. Ativo ou passivo?

TÁRCIO: - Que?

PENELOPE: - Come ou dá? Já sei... Compreensivo. Total flex.

TÁRCIO: - Aqui é calmo né?

PENELOPE: - É. As vezes o bicho pega. Que foi? Tá com medo?

TÁRCIO: - Medo? Não.

PENELOPE: - Então... Que quer fazer?

TÁRCIO: - Eu?

PENELOPE: - Você.

TÁRCIO: - Eu...

PENELOPE: - O que decidir eu topo.

TÁRCIO: - É que...

PENELOPE: - Já sei. Está esperando alguém.

TÁRCIO: - É. Estou.

PENELOPE: - Namorado?

TÁRCIO: - Não.

PENELOPE: - Então tenho chance.

TÁRCIO: - Mais ou menos. Estamos nos conhecendo.

PENELOPE: - Se conhecendo aqui? Hum! Bafon... Sabe, te achei uma graça.

TÁRCIO: - Aqui é sempre assim tão calmo?

PENELOPE: - Que nada. Geralmente aqui ferve. Mas como teve uma morte recentemente...

TÁRCIO: - Morte?

PENELOPE: - Mataram um carinha. As bibas estão todas receosas.

TÁRCIO: - E como esse cara foi morto?

PENELOPE: - O gayzinho fazia a alegria de muita gente aqui... Passava o rodo geral

TÁRCIO: - Você o conhecia?

PENELOPE: - Só de vista.

TÁRCIO: - Por que acha que o matara?

PENELOPE: - Sei lá... Também meu bem, nem quero saber.

TÁRCIO: - Mas era conhecido?

PENELOPE: - Oh! Muito.

TÁRCIO: - Você o conhecia?

PENELOPE: - Na verdade sim.

TÁRCIO: - Então você ficou muito abalado.

PENELOPE: - Abalada. No dia que ele morreu ainda conversamos um pouco.

TÁRCIO: - É? E sobre o que conversaram?

PENELOPE: - Homens, meu bem. Necas! O casinho dele é uma graça.

TÁRCIO: - Então ele tinha um caso?

PENELOPE: - Ôh! De anos.

TÁRCIO: - O caso dele também frequentava aqui?

PENELOPE: - Não. O coitado nem desconfiava.

TÁRCIO: - Você conhece o caso dele?

PENELOPE: - Hei? Que interesse é esse no falecido? Você é da polícia?

TÁRCIO: - Não... Não. Claro que não. Só curiosidade.

PENELOPE: - Ah, que bom! Que susto.

TÁRCIO: - É que fiquei curioso.

PENELOPE: - Ih! Vai chover...

TÁRCIO: - Que pena.

PENELOPE: - Vem comigo...

TÁRCIO: - Pra onde?

PENELOPE: - Moro aqui próximo. Vem...

TÁRCIO: - Não sei.

PENELOPE: - Hei cara. Só um pouco.

TÁRCIO: - É... Um pouco.

PENELOPE: - Não vai tirar nenhum pedaço.

TÁRCIO: - Então tá.

PENELOPE: - Venha.

TÁRCIO: - Seja lá o que Deus quiser.

ATO III – CENA III

EDNALDO: - Escuta. Ouve bem que vou lhe dizer... Não estou mais suportando... Está demais pra mim...

TÂNIA: - Que está querendo dizer?

EDNALDO: - Que qualquer dia desses não suportarei mais, ai...

TÂNIA: - Ai?

EDNALDO: - Você deverá se preocupar.

TÂNIA: - Não estou entendo.

EDNALDO: - Não de se estranhar.

TÂNIA: - Não zombe de mim.

EDNALDO: - Mimada. Isso que você é.

TÂNIA: - Não. Sou a sua tábua de salvação. Se não fosse por mim não seria o que é.

EDNALDO: - Você não passa de uma pobre menina rica... Menina não. Já deixou de ser a muito tempo. Agora não passa de uma velha esquizofrênica.

TÂNIA: - Que vai fazer?

EDNALDO: - Me dá nojo ficar aqui olhando pra essa tua cara de pobre coitada.

TÂNIA: - Perdão amor, perdão! Você está certo. Tem toda razão. Tem acontecido tanta coisa... Acho que a morte do meu irmão tem me deixado assim, com os nervos a flor da pele.

EDNALDO: - Tenho pena de você.

