janeiro 09, 2013

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE...


PERSONAGENS:

CANDIDA

MATILDE: Irmã de Cândida.

ISABEL: Filha de Cândida.

MARCIEL: Marido de Isabel.

ERICK: Filho de Isabel.

DALVA: Irmã de Isabel.

NANA: Empregada de Cândida.

TININHA: Empregada de Isabel, filha de Nana.

ATO I

(Cândida esta sentada na sala, em seu colo uma caixa de costura de onde ela tira um novelo de lã e começa a fazer tricô companhia toca. Nana calmamente cruza a sala e vai atender).

NANA: - Filha?!(surpresa)

TININHA: - Mãe...

NANA: - O que aconteceu?

CANDIDA: - (Levanta-se) Algum problema com Isabel?

TININHA: - Não senhora. É que eu gostaria de falar com minha mãe.

CANDIDA: - E por que esse nervosismo todo.

NANA: - O que foi minha filha?

CANDIDA: - Vou deixá-las a sós.

NANA: - Obrigada Dona Cândida. (Cândida sai) O que foi minha filha?

TININHA: - Não posso continuar lá...

NANA: - Mas por quê?

TININHA: - Não tem, mas cabimento.

NANA: - Não estou entendendo mais nada. Dona Isabel lhe trata tão bem.

TININHA: - Aquele miserável tentou me agarra a força.

NANA: - Filha! Meu Deus! Mas o menino Erick...

TININHA: - Não! Não foi o Erick mãe.

NANA: - Pelo amor de Deus, o que você esta me dizendo?

TININHA: - Isso mesmo.

NANA: - Você esta querendo...

TININHA: - Seu Maciel tentou me agarrar à força.

NANA: - Meu Deus! E dona Isabel?

TININHA: - Não estava em casa.

NANA: - Você contou pra ela?

TININHA: - Ainda não. Não tive coragem. Essa não foi à primeira vez!

NANA: - Temos que conta pra Dona Cândida.

ISABEL: - Pra lá eu não volto nunca mais sou capaz de...

NANA: - Não diga bobagem minha filha você não precisa voltar pra lá. Dona Cândida?

CANDIDA: - Me chamou Nana?

NANA: - Sim senhora.

CANDIDA: - Diga

NANA: - É melhor a senhora sentar.

CANDIDA: - Aconteceu algo com Isabel?

NANA: - Não senhora...

CANDIDA: - Com meu neto?

NANA: - Não.

CANDIDA: - Então por que esse mistério?

NANA: - É que a Tininha que lhe contar algo...

CANDIDA: - Me contar algo.

NANA: - Sim senhora. E o que ela tem pra lhe contar é muito delicado.

CANDIDA: - Meu Deus! Não vai me dizer que você se deixou desfrutar pelo meu neto, ora minha filha, Erick é jovem, imaturo e jamais...

TININHA: - Não senhora

CANDIDA: - Não? Então o que é? Vamos menina diga.

TININHA: - Seu Maciel...

CANDIDA: - O que tem Maciel?

TININHA: - Seu genro tentou me agarrar à força.

CANDIDA: - Tentou lhe agarrar a força. Ora, mais isso não tem cabimento! Você deu confiança?

TININHA: - Não senhora. Sou uma moça de respeito, seu genro que não presta.

CANDIDA: - Isabel sabe dessa história?

TININHA: - Não senhora. Não tive coragem de contar.

CANDIDA: - Melhor assim.

TININHA: - E agora o que vamos fazer?

CANDIDA: - Tininha você liga pra Isabel e diz que vai dormir esta noite aqui com tua mãe. Amanhã resolvermos isso, com cabeça fria...

TININHA: - Sim senhora.

CANDIDA: - Você me garante que não aconteceu...

TININHA: - Não. Eu juro por tudo que é mais sagrado.

CANDIDA: - Melhor. Por favor, acomode-se no quarto que foi de Isabel.

TININHA: - Sim senhora! Licença. (sai)

CANDIDA: - O que você acha Nana?

NANA: - Tininha esta dizendo a verdade. Posso lhe garantir Dona Cândida, a senhora vai contar a Dona Isabel?

CANDIDA: - Isso poderia causar um grande abalo no casamento de Isabel. Acho melhor ela não saber de nada.

NANA: - A senhora não acha que ela deve saber o marido que tem? Marido este que não a respeita dentro da sua própria casa?

CANDIDA: - Já é tarde! E essa notícia nos deixou abalados. É melhor irmos dormir e amanhã com a cabeça fria, agiremos com mais cautela.

CENA II

ERICK: -(No telefone) Tudo bem. Pode deixa... Ta bom, eu dou o recado. Boa noite!

ISABEL: - Quem era?

ERICK: - Tininha.

ISABEL: - Onde está?

ERICK: - Na casa da vovó Cândida.

ISABEL: - Estranho! Foi sem avisar.

ERICK: - Talvez tenha sentido falta da Nana.

ISABEL: - Teu pai?

ERICK: - Deu uma saída.

ISABEL: - Disse onde aí?

ERICK: - Acho que... Se não entendi mal, foi comprar cigarro.

ISABEL: - Ah, esse vício! Vai acabar com teu pai. Já que a Tininha me largou aqui sozinha, é melhor preparar a nossa janta.

ERICK: - Mãe... Hoje vou dormir fora.

ISABEL: - Eric, essa é a terceira vez nesta semana que você dormi fora. Sabe que não gosto disso...

ERICK: - Relaxa mãe.

ISABEL: - Como posso relaxar meu filho? Preocupa-me não saber onde você esta e com quem...

ERICK: - Amigos da faculdade. Oh, Dona Isabel, lhe garanto que não estamos fazendo nada de errado. Apenas estamos estudamos mais, sabe como é, final d semestre...

ISABEL: - Não tem mulher metida nessa história, não?

ERICK: - Ora mamãe! O que pensa das pobres moças?

ISABEL: - Com essa história de liberdade a todo preço, Não acho nada impossível.

