janeiro 27, 2013

O CORPO (ATO III)

ATO III – CENA I


PENELOPE: - Hei gato!? Vem sempre aqui?

TÁRCIO: - De vez em quando.

PENELOPE: - Engraçado! Conheço todos. Nunca te vi aqui.

TÁRCIO: - É que dou sempre uma passada rápida.

PENELOPE: - Ah, entendi. É daqueles que curti só uma rapidinha. (Pega na genitália dele) Nossa! Que mala!

TÁRCIO: - Ah!

PENELOPE: - Que foi?

TÁRCIO: - Sou tímido.

PENELOPE: - Sei como acabar com qualquer timidez. Faço uma gulosa como ninguém! E ai?

TÁRCIO: - O que?

PENELOPE: - Que procura?

TÁRCIO: - Vendo o movimento.

PENELOPE: - Só vendo? Pra que só vê se pode fazer... Você é um cara muito interessante.

TÁRCIO: - Obrigado. Mas só quero no momento... Ficar olhando.

PENELOPE: - Não sabe o que esta perdendo. Então?

TÁRCIO: - O que?

PENELOPE: - Que curte?

TÁRCIO: - Natureza.

PENELOPE: - Ishi! Sou quase natural. Algumas pequenas mudanças. Ativo ou passivo?

TÁRCIO: - Que?

PENELOPE: - Come ou dá? Já sei... Compreensivo. Total flex.

TÁRCIO: - Aqui é calmo né?

PENELOPE: - É. As vezes o bicho pega. Que foi? Tá com medo?

TÁRCIO: - Medo? Não.

PENELOPE: - Então... Que quer fazer?

TÁRCIO: - Eu?

PENELOPE: - Você.

TÁRCIO: - Eu...

PENELOPE: - O que decidir eu topo.

TÁRCIO: - É que...

PENELOPE: - Já sei. Está esperando alguém.

TÁRCIO: - É. Estou.

PENELOPE: - Namorado?

TÁRCIO: - Não.

PENELOPE: - Então tenho chance.

TÁRCIO: - Mais ou menos. Estamos nos conhecendo.

PENELOPE: - Se conhecendo aqui? Hum! Bafon... Sabe, te achei uma graça.

TÁRCIO: - Aqui é sempre assim tão calmo?

PENELOPE: - Que nada. Geralmente aqui ferve. Mas como teve uma morte recentemente...

TÁRCIO: - Morte?

PENELOPE: - Mataram um carinha. As bibas estão todas receosas.

TÁRCIO: - E como esse cara foi morto?

PENELOPE: - O gayzinho fazia a alegria de muita gente aqui... Passava o rodo geral

TÁRCIO: - Você o conhecia?

PENELOPE: - Só de vista.

TÁRCIO: - Por que acha que o matara?

PENELOPE: - Sei lá... Também meu bem, nem quero saber.

TÁRCIO: - Mas era conhecido?

PENELOPE: - Oh! Muito.

TÁRCIO: - Você o conhecia?

PENELOPE: - Na verdade sim.

TÁRCIO: - Então você ficou muito abalado.

PENELOPE: - Abalada. No dia que ele morreu ainda conversamos um pouco.

TÁRCIO: - É? E sobre o que conversaram?

PENELOPE: - Homens, meu bem. Necas! O casinho dele é uma graça.

TÁRCIO: - Então ele tinha um caso?

PENELOPE: - Ôh! De anos.

TÁRCIO: - O caso dele também frequentava aqui?

PENELOPE: - Não. O coitado nem desconfiava.

TÁRCIO: - Você conhece o caso dele?

PENELOPE: - Hei? Que interesse é esse no falecido? Você é da polícia?

TÁRCIO: - Não... Não. Claro que não. Só curiosidade.

PENELOPE: - Ah, que bom! Que susto.

TÁRCIO: - É que fiquei curioso.

PENELOPE: - Ih! Vai chover...

