janeiro 09, 2013

O PASSARO DO POENTE

O PASSARO DO POENTE

Adaptação: Marcondys França




Personagens:

NARRADOR

YOSAKU

OTSÛ

NOBRE SENHOR

SENHORA

Peça em um ato.

CENA I

NARRADOR: -Era uma manhã fria de inverno. Quando os flocos brancos de neve cessaram por um instante, Yosaku, um jovem camponês saiu de sua casa. Caminhou observando a paisagem ao redor. Tudo coberto de branco. Mais adiante algo lhe chamou a atenção.

YOSAKU: -O que será? Uma cegonha! E esta machucada. Ah, coitada! Que maldade! Fique tranqüila, vou cuidar de você. (Yosaku retira a flecha com cuidado) Calma! Isso... Pronto. Logo ficará bem.

NARRADOR: -Grata a cegonha devagar, levantou vôo até que o jovem Yosaku a viu desaparecer atrás das montanhas.

CENA II

NARRADOR: - Dias depois... Em uma certa noite, Yosaku teve a impressão de ouvi batida na porta.

YOSAKU: -Visita a esta hora? E com esta tempestade de neve? (Outra batida) Quem será?

NARRADOR: -Diante da casa estava uma moça com quimono branco e com seu manto vermelho protegendo seu belo rosto.

OTSÛ: -Meu nome é Otsû. Ia até a próxima aldeia, mais acabei me perdendo. Por favor senhor... Poderia me dá abrigo por esta noite?

YOSAKU: -Claro. Perdão! Deve está com muito frio. Por favor, entre. Poderá se aquecer. Acabo de ascender o fogo.

OTSÛ: -Obrigada senhor.

YOSAKU: -Aceita um chá bem quente? Vai ajudá-la a manter-se aquecida.

OTSÛ: -Estou congelando! Sim, aceito.

YOSAKU: -Claro. Fique a vontade.

CENA III

NARRADOR: -No dia seguinte ao amanhecer Yosaku foi despertado por um aroma delicioso.

YOSAKU: -Que cheiro gostoso! É missoshiru. Mas de onde vem? Ah! É Otsû. Esta preparando missoshiru.

OTSÛ: -Espero que goste senhor.

YOSAKU: -Hum! Há quanto tempo não tomo uma sopa de missô tão saborosa.

OTSÛ: -Fico feliz que tenha gostado senhor.

YOSAKU: -Yosaku.

OTSÛ: -Yosaku!

YOSAKU: -Bem melhor assim. Otsu, tenho que fazer uma viagem e será difícil seguir...

OTSÛ: -Não pretendo incomodá-lo. Posso ir embora...

YOSAKU: -Não. Não me incomoda! Peço-lhe que fique. Fique até passar a tempestade.

OTSÛ: -Agradeço-lhe Yosaku por sua gentileza.

CENA IV

NARRADOR: -Passaram-se os dias, também o período da neve, mas Otsu não partiu. A primavera chegou. E a primavera é tempo de casar. Yosaku e Otsû estavam felizes juntos. Humildes, mas isso não tinha importância. Um dia para ajudar o marido Otsû teve uma idéia.

OTSÛ: -Yosaku, gostaria de ter um quarto com tear. Você poderia vender os tecidos na cidade.

YOSAKU: -Se esse é teu desejo... Irei construir um pequeno quarto e vou instalar um tear.

OTSÛ: -Só lhe peço uma coisa.

YOSAKU: -O que?

OTSÛ: -Durante três dias enquanto eu estiver tecendo não quero que me vejas. Só isso Peço-lhe. Promete?

YOSAKU: -Prometo.

CENA V

NARRADOR: -Assim Yosaku construiu o quarto e instalou o tear. E assim o som do tear ecoava por toda casa em ritmo marcado. Quase uma música. Yosaku conteve a vontade de espiar. Tinha que honrar sua promessa. Três dias se passaram e finalmente o tear parou.

OTSÛ: -Acho que vai conseguir um bom preço.

YOSAKU: -Nossa! O tecido tem o toque suave da ceda. As estampas parecem ter sido desenhadas por uma deusa. Nunca vi nada semelhante em toda minha vida. Vou imediatamente a cidade. Tenho certeza que conseguirei um bom preço por esta peça.

NARRADOR: -Yosaku despediu-se de sua bela esposa Otsu e segui rumo a cidade, convencido que faria um bom negócio.