ERICK: - Quanto a isso fique fria. (pega os livros) Boa noite mãe?!

ISABEL: - Juízo menino.

ERICK: - Pode deixar. Sua benção.

ISABEL: - Deus te abençoe. (ele sai)

MARCIEL: -(fumando)

ISABEL: - Ah! Maciel fica enchendo a casa com essa fumaça horrível.

MARCIEL: - Será que um homem não tem nem o direito de fumar tranqüilo na sua própria casa?(T) Onde está todo mundo?

ISABEL: - Tininha está com a mãe, Erick foi estudar com a turma da faculdade...

MARCIEL: - Com a mãe? Vai dormi na casa de Dona Cândida?

ISABEL: - Vai.

MARCIEL: - Não acha estranho? Hoje é quinta-feira.

ISABEL: - Sinceramente não. Vai vê que sentiu falta da mãe!

MARCIEL: - Que dizer que pago a uma empregada pra quando senti falta da mãe, larga tudo e...

ISABEL: - Nossa empregada não é irresponsável. Tininha não largou tudo, antes de ir deixou tudo pronto.

MARCIEL: - É muito folgada isso sim. Daqui apouca Poe você pra trabalhar e agi como patroa. Isabel, você precisa ensinar essa moça à atenção. Se não isso vai ficar cada vez mais comum. Pagamos a esta moça para nos servir, não para fazer turismo.

ISABEL: - Quando chegar converso com ela. Pode ter acontecido alguma coisa, e ela não tenha tido tempo de avisar.

MARCIEL: - Que tipo de coisa?

ISABEL: - Coisas de mulher, por exemplo!

MARCIEL: - Então deixa pra lá, não convém fazer perguntas. Isso pode constranger a moça.

ISABEL: - Sabe que você tem razão. Talvez seja melhor ficar na minha, e se, ela achar que deve...

MARCIEL: - Essa é minha querida esposa. (Beija-a na face) Sempre saiba.

CENA III

DALVA: - Mamãe?!

CANDIDA: - Mas que surpresa é essa? Será que é motivo de espanto uma velha senhora se deslocar da sua casa?

DALVA: - Não. Não é isso! E que a senhora não tem o habito de sair de casa.

CANDIDA: - Isso mostra que o ser humano sempre pode voltar atrás à suas decisões.

DALVA: - Bom... Mas que bons ventos a atrás.

CANDIDA: - Precisava ter uma conversa com você minha filha.

DALVA: - Ora mamãe bastava ter me telefonado...

CANDIDA: - Ainda estou viva, e graças a Deus, posso caminhar!

DALVA: - Aconteceu alguma coisa? E Nana por que não veio com a senhora? Não é bom

CANDIDA: - Sossegue Dalva! Como vê, estou bem e inteira, ainda. E Nana tem mais o que fazer. E o que me trás aqui é Tininha...

DALVA: - Tininha? O que houve com ela?

CANDIDA: - O mau dessa juventude é pensar que nós, depois de velhas ficamos burros.

DALVA: - Não estou entendendo. Algum problema na casa de Isabel.

CANDIDA: - Tininha chegou lá em casa ontem à noite. Meio conturbada.

DALVA: - Conturbada?! Mas por quê?

CANDIDA: - Disse ela que Maciel tentou a molestar.

DALVA: - Deus! Isabel sabe disso?

CANDIDA: - Acredito que não.

DALVA: - Mas chegou a acontecer alguma coisa entre os dois?

CANDIDA: - Garante ela que não. Mas quer saber estou desconfiada...

DALVA: - Desconfiada, mas de que? A senhora acha que...

CANDIDA: - Infelizmente. Acho que foram além de uns galanteios.

DALVA: - Isso é terrível! Isabel vai ficar arrasada.

CANDIDA: - É isso que dá quando a mulher não sabe qual o seu lugar. Se Tininha tivesse compostura isso jamais teria acontecido. A mulher precisa deve ter compostura. Homem é cachorro, tudo pode, pra eles. Nada pegar. Mas com nós mulheres é diferente.

DALVA: - Sempre achei Tininha tão séria.

CANDIDA: - É uma assanhada, isso sim! Se fosse realmente séria teria evitado esse constrangimento para todos nós!

DALVA: - E agora mamãe?

CANDIDA: - Vim aqui pra pedir que Tininha possa ficar aqui com vocês, enquanto averiguo a situação...

DALVA: - Mas mamãe... Se aconteceu com o marido de minha irmã, pode...

CANDIDA: - Oh, meu Deus! Que cabeça a minha. Não tinha pensado nisso. Você tem razão. Tininha não gera confiança! E se já estiver perdida não terá nenhum pudor. Como já sabemos seu marido também não flor que se cheire!

DALVA: - Mamãe!

CANDIDA: - É como se trouxesse o bolo para festa! Isso não.

DALVA: - E o que vai fazer?

CANDIDA: - Por enquanto é melhor deixar tudo como está. Tininha continua lá em casa com a mãe!

DALVA: - E Isabel?

CANDIDA: - Vou pedir para ela ir lá em casa e com jeito a contarei.

DALVA: - Coitada da minha irmã! Ela vai ficar arrasada!

CANDIDA: - Não. Não vai! Ela tem a nós duas e vamos dar todo apoio que ela necessitar.

DALVA: - Claro!

CANDIDA: - Agora me deixa voltar pra casa que tenho muito que resolver hoje.

DALVA: - Vou deixá-la em casa mãe.

CANDIDA: - Ora essa! Não me trate como se fosse uma velha inútil!

DALVA: - Faço questão! Deixa de teimosia! É só Campânia.

CANDIDA: - Como Campânia eu aceito. Feita inválida, não. Agora vamos!

DALVA: - Só um minuto, vou pegar minha bolsa!

CANDIDA: - É pra hoje!

DALVA: - Eu sei! (pega a bolsa) Pronto.

CANDIDA: - Então vamos...