TÁRCIO: - Que pena.

PENELOPE: - Vem comigo...

TÁRCIO: - Pra onde?

PENELOPE: - Moro aqui próximo. Vem...

TÁRCIO: - Não sei.

PENELOPE: - Hei cara. Só um pouco.

TÁRCIO: - É... Um pouco.

PENELOPE: - Não vai tirar nenhum pedaço.

TÁRCIO: - Então tá.

PENELOPE: - Venha.

TÁRCIO: - Seja lá o que Deus quiser.

ATO III – CENA III

EDNALDO: - Escuta. Ouve bem que vou lhe dizer... Não estou mais suportando... Está demais pra mim...

TÂNIA: - Que está querendo dizer?

EDNALDO: - Que qualquer dia desses não suportarei mais, ai...

TÂNIA: - Ai?

EDNALDO: - Você deverá se preocupar.

TÂNIA: - Não estou entendo.

EDNALDO: - Não de se estranhar.

TÂNIA: - Não zombe de mim.

EDNALDO: - Mimada. Isso que você é.

TÂNIA: - Não. Sou a sua tábua de salvação. Se não fosse por mim não seria o que é.

EDNALDO: - Você não passa de uma pobre menina rica... Menina não. Já deixou de ser a muito tempo. Agora não passa de uma velha esquizofrênica.

TÂNIA: - Que vai fazer?

EDNALDO: - Me dá nojo ficar aqui olhando pra essa tua cara de pobre coitada.

TÂNIA: - Perdão amor, perdão! Você está certo. Tem toda razão. Tem acontecido tanta coisa... Acho que a morte do meu irmão tem me deixado assim, com os nervos a flor da pele.

EDNALDO: - Tenho pena de você.

TÂNIA: - Vou melhorar. Juro!

EDNALDO: - Você é doente.

TÂNIA: - Serei boazinha... Como sempre fui.

EDNALDO: - Te enxerga... (A pega pelo braço e a leva para o espelho) Olha pra você. Se veja. Olha a que ponto chegou. Você é ridícula.

TÂNIA: - Me sinto tão carente. Mas, prometo... Vou melhorar.

EDNALDO: - Vou embora desta casa.

TÂNIA: - se sair por esta porta... Me mato! Eu me mato.

EDNALDO: - Louca.

TÂNIA: - Sim... Sou louca. Louca por você. Não sei viver sem você.

EDNALDO: - Vou dormir no quarto de hospedes.

TÂNIA: - Não... Por favor, fique. Não me deixe sozinha.

EDNALDO: - Estou cansado.

TÂNIA: - Amor...

EDNALDO: - Tânia, não piore as coisas. (Sai)

TÂNIA: - Meu Deus! Que foi que eu fiz?

ATO III – CENA IV

PENELOPE: - Hei gato... Entra.

TÁRCIO: - Obrigado.

PENELOPE: - Ah, me parece tão tenso... Relaxa gato!

TÁRCIO: - Tô bem.

PENELOPE: - Hum, é tímido! Sabe que gosto... Os tímidos na cama são...

TÁRCIO: - Tem água?

PENELOPE: - Água? Claro. Só um pouquinho... (Sai)

TÁRCIO: - Ah, meu Deus! Que enrascada.

PENELOPE: - Aqui está gato.

TÁRCIO: - Você disse que conhecia o cara que morreu no parque...

PENELOPE: - Pois é menino! Que pena! Um desperdiço. Que pedaço!

TÁRCIO: - Você o viu no dia que...

PENELOPE: - Hei... Espera ai... Você não é da polícia não é?

TÁRCIO: - Claro que não. Só tô começando...

PENELOPE: - É?

TÁRCIO: - É temos que ter certos cuidados...

PENELOPE: - Coitado. Sempre ia lá. Nessa dia o vi com um cara bonito, musculoso. Então pensei: Que cara de sorte! Ah, eu no meio daqueles dois pedaços!