TÂNIA: - Vou melhorar. Juro!

EDNALDO: - Você é doente.

TÂNIA: - Serei boazinha... Como sempre fui.

EDNALDO: - Te enxerga... (A pega pelo braço e a leva para o espelho) Olha pra você. Se veja. Olha a que ponto chegou. Você é ridícula.

TÂNIA: - Me sinto tão carente. Mas, prometo... Vou melhorar.

EDNALDO: - Vou embora desta casa.

TÂNIA: - se sair por esta porta... Me mato! Eu me mato.

EDNALDO: - Louca.

TÂNIA: - Sim... Sou louca. Louca por você. Não sei viver sem você.

EDNALDO: - Vou dormir no quarto de hospedes.

TÂNIA: - Não... Por favor, fique. Não me deixe sozinha.

EDNALDO: - Estou cansado.

TÂNIA: - Amor...

EDNALDO: - Tânia, não piore as coisas. (Sai)

TÂNIA: - Meu Deus! Que foi que eu fiz?

ATO III – CENA IV

PENELOPE: - Hei gato... Entra.

TÁRCIO: - Obrigado.

PENELOPE: - Ah, me parece tão tenso... Relaxa gato!

TÁRCIO: - Tô bem.

PENELOPE: - Hum, é tímido! Sabe que gosto... Os tímidos na cama são...

TÁRCIO: - Tem água?

PENELOPE: - Água? Claro. Só um pouquinho... (Sai)

TÁRCIO: - Ah, meu Deus! Que enrascada.

PENELOPE: - Aqui está gato.

TÁRCIO: - Você disse que conhecia o cara que morreu no parque...

PENELOPE: - Pois é menino! Que pena! Um desperdiço. Que pedaço!

TÁRCIO: - Você o viu no dia que...

PENELOPE: - Hei... Espera ai... Você não é da polícia não é?

TÁRCIO: - Claro que não. Só tô começando...

PENELOPE: - É?

TÁRCIO: - É temos que ter certos cuidados...

PENELOPE: - Coitado. Sempre ia lá. Nessa dia o vi com um cara bonito, musculoso. Então pensei: Que cara de sorte! Ah, eu no meio daqueles dois pedaços!

TÁRCIO: - Você acha que foi esse cara?

PENELOPE: - Não. Esse cara vive lá. É um tremendo pegador. Só escolhes os tops. Agente meu bem, vê com os olhos e lambe com a testa.

TÁRCIO: - E depois?

PENELOPE: - Vamos mudar de assunto? Vamos falar de você.

TÁRCIO: - Eu?

PENELOPE: - É.

TÁRCIO: - Como lhe disse. Levei bolo.

PENELOPE: - Mais ficou com o docinho aqui. E por sinal, bem recheado.

TÁRCIO: - Bom, acho que chegou minha hora.

PENELOPE: - Mas já?

TÁRCIO: - Pois é.

PENELOPE: - E vai me deixar aqui, assim?

TÁRCIO: - Eu volto outro dia.

PENELOPE: - Já sabe o caminho.

TÁRCIO: - Então até... logo...

PENELOPE: - Até. Puta que pariu... Que bunda!

ATO III – CENA V

(Na mansão)

TERESA: - Nossa! Dona Mara está arrasada.

SELMA: - Também não é pra menos.

TERESA: - Como Dona Marisa é diferente de dona Tânia.

SELMA: - As duas juntas não valem uma. Deus me livre, nunca vi uma família tão complicada quanto esta!

TERESA: - Acho seu Edinaldo tão frio com a mulher.

SELMA: - Não viu nada!

TERESA: - Por que?

SELMA: - Um cafajeste. Faz da coitada, gato e sapato. O que segura este casamento, é a grana.

TERESA: - Será?

NANCI – Estão ai...

TERESA: - Sim senhora.

NANCI: - Fazendo futrica.

TERESA: - Aconteceu mais alguma coisa Nanci?

NANCI: - Menina, vira essa boca pra lá.

TERESA: - Do jeito que as coisas andam nesta casa... Se eu fosse dona Mara, mandava era tirar um ebô!

NANCI: - Mas graças a Deus não é. Bom, seu Egídio pediu pra avisá-las que, como vocês trabalham na casa, assim como os demais empregados, serão convocados para depor.

TERESA: - Tenho que ir na delegacia?

SELMA: - Nunca nem passei na porta de uma.

