janeiro 27, 2013

O CORPO (ATO II)

ATO II – CENA I


EGÍDIO: - Nanci...?

NANCI: - Sim, senhor.

EGÍDIO: - Mara?

NANCI: - Dona Mara está no quarto. Alguma notícia do menino?

EGÍDIO: - Som Nanci. E não é das melhores.

NANCI: - Meu Deus! O senhor quer que eu chame Dona Mara?

EGÍDIO: - Não... Não, precisa. Eu vou até lá.

EGÍDIO – Não. Pode deixar! Eu vou até lá.

NANCI: - Sim senhor.

EGÍDIO – Não. Pode deixar! Eu vou até lá.

NANCI: - Sim senhor.

TÂNIA – Pai...

EGÍDIO – Só um momento Tânia. (Sai)

TÂNIA – O que está acontecendo Nanci?

NANCI – Não se não senhora.

TÂNIA – O que lhe disse?

NANCI – Não sei se entendi bem.

TÂNIA – Que disse?

NANCI – Que as notícias... Não são boas.

TÂNIA – Meu Deus! (Sai)

NANCI – Minha Santa Maria!

SELMA – Que foi mulher?

NANCI – Larga de ser enxerida! Volte pro teus afazeres.

SELMA – Credo!

NANCI – Selma.

SELMA – Sim ama?

NANCI – Dispenso as brincadeiras. Prepare alguns calmantes

SELMA – Calmantes?

NANCI – Não me ouviu?

SELMA – Mas que aconteceu?

NANCI – Ainda não sei... Mas pela cara do patrão... Vem trovoadas! Vá. Anda menina. (Selma sai) (Toca a Campanhia)

ISABEL – Boa tarde, Nanci.

NANCI – Boa tarde senhora.

ISABEL – Onde estão todos?

NANCI – Lá em cima.

LUDIMILA – Como somos quase da família, creio que Mara não se importará...

NANCI – Se não fosse esse quase, talvez, realmente não se importasse. Mas como ainda não são, não posso permitir.

ISABEL – Que isso Nanci?

LUDIMILA – Que atrevimento! Uma serviçal se colocando como uma... Vou me queixar com seus patrões por sua falta de educação.

NANCI – A senhora invade a casa e eu é que sou má educada? Estou apenas cumprindo com meu papel...

LUDIMILA – De serviçal.

NANCI – Que seja! E daqui a senhora não passa.

ISABEL – Mãe... Nanci, não se preocupe. Esperaremos aqui. Apenas queremos saber notícias. E Marcos? Já sabem de alguma coisa sobre seu paradeiro?

NANCI – Doutor Egídio está conversando com Dona Mara.

ISABEL – Então deve ter notícias.

LUDIMILA – É o cúmulo! A empregada saber mais sobre seu noivo que você.

NANCI – É o cúmulo a senhora está mais apressada com este casamento que sua filha. Por que será?

LUDIMILA – Ora... Não seja insolente.

NANCI – Basta não ser desagradável. Bebem alguma coisa?

ISABEL – Água.

LUDIMILA – Vodka com gelo.

NANCI – Teresa...

TERESA: – Senhora?

LUDIMILA – Senhora! Só o que faltava.

ISABEL – Mãe!

NANCI – Traga água a para Dona Isabel e uma vodka pra sua mãe.

TERESA: – Sim senhora. Com licença. (Sai)

NANCI – Fiquem a vontade. Se precisarem de alguma coisa é só chamar.

ISABEL – Esperaremos no jardim.

LUDIMILA – Vou derreter lá fora.

ISABEL – Só lhe peço para avisar a Dona Mara que estamos aqui.

NANCI – Avisarei. (Sai)

LUDIMILA – Isso não está me cheirando bem.

ISABEL – Será que aconteceu algo de ruim com Marcos?

LUDIMILA – Que Deus permita que não!

ISABEL – Estou com um mau pressentimento.

LUDIMILA – Se tivesse me ouvido...

TERESA – Senhoras... As bebidas.

LUDIMILA – Oh, minha filha, que droga de bebida é essa?

TERESA – A vodka que a senhora pediu.

ILUDIMILA – O que esperar de uma incompetente como você? Pedi vodka com gelo, não gelo com vodka. (Joga a bebida na empregada)

ISABEL – Mãe! Oh, desculpe... é que estamos com os nervos a flor da pele.

TERESA – Tem sorte que eu estou no meu emprego. Caso contrário faria você engolir esse copo.

ILUDIMILA – Insolente.

ISABEL – Mãe, chega. (A emprega sai) Que pensa que está fazendo? Que Nanci chame os seguranças e nos põe pra fora? Por que é isso que vai acontecer.

TERESA – Senhora, com licença... Preparei outra. Espero que esteja a seu gosto... (Esbarra) Perdão senhora!

ILUDIMILA – Ah! Que isso?

TERESA – Perdão! Foi um acidente.

ILUDIMILA – Acidente coisa nenhuma. Fez por que quis.

TÂNIA – Que est acontecendo aqui?

ILUDIMILA – Essa empregada.

TERESA – Foi sem querer senhora.

ISABEL – Foi um acidente.

ILUDIMILA – Coisa nenhuma.

TÂNIA – Traga outra bebida pra Dona Ludmila.

TERESA – sim senhora. (Sai)

ILUDIMILA – Não precisa. Perdi a vontade.

ISABEL – Alguma novidade?

TÂNIA – Creio que sim. Mas não sei ao certo. Papai se trancou no quarto com minha mãe...

ISABEL – Então só nos resta esperar.

TÂNIA – Nos parece a única opção neste momento.

ISABEL – Mãe, acho melhor irmos para casa...

ILUDIMILA – Claro que não. Viemos saber notícias...