TÁRCIO: - Você acha que foi esse cara?

PENELOPE: - Não. Esse cara vive lá. É um tremendo pegador. Só escolhes os tops. Agente meu bem, vê com os olhos e lambe com a testa.

TÁRCIO: - E depois?

PENELOPE: - Vamos mudar de assunto? Vamos falar de você.

TÁRCIO: - Eu?

PENELOPE: - É.

TÁRCIO: - Como lhe disse. Levei bolo.

PENELOPE: - Mais ficou com o docinho aqui. E por sinal, bem recheado.

TÁRCIO: - Bom, acho que chegou minha hora.

PENELOPE: - Mas já?

TÁRCIO: - Pois é.

PENELOPE: - E vai me deixar aqui, assim?

TÁRCIO: - Eu volto outro dia.

PENELOPE: - Já sabe o caminho.

TÁRCIO: - Então até... logo...

PENELOPE: - Até. Puta que pariu... Que bunda!

ATO III – CENA V

(Na mansão)

TERESA: - Nossa! Dona Mara está arrasada.

SELMA: - Também não é pra menos.

TERESA: - Como Dona Marisa é diferente de dona Tânia.

SELMA: - As duas juntas não valem uma. Deus me livre, nunca vi uma família tão complicada quanto esta!

TERESA: - Acho seu Edinaldo tão frio com a mulher.

SELMA: - Não viu nada!

TERESA: - Por que?

SELMA: - Um cafajeste. Faz da coitada, gato e sapato. O que segura este casamento, é a grana.

TERESA: - Será?

NANCI – Estão ai...

TERESA: - Sim senhora.

NANCI: - Fazendo futrica.

TERESA: - Aconteceu mais alguma coisa Nanci?

NANCI: - Menina, vira essa boca pra lá.

TERESA: - Do jeito que as coisas andam nesta casa... Se eu fosse dona Mara, mandava era tirar um ebô!

NANCI: - Mas graças a Deus não é. Bom, seu Egídio pediu pra avisá-las que, como vocês trabalham na casa, assim como os demais empregados, serão convocados para depor.

TERESA: - Tenho que ir na delegacia?

SELMA: - Nunca nem passei na porta de uma.

TERESA: - Mas por que nós?

SELMA: - Por nós sabemos muito... Empregados sempre sabem de coisas... Já vi num filme.

TERESA: - Temos que dizer o que sabemos?

NANCI: - Muito pelo contrário meninas. Vão dizer apenas que como funcionários nosso contato com a família é apenas profissional, e não nos envolvemos na pessoal de nossos patrões.

TERESA: - Temos que mentir?

NANCI: - Não. Apenas omiti. Não sei, não vi e não ouvi nada. Entenderam?

SELMA: - Sim senhora.

TERESA: - E o delegado vai engolir isto?

NANCI: - Você sabe de algo que não sabemos?

TERESA: - Eu? Não... Claro que não. Não senhora...

NANCI: - Foi o que pensei. Também não se esqueçam que está cheio de jornalistas lá fora... Então, não falem mais do que devem. Agora voltem a seu trabalho. (Saem)

ATO III – CENA VI

MARINA: - Teresa...

TERESA: - Ai! Que susto! Assim você me mata, Marina.

MARINA: - Preciso de um favor seu.

TERESA: - Pode falar.

MARINA: - Me empresta cinquenta reais.

TERESA: - Fala sério! É brincadeira, né? Mesmo por que se eu tivesse cinquentinha, tava rica.

MARINA: - Me dá o que você tem.

TERESA: - Um real, serve?

MARINA: - Tá brincando.

TERESA: - Sério. Pra que a senhora quer esse dinheiro?

MARINA: - Pagar uma dívida.

TERESA: - No que a senhora se meteu?

MARINA: - Um caras ai...

TERESA: - Cuidado dona Marina... Essa gente é perigosa.