DALVA: - Vamos. (saem)

CENA IV

(Tininha e Nana na cozinha)

NANA: - Agora só estamos nós duas...

TININHA: - Mãe, já disse tudo que tinha pra dizer.

NANA: - E eu não te conheço menina? Sou tua mãe e não há ninguém que queira mais teu bem que eu. Tininha minha filha, neste mundo só existe nós duas, eu e você. Se não puder contar uma com a outra... Com quem vamos contar?

TININHA: - Mãe, eu juro que...

NANA: - Ora minha filha! Não jure. Nem por defesa. Sou sua mãe e lhe peço, se há algo além do que foi dito, quero saber. Por mas, difícil que isso seja, quero ser a primeira. Desejo ouvir de sua boca. Me conte tudo, se abra comigo, sou sua mãe, confie em mim. Estou aqui de braços abertos...

TININHA: - Não terminou naquilo.

NANA: - Imagino que não! Deus! Até onde isso foi?

TININHA: - Já faz um tempo... que... eu e... Maciel...

NANA: - Que está me dizendo?

TININHA: - Estamos tendo...

NANA: - Você é amante do marido de dona Isabel?

TININHA: - Há dois anos.

NANA: - Dois anos?

TININHA: - É. Tudo começou com um flerte e depois isso foi se intensificando, ai comecei a me interessar por ele, e num dia que dona Isabel não estava em casa, acho que tinha vindo para cá, e Erick estava na faculdade, nós ficamos sós e tudo aconteceu. Depois desse dia todas as oportunidades que tínhamos era pra ficar junto. Eu me apaixonei por ele.

NANA: - Minha filha desfrutada por um homem casado! Perdida.

TININHA: - Apaixonada.

NANA: - Canalha!

TININHA: - Não. Ele não tem culpa.

NANA: - Ainda defende?

TININHA: - Eu quis!

NANA: - Tem uma esposa e um filho, nunca vai largar a família por você.

TININHA: - Nunca me prometeu nada.

NANA: - Se souberem disso, vão nos escorraçar. Conheço dona Cândida.

TININHA: - Sinto muito!

NANA: - Sente muito. Já pensou se todos que fizessem absurdos apenas sentissem muito? Acha que só por sentir muito, as pessoas vão lhe perdoar?

TININHA: - Me pediu pra confiar em você...

NANA: - Sei que cometeu um grave erro, mas você é minha filha e não posso dar as costas pra você.

TININHA: - Mãe... Eu acho que vou ter um filho.

NANA: - Um filho? Meu Deus! Você enlouqueceu? Como pode deixar isso chegar a esse ponto minha filha?

TININHA: - Não tenho certeza. Pode ser um engano!

NANA: - E se não for?

TININHA: - Será mãe.

NANA: - E se der positivo?

TININHA: - Assumo isso sozinha.

NANA: - Sozinha? Enlouqueceu? Não temos nem o suficiente para nós! Como vamos cuidar de uma criança. Jesus! Se souberem disso, nem sai!

TININHA: - Podemos sim. Sempre trabalhamos duro!

NANA: - Vão nos colocar na rua...

TININHA: - Mãe, não está confirmado. Então não vamos ficar agora sofrendo antecipadamente. Só quero um pouco de colo, me abraça mãe, me abrace!

NANA: - Desmiolada! Em que rolo se meteu! (abraça)

TININHA: - Me abraça mãezinha!

CENA V

(Maciel está à mesa, Isabel o serve)

ÉRICK: - Bom dia!

ISABEL: - Bom dia filho!

MARCIEL: - Bom dia!

ÉRICK: - Mas o que acontece? Dnª Isabel na cozinha. Deu férias a Tininha?

MARCIEL: - Hora do café. Não é hora de conversas. Esta é uma hora sagrada.

ISABEL: - Não filho. Tininha desde ontem se encontra na casa de sua avó Cândida.

ÉRICK: - Mas por quê?

MARCIEL: - Vamos deixar esse assunto pra depois. O que acontece é que tua mãe deu liberdade demais a essa menina. Daqui apouco Tininha vai esta exigindo que Isabel a leve café na cama. É muita folga.

ISABEL: - (Senta-se) Não seja tão duro Maciel. Talvez, Tininha esteja doente e não queira nos preocupar.

MARCIEL: - É... Preguiça é uma doença. E séria. Mas como alguém nesta casa tem que trabalhar... Pra vocês que estão com a vida mansa, licença que o camelo aqui já vai voltar pro pesado. Bom dia querida.

ISABEL: - Bom dia.

ÉRICK: - Bom dia pai.

MARCIEL: - Obrigado.

ISABEL: - Maciel... Mas tarde vou à casa de mamãe...

MARCIEL: - Não Isabel. Por favor, não vai agora ficar implorando...

ISABEL: - Ora Maciel preciso saber o que esta acontecendo com Tininha. Não por se nossa empregada. Mas por ser uma pessoa que tem um bom convívio conosco, e esse sumiço não faz sentido.

MARCIEL: - Mostra a pessoa ingrata que é. E eu não gostaria que você se humilhasse deste jeito. Ficaria muito chateado. Até mais tarde. (saí)

ISABEL: - Até. Erick, você esta sabendo de alguma coisa?

ÉRICK: - Por que saberia?

ISABEL: - Filho, agora só nós dois.

ÉRICK: - E?

ISABEL: - E? Vou ser bem objetiva filho.

ÉRICK: - Seria muito bom.

ISABEL: - Eu sei que você é jovem.

ÉRICK: - E por isso posso ser irresponsável.

ISABEL: - Não ponha palavra em minha boca.

ÉRICK: - Mas o que diacho então você quer que eu diga?

ISABEL: - A verdade.

ÉRICK: - Que verdade mãe?

ISABEL: - Você?... Como posso dizer...

ÉRICK: - Quer saber se eu comi sua empregada?

ISABEL: - Isso é jeito de falar com tua mãe? Me respeite seu moleque.

ÉRICK: - Então me respeite mãe! Não me acuse sem certeza. Tua empregada some e eu que tenho culpa.