TERESA: - Mas por que nós?

SELMA: - Por nós sabemos muito... Empregados sempre sabem de coisas... Já vi num filme.

TERESA: - Temos que dizer o que sabemos?

NANCI: - Muito pelo contrário meninas. Vão dizer apenas que como funcionários nosso contato com a família é apenas profissional, e não nos envolvemos na pessoal de nossos patrões.

TERESA: - Temos que mentir?

NANCI: - Não. Apenas omiti. Não sei, não vi e não ouvi nada. Entenderam?

SELMA: - Sim senhora.

TERESA: - E o delegado vai engolir isto?

NANCI: - Você sabe de algo que não sabemos?

TERESA: - Eu? Não... Claro que não. Não senhora...

NANCI: - Foi o que pensei. Também não se esqueçam que está cheio de jornalistas lá fora... Então, não falem mais do que devem. Agora voltem a seu trabalho. (Saem)

ATO III – CENA VI

MARINA: - Teresa...

TERESA: - Ai! Que susto! Assim você me mata, Marina.

MARINA: - Preciso de um favor seu.

TERESA: - Pode falar.

MARINA: - Me empresta cinquenta reais.

TERESA: - Fala sério! É brincadeira, né? Mesmo por que se eu tivesse cinquentinha, tava rica.

MARINA: - Me dá o que você tem.

TERESA: - Um real, serve?

MARINA: - Tá brincando.

TERESA: - Sério. Pra que a senhora quer esse dinheiro?

MARINA: - Pagar uma dívida.

TERESA: - No que a senhora se meteu?

MARINA: - Um caras ai...

TERESA: - Cuidado dona Marina... Essa gente é perigosa.

MARINA: - Por isso que tô te pedindo.

TERESA: - Então por que a senhora não pede a seu pai? Pra ele isso não é nada.

MARINA: - Jamais me daria. Pensaria que é pra comprar...

TERESA: - E não é?

MARINA: - Tô limpa. Faz um mês. Um mês. Tô limpa!

TERESA: - Olha aqui Marisa... Não nasci ontem. Dá pra perceber que você tá na maior fissura.

MARINA: - Você é igual a todo mundo... Igualzinha! Oh... Mas fica esperta, tá?! (Sai)

TERESA: - Essa não tem jeito.

ATO III – CENA VII

LUDIMILA: - Filhinha... Olha que chegou...

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Uma intimação.

ISABEL: - Intimação?

LUDIMILA: - Temos que comparecer a delegacia para depor.

ISABEL: - Mas por que?

LUDIMILA: - Como por que? Você era noiva do Marcos.

ISABEL: - E?

LUDIMILA: - E... Se fosse mais esperta teria subido ao alta com ele, e agora meu bem, você seria uma jovem, bela e rica viúva.

ISABEL: -Não começa mãe.

LUDIMILA: - Se pelo menos tivesse engravidado... Teria garantido o teu futuro.

ISABEL: - Não sou obrigada a ouvi tantas asneiras...

LUDIMILA: - Era só ter um filho e pronto.

ISABEL: - Como você fez com meu pai?

LUDIMILA: - Não diga bobagem. Não seja injusta. Amava seu pai.

ISABEL: - Todo mundo sabe o que lhe interessava no meu pai...

LUDIMILA: - Não diga o que não sabe.

ISABEL: - Mas deu tudo errado né? Ele faliu.

LUDIMILA: - É o que recebo por lhe dar o melhor...

ISABEL: - Não adianta tentar jogar a culpa de seus devaneios em cima de mim. Não vou me sentir culpada. Não sou e jamais serei como você, uma alpinista social. (Bofetada)

LUDIMILA: - Meças suas palavras... Não admito que fale assim comigo. Que sempre quis é o seu bem.

ISABEL: - Me jogando nos braços de qualquer homem que tenha a conta bancaria maior que seu caráter.

LUDIMILA: - Não despeje em mim, seu fracasso minha filha.

ISABEL: - Fracasso?

LUDIMILA: - É... Fracasso.

ISABEL: - Do que está falando?

LUDIMILA: - Vamos parar por aqui... Se não vamos entrar em um terreno muito perigoso.

ISABEL: - Tarde demais. Agora, fale.

LUDIMILA: - Não. Melhor não.

ISABEL: - Não tem coragem... A verdade dói né?

LUDIMILA: - Cala a boca.