MARINA: - Por isso que tô te pedindo.

TERESA: - Então por que a senhora não pede a seu pai? Pra ele isso não é nada.

MARINA: - Jamais me daria. Pensaria que é pra comprar...

TERESA: - E não é?

MARINA: - Tô limpa. Faz um mês. Um mês. Tô limpa!

TERESA: - Olha aqui Marisa... Não nasci ontem. Dá pra perceber que você tá na maior fissura.

MARINA: - Você é igual a todo mundo... Igualzinha! Oh... Mas fica esperta, tá?! (Sai)

TERESA: - Essa não tem jeito.

ATO III – CENA VII

LUDIMILA: - Filhinha... Olha que chegou...

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Uma intimação.

ISABEL: - Intimação?

LUDIMILA: - Temos que comparecer a delegacia para depor.

ISABEL: - Mas por que?

LUDIMILA: - Como por que? Você era noiva do Marcos.

ISABEL: - E?

LUDIMILA: - E... Se fosse mais esperta teria subido ao alta com ele, e agora meu bem, você seria uma jovem, bela e rica viúva.

ISABEL: -Não começa mãe.

LUDIMILA: - Se pelo menos tivesse engravidado... Teria garantido o teu futuro.

ISABEL: - Não sou obrigada a ouvi tantas asneiras...

LUDIMILA: - Era só ter um filho e pronto.

ISABEL: - Como você fez com meu pai?

LUDIMILA: - Não diga bobagem. Não seja injusta. Amava seu pai.

ISABEL: - Todo mundo sabe o que lhe interessava no meu pai...

LUDIMILA: - Não diga o que não sabe.

ISABEL: - Mas deu tudo errado né? Ele faliu.

LUDIMILA: - É o que recebo por lhe dar o melhor...

ISABEL: - Não adianta tentar jogar a culpa de seus devaneios em cima de mim. Não vou me sentir culpada. Não sou e jamais serei como você, uma alpinista social. (Bofetada)

LUDIMILA: - Meças suas palavras... Não admito que fale assim comigo. Que sempre quis é o seu bem.

ISABEL: - Me jogando nos braços de qualquer homem que tenha a conta bancaria maior que seu caráter.

LUDIMILA: - Não despeje em mim, seu fracasso minha filha.

ISABEL: - Fracasso?

LUDIMILA: - É... Fracasso.

ISABEL: - Do que está falando?

LUDIMILA: - Vamos parar por aqui... Se não vamos entrar em um terreno muito perigoso.

ISABEL: - Tarde demais. Agora, fale.

LUDIMILA: - Não. Melhor não.

ISABEL: - Não tem coragem... A verdade dói né?

LUDIMILA: - Cala a boca.

ISABEL: - O que há de errado com você?

LUDIMILA: - Ao contrário do que você pensa, nunca tive nada de mãos beijadas.

ISABEL: - Por isso precisava se vender?

LUDIMILA: - Que disse?

ISABEL: - Todo mundo sabe... Não se casou por amor.

LUDIMILA: - Amor? Que sabe de amor? Não se iluda menina... Só os tolos acreditam em amor. Resisti as dificuldades do dia-a-dia. Queria vê você se entregar a um homem que não é capaz de lhe dar nem o básico, viver uma vida de privações. Sorrir com estomago vazio, roncando de fome. Amor? O que é o amor com o bolso vazio, sem mesmo alguns centavos para comprar um pãozinho...

ISABEL: - Amava o Marcos. Não me importava sua fortuna. Por esse amor seria capaz de qualquer coisa.

LUDIMILA: - Grande coisa. Lhe trocou por um...

ISABEL: - Como você é má. Você é cruel.

LUDIMILA: - A vida é cruel.

ISABEL: - Nada está provado. É só especulação.

LUDIMILA: - O pior cego é aquele que não quer enxergar.

ISABEL: - Por que? Por que mãe... Por que fez isso comigo? (Chora)

LUDIMILA: - Sinto muito filhinha! Mamãe está aqui.