ISABEL – Mãe... Talvez a família precise de privacidade.

ILUDIMILA – Família? Mas somos da família... Não é mesmo Tânia?

TÂNIA: – Claro.

ISABEL – Vamos pra casa. Assim que tiver alguma notícia você me liga.

TÂNIA: – Ligo sim.

ISABEL – Até mais.

TÂNIA: – Até.

ILUDIMILA – Estaremos aguardando. Pode ligar qualquer hora.

TÂNIA: – Darei notícias. (Saem)

ATO II – CENA II

EDINALDO – Animada esta hoje!

TÂNIA – Ainda bem que essa... Mulherzinha, inconveniente se foi.

EDINALDO – Notícias do filho pródigo?

TÂNIA – Pela cara do meu pai... Algo muito grava aconteceu.

EDINALDO – Que novidade!

TÂNIA – Não é momento pra brincadeiras. Estou aflita!

EDINALDO – É minha querida... Não duvido nada que seu papaizinho esteja por trás disso tudo que está acontecendo.

TÂNIA – Chega! Já não basta toda essa atenção? Vai colocar mais lenha nesta fogueira

EDINALDO – Seu pai pensa que pode manipular todos! A única que o interessa é o poder! O grande poderoso! O dono do mundo!

TÂNIA – Chega! Basta.

EDINALDO – Pensei que pudéssemos compartilhar pensamentos...

TÂNIA – Não seja cruel. Estamos passando por um momento difícil.

EDINALDO – Não duvido nada que teu irmãozinho seja encontrado numa sarjeta.

TÂNIA – Meu Deus! Como pode ser tão insensível? Isola.

EDINALDO – Já parou pra pensar que teu irmão pode está hora ter virado um presunto?

TÂNIA – Chega? Que tortura é essa? Se não pode ajudar... Então não atrapalha.

EDINALDO – Eu? Torturando? Essa especialidade é do seu pai.

TÂNIA – Você é cruel.

EDINALDO – Mas tenho minhas mãos limpas.

TÂNIA – Esta insinuando que meu pai é um assassino?

EDINALDO – Que nunca suja as mãos. Basta um telefonema e alguns reais.

TÂNIA – Chega! Papai jamais faria isso.

EDINALDO – Teu irmão está morto.

TÂNIA – Que?

EDINALDO – Isso mesmo.

TÂNIA – Não... (Lágrimas)

EDINALDO – Encontraram o corpo.

TÂNIA – Como foi isso?

EDINALDO – Pergunte a seu pai. Ele sabe bem como se faz este tipo de coisa.

TÂNIA – Meu pai jamais seria capaz de matar alguém. Ainda mais... Marcos. Seu filho.

EDINALDO – Marcos era gay.

TÂNIA – Que absurdo é este?

EDINALDO – Sempre desconfiei que havia algo de errado com ele.

TÂNIA – Mas como isso é possível. Estava noivo, ia se casar...

EDINALDO – Teatro! Aposto que estava combinado com aquelas golpistas.

TÂNIA – Nada isso faz sentido.

EDINALDO – Vai se preparando. Tem muita poeira escondida debaixo deste tapete.

TÂNIA – Meu irmão! Meu Deus! Meu irmãozinho...

EDINALDO – Um gay. Condição que seu pai jamais aceitaria. Isto é muito ruim para a imagem do futuro candidato ao senado. Um homem que está acima do bem e do mal. O defensor dos bons costumes e da moral.

TÂNIA – Não! (Rompante) Meu pai não é nenhum assassino.

EDINALDO – Isto é só uma bombinha. O pior, ainda está por vir. Está casa esta cercada de minas... Qualquer passo em falso... Bum! (Sai)

TÂNIA – Não... Meu irmão morto! Não pode ser... Marcos. Meu Deus! (Entra Nanci)

NANCI – Que foi minha menina? Que foi? (Abraça)

TÂNIA – Marcos...

NANCI – Não...

TÂNIA – Está morto. Morto!

NANCI – Oh, minha querida! Acalma-se. Vou pegar um calmante.

TÂNIA – Não... Por favor... Fique.

(Entra Dona Liz vestida de luto segurando uma rosa vermelha)

NANCI – Dona Liz?

TÂNIA – Vó? Que faz aqui?

LIZ: – Precisam de mim.

NANCI – Devia está no seu quarto...

LIZ: – Será mesmo? Ainda sou a matriarca desta casa.

TÂNIA – Vó...

LIZ: – Sou mais forte que todos você juntos. Posso está velha, mas a velhice não me fez ficar apática as situações. Quero participar dos acontecimentos desta casa, desta família. Só desejo que não me ignorem, não me tratem feito uma demente. Estou viva, tão viva quanto está rosa. Rosa esta que pode enfeitar tanto os momentos felizes, quanto os infelizes. A vida meu anjo é como essa rosa, bela, mas cheia de espinhos, e só depende de nós, remover os espinhos.

TÂNIA – Não a ignoramos vó. Apenas queremos lhe poupar.

LIZ: – A tentativa de me pouparem me fazem sentir como se eu morresse cada dia um pouquinho mais. É como se me enterrassem viva.

TÂNIA – Perdão vó. Na tentativa de acertar, erramos.

LIZ: – Sinto que a morte está rondando esta casa.

TÂNIA – Por isso esta vestida assim?

LIZ: – Meu coração está de luto. Meu menino se foi, não é?

TÂNIA – Vó. (Se abraçam)

LIZ: – Seja forte minha querida. Ele está bem. Sei que está.

TÂNIA – Nanci... Acho que vamos precisar do Dr. Onofre.

NANCI – Vou ligar pra ele.

LIZ: – Mara vai precisar. (Saem)

ATO II – CENA III

(Na delegacia)

DELEGADO: - Rodrigues...