ISABEL: - O que há de errado com você?

LUDIMILA: - Ao contrário do que você pensa, nunca tive nada de mãos beijadas.

ISABEL: - Por isso precisava se vender?

LUDIMILA: - Que disse?

ISABEL: - Todo mundo sabe... Não se casou por amor.

LUDIMILA: - Amor? Que sabe de amor? Não se iluda menina... Só os tolos acreditam em amor. Resisti as dificuldades do dia-a-dia. Queria vê você se entregar a um homem que não é capaz de lhe dar nem o básico, viver uma vida de privações. Sorrir com estomago vazio, roncando de fome. Amor? O que é o amor com o bolso vazio, sem mesmo alguns centavos para comprar um pãozinho...

ISABEL: - Amava o Marcos. Não me importava sua fortuna. Por esse amor seria capaz de qualquer coisa.

LUDIMILA: - Grande coisa. Lhe trocou por um...

ISABEL: - Como você é má. Você é cruel.

LUDIMILA: - A vida é cruel.

ISABEL: - Nada está provado. É só especulação.

LUDIMILA: - O pior cego é aquele que não quer enxergar.

ISABEL: - Por que? Por que mãe... Por que fez isso comigo? (Chora)

LUDIMILA: - Sinto muito filhinha! Mamãe está aqui.

ISABEL: - Eu o amava mãe.

LUDIMILA: - Eu sei meu anjo.

ISABEL: - E agora?

LUDIMILA: - O tempo não volta... Mas podemos reparar.

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Temos que dá um jeito...

ISABEL: - Do que está falando agora?

LUDIMILA: - Não podemos sair de mãos abanando dessa história.

ISABEL: - Mãe...

LUDIMILA: - Descanse filha. Deixa tudo com a mamãe. Eu cuidarei de você. (Saem)

ATO III – CENA VIII

EGÍDIO: - Ednaldo...

EDINALDO: - Senhor.

EGÍDIO: - Temos que abafar o caso...

EDINALDO: - Sei disso senhor...

EGÍDIO: - Não podemos deixar essa história vazar.

EDINALDO: - Seria um grande escândalo.

EGÍDIO: - Aqui reportezinha de quinta! Cada vez chega mais perto da verdade.

EDINALDO: - Isto seria muito ruim para sua campanha.

EGÍDIO: - Temos que convencer esta mulherzinha insolente a desistir de publicar o que sabe sobre o caso.

EDINALDO: - Suborno?

EGÍDIO: - Se for preciso.

MARA: - Por que subornar alguém para não contar a verdade?

EGÍDIO: - Mara?

MARA: - Perdão! Foi inevitável ouvir a conversa.

EDINALDO: - Com licença. (Sai)

MARA: - O que esta escondendo de mim Egidio?

EGÍDIO: - Eu... Escondendo? Nada, nada...

MARA: - Não me traga como idiota. Não subestime minha inteligência...

EGÍDIO: - Não querida...

MARA: - Chega Egídio. Que mesmo que eu descubra a verdade através dos jornais?

EGÍDIO: - De que verdade você esta falando?

MARA: - A verdade que me esconde. O que realmente aconteceu com meu filho?

EGÍDIO: - Mara...

MARA: - Vai continuar mentindo pra mim?

EGÍDIO: - Não. Que mesmo saber?

MARA: - Quero.

EGÍDIO: - Nosso filho foi assassinado.

MARA: - Já imaginava.

EGÍDIO: - Foi isso.

MARA: - Por que?

EGÍDIO: - A polícia continua...

MARA: - Não me venha com essa baboseira de que estão investigando. Você sabe muito mais que isso...

EGÍDIO: - Seu filho eu um pederasta, estava naquele lugar se encontrando com outros homens...

MARA: - Outros homens?

EGÍDIO: - Para praticar sexo...

MARA: - Não pode ser...

EGÍDIO: - Vê por que não queria que soubesse? É vergonhoso para nossa família.

MARA: - Por que o mataro?

EGÍDIO: - Isso ainda não sabemos.

MARA: - Estava noivo.

EGÍDIO: - Sempre foi contra. Este noivado aceitou só de fachada.

MARA: - Não faz sentido.

EGÍDIO: - Sei que é um choque. Mas tem que aceitar os fatos por piores que sejam... Ainda descobriremos muito mais... Coisas que serão difíceis aceitar.