ISABEL: - Eu o amava mãe.

LUDIMILA: - Eu sei meu anjo.

ISABEL: - E agora?

LUDIMILA: - O tempo não volta... Mas podemos reparar.

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Temos que dá um jeito...

ISABEL: - Do que está falando agora?

LUDIMILA: - Não podemos sair de mãos abanando dessa história.

ISABEL: - Mãe...

LUDIMILA: - Descanse filha. Deixa tudo com a mamãe. Eu cuidarei de você. (Saem)

ATO III – CENA VIII

EGÍDIO: - Ednaldo...

EDINALDO: - Senhor.

EGÍDIO: - Temos que abafar o caso...

EDINALDO: - Sei disso senhor...

EGÍDIO: - Não podemos deixar essa história vazar.

EDINALDO: - Seria um grande escândalo.

EGÍDIO: - Aqui reportezinha de quinta! Cada vez chega mais perto da verdade.

EDINALDO: - Isto seria muito ruim para sua campanha.

EGÍDIO: - Temos que convencer esta mulherzinha insolente a desistir de publicar o que sabe sobre o caso.

EDINALDO: - Suborno?

EGÍDIO: - Se for preciso.

MARA: - Por que subornar alguém para não contar a verdade?

EGÍDIO: - Mara?

MARA: - Perdão! Foi inevitável ouvir a conversa.

EDINALDO: - Com licença. (Sai)

MARA: - O que esta escondendo de mim Egidio?

EGÍDIO: - Eu... Escondendo? Nada, nada...

MARA: - Não me traga como idiota. Não subestime minha inteligência...

EGÍDIO: - Não querida...

MARA: - Chega Egídio. Que mesmo que eu descubra a verdade através dos jornais?

EGÍDIO: - De que verdade você esta falando?

MARA: - A verdade que me esconde. O que realmente aconteceu com meu filho?

EGÍDIO: - Mara...

MARA: - Vai continuar mentindo pra mim?

EGÍDIO: - Não. Que mesmo saber?

MARA: - Quero.

EGÍDIO: - Nosso filho foi assassinado.

MARA: - Já imaginava.

EGÍDIO: - Foi isso.

MARA: - Por que?

EGÍDIO: - A polícia continua...

MARA: - Não me venha com essa baboseira de que estão investigando. Você sabe muito mais que isso...

EGÍDIO: - Seu filho eu um pederasta, estava naquele lugar se encontrando com outros homens...

MARA: - Outros homens?

EGÍDIO: - Para praticar sexo...

MARA: - Não pode ser...

EGÍDIO: - Vê por que não queria que soubesse? É vergonhoso para nossa família.

MARA: - Por que o mataro?

EGÍDIO: - Isso ainda não sabemos.

MARA: - Estava noivo.

EGÍDIO: - Sempre foi contra. Este noivado aceitou só de fachada.

MARA: - Não faz sentido.

EGÍDIO: - Sei que é um choque. Mas tem que aceitar os fatos por piores que sejam... Ainda descobriremos muito mais... Coisas que serão difíceis aceitar.

MARA: - Por que nunca nos disse?

EGÍDIO: - Por que é vergonhoso.

MARA: - Era meu filho.

EGÍDIO: - Mas está morto. E nós temos que prosseguir. Almoça comigo?

MARA: - Não me sinto bem. Quero ir pra casa.

EGÍDIO: - Pedirei ao nosso motorista para leva-la.

MARA: - Obrigado! (Saem)

ATO III – CENA XI

(Num bar)

RODRIGUES: - Pensei que não viesse...

MÔNICA: - Espero não me arrepender.

RODRIGUES: - Tenho certeza que não se arrependerá.

MÔNICA: - O que tem pra mim?

RODRIGUES: - Hei, calma! Relaxa.

MÔNICA: - Não acha que só por que vim até aqui vai conseguir levar pra cama...