ISABEL: - Não disse isso.

ÉRICK: - Não, não transei com tua empregada. (sai)

ISABEL: - Erick? Volte aqui... Ah! Filhos! Droga. Vou descobri o que esta acontecendo, custe o que custar.

CENA VI

CANDIDA: - Nana?

NANA: - Sim, senhora?

CANDIDA: - Me chama tua filha aqui, por favor.

NANA: - Senhora acho que antes devemos ter uma conversa...

CANDIDA: - Espero que o pior não tenha acontecido Nana. Eu ficaria muito chateada. Veja bem, durante anos você esta nesta casa, a tenho como se fosse um membro da família.

NANA: - São quinze anos.

CANDIDA: - Quinze anos! Você acompanhou praticamente os momentos mais felizes desta família.

NANA: - Eu sei. Lembro como se fosse hoje o casamento de Dnª Dalva. Ela estava radiante.

CANDIDA: - E em consideração a você, ao que apresenta a esta casa, que vai além de empregada, porque em você eu depositei confiança e criei até mesmo afeto e consideração. Foi por você, por sua índole que pedi a Isabel que acolhesse sua filha, assim como eu lhe acolhi aqui.

NANA: - Por isso mesmo que não quero que haja nenhum mal entendido entre nós. Somos mães Dnª Cândida e sabemos o quanto é difícil criar nossos filhos. E como mãe, amiga e, claro, sua empregada. Acho que lhe devo uma satisfação. Se eu não colocar pra fora tudo isso que esta entalado aqui... Acho que vou sufocar.

CANDIDA: - Sente-se, por favor, Nana.

NANA: - É uma situação muito embaraçosa.

CANDIDA: - Sei que sim. Mas às vezes é preciso desembaraçar...

NANA: - A situação é mais complicada do que parece.

CANDIDA: - Meu Deus! Eu pressentia isso. Mas onde é que tua filha estava com a cabeça?

NANA: - Ilusões! A senhora sabe como é isso.

CANDIDA: - Não, não sei. Nunca tive ilusão com homem casado. Vou lhe dizer uma coisa Nana. Tua filha foi longe demais, não por ter se envolvido com o marido da minha filha, mas por ter sido homem que já possuí uma família e por ela praticamente fazer parte desta.

NANA: - Foi inocente.

CANDIDA: - Inocente? Com aquela saia mostrando praticamente tudo, e com aquele jeito insinuante? O que você esperava? Francamente! Só podia dar nisso. Dor de cabeça! Então aconteceu? Sua filha não é, mas moça?

NANA: - Aconteceu. Infelizmente minha filha foi desonrada.

CANDIDA: - E como pode ter certeza que foi com Maciel?

NANA: - Tininha cometeu um erro, um grave erro! Mas mentir quanto a isso? Jamais.

CANDIDA: - Ora Nana. Não se iluda. Essas moças são capazes de tudo.

NANA: - A senhora me desculpe Dnª Cândida. Sei que minha filha errou, mas mentir pra mim quanto a isso não.

CANDIDA: - Só esta juntando o útil ao agradável.

NANA: - O que esta querendo dizer?

CANDIDA: - Que ela conseguiu pegar o idiota do Maciel. Se julga tão esperto, tão vivido, caiu direitinho nas garras de uma mundana...

NANA: - Não admito que fale assim de minha filha.

CANDIDA: - Você não admite? Ora Nana, veja o que sua filha fez. Tem noção do estrago? Você acha que vai ser fácil arranjar um marido pra uma moça que já foi divirgindada? Que homem vai querer tapar o buraco que outro deixou?

NANA: - Tininha desconfia que esta grávida.

CANDIDA: - Golpe da barriga? E mais essa! É muito esperta sua filha. E a senhora ainda tem dúvidas?

NANA: - Confio na palavra da minha filha.

CANDIDA: - Deveria se envergonhar.

NANA: - Não é só responsabilidade dela.

CANDIDA: - Diz isso a um juiz. Como vai provar? Maciel já é casado. O que é que sua filha quer? Destruir toda uma família por falta de vergonha?

NANA: - Não. Nós temos dignidade Dnª Cândida.

CANDIDA: - Quero sua filha longe desta casa, e muito mais longe da minha família.

NANA: - Estou indo embora.

CANDIDA: - Você pode ficar.

NANA: - Onde minha filha não é bem vinda, também não saiu.

CANDIDA: - Você que sabe Nana. Você pode ficar. Ela não.

NANA: - Vou arrumar minhas coisas. (sai)

CANDIDA: - Velha coviteira!

CENA VII

(DALVA E ISABEL)

ISABEL: - Dalva... Entre.

DALVA: - Oi, irmã.

ISABEL: - Que carinha triste é essa?

DALVA: - Dimas tem uma amante.

ISABEL: - Dalva?

DALVA: - Tenho certeza.

ISABEL: - Você esta vendo coisas onde não existe.

DALVA: - Posso ser ingênua, burra não!

ISABEL: - Você não pode afirmar isso com tanta certeza.

DALVA: - Encontrei uma foto de mulher na carteira dele.

ISABEL: - Pode ter achado.

DALVA: - Acha uma foto de mulher que não sou eu e Poe na carteira dele?

ISABEL: - Deve ter outra explicação.

DALVA: - E isso... (tira um bilhete) Leia, Agora diga se tenho ou não razão?

ISABEL: - Onde você encontrou isso?

DALVA: - No palito dele. Ouça essa parte aqui "O que é bom tem que ser lembrado, mas com você tem que ser inesquecível quero muito mais".

ISABEL: - E se for uma anotação?

DALVA: - Com letra de mulher?

ISABEL: - É possível.

DALVA: - Ele liga pra essa dona da nossa casa...

ISABEL: - Não...

DALVA: - Eu já presenciei. E quando chego perto, disfarça como se estivesse falando com um amigo.

ISABEL: - Isso é nojento.

DALVA: - Talvez ele esteja procurando nela o que não encontra em mim.