MARA: - Por que nunca nos disse?

EGÍDIO: - Por que é vergonhoso.

MARA: - Era meu filho.

EGÍDIO: - Mas está morto. E nós temos que prosseguir. Almoça comigo?

MARA: - Não me sinto bem. Quero ir pra casa.

EGÍDIO: - Pedirei ao nosso motorista para leva-la.

MARA: - Obrigado! (Saem)

ATO III – CENA XI

(Num bar)

RODRIGUES: - Pensei que não viesse...

MÔNICA: - Espero não me arrepender.

RODRIGUES: - Tenho certeza que não se arrependerá.

MÔNICA: - O que tem pra mim?

RODRIGUES: - Hei, calma! Relaxa.

MÔNICA: - Não acha que só por que vim até aqui vai conseguir levar pra cama...

RODRIGUES: - Que pensamento fértil!

MÔNICA: - Não é atoa que sou jornalista.

RODRIGUES: - Sabe que não é uma má ideia.

MÔNICA: - Péssima!

RODRIGUES: - Ao menos um drink você bebe comigo...

MÔNICA: - Não bebo em serviço.

RODRIGUES: - Não estamos em serviço.

MÔNICA: - Eu estou. Preciso finalizar esta matéria o quanto antes.

RODRIGUES: - Não tem medo?

MÔNICA: - Na minha profissão não há espaço para medos...

RODRIGUES: - Está mexendo com gente graúda.

MÔNICA: - Me interesso pela verdade. E é isso que pretendo publicar.

RODRIGUES: - E por isso seria capaz de qualquer coisa...

MÔNICA: - Menos ir pra cama com você.

RODRIGUES: - Sou tão repugnante assim?

MÔNICA: - Sinceramente? Não. Mas não confundo trabalho com diversão.

RODRIGUES: - Então tenho uma chance?

MÔNICA: - Quem sabe!

RODRIGUES: - O rapaz tinha um relacionamento.

MÔNICA: - Disso eu já sei. Aliás, dois.

RODRIGUES: - Já tenho o endereço do cara com quem o defunto se relacionava.

MÔNICA: - Isso é bom. É quente?

RODRIGUES: - Quentíssimo!

MÔNICA: - Então me passa...

RODRIGUES: - Que recebo em troca?

MÔNICA: - Quanto vale?

RODRIGUES: - Apenas um beijo teu.

MÔNICA: - Isso é golpe baixo.

RODRIGUES: - Pegar ou largar.

MÔNICA: - No rosto.

RODRIGUES: - Sendo assim... Rasgo no meio...

MÔNICA: - Não! Tá bom... Eu beijo...

RODRIGUES: - Ótimo. (Ela o beija) Nossa! Que frio. Por um instante pensei que estivesse beijando um cadáver.

MÔNICA: - Queria o que meu bem, um beijo apaixonado?

RODRIGUES: - Não... No mínimo caloroso.

MÔNICA: - O endereço...

RODRIGUES: - Acho bom caprichar! (Ela o beija)

MÔNICA: - Satisfeito?

RODRIGUES: - É... Não foi o que eu imaginava, mas já é um começo... (Entrega o papel) Aqui...

MÔNICA: - Valeu!

RODRIGUES: - Hei... Boa noite pra você também...

MÔNICA: - Boa! (De longe)

RODRIGUES: - Ainda te pego de jeito! (Bebe e sai)

ATO III – CENA X

(Na mansão)

SELMA: - Bom dia...

LUDIMILA: - Preciso falar com Mara.

SELMA: - Perdão senhora. Mas Dona Mara não está.

LUDIMILA: - Não tem problema eu espero.

SELMA: - Mas senhora...

LUDIMILA: - Que faz ai parada? Sirva-nos alguma coisa...

NANCÍ: - O que está acontecendo aqui Selma?

ISABEL: - Desculpe-nos Nanci, já estamos de saída. Vamos mamãe?

LUDIMILA: - Engano seu filhinha. Viemos conversar com Mara...

NANCÍ: - Dona Mara não está.

LUDIMILA: - Sendo assim... Não vejo outra opção, a não ser esperar.

NANCÍ: - Creio que não seja uma boa idéia.

LUDIMILA: - Você não é paga pra crer e sim pra obedecer. Por tanto se ponha na sua condição de...

ISABEL: - Mamãe!