RODRIGUES: - Que pensamento fértil!

MÔNICA: - Não é atoa que sou jornalista.

RODRIGUES: - Sabe que não é uma má ideia.

MÔNICA: - Péssima!

RODRIGUES: - Ao menos um drink você bebe comigo...

MÔNICA: - Não bebo em serviço.

RODRIGUES: - Não estamos em serviço.

MÔNICA: - Eu estou. Preciso finalizar esta matéria o quanto antes.

RODRIGUES: - Não tem medo?

MÔNICA: - Na minha profissão não há espaço para medos...

RODRIGUES: - Está mexendo com gente graúda.

MÔNICA: - Me interesso pela verdade. E é isso que pretendo publicar.

RODRIGUES: - E por isso seria capaz de qualquer coisa...

MÔNICA: - Menos ir pra cama com você.

RODRIGUES: - Sou tão repugnante assim?

MÔNICA: - Sinceramente? Não. Mas não confundo trabalho com diversão.

RODRIGUES: - Então tenho uma chance?

MÔNICA: - Quem sabe!

RODRIGUES: - O rapaz tinha um relacionamento.

MÔNICA: - Disso eu já sei. Aliás, dois.

RODRIGUES: - Já tenho o endereço do cara com quem o defunto se relacionava.

MÔNICA: - Isso é bom. É quente?

RODRIGUES: - Quentíssimo!

MÔNICA: - Então me passa...

RODRIGUES: - Que recebo em troca?

MÔNICA: - Quanto vale?

RODRIGUES: - Apenas um beijo teu.

MÔNICA: - Isso é golpe baixo.

RODRIGUES: - Pegar ou largar.

MÔNICA: - No rosto.

RODRIGUES: - Sendo assim... Rasgo no meio...

MÔNICA: - Não! Tá bom... Eu beijo...

RODRIGUES: - Ótimo. (Ela o beija) Nossa! Que frio. Por um instante pensei que estivesse beijando um cadáver.

MÔNICA: - Queria o que meu bem, um beijo apaixonado?

RODRIGUES: - Não... No mínimo caloroso.

MÔNICA: - O endereço...

RODRIGUES: - Acho bom caprichar! (Ela o beija)

MÔNICA: - Satisfeito?

RODRIGUES: - É... Não foi o que eu imaginava, mas já é um começo... (Entrega o papel) Aqui...

MÔNICA: - Valeu!

RODRIGUES: - Hei... Boa noite pra você também...

MÔNICA: - Boa! (De longe)

RODRIGUES: - Ainda te pego de jeito! (Bebe e sai)

ATO III – CENA X

(Na mansão)

SELMA: - Bom dia...

LUDIMILA: - Preciso falar com Mara.

SELMA: - Perdão senhora. Mas Dona Mara não está.

LUDIMILA: - Não tem problema eu espero.

SELMA: - Mas senhora...

LUDIMILA: - Que faz ai parada? Sirva-nos alguma coisa...

NANCÍ: - O que está acontecendo aqui Selma?

ISABEL: - Desculpe-nos Nanci, já estamos de saída. Vamos mamãe?

LUDIMILA: - Engano seu filhinha. Viemos conversar com Mara...

NANCÍ: - Dona Mara não está.

LUDIMILA: - Sendo assim... Não vejo outra opção, a não ser esperar.

NANCÍ: - Creio que não seja uma boa idéia.

LUDIMILA: - Você não é paga pra crer e sim pra obedecer. Por tanto se ponha na sua condição de...

ISABEL: - Mamãe!

LUDIMILA: - Empregada. E como boa empregada que deva ser. Peça a sua subordinada para nos servir um drink.

NANCÍ: - Como boa empregada... Só sigo ordens dos meus patrões. E só não peço para os seguranças lhe arrastarem daqui pra fora em respeito a sua filha que é um doce.

LUDIMILA: - escute aqui sua insolente...