RODRIGUES: - Pois não chefe?I

DELEGADO: - Desta vez tiramos a sorte grande! Todos os holofotes estão sobre nós. (Risos) Veja. (Entrega uma pasta)

RODRIGUES: - É a conclusão da perícia.

DELEGADO: - Isso mesmo! Temos um trabalho em tanto pela frente.

RODRIGUES: - É peixe grande.

DELEGADO: - Exatamente. A minha experiência me diz que o papaizinho vai querer abafar o caso.

RODRIGUES: - Ainda sem suspeitos!

DELEGADO: - Trate de arrumar um. Casos como esse são raros e quando vem parar em nossas mãos, não podemos facilitar e desperdiçar a visibilidade que podemos ter na mídia. Meu caro, casos como esses, geralmente é nosso passaporte para uma boa promoção.

RODRIGUES: - Aqui diz a vítima foi morto por um objeto pontiagudo, mas que não se trata de faca ou punhal.

DELEGADO: - E o que está esperando? Vá atrás de pistas.

RODRIGUES: - Sim senhor.

DELEGADO: - Quero um relatório amanhã cedo em cima da minha mesa. E de preferencia com novidades. Amanhã isso aqui vai está cercado por reportes! A fama nos espera.

RODRIGUES: - E quanto aquela reporte?

DELEGADO: - Aquela xereta?

RODRIGUES: - Exatamente.

DELEGADO: - Diga que estamos investigando e que assim que tivermos novidades vamos convocar uma coletiva. Coletiva!

RODRIGUES: - Sim senhor.

DELEGADO: - Bom meu caro. Vamos nos preparando para nosso minuto de fama. Há! Convoque, família, amigos, inimigos... Quero depoimentos. Temos que ter um suspeito.

RODRIGUES: - Sim senhor.

DELEGADO: - Essa bichona é nosso passaporte para ascensão profissional. Vi a página dois? Diz que a vítima manteve relações sexuais antes do falecimento. Tava queimando a rosca! (Risos) Afinal, já diz o ditado: Pra que guardar se a terra há de comer! (Risos)

RODRIGUES: - Bom... O papo está divertido... Mas preciso ir. Tenho que trabalhar.

DELEGADO: - Sei que dará o melhor neste caso. Dará! Dará não. Fará. (Risos. Saem)

ATO II – CENA IV

(Entra Mara amparada por Egídio. Todos estão reunidos na sala)

MARA: - Oh, filha! (Abraça Tânia)

TÂNIA: - Oh, mãe! Sinto muito.

ISABEL: - Por favor... Não escondam nada de mim. Seja lá o que está acontecendo... Quero saber.

EGÍDIO: - Saberá.

LUDIMIRA: - Por Deus! Quanto mistério! Assim nos mata de tanta curiosidade.

ISABEL: - Encontraram Marcos?

EGÍDIO: - Sim, encontramos.

LUDIMIRA: - E onde está?

EDINALDO: - Está morto.

ISABEL: - Que?

LUDIMIRA: - Calma filhinha!

MARA: - Mataram meu filho.

ISABEL: - Calma mãe.

LUDIMIRA: - Lá se vão os anéis com os dedos.

EDINALDO: - Pra sua infelicidade.

ISABEL: - Mãe... Não pode ser... Meu Marcos... Oh, meu Deus! Meu noivo mãe...

LUDIMIRA: - Sente-se filha. Mantenha a calma!

TÂNIA: - Selma? (Entra Selma) Traga um copo com água.

LUDIMIRA: - Mas como foi isso? Assalto?

EGÍDIO: - Ainda não se sabe ao certo. Mas a polícia está investigando.

MARA: - Quero que este assassino pague. Este crime não pode ficar impune.

EGÍDIO: - E não ficará.

EDINALDO: - A imprensa está toda de campana na frente da mansão.

EGÍDIO: - Não temos nada a declarar.

TÂNIA: - Será que nem num momento desses não nos dão paz?

ISABEL: - E agora? O que será de mim?

LUDIMIRA: - Calma filha! Mamãe está ao seu lado. E também Egídio não a deixará desamparada, ainda mais se tratando de uma situação tão delicada. Não é mesmo Egídio?

EGÍDIO: - Claro.

MARA: - E Marina?

TÂNIA: - Só Deus sabe!

MARA: - Localizem Marina...

EDINALDO: - Posso providenciar isto. Não se preocupe.

EGÍDIO: - E dona Liz? Quem dará a notícia?

TÂNIA: - Creio que já saiba. Mas não se preocupem... Dr. Alfredo está vindo pra cá.

EGÍDIO: - Preciso providenciar o funeral.

LUDIMIRA: - Não queremos atrapalhar... Filha, acho melhor irmos pra casa.

ISABEL: - Mas mãe?!

LUDIMIRA: - Muita gente atrapalha! Agora vamos. Se precisarem de qualquer coisa... É só ligar.

EDINALDO: - Claro!

LUDIMIRA: - Mara... Meus pêsames!

MARA: - Obrigada.

LUDIMIRA: - Vamos filha! (Se abraçam e saem)

EDINALDO: - O celular da Marina está fora de área.

TÂNIA: - Como se fosse novidade! Meu Deus! Quando é que essa garota vai ter responsabilidade?

MARA: - Não vamos agora se preocupar com isto. Marina logo aparecerá.

EGÍDIO: - Bando de abutres! Continuam de plantão lá fora.

EDINALDO: - E o que diremos?

EGÍDIO: - O de sempre.

EDINALDO: - Nada a declarar.

MARA: - Teu irmão... Morto! Como foi?

EGÍDIO: - Não falamos nisso agora.