ISABEL: - Não se maltrate minha irmã.

DALVA: - Se ao menos eu pudesse dar um filho...

ISABEL: - A procura dele por outra, se é que exista, não tem nada a vê com isso. Quando se ama.

DALVA: - É difícil ter que admitir. Mas acho que meu marido já não mais me ama.

ISABEL: - Impressão sua. Homem é assim mesmo. É igual cachorro tem que correr atrás de vagabunda pra se sentir homem. Pra ter do que se gabar!

DALVA: - Meu marido quase não me toca.

ISABEL: - Você não precisa falar sobre suas intimidades...

DALVA: - Preciso sim. Se não me abrir com você que é minha irmã... Com quem vou falar? Ela nunca entenderia. Das últimas vezes que tenho me entregue a ele Isabel é como se eu me rastejasse por um pouco de afeto...

ISABEL: - Pode ser cansaço.

DALVA: - Olha pra mim. Me acha feia?

ISABEL: - Claro que não! Você é linda.

DALVA: - Então por que meu marido não me deseja como antes? Será que fiquei desajeitada, sem atrativas aponto de não despertar o interesse do meu próprio marido?

ISABEL: - Seja o que for a culpa não é sua.

DALVA: - Faço de tudo pra o agradá-lo. Mas parece que ele já vem da rua satisfeito! Há noites que quase não durmo de tanto desejos, de tanta vontade de ser tocada. Vejo aquele homenzarrão a minha cama ao meu lado, podendo fazer o diabo comigo e, entretanto é como se eu não existisse.

ISABEL: - Oh, minha irmã. O conselho que posso lhe dar, é que converse com ele. abra seu coração, diga o que sente. E assim quem sabe...

DALVA: - Tenho medo que pense que sou uma...

ISABEL: - Falar de nossos desejos, de nossas satisfação é importante. Se não for com nosso companheiro, com quem vamos falar?

DALVA: - Talvez tenha razão.

ISABEL: - Tente ao menos. Dívida com ele estes seus sentimentos.

DALVA: - Obrigada minha irmã.

ISABEL: - Que isso. Vou fazer um cafezinho pra nós.

DALVA: - E Tininha?

ISABEL: - Sumiu! Tomou um chá de sumiço.

DALVA: - Mas por quê?

ISABEL: - Não faço idéia! Hoje vou à casa de mamãe vê o que acontece.

DALVA: - Estranho! Não acha?

ISABEL: - Dalva... Desconfio que ela e Erick...

DALVA: - Não!

ISABEL: - É a única justificativa que encontro desse sumiço misterioso.

DALVA: - E se não for?

ISABEL: - Não sei o que pensar. Erick jura de pés juntos que não fez nada. Mas sabe como é essa juventude, irresponsável.

DALVA: - Isabel...

ISABEL: - Fala.

DALVA: - Me passa o açúcar. Obrigada. Ta ótimo! Bom agora tenho que ir.

ISABEL: - Espera. Vou pegar minha balsa. (Pega a balsa)

DALVA: - Deus!

ISABEL: - Não fique pensando bobagem não sofra por antecipação! Converse com teu marido. O dialogo ainda é o melhor caminho. (saem)

CENA VIII

(TININHA E MARCIEL)

MARCIEL: - O que você esta fazendo aqui?

TININHA: - Nós precisamos ter uma conversa.

MARCIEL: - O que você esta pretendendo? Destruir minha vida é?

TININHA: - Estou grávida!

MARCIEL: - Ah, não! Essa não! Golpe da barriga? Pra cima de mim! Ora menina sou muito velho pra cair nessa.

TININHA: - Você sabe que você foi o único homem com quem...

MARCIEL: - Mentira sua vadiazinha.

TININHA: - Eu era virgem.

MARCIEL: - Me poupe dessa historinha de virgindade!

TININHA: - Você disse que estava apaixonado.

MARCIEL: - Sou homem! Todo homem é apaixonado por um belo traseiro.

TININHA: - Canalha. (tapa na cara)

MARCIEL: - O que você queria que eu fizesse? Você vivia se oferecendo, faltava esfregasse em cima de mim e do meu filho. Sou homem e fiz o que todo homem faria. Se deu pra mim deve ter dado pra outros também. Ora, menina conheço teu fogo e sei que não é fácil de apagar! Vai procurar outro pra assumir teu filho que comigo você não vai conseguir nada.

TININHA: - Você me prometeu que largaria tua mulher.

MARCIEL: - Largar minha mulher? Uma mãe de família exemplar, uma mulher digna, honesta. Pra ficar com um vagabundinha, igual a você? Ora, menina, se situa. Caí fora!

TININHA: - Vou acabar com tua vida. Vou destruir teu casamento, você vai ver...

MARCIEL: - (torce o braço) Pois tente! Que vai se arrepender de ter nascido sua vagabunda.

TININHA: - Isso é o que veremos. Se devo queimar no fogo do inferno, você irá junto comigo seu crápula.

MARCIEL: - Fique longe de minha família, ouviu, longe da minha casa, ou você vai se arrepender.

TININHA: - Não vou sofrer sozinha as conseqüências dessa gravidez. Te dou minha palavra!

MARCIEL: - Desde quando piranha tem palavra? Quem vai acreditar em você? Diga a todos. Eu nego! Nego quantas vezes for preciso. Agora sai. Não quero ver esta tua cara nunca mais na minha frente. (ela saindo) Tininha? (ela olha para trás) Não me provoque (ela sai) Vagabunda, desgraçada!

CENA XI

(CASA DE CANDIDA, NANA NA SALA COM AS MALAS)

NANA: - Vou só esperar Tininha...

CANDIDA: - Se quiser posso avisar pra tua filha lhe encontrar no caminho.

NANA: - Ela sabe pra onde estou indo.

CANDIDA: - Nana (ela para) Aqui tem algum dinheiro, sei que é pouco mais dará pra você ir se virando por enquanto...

NANA: - Não Dona Cândida, não é preciso.