LUDIMILA: - Empregada. E como boa empregada que deva ser. Peça a sua subordinada para nos servir um drink.

NANCÍ: - Como boa empregada... Só sigo ordens dos meus patrões. E só não peço para os seguranças lhe arrastarem daqui pra fora em respeito a sua filha que é um doce.

LUDIMILA: - escute aqui sua insolente...

ISABEL: - Mamãe, chega!

NANCÍ: - Se deseja espera... Que espere. Vamos Selma. (Saem)

ISABEL: - Que desagradável mamãe.

LUDIMILA: - Essa empregadinha má educada não perde por esperar... Deixa você entrar de vez pra essa família.

ISABEL: - Não viaja mãe. Acabou! Será que não percebeu? Marcos está morto.

LUDIMILA: - Escuta aqui sua imbecil... Eu falo, você fica calada. Vê se não estraga tudo.

ISABEL: - Que está planejando desta vez?

LUDIMILA: - O teu futuro.

ISABEL: - Não vou ficar aqui pra presenciar esse circo de horrores...

LUDIMILA: - Melhor mesmo. Vá... Em casa conversamos.

ISABEL: - Nancí?

NANCI: - Senhora?

ISABEL: - você pode abrir a porta pra mim?

NANCI: - Sim senhora. (Isabel sai. Voltando, campanhia toca) Dona Mara... Ludimila esta a sua espera.

LUDIMILA: - Mara querida!

MARA: - Como vai?

LUDIMILA: - Melhor agora...

MARA: - Pena que não estou em condições de lhe dar atenção minha querida...

LUDIMILA: - Há que pena! Pois o assunto que me trás aqui é muito importante...

MARA: - Em outro momento.

LUDIMILA: - O sobre o Marcos.

MARA: - Meu filho?

LUDIMILA: - Sim. Tenho boas novas...

MARA: - Não entendi.

LUDIMILA: - Vamos ser avós.

MARA: - Que?

LUDIMILA: - Isso mesmo! Não é maravilhoso? Isabel está grávida.

MARA: - Grávida?

LUDIMILA: - É grávida.

MARA: - Não entendo...

LUDIMILA: - Como não? Cinco anos de namoro...

MARA: - Então, meu filho ia ser pai?

LUDIMILA: - Exatamente. Estou tão radiante! Isabel se sentiu mal, então a levei ao hospital e o médico confirmou... Claro que é bem recente. Mas de certo modo, Marcos continuará entre nós através deste filho.

MARA: - Estou surpresa.

LUDIMILA: - Também fiquei. Mas confesso, estou feliz.

MARA: - Meu filho... Ia ser pai.

LUDIMILA: - Achei que tinha que lhe dar esta notícia...

MARA: - Vez bem. E Isabel?

LUDIMILA: - Sentiu-se mal. Então achei melhor que fosse pra casa. Sabe como é... Gravidez, no começo... Indisposição, enjoo... Bem mas agora que lhe dei a notícia, deixa eu ir... Isabel precisa dos meus cuidados.

MARA: - Isabel terá toda assistência que precisar...

LUDIMILA: - Quanto a isso, não tenho nenhuma dúvida. Beijos querida!

MARA: - Nanci, acompanhe-a... (Ludimila sai) Isabel grávida!

NANCI: - Senhora acredita nesse mulher?

MARA: - Você não?

NANCI: - Essa mulher é tinhosa. Capaz de tudo pra se dar bem.

MARA: - Até mesmo articular uma história como essa?

NANCI: - Ela é capaz de coisas que até o diabo duvida.

MARA: - Se for uma invenção, será logo desmascara.

NANCI: - isso lhe trouxe esperança.

MARA: - Filho do meu filho!

NANCI: - Se fosse a senhora pedia DNA.

MARA: - Não tenha dúvida. Egídio irá exigir.

NANCI: - Certo ele. Nessa gente não dá pra confiar.

MARA: - Vou para meu quarto. Estou um pouco indisposta.

NANCI: - Se precisar de alguma coisa...

MARA: - Obrigada, minha querida. (Saem)

ATO III – CENA XI

(Na delegacia)

RODRIGUES: - O senhor mandou me chamar?

NILTON: - Sim... Veja.

RODRIGUES: - Que é?

NILTON: - O laudo definitivo.

RODRIGUES: - Então... A causa da morte... Algo perfurante, possível material ponte agudo de superfície plástica. Suposto assassino canhoto...