TÂNIA: - É melhor que saiba por nós.

MARA: - Saiba o que?

EGÍDIO: - Nada.

TÂNIA: - Pai.

MARA: - Egídio?

EGÍDIO: - Marcos foi encontrado morto dentro de um matagal.

MARA: - Meu Deus!

EGÍDIO: - É muito importante que tenhamos uma mesma versão para a morte de Marcos. Muitas versões estão circulando na imprensa. Mas vamos afirmas com toda firmeza, que Marcos era um homem integro.

TÂNIA: - Por que está dizendo isto pai?

EDINALDO: - Pra abafar o caso.

MARA: - Como assim abafar?

EGÍDIO: - Parece que estava envolvido com que não devia.

TÂNIA: - Não posso acreditar. Meu irmão não é nenhum criminoso. E vocês falam como se...

EGÍDIO: - Há algo de obscuro nesta história.

EDINALDO: - E por isso temos que estar preparados.

MARA: - Assassinato!

EGÍDIO: - Vamos alegar sequestro.

EDINALDO: - Vamos dizer que houve uma tentativa de pedido de resgate.

MARA: - Parem com isso... Que está acontecendo aqui?

EGÍDIO: - Fora o fato de termos uma filha viciada em drogas, que não mede esforços para conseguir seus entorpecentes... Agora descubro que tinha um filho com uma vida obscura.

TÂNIA: - Não estou entendendo nada.

EDINALDO: - Seu irmão era gay.

MARA: - Como se atreve?

EGÍDIO: - É a mais pura realidade.

TÂNIA: - E Isabel?

EDINALDO: - Ou estava de combinação com ele, ou foi tão enganada quanto nós.

MARA: - Meu Deus!

EGÍDIO: - Isso não pode vazar na imprensa. Se isso for publicado. Minha candidatura estará arruinada.

TÂNIA: - Se preocupa mais com essa sua carreira que a vida do seu próprio filho?

EGÍDIO: - Que vida? Está morto. Morreu fazendo sem vergonhasse.

MARA: - Não... Meu filho não era isso... (Saem)

EDINALDO: - Que Deus me perdoe! Mas se ele não estivesse morto. Seu pai o mataria.

TÂNIA: - Não diga tolices! Meu pai jamais seria capaz...

EDINALDO: - O ser humano é imprevisível! Capaz de coisa que até o diabo duvida. (Saem)

ATO II – CENA V

SELMA: - Mas que coisa, né?

TERESA: - Tá espantada porque?

SELMA: - Como pode um rapaz tão jovem, tão bonito, morrer assim...

TERESA: - É, é realmente uma coisa chocante.

SELMA: - Você fala com tanta naturalidade de uma situação tão triste.

TERESA: - Ainda dizem que dinheiro trás felicidade.

SELMA: - Pode não traze. Mas ajuda.

TERESA: - Não impediu a morte do seu Marcos.

SELMA: - Você fala com tanta naturalidade! Até parece que não sentiu a morte do rapaz.

TERESA: - Antes ele que eu.

SELMA: - Credo!

TERESA: - Acha que fosse eu ou você, ou até mesmo a puxa saco da Nanci, alguém ia chorar nossa morte? Ah, minha queridinha! Não se iluda.

SELMA: - Credo. É uma vida que foi tirada.

TERESA: - Quantas vidas são tiradas todos os dias e ninguém se quer se dar ao trabalho de jogar uma flor durante o sepultamento.

SELMA: - Mas seu Marcos... Filho do deputado... Primeira página!

TERESA: - Não saiu nada no jornal. Nada além da notícia sobre a morte... Tava escrito lá, que seu Marcos estava sequestrado e foi morto.

SELMA: - Barela! Tudo isso só pra calar os maus comentários. Doutor Egídio comprou os jornalistas. Quem pode, pode!

TERESA: - É sempre assim... Se fosse um qualquer sairia na primeira página: Suspeito de envolvimento com o tráfico!

SELMA: - Num vê o caso da vadia da Marina? Essa hora deve está trepando feito uma vaca. Tudo isso pra manter o seu maldito vício.

TERESA: - Tenho pena desta moça. Dependência química é uma desgraça.

SELMA: - Que pode ser evitada. Basta dizer não.

TERESA: - Mas tem gente que é fraca.

SELMA: - Se trabalhasse como nós, não tinha tempo pra isso não.

TERESA: - É como dizia minha velha mãe: Cabeça vazia, morado do diabo!

SELMA: - Coitado do capeta. Tudo que as pessoas fazem de ruim, a culpa é dele.

TERESA: - E não é?

SELMA: - E o livre arbítrio?

TERESA: - Tenho pena. É gente de cabeça fraca.

SELMA: - Entrou nessa por que nunca teve um bom corretivo. Sempre passaram a mão na cabeça dela. Se logo no começo tivessem quebrado ela toda na bancada...

TERESA: - Se bancada resolvesse, não haveria tantas clínicas...

SELMA: - Dinheiro jogado no lixo! E olha que um tratamento desse vale uma fortuna. Pra que? Pra depois vê a desgraçada dizer: Foi mal, tive uma recaída. E que paga a conta? Eu, você, o povo... Por que o dinheiro que o deputado usa é público, nosso. Agora te pergunto: E se fosse teu filho, ou meu... Sabe qual tratamento receberia? De choque! Rico drogado é dependente químico, pobre é bandido.

TERESA: - Isso é verdade...

SELMA: - Pensa que somos cegas. Seu Marcos num era chegado na fruta...

TERESA: - Que?

SELMA: - A fruta que ele gosta, eu chupo até o caroço! (Riem)

TERESA: - Quero morrer tua amiga.

SELMA: - E olha que as amigas são as piores inimigas. Sabem todos nossos podres!