CANDIDA: - Não seja orgulhosa.

NANA: - Dignidade é a única coisa que me resta.

CANDIDA: - Gostaria que soubesse...

NANA: - Não precisa dizer nada. Vai ser melhor assim.

CANDIDA: - Então aceite.

NANA: - Não posso.

CANDIDA: - Pela nossa amizade.

NANA: - Não existe amizade.

CANDIDA: - Não seja ingrata.

NANA: - Nenhuma amizade existe sem tolerância.

CANDIDA: - Quer que eu tolere despudor da tua filha?

NANA: - Não quero nada. Dona Cândida o que existe entre nós não é amizade. É uma relação entre empregada e patroa. Acabando isso, não há mais nada.

CANDIDA: - Esse é o pago que me dar. Lhe recebi de braços abertos nesta casa como se fosse...

NANA: - E de braços abertos me insulta.

CANDIDA: - Isso não é verdade. Não seja ingrata.

NANA: - Quem insulta minha filha, me insulta!

CANDIDA: - Ta certo! É em vão discutir com você. Vá Nana, vá. (Nana sai) Bando de ingratas! A filha fez o que fez e eu é que sou má. (Companhia) Olá Isabel?

CENA X

ISABEL: - Oi mamãe! Cadê Nana? Geralmente é ela que atende a porta.

CANDIDA: - Nana teve que fazer uma viagem.

ISABEL: - Viagem? Pra onde?

CANDIDA: - Uns parentes dela enviaram uma carta. Parece que tem uma prima entre a vida e a morte e pediram pra que ela fosse.

ISABEL: - Nossa! Coitada. Então por isso Tininha saiu de repente. Mas é estranho nunca ouvi ninguém comentar nada sobre parentes...

CANDIDA: - Essa gente é assim mesmo. Não é de se espantar.

ISABEL: - E quando foram?

CANDIDA: - Hoje mesmo.

ISABEL: - Tininha não deixou nenhum recado pra mim?

CANDIDA: - Comigo não.

ISABEL: - Ah, meu Deus! Que alívio. E eu que cheguei a imaginar bobagem. Acredita que cheguei a imaginar que Tininha e Erick...

CANDIDA: - Era só o que faltava.

ISABEL: - Mas agora fico tranqüila. Porque sair de casa sem ao menos avisar e nem dar sinal de vida? É de se estranhar!

CANDIDA: - E como vão as coisas em sua casa?

ISABEL: - Dentro do possível, bem! Com a ausência de Tininha acumulou-se muito serviços.

CANDIDA: - Digo, entre você e teu marido?

ISABEL: - Nossa mamãe! Até me sinto pega de surpresa! A senhora nunca foi de perguntar sobre esses assuntos...

CANDIDA: - Que mal há em uma mãe perguntar como vão as coisas entre sua filha e o marido?

ISABEL: - É que este tipo de pergunta não comum da senhora.

CANDIDA: - Diremos que com a idade eu esteja ficando maleável!

ISABEL: - Bom... Que posso dizer? Estamos bem!

CANDIDA: - Ótimo! A união é primordial pra um casamento. As tempestades vêem, mas quando o casal está unido, com bases firmes pode até abalar, mas nunca desmoronar...

ISABEL: - Não estou entendendo mamãe...

CANDIDA: - Oras filha! Durante nossa vida inteira muita coisa vêem pra nos provar. Dificuldades falta de estima e até mesmo problemas externos. Mas nós mulheres somos a base sólida do casamento, o homem acredita ser a peça fundamental, mas acredite filha, somos nós as verdadeiras responsáveis para que a união dê certo.

ISABEL: - Continuo sem entender...

CANDIDA: - Diremos que hoje eu esteja um tanto tagarela, coisa de velha!

ISABEL: - Ora dona cândida, bem sei que a senhora não dá nó sem ponta!

CANDIDA: - Ah, filha! quanto mas vivemos mais aprendemos!

ISABEL: - Acredito que sim. Cada dia um novo aprendizado!

CANDIDA: - Teu pai...

ISABEL: - Que tem papai?

CANDIDA: - Que lembra dele?

ISABEL: - Um homem forte, imponente, ás vezes alegre, outras severo, um pai! Sempre o tive como um bom exemplo de pai, um homem ligado a família!

CANDIDA: - Só eu sei quanto trabalho me deu aquele homem!

ISABEL: - O que está me dizendo?

CANDIDA: - Das traições...

ISABEL: - Mãe não precisa falar sobre isto!

CANDIDA: - Somos adultas! E quero falar. Teu pai tinha outra mulher...

ISABEL: - Nunca soube.

CANDIDA: - Tinha uma vida paralela! Mantinha as duas famílias...

ISABEL: - E como suportou?

CANDIDA: - Nós mulheres somos preparadas para suportar, está em nossa educação!

ISABEL: - Não sei se suportaria descobrir que Maciel tem uma amante, quanto mais outra família constituída!

CANDIDA: - Claro que suportaria. Não destruiria seu lar por causa de uma vagabunda qualquer!

ISABEL: - Vagabundo seria ele! É ele que tem compromisso comigo e com os filhos, não ela!

CANDIDA: - Quando isso acontece e percebemos, devemos fingir não notar. Cada vez ser mais presente, amorosa, prestativa... mostrar nosso valor e assim trazê-lo de volta!

ISABEL: - Demonstrar valor se fazendo de cega? Francamente! Isto me revolta!

CANDIDA: - A mulher deve ser submissa ao homem filha, desde que o mundo é mundo que é assim que funciona.

ISABEL: - Eu não acredito nisso! É arcaico! Não aceito está visão...

CANDIDA: - É arcaico, mas funciona.

ISABEL: - Na sua época!

CANDIDA: - Não é atoa que muitas mulheres com pensamentos modernos se encontram sozinhas.

ISABEL: - Aceitar uma situação como essa, sabendo que o homem que ama está nos braços da outra é uma forma de está sozinha!