NILTON: - Exatamente. Isso elimina muitos suspeitos.

RODRIGUES: - Quando começamos a ouvir a família e amigos?

NILTON: - A partir de amanhã.

RODRIGUES: - Ótimo. Mas o que vamos fazer quando descobrir a verdade?

NILTON: - O que tem que ser feito.

RODRIGUES: - Arquivar o processo?

NILTON: - Exatamente. Há muitos interesses por trás desse caso.

RODRIGUES: - Entendi. Mas se tudo deve ficar como está, porque ouvi as testemunhas?

NILTON: - Seguir protocolos, meu caro.

RODRIGUES: - Frustrante!

NILTON: - É a lei do poder. Manda quem pode, obedece quem é inteligente.

RODRIGUES: - Com licença.

NILTON: - Toda.

ATO III – CENA XII

(Mônica vai a casa de Júnior)

MÔNICA: - Olá...

JÚNIOR: - Posso ajuda-la?

MÔNICA: - Creio que sim. Há, sou Mônica...

JÚNIOR: - Nos conhecemos?

MÔNICA: - Ainda não. Posso entrar?

JÚNIOR: - Claro.

MÔNICA: - Obrigada. Aconchegante seu ap.

JÚNIOR: - Obrigado.

MÔNICA: - Você e o Marcos?

JÚNIOR: - Você o conhecia?

MÔNICA: - Infelizmente só conheci, depois de morto.

JÚNIOR: - Você é dá polícia?

MÔNICA: - Não.

JÚNIOR: - Então o que quer?

MÔNICA: - Apenas conversar com você...

JÚNIOR: - Conversar? Não entendo...

MÔNICA: - Júnior... Como sabe, será investigado... A polícia já sabe de sua ligação com o Marcos...

JÚNIOR: - Quem é você?

MÔNICA: - Hei, calma. Sou apenas uma jornalista investigativa...

JÚNIOR: - Não tenho nada a lhe dizer. Por favor saia.

MÔNICA: - Sabe que será um dos suspeitos...

JÚNIOR: - Não.

MÔNICA: - Você e Marcos estavam juntos a quanto tempo?

JÚNIOR: - Não é da sua conta.

MÔNICA: - Posso lhe ajudar.

JÚNIOR: - Não preciso de sua ajuda.

MÔNICA: - Acha mesmo que a família do Marcos vai aceitar sua versão numa boa?

JÚNIOR: - Não me interessa a opinião deles. Nunca me interessou.

MÔNICA: - Meu caro, você será o primeiro suspeito... Vão deduzir que ele queria cair fora e você não aceitando poderia ter o matado.

JÚNIOR: - Isso não é verdade. Estávamos muito bem.

MÔNICA: - Mesmo?

JÚNIOR: - Ele iria acabar o noivado e vinha morar comigo.

MÔNICA: - Então amam-se de verdade.

JÚNIOR: - Claro. Só não estávamos morando juntos por causa da família. Marcos tinha medo que descobrissem e esse escândalo acabasse interferindo na vida pública do pai.

MÔNICA: - Então sacrificava-se pela família.

JÚNIOR: - A família era tudo pra ele.

MÔNICA: - E você aceitava numa boa ser colocando em segundo plano?

JÚNIOR: - Nunca fui posto em segundo plano. Os momentos que tínhamos juntos eram plenos. Eu era amado tanto quanto amava.

MÔNICA: - acho bonito isso. Imagino o quanto era difícil pra você dividir o homem que amava com uma mulher.

JÚNIOR: - Tranquilo. Eles não tinham intimidades.

MÔNICA: - Você está me dizendo que eles não transavam?

JÚNIOR: - Exatamente.

MÔNICA: - Então, era um noivado de fachada?

JÚNIOR: - Não exatamente.

MÔNICA: - Como assim?

JÚNIOR: - Ela não sabia que ele era gay.

MÔNICA: - Então, ela era enganada.

JÚNIOR: - Não sei, acho que queria se enganar. Cinco anos... E nada.

MÔNICA: - Tem casal que quer se preservar até o casamento.

JÚNIOR: - Fala sério! Só cego não vê o que é obvio!

MÔNICA: - Como soube da morte?

JÚNIOR: - Notícia ruim corre rápido. Vi na teve.

MÔNICA: - deve ter sido um golpe duro.