TERESA: - Isso é verdade.

SELMA: - E a outra? Além de estéreo é a mulher mais infeliz que conheço.

TERESA: - Com toda essa grana?

SELMA: - Má amada. O marido só tá com ela por causa do dinheiro. Um picareta!

TERESA: - Coitada!

SELMA: - Bem aquela história... Pobre menina rica! E você que se cuide.

TERESA: - Por que?

SELMA: - Edinaldo não passa de um tremendo galinha!

TERESA: - Deus me livre!

SELMA: - Basta manter as pernas fechadas!

TERESA: - Credo!

SELMA: - E eu num vi como ele olha pra tu?!

TERESA: - Impressão tua.

SELMA: - Nasci ontem não. E se Nanci perceber. Te coloca no olho da rua.

TERESA: - De confusão eu quero distância. (Telefone Toca)

SELMA: - Residência dos Melo de Andrede! Bom dia. Bem, aqui quem fala é a empregada... Sim... entendo... Um minuto por favor. É da polícia.

TERESA: - Me dá isso aqui. Alô? Pois não... Pode falar... Sei... No momento não será possível... Isto. Estão no velório. Pode deixar. Darei o recado. Peraí... (Pra Selma) Papel e caneta. Pode falar... Tudo bem. Sim. Anotei. Darei o recado... O senhor pode ficar despreocupado. Pro senhor também.

SELMA: - Que foi?

TERESA: - Apareceu a margarida!

SELMA: - Do que tá falando mulé?

TERESA: - Marina. Presa.

SELMA: - Presa?

TERESA: - Não é a primeira e nem será a ultima vez.

SELMA: - Que família!

TERESA: - Se fosse o pai dela deixava morfar na cadeia pra vê se aprende.

SELMA: - Seria um escândalo.

TERESA: - E isso é o que seu Egídio menos deseja.

SELMA: - Vamos voltar a nosso serviço que hoje o dia promete

TERESA: - Oh! E se promete! (Saem)

ATO II – CENA VI

(Na redação do jornal)

MÔNICA: - É um absurdo! Proibir a imprensa de acompanhar o velório?

TÁRCIO: - Também acho. Mas é um momento tão doloroso para os familiares.

MÔNICA: - Mas a questão aqui, não é apenas dor. Querem deixar a sujeira debaixo do tapete.

TÁRCIO: - Sabe o que acho?

MÔNICA: - Que?

TÁRCIO: - Que a polícia esta escondendo todos os detalhes sórdidos desta história.

MÔNICA: - Sabe que também tive esta impressão! Aquela nota meia boca divulgada pelo assessor de imprensa do deputado... “Sequestro no qual terminou na morte da vítima”. Não colou. Veja bem, o rapaz era filho de um grande figurão, valia uma grana alta, eles não seriam burros de se livrar de um refém tão valioso sem receber o resgate. Esta história está muito má contada.

TÁRCIO: - Má contada ou não... Nosso trabalho neste caso terminou. A nota é oficial.

MÔNICA: - Se está má contada e nossa obrigação conta-la da forma correta, com todos seus pontos e vírgulas nos seus devidos lugares.

TÁRCIO: - Ah, não! Não vai me dizer...

MÔNICA: - (Pega a bolsa) Isso mesmo! Vamos a campo... Temos uma investigação a fazer.

TÁRCIO: - E onde vamos, posso saber?

MÔNICA: - Vamos não. Você vai.

TÁRCIO: - Eu?

MÔNICA: - É.

TÁRCIO: - Não estou entendendo.

MÔNICA: - Meu amor... Você vai voltar aquele lugar...

TÁRCIO: - Lugar? Que lugar?

MÔNICA: - Onde o corpo foi encontrado.

TÁRCIO: - Por que eu?

MÔNICA: - Uma mulher, não nada atrativo, para o público que ali frequenta.

TÁRCIO: - Não estou gostando nada disso!

MÔNICA: - Ah! Mais vai gostar. Olha pelo lado positivo... Você vai unir trabalho com prazer. E quem sabe você não encontra um bofe maravilhoso!

TÁRCIO: - Já disso que não gosto desse tipo de brincadeira.

MÔNICA: - Tá bom homem sério! Agora vamos ao trabalho.

TÁRCIO: - Me mete em cada uma!

MÔNICA: - Que seria de mim sem você, hein?

ATO II – CENA VII

(No apartamento de Ludmila)

LUDMILA: - Que ódio!

ISABEL: - Não imaginava que gostasse tanto do Marcos.

LUDMILA: - Minhas lágrimas são de ódio!

ISABEL: - Ora mãe! Não tenho saco pra seus chiliques hoje!

LUDMILA: - Desgraçado! Tinha que morrer antes do casamento?

ISABEL: - Você não tem coração?

LUDMILA: - Oh! Tô vendo a hora enfartar de tanta raiva.

ISABEL: - Não percebe o quanto estou sofrendo?

LUDMILA: - Eu também. Está tão perto!

ISABEL: - Perdi o homem que amava. E você pensa neste porcaria de fortuna...

LUDMILA: - Foi o que ficou. E não foi para você filhinha...

ISABEL: - Pro inferno o dinheiro.

LUDMILA: - Inferno se tornará nossa vida. Ou você acredita mesmo que o mão de vaca do deputado Egídio vai continuar sendo generoso conosco?

ISABEL: - Não somos aleijadas, podemos trabalhar.

LUDMILA: - Não faça-me rir! Acha mesmo que com um misero salário vamos poder sustentar esse padrão de vida?

ISABEL: - Posso viver com muito menos.

LUDMILA: - Esse é seu pior defeito! Desejar sempre menos.

ISABEL: - que queria que eu fizesse?