CANDIDA: - A vida de uma mulher separada não é fácil. Acredite! Existe o pré-conceito. Uma mulher separada não é vista com bons olhos...

ISABEL: - Que mundo machista! Enquanto nós mulheres ainda pensarmos assim, nunca vamos ser respeitadas como pessoas!

CANDIDA: - A mulher vale o sobrenome que tem!

ISABEL: - Por que a senhora está falando sobre isso?

CANDIDA: - É só uma forma de jogar conversa fora! Filha sei que se conselho fosse bom não se daria... Mas mesmo assim quero lhe dar um conselho, para sua felicidade. Proteja sua família com unhas e dentes! Não deixe que nada nem ninguém destrua o que foi construído até este momento! (companhia)

ISABEL: - Pode deixar! Eu atendo. (abre) Tininha? (espanto)

TININHA: - Dona Isabel?

CANDIDA: - Ah, Tininha! Tua mãe está lhe esperando...

TININHA: - Onde?

CANDIDA: - Ela disse que você sabe o endereço.

ISABEL: - Quem este parente seu que esta entre a vida e a morte?

CANDIDA: - Isabel minha filha, deixe isto para depois! Agora Tininha precisa ir...

TININHA: - Pergunte a seu marido! Ele sabe. (sai)

ISABEL: - Maciel? O que ela quis dizer com isso?

CANDIDA: - Como posso saber?!

ISABEL: - Está acontecendo algo muito estranho por aqui!

CANDIDA: - Não vá colocar calamiolas na cabeça! De repente Tininha deixou recado para você com teu marido e ele se esqueceu de lhe dizer.

ISABEL: - A senhora observou o tom dela? Parecia deboche!

CANDIDA: - Nervosismo. Impressão sua!

ISABEL: - Pode até ser. Mas que algo está errado está! Mãe vou indo...

CANDIDA: - Vai com deus filha!

ISABEL: - Sua benção...

CANDIDA: - Que Deus abençoe! (Isabel sai)

CENA XI

(Erick chega Maciel está tenso)

ERICK: - Pai... Vim o mais rápido que pude.

MARCIEL: - Senta aí.

ERICK: - Que está acontecendo pai?

MARCIEL: - Preciso ter uma conversa muito séria contigo. Uma conversa de homem pra homem! Entende?

ERICK: - Encrenca! Que foi que mamãe lhe disse? Olha pai, eu juro pelo que quiser que eu nunca tivesse nada com Tininha! Dou-lhe minha palavra de honra, pra mim ela é como se fosse uma irmã...

MARCIEL: - É exatamente sobre isso que quero conversar contigo!

ERICK: - Eu juro pai!

MARCIEL: - Acredito filho. O problema não é você. Sou eu!

ERICK: - O senhor?

MARCIEL: - Sim.

ERICK: - Não entendo.

MARCIEL: - Transei com nossa empregada.

ERICK: - Quê?

MARCIEL: - Ela se insinuou para mim várias vezes, ignorei o quanto pude, mas, um dia...

ERICK: - O senhor e Tininha?

MARCIEL: - Sim. Fui fraco! O desejo foi mais forte que eu.

ERICK: - Como pode fazer isto? Dentro de sua própria casa?

MARCIEL: - Não seja infantil! Você já é homem feito, e como homem sabe como são as coisas, muitas vezes agimos por impulso. Deve saber o quanto é difícil conter o desejo!

ERICK: - Então foi por este motivo que Tininha sumiu!

MARCIEL: - Está grávida.

ERICK: - De você?

MARCIEL: - Como posso saber? Uma vaquinha que abre as pernas a qualquer um... Basta saber que é homem! Quem não sabe que premeditou tudo? Deu pra outro e o idiota aqui caiu!

ERICK: - E se for seu?

MARCIEL: - Que diabo não é! Mesmo que fosse não teria como provar.

ERICK: - Está te ameaçando?

MARCIEL: - É. Está.

ERICK: - E agora pai? e mamãe?

MARCIEL: - Quero que me ajude.

ERICK: - Como?

MARCIEL: - Quero que diga que transou com Tininha...

ERICK: - Não posso fazer isso. Não é justo!

MARCIEL: - Justo? Ela está sendo justa? E sua mãe? Quer que sofra por causa de uma vagabunda?

ERICK: - Devia ter pensado nisso antes!

MARCIEL: - Preste atenção... se não fizer isto sua mãe vai sofrer muito. Sabe o quanto é frágil!

ERICK: - Sinto muito, mas não posso! Isto é nojento.

MARCIEL: - Filho estou lhe pedindo.

ERICK: - Me peça qualquer coisa, menos osso! Não vou compartilhar dessa tramóia...

MARCIEL: - Quer que eu e tua se separe?

ERICK: - Não. Quero que seja honesto com ela! Só isso que quero. (sai)

CENA XII

(Tininha procura Isabel)

ISABEL - Tininha!

TININHA - Dona Isabel?! Posso entrar?

ISABEL - Claro!

TININHA - Acho que precisamos conversar...

ISABEL - Não ia viajar?

TININHA - Não. Mentiram pra senhora!

ISABEL - Por quê?

TININHA - Não querem que saiba o motivo de minha saída de sua casa.

ISABEL - Tininha tenho minhas desconfianças... seja o que for que meu filho tenha feito...

TININHA - Erick não tem nada com isso.

ISABEL - Não?

TININHA - Não.

ISABEL - Meu Deus! Que está acontecendo? Que tanto mistério é esse? Que me explicar, por favor?

TININHA - Estou grávida.

ISABEL - Grávida? Mas, como?

TININHA - Ora dona Isabel!

ISABEL - Nunca lhe vi com nenhum namorado...

TININHA - Por isso só resta um homem...

ISABEL - Que está me dizendo?

TININHA - Isso mesmo! Seu marido.

ISABEL - Maciel! Aqui debaixo do meu teto em minha própria cama...

TININHA - Sinto muito!

ISABEL - Sente muito! (irônica)

TININHA - E várias vezes! Me fez promessas. Disse...