YOSAKU: -Venham ver! Venham ver! Vejam que lindo tecido. Peça igual a esta não há1

SENHORA: -Maravilhoso! Realmente nunca vi nada assim. (Entra o nobre que desce de seu cavalo e vai em direção a Yosaku.)

NOBRE SENHOR: -Realmente nunca vi nada igual. Vou ficar com este. Acredito que estas moedas de ouro pagam por esta peça.

YOSAKU: -Muito obrigado senhor.

NOBRE SENHOR: -Caso consiga mais tecidos desta qualidade, leve-os até meu castelo.

YOSAKU: -sim senhor.

CENA VI

NARRADOR: -Yosaku nem acreditou. O nobre senhor não hesitou em pagar com várias moedas de ouro pela peça. Decidiu voltar imediatamente para casa. Não via a hora de contar a Otsu a tão generosa quantia que conseguira com a venda do belo tecido. Estava muito orgulhoso de sua esposa.

YOSAKU: -Otsû! Otsû!

OTSÛ: -Yosaku...

YOSAKU: -Veja. (Mostra as moedas)

OTSÛ: -Quantas moedas...

YOSAKU: -E de ouro. O nobre senhor adorou a peça que você fez e pagou todas essas moedas pela peça. Mais uma vez pediu que eu levasse outra peça .

OTSÛ: -Sim... Amanhã mesmo vou tecer outro.

NARRADOR: -Mais uma vez Otsu entrou no quarto de tear, recomendando para que ele não olhasse. Seguiram dias feitos de espera e ansiedade acompanhados do som do tear. Três dias se passaram. Otsu saiu do quarto e trazia em suas mãos um tecido ainda mais lindo que o primeiro.

YOSAKU: -Nossa! É lindo!

OTSÛ: -Espero que o nobre senhor goste.

YOSAKU: -Tenho certeza que sim. Vou imediatamente levar este belíssimo tecido ao senhor que com certeza irá pagar uma boa quantia.

CENA VII

NARRADOR: -E assim Yosaku foi em direção ao encontro do nobre senhor e como havia imaginado conseguiu uma boa soma em moedas de ouro.

NOBRE SENHOR: -É realmente maravilhosa esta peça!

YOSAKU: -Que bom que gostou senhor.

NOBRE SENHOR: -Posso lhe garantir que nunca vi nada igual antes. Pode conseguir outra peça?

YOSAKU: -Posso tentar.

NOBRE SENHOR: -Ótimo! Será bem recompensado meu jovem.

YOSAKU: -Sei que sim.

NOBRE SENHOR: -Logo consiga traga aqui.

CENA VIII

NARRADOR: -Mais uma vez, feliz, Yosaku retornou a sua casa e contou a sua querida Otsû o ocorrido.

OTSÛ: -Fico feliz Yosaku.

YOSAKU: -O nobre senhor deseja mais. Otsû você faria mais um tecido?

OTSÛ: -Claro Yosaku. Posso fazer.

NARRADOR: -Yosaku não percebeu o quanto Otsû estava magra e abatida. Pela terceira vez ela trancou-se no quarto de tear. Enquanto ouvia o som do tear espalha-se pela casa. Percebeu algo diferente.

YOSAKU: -A música do tear... Parece triste. Como será que ela faz tecidos tão bonitos? E se eu dê uma olhada? Só uma espiada!

NARRADOR: -O terceiro dia chegou. Yosaku aproximou-se da porta. Através de uma fresta viu o que se passava dentro do quarto. Era incrível! Os fios pareciam ter vida. Rápidos, movimentavam-se uns nos outros como uma dança, sem pausa.

YOSAKU: -Uma cegonha! Então é assim... arranca com o bico as próprias penas, entremeando-as aos fios forma as delicadas estampas. Então é isso! Uma cegonha.

(Otsû sai do quarto com o tecido pronto)

OTSÛ: -Sim. Uma cegonha! Sou aquela cegonha que você salvou na neve. Vim para retribuir o que fez por mim. Agora preciso ir.

YOSAKU: -Pra onde? Otsu, me perdoe, não deveria ter olhado.

OTSÛ: -Aqui esta o tecido.

YOSAKU: -Otsu, por favor, não vá!

(Otsû toma sua verdadeira forma)

YOSAKU: -Por favor, não vá! Otsu...

NARRADOR: -Os olhos de Yosaku guardaram a imagem de cegonha que foi voando até desaparecer no céu avermelhado do poente.

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