LUDMILA: - Que devia ter feito. Devia ter engravidado... Teria garantido o nosso futuro.

ISABEL: - Meu Deus! Não acredito nisso.

LUDMILA: - Pois pode acreditar. Você perdeu a maior oportunidade de sua vida.

ISABEL: - Não mãe... Não perdi uma oportunidade. Perdi o homem que amava.

LUDMILA: - Homem! (Meio riso)

ISABEL: - Para mãe... Por favor, não me torture mais...

LUDMILA: - Ele se foi, e levou com ele toda esperança que eu depositava no nosso futuro... Acha que vai ser fácil daqui pra frente? Estamos com dinheiro contado, joias penhoradas, e não faltará muito para sermos despejadas daqui.

ISABEL: - Que culpa tenho se você não soube guardar o que meu pai nos deixou?

LUDMILA: - Um verme! Seu pai era um fracassado. Nos deixou uma ninharia.

ISABEL: - Se é tão esperta, por que está passando por isso?

LUDMILA: - Fiz a burrada de engravidar de um bosta! E burrada maior, foi não ter abortado como das outras vezes. Apostei muito em você, e olha o resultado.

ISABEL: - Apostou errado! Não pedi para nascer. Não sou um investimento. Nem tão pouco uma prostituta pra você me vender ao primeiro homem rico que apareça. Jamais faria o golpe da barriga para segurar o marcos ou qualquer outro homem. Não sou como você...

LUDMILA: - Que tem eu?

ISABEL: - Uma prostituta de luxo!

LUDMILA: - (Tapa na cara) Você é o pior erro que cometi na minha vida.

ISABEL: - Então é hora de reparar este erro...

LUDMILA: - Teria reparado se tivesse sido mais esperta.

ISABEL: - Me deixe em paz! (Sai)

LUDMILA: - Ingrata! Além de burra, ingrata. (Anda de um lado para o outro) Preciso encontrar um jeito de convencer o deputado a continuar nos ajudando. Mas como? Pense Ludmila... Pense! Ah, por que não pensei nisso? Uma gravidez... Sempre funcionou. E Mara estando fragilizada não rejeitaria a vinda de um neto... A continuação da família. Um herdeiro! Ha, deputado!... (Sai)

ATO II – CENA VIII

(Na Mansão)

MARA: - Acabou... Acabou.

DONA LIZ: - Só nos resta nos conformar.

MARA: - Nos conformar mamãe? Como posso me conformar com uma situação como esta? É tudo tão... Surreal. Como isso pode acontecer? Meu filho? Meu menino... Morto. Mãe, tiraram a vida do meu filho. Não dá pra se conformar. Só vou me conformar, se isso for possível, quando este assassino estiver atrás das grades.

TÂNIA: - Calma mãe! Sei que as coisas estão difíceis... Mas estamos aqui. Somos uma família, e vamos ficar unidas.

EGÍDIO: - Tânia tem razão. Não vamos nos exceder. Precisamos manter a calma, o inevitável, já aconteceu. Agora só nos resta esperar... Logo a polícia descobrirá quem cometeu tão cruel crime. Quem fez isso com nosso filho, irá pagar muito caro. Não medirei nenhum esforço.

MARA: - E esse bando de abutres? Nos cerca como carniças!

EDINALDO: - Quanto a imprensa... Deixem comigo. Eu cuido disso. Nada será publicado sem o consentimento da família.

MARA: - Mas do que você está falando?

DONA LIZ: - Você não contou a ela?

MARA: - O que estão escondendo de mim? Egídio?

EGÍDIO: - Nada meu bem. A polícia ainda está investigando...

MARA: - Não foi um assalto... Foi uma execução.

TÂNIA: - Mãe, nada esta esclarecido. Não temos como dizer-lhe exatamente o que aconteceu. Não sabemos. Não é papai?

EGÍDIO: - Exatamente.

MARA: - Se sabem de alguma coisa... Por favor, me contem.

DONA LIZ: - Não sabemos nada além do que você sabe minha querida. No mais, hoje foi um dia intenso, cansativo... Vamos descansar um pouco.

MARA: - Nanci?

NANCI: - Senhora?

MARA: - Acompanhe mamãe até seu quarto.

NANCI: - Sim senhora. Vamos Dona Liz...

DONA LIZ: - Que mania! Parem de me tratar como se eu fosse uma invalida. (Sai)

EGÍDIO: - Vamos querida.

TÂNIA: - Mãe... Se quiser... Posso ficar.

MARA: - Não querida, não será preciso. (Sai)

EDINALDO: - Ainda acho que deveriam conta-lhe a verdade.

TÂNIA: - Tenho medo. Talvez não suportasse.

EDINALDO: - Saber que o filho era gay!

TÂNIA: - Que desagradável.

(Entra Marina)

MARINA: - Está feliz agora?

TÂNIA: - Marina...

MARINA: - Meu irmão está morto!

TÂNIA: - Sinto muito.

MARINA: - Sente muito? Fala sério!

TÂNIA: - Também estou sofrendo. Todos estamos sofrendo.

MARINA: - Dá pra vê o sofrimento na cara do teu macho.

TÂNIA: - Chega!

MARINA: - Esse inútil nunca foi com a cara de Marcos.

TÂNIA: - Cala a boca!

MARINA: - Um sangue suga! A única coisa que deseja é teu dinheiro...

TÂNIA: - Para com isso.

MARINA: - Por que não pega o inútil deste teu marido e dar o fora daqui?!

TÂNIA: - Por que está casa ainda é minha também.

MARINA: - Volta lá pro seu ninho de amor e infidelidade.

TÂNIA: - (Esbofeteia) Não admito que fale assim comigo.