ISABEL - Não me interessa!

TININHA - Dizia que não estava feliz, que pediria separação...

ISABEL - Como pode? eu confiei em você.

TININHA - Não tive culpa!

ISABEL - Como não? Foi tão irresponsável quanto ele.

TININHA - Me apaixonei!

ISABEL - Me poupe!

TININHA - Eu o amo.

ISABEL - Cale-se.

TININHA - Carrego um filho dele.

ISABEL - Sai daqui sua abusada.

TININHA - Eu vou. Mas levo comigo nosso filho. E isso a senhora não pode mudar.

ISABEL - Você não passa de uma idiota, Maciel jamais assumirá esta criança.

TININHA - Você também é mulher e mãe...

ISABEL - Mas tenho vergonha na cara! Não se compare a mim... Você não passa de uma vagabunda vulgar! Sai da minha casa. Sai!

TININHA - Amo Maciel e não vou desistir! (sai)

ISABEL - Quero que morra, sua desgraçada!

(Erick entra Isabel está ao prantos)

ERICK: - Mamãe?!

ISABEL - Filho! Meu filho, como puderam fazer isto comigo?

ERICK: - Oh, mamãe! Sinto muito que esteja passando por isto.

ISABEL - Você sabia?

ERICK: - Juro que não!

ISABEL - Canalha! Desgraçado, cafajeste! (quebra um vaso)

ERICK: - Hei,calma! Calma mãe. Senta aqui. Vou ligar para vovó!

ISABEL - Que burra! Burra. Todos sabiam! Menos eu. Deus, que idiota fui!

ERICK: - Mãe, calma!

ISABEL - Não merecia uma traição desta! não merecia...

ERICK: - Mãe... (se abraça com Isabel. apaga-se as luzes)

CENA XII

(Cândida entra com uma xícara de chá)

CANDIDA: - Tome. Beba! Vai lhe fazer bem...

ISABEL: - Vou me senti bem quando aquele desgraçado estiver bem longe daqui.

CANDIDA: - Logo esta raiva passará.

ISABEL: - Não é raiva mãe, é ódio!

CANDIDA: - Controle-se.

ISABEL: - Vou me controlar sim...

CANDIDA: - Que vai fazer?

ISABEL: - Vou ligar para um advogado.

CANDIDA: - Que loucura é essa?

ISABEL: - Vou pedir divorcio!

CANDIDA: - Não Isabel! Isso não filha. Em nossa família nunca houve divorcio! Sempre aturamos nossos maridos como são!

ISABEL: - Por isso foram e são todos um bando de cachorros! Então prepare-se mamãe para o primeiro caso de divorcio na família.

CANDIDA: - Quer ser tratada como uma mulher qualquer?

ISABEL: - E como estou sendo tratada agora?

CANDIDA: - Foi só um deslize.

ISABEL: - Não debaixo do meu teto. Uma falta de respeito!

CANDIDA: - Você sabe o pré-conceito que tem com mulheres desquitadas...

ISABEL: - Prefiro isso a me fingir de cega.

CANDIDA: - Você enlouqueceu! (companhia. Cândida atende)

DALVA: - Vim assim que soube.

CANDIDA: - Converse com tua irmã... está com idéia de divorcio. Onde já se viu? Divorcio! Tudo por causa de uma vagabunda!

DALVA: - Acho que ela está certa!

CANDIDA: - Não venha você também com essas idéias! onde estão com a cabeça?

DALVA: - Minha irmã tem meu total apóio. (para Isabel) Gostaria de ter a mesma coragem que você.

ISABEL: - Não é coragem! É dignidade. (entra Maciel)

MARCIEL: - Por favor nos deixe a sós.

CANDIDA: - Vamos Dalva. Vamos para cozinha. (saem)

MARCIEL: - Precisamos conversar...

ISABEL: - Conversar? O que precisamos é de um advogado...

MARCIEL: - Advogado?

ISABEL: - É. Vou pedir divórcio.

MARCIEL: - Que loucura é essa?

ISABEL: - Não é loucura Marcel. Nunca estive tão sã. Quero me separar de você. Não desejo, mas ficar olhando pra esta tua cara cínica. Tenho nojo de você e de toda essa tua falsa moral.

MARCIEL: - Não darei o divórcio.

ISABEL: - Peço na justiça.

MARCIEL: - Estou arrependido. Eu sei que cometi um erro, mas estou disposto a concertar. Só preciso de uma chance.

ISABEL: - Seja digno. Pegue suas coisas e desapareça da minha vida.

MARCIEL: - Esta casa é minha, construí com meu trabalho.

ISABEL: - Se não si você, saiu eu.

MARCIEL: - Isabel, eu te amo!

ISABEL: - Sua hipocrisia me enoja! Acabou Maciel. Acabou!

MARCIEL: - Não seja tola. Como vai viver à custa de sua mãe?

ISABEL: - Não sou aleijada, posso trabalhar!

MARCIEL: - Uma mulher trabalhando? Ora conte outra!

ISABEL: - Ria. Ria muito! Mas vou provar a você do que sou capaz.

MARCIEL: - Não te dou um mês.

ISABEL: - É o que veremos!

MARCIEL: - Se sair por esta porta...

ISABEL: - É exatamente por ela que vou sair. Nada nem ninguém poderá me impedir. Seja homem. Já que se gaba tanto, não se humilhe. Nada que diga ou faça poderá mudar a minha decisão. A única coisa que sinto por você nesse momento é pena. Pena! Por ser tão fraco a ponto de me trair debaixo do meu próprio teto. Você me enoja! (ele tenta retrucar) Não. Poupe seus esforços! Não quero ouvi, mas nada. Qualquer coisa que me diga só aumenta minha repulsa por você. Bem! Vou arrumar minhas malas. Não dá para ficar aqui debaixo do mesmo teto que você. Vamos deixar que a justiça decida nossa situação. (ela sai)



FIM



peça escrita em 2004

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