JÚNIOR: - Foi. Mas o pior é ir aquele velório e não poder me despedir dele como o grande amor da minha vida.

MÔNICA: - Percebi teu sofrimento... Confesso que estranhei.

JÚNIOR: - Está sendo muito duro continuar sem ele.

MÔNICA: - ele que o mantinha?

JÚNIOR: - Não. Trabalho. Vivo do meu trabalho. Construímos isto juntos.

MÔNICA: - Bom gosto.

JÚNIOR: - Vai escrever sobre ele?

MÔNICA: - Pretendo.

JÚNIOR: - Sabe que se falar sobre nós... Destruirá a imagem que a sociedade tem sobre ele.

MÔNICA: - Prefere que esta vida de mentirinha que ele criou em torno de vocês permaneça?

JÚNIOR: - Muitos sofrerão com a verdade.

MÔNICA: - E sua dor, não importa?

JÚNIOR: - Posso lidar com ela.

MÔNICA: - Por que você acha que o mataram?

JÚNIOR: - Não sei. Não faço ideia. Marcos era gente boa, pacato, não tinha inimigos.

MÔNICA: - você tem certeza que a noiva e a família dele não sabiam de nada?

JÚNIOR: - Pelo menos, acho que não.

MÔNICA: - Obrigado por conversar comigo.

JÚNIOR: - Mônica...

MÔNICA: - Sim?

JÚNIOR: - Não publica nada, não.

MÔNICA: - Quando for publicar... Te aviso.

JÚNIOR: - É justo.

MÔNICA: - Obrigada por me receber.

JÚNIOR: - Obrigado por ouvir minha versão.

MÔNICA: - Fico feliz que tenha tido uma linda história de amor.

JÚNIOR: - A mais linda, acredite.

MÔNICA: - Acredito. Bom, bom nessa... Até.

JÚNIOR: - Até. (Sai)

ATO III – CENA XIII

(No apartamento de Ludimila)

ISABEL: - Até que enfim...

LUDIMILA: - A sorte foi lançada.

ISABEL: - Do que está falando? Que você andou aprontando desta vez?

LUDIMILA: - Isso é jeito de se falar com sua mãe? Me prepara um drink.

ISABEL: - Não tem.

LUDIMILA: - Como não?

ISABEL: - Acabou.

LUDIMILA: - Droga! Mas isso é por pouco tempo...

ISABEL: - É? Posso saber por que?

LUDIMILA: - Por que, depois da conversa que tive com Mara...

ISABEL: - Tenho até medo de perguntar o teor desta conversa...

LUDIMILA: - Claro que foi sobre você...

ISABEL: - Eu?

LUDIMILA: - Claro. Tinha que resolver sua situação.

ISABEL: - Que situação.

LUDIMILA: - Filha! Você é viúva de um dos caras mais ricos desta cidade...

ISABEL: - Não sou viúva, não éramos casados.

LUDIMILA: - Mas tem que cuidar do bebê.

ISABEL: - Que bebê?

LUDIMILA: - Deste bebê que esta esperando.

ISABEL: - Ficou louca?

LUDIMILA: - Não filhinha! Esta é nossa cartada final.

ISABEL: - Não acredito que...

LUDIMILA: - Fique feliz! Você será a mãe do ano.

ISABEL: - Você é louca!

LUDIMILA: - Mara ficou feliz.

ISABEL: - Vou procura-la e desfazer esta história criada por sua cabeça doentia.

LUDIMILA: - Preste atenção... Você vai querer viver uma vidinha medíocre o resto de sua existência. Está é sua única chance...

ISABEL: - Você é louca. Não estou grávida.

LUDIMILA: - Mas pode ficar.

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Isso não é difícil.

ISABEL: - Não acredito no que estou ouvindo da minha própria mãe.

LUDIMILA: - Quero providenciar o seu futuro...

ISABEL: - Será que você é tão burra? Ainda que eu apareça grávida... Vão pedir teste de DNA.

LUDIMILA: - Isso agente dá um jeito.

ISABEL: - Que jeito?

LUDIMILA: - Compramos um.

ISABEL: - Você é louca. Não farei parte disso.

LUDIMILA: - Fará sim. Me deve isso. Renunciei minha vida por você.

ISABEL: - Não... Não farei. (Sai)

LUDIMILA: - Há, fará. Se fará. Ou não me chamo Ludimila. (Sai)

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