MARINA: - Por que? Por que a verdade dói né? Que saber maninha, esse tapa doeu menos que a dor que a frustação deste casamento.

TÂNIA: - Respeite nossa dor.

MARINA: - Dor? Que dor? Fala sério garota. Papai está aliviado por se livrar do problemão que seria ter um filho gay, desfilando por ai. Olha só que família... Um filho gay assassinado, uma filha drogada e uma outra enfiada num casamento por interesses, infeliz.

EDINALDO: - Agora chega sua vadia.

MARINA: - Olha! Não que ele fala.

TÂNIA: - Não Edinaldo. Por favor...

EDINALDO: - Não vou admitir que nos trate deste jeito.

MARINA: - Você é desprezível! Você são desprezível.

EGÍDIO: - Que faz aqui?

MARINA: - Olha! Chegou o poderoso chefão.

EGÍDIO: - Não tenho tempo para suas infantilidades.

MARINA: - Tá feliz né? Não... Nem tento. Claro! Desejava que fosse eu. Ah, Alcapone! Como vê... Não desta vez.

EGÍDIO: - Ednaldo...

EDINALDO: - Senhor...

EGÍDIO: - Chame a segurança.

MARINA: - Isso capacho! Chama! Vai... Vou fazer um escândalo que vai entra pra história. Amanhã todos os jornais vão publicar o poderoso chefão escorraça sua filha após velório do irmão.

MARINA: - Papai...

MARA: - Que está acontecendo aqui?

MARINA: - Pergunte pra esses hipócritas!

MARA: - Não há espaço para suas infantilidades neste momento minha filha. Ao menos hoje, respeite nossa dor.

MARINA: - Respeito? Será que alguém aqui sabe o que significa está palavra? (Saindo)

MARA: - Marina... Fique.

MARINA: - Não. Não posso compartilhar desse teatrinho.

MARA: - Não diga isto filha.

MARINA: - Esta casa é um palco. Todos vivem encenando. Nada aqui é real, nunca foi. Você mataram meu irmão. (Sai)

MARA: - Não... Isso não é verdade.

EGÍDIO: - Leve sua mãe.

TÂNIA: - Vamos mãe... (Saem)

EGÍDIO: - Quero que encontre uma clínica bem longe e interne esta irresponsável. Não importa quanto custe, mas quero-a bem longe desta casa.

EDINALDO: - Não se preocupe senhor. Hoje mesmo vou providenciar tudo.

EGÍDIO: - Você viu aquele rapaz?

EDINALDO: - Rapaz?

EGÍDIO: - Sim. Um branco, franzino.

EDINALDO: - O que estava acompanhado de um casal? Se não me engano, amigos de Marcos.

EGÍDIO: - Não parava de chorar.

EDINALDO: - Parecia em choque. Inconformado.

EGÍDIO: - Você já o tinha visto antes?

EDINALDO: - Não senhor.

EGÍDIO: - Por que chorava tanto?

EDINALDO: - Talvez...

EGÍDIO: - Talvez?

EDINALDO: - Um amigo de faculdade. Quem sabe?

EGÍDIO: - É.

EDINALDO: - Bom, vou providenciar...

EGÍDIO: - Claro. (Sai)

EDINALDO: - Amigo?! (Sai)

ATO II – CENA IX

VIRGÍNIA: - Sente-se.

JÚNIOR: - Estou bem.

HÉLIO: - Não, não está.

VIRGÍNIA: - Não precisa dar uma de super homem. Sabemos o quanto está sofrendo.

JÚNIOR: - É duro cara.

HÉLIO: - Posso imaginar!

VIRGÍNIA: - Ao menos conseguiu ir ao velório. Se despediu de Marcos.

JÚNIOR: - Graças a vocês. Serei eternamente grato.

HÉLIO: - Não fizemos nada mais que nossa obrigação. Afinal, somos amigos, e amigos são para todos os momentos.

VIRGÍNIA: - Sabemos o quanto vocês se amavam e não poderíamos negar isto a você. Tenho certeza que Marcos gostaria que fosse assim.

JÚNIOR: - As vezes me pergunto, se ele me amava tanto quanto dizia...

VIRGÍNIA: - Meu amigo. Perdoe a fraqueza dele.

JÚNIOR: - Ia casar-se. Não entendo... Se era eu que o satisfazia. Meu Deus! Que estou fazendo?

HÉLIO: - Desabafando.

VIRGÍNIA: - Muitas dúvidas irão surgir... E isso é compreensivo.

HÉLIO: - Mas nunca duvida. Ele te amava.

VIRGÍNIA: - E sou testemunha.

JÚNIOR: - Será que alguém desconfiou. Sinto muito... Não consegui segurar...

HÉLIO: - Dói muito perder alguém.

VIRGÍNIA: - Mas creio que ninguém percebeu nada.

HÉLIO: - Mas aquele detetive não tirou o olho de você.

JÚNIOR: - Detetive?

HÉLIO: - É. O que está investigando a morte de Marcos.

VIRGÍNIA: - Mas é natural. Não olhou só para você. Parecia vigiar a todos.

JÚNIOR: - Não sei o que fazer...

HÉLIO: - Com que?

VIRGÍNIA: - Com nossas coisas, nosso apê.

VIRGÍNIA: - Meu querido... Não é hora de pensar nisso. Amanhã você pensa nisso. Agora procure descansar.

JÚNIOR: - Não quero incomodar.

HÉLIO: - Incomodo algum.

VIRGÍNIA: - Pode ficar aqui o tempo que for preciso.

JÚNIOR: - Obrigado! Nem sei como agradecer.

HÉLIO: - tomando um belo de um banho e descansando.

JÚNIOR: - Há se todos tivessem a felicidade de ter amigos como vocês.

HÉLIO: - Amizade é uma conquista. E nossos sentimentos são recíproca.

JÚNIOR: - Vou tomar uma ducha!

HÉLIO: - Vou pegar uma roupa pra você. (Sai)

VIRGÍNIA: - Se quiser conversar... Não se acanhe.

JÚNIOR: - Obrigado! Agora preciso de um banho. (Sai)

HÉLIO: - Já foi?

VIRGÍNIA: - Já. Estou preocupada.

HÉLIO: - Por que?

VIRGÍNIA: - Aquele detetive. Não tirou o olho do Júnior.

HÉLIO: - Que acha?

VIRGÍNIA: - Que vai revirar a vida do marcos de cabeça pra baixo e vai acabar chegando no Junior.

HÉLIO: - Será que terão Junior como suspeito?

VIRGÍNIA: - Embora eu espere que não... Mas já pensei nessa possibilidade. Marcos traiu o Júnior... E isso é considerável.

HÉLIO: - Nem lembrava deste fato.

VIRGÍNIA: - Traição. Pra polícia, é motivação para se cometer um crime.

HÉLIO: - Mas Junior não é capaz de matar uma mosca.

VIRGÍNIA: - A psicologia diz que amor e ódio, andam juntos. E o ciúme é capaz de nos motivar a fazer coisas que até o diabo duvida.

HÉLIO: - Que balaio de gato!

VIRGÍNIA: - E só está começando. Vamos vê se precisa de alguma coisa. (Saem)

ATO II – CENA X

(Na redação)

TÁRCIO: - E então o que temos?

MÔNICA: - Ei calma! Agente chega lá.

TÁRCIO: - Nosso chefinho tá daquele jeito... Uma pilha!

MÔNICA: - Uma pilha, estou eu.

TÁRCIO: - É hoje!

MÔNICA: - Você viu a primeira página?

TÁRCIO: - Não.

MÔNICA: - Então veja!

TÁRCIO: - Daqui... Que merda é essa?

MÔNICA: - Filho da puta! Abafou caso.

TÁRCIO: - Não... Não posso acreditar. Então... Não. É muito louco!

MÔNICA: - Louco? Não. Corrupção. Nosso chefe se vendeu.

TÁRCIO: - Será?

MÔNICA: - Como explicar isso? Merda! Descartou minha matéria.

TÁRCIO: - Quem sabe foi ameaçado.

MÔNICA: - Não. As coisas hoje em dia são bem diferentes. A imprensa tem muito mais força. Mas se pensa que vai ficar assim...

TÁRCIO: - Que vai fazer?

MÔNICA: - Me aguarde... Quem viver verá.

TÁRCIO: - Não vai fazer besteira.

MÔNICA: - Não. Agora vou a fundo. Vou investigar este caso até chegar nos culpados.

TÁRCIO: - Não sei por que, mas sinto cheiro de confusão.

MÔNICA: - Confusão ou não... Agora é pessoal.

TÁRCIO: - Se realmente ele foi comprado... Não vai publicar os resultados de suas investigações.

MÔNICA: - Já ouviu falar em blog?

TÁRCIO: - Ai! Já vi gente morrer por publicar sujeiras dos outros em blog.

MÔNICA: - Sou jornalista investigativa. E ser jornalista investigativa tem seus perigos.

TÁRCIO: - Desiste disso mulher!

MÔNICA: - Não. Vamos a campo.

TÁRCIO: - Como assim?

MÔNICA: - Eu fico com a polícia... Você volta aquela mata...

TÁRCIO: - No parque?

MÔNICA: - Meu bem. O que eles querem não tenho.

TÁRCIO: - Hei...

MÔNICA: - Usa esse corpinho em prol do nosso sucesso.

TÁRCIO: - Que amiga! Se tiver um assassino psicopata que extermina gays?!

MÔNICA: - Então você não corre este risco. Você é macho! (Riem) Agora vai.

TÁRCIO: - Que me pede rindo que não faço chorando?

MÔNICA: - Vamos... Vamos nessa! (Saem)

ATO II – CENA XI

TÂNIA: - Onde esteve?

EDINALDO: - Cuidando de negócios.

TÂNIA: - Que tipo de negócios?

EDINALDO: - Ah, pelo amor de Deus! Não vai começar...

TÂNIA: - Me desculpe! Estou com os nervos a flor da pele. (Abraça)

EDINALDO: - Eu sei meu bem.

TÂNIA: - (Sente um perfume diferente no marido) Que perfume é este?

EDINALDO: - Perfume... Que perfume?

TÂNIA: - Este perfume que está empreguinado em sua roupa.

EDINALDO: - O de sempre.

TÂNIA: - Não. Conheço bem seu perfume. E não é este.

EDINALDO: - Ah, não começa.

TÂNIA: - Não me trate como seu eu fosse idiota.

EDINALDO: - Então não haja como se fosse.

TÂNIA: - Estou cansada.

EDINALDO: - Imagina eu... Acha que é fácil suportar...

TÂNIA: - Suportar o que?

EDINALDO: - Tudo isto... Inclusive este casamento.

TÂNIA: - É um fardo pra você?

EDINALDO: - Não torne esse fardo mais pesado.

TÂNIA: - Por que ainda está aqui?

EDINALDO: - Sabe bem por que.

TÂNIA: - Nunca me amou.

EDINALDO: - Você é paranoica.

TÂNIA: - Sempre com essas vagabundas...

EDINALDO: - Por que será?

TÂNIA: - Por que sou tola... Fraca. Não consigo viver sem você. Mesmo sabendo de toda suas aventuras... Esperando suas migalhas... Por amá-lo.

EDINALDO: - Então se contente com que tem. Agora preciso tomar um banho. (Sai)

TÂNIA: - Canalha!

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