ISABEL: - Mamãe, chega!

NANCÍ: - Se deseja espera... Que espere. Vamos Selma. (Saem)

ISABEL: - Que desagradável mamãe.

LUDIMILA: - Essa empregadinha má educada não perde por esperar... Deixa você entrar de vez pra essa família.

ISABEL: - Não viaja mãe. Acabou! Será que não percebeu? Marcos está morto.

LUDIMILA: - Escuta aqui sua imbecil... Eu falo, você fica calada. Vê se não estraga tudo.

ISABEL: - Que está planejando desta vez?

LUDIMILA: - O teu futuro.

ISABEL: - Não vou ficar aqui pra presenciar esse circo de horrores...

LUDIMILA: - Melhor mesmo. Vá... Em casa conversamos.

ISABEL: - Nancí?

NANCI: - Senhora?

ISABEL: - você pode abrir a porta pra mim?

NANCI: - Sim senhora. (Isabel sai. Voltando, campanhia toca) Dona Mara... Ludimila esta a sua espera.

LUDIMILA: - Mara querida!

MARA: - Como vai?

LUDIMILA: - Melhor agora...

MARA: - Pena que não estou em condições de lhe dar atenção minha querida...

LUDIMILA: - Há que pena! Pois o assunto que me trás aqui é muito importante...

MARA: - Em outro momento.

LUDIMILA: - O sobre o Marcos.

MARA: - Meu filho?

LUDIMILA: - Sim. Tenho boas novas...

MARA: - Não entendi.

LUDIMILA: - Vamos ser avós.

MARA: - Que?

LUDIMILA: - Isso mesmo! Não é maravilhoso? Isabel está grávida.

MARA: - Grávida?

LUDIMILA: - É grávida.

MARA: - Não entendo...

LUDIMILA: - Como não? Cinco anos de namoro...

MARA: - Então, meu filho ia ser pai?

LUDIMILA: - Exatamente. Estou tão radiante! Isabel se sentiu mal, então a levei ao hospital e o médico confirmou... Claro que é bem recente. Mas de certo modo, Marcos continuará entre nós através deste filho.

MARA: - Estou surpresa.

LUDIMILA: - Também fiquei. Mas confesso, estou feliz.

MARA: - Meu filho... Ia ser pai.

LUDIMILA: - Achei que tinha que lhe dar esta notícia...

MARA: - Vez bem. E Isabel?

LUDIMILA: - Sentiu-se mal. Então achei melhor que fosse pra casa. Sabe como é... Gravidez, no começo... Indisposição, enjoo... Bem mas agora que lhe dei a notícia, deixa eu ir... Isabel precisa dos meus cuidados.

MARA: - Isabel terá toda assistência que precisar...

LUDIMILA: - Quanto a isso, não tenho nenhuma dúvida. Beijos querida!

MARA: - Nanci, acompanhe-a... (Ludimila sai) Isabel grávida!

NANCI: - Senhora acredita nesse mulher?

MARA: - Você não?

NANCI: - Essa mulher é tinhosa. Capaz de tudo pra se dar bem.

MARA: - Até mesmo articular uma história como essa?

NANCI: - Ela é capaz de coisas que até o diabo duvida.

MARA: - Se for uma invenção, será logo desmascara.

NANCI: - isso lhe trouxe esperança.

MARA: - Filho do meu filho!

NANCI: - Se fosse a senhora pedia DNA.

MARA: - Não tenha dúvida. Egídio irá exigir.

NANCI: - Certo ele. Nessa gente não dá pra confiar.

MARA: - Vou para meu quarto. Estou um pouco indisposta.

NANCI: - Se precisar de alguma coisa...

MARA: - Obrigada, minha querida. (Saem)

ATO III – CENA XI

(Na delegacia)

RODRIGUES: - O senhor mandou me chamar?

NILTON: - Sim... Veja.

RODRIGUES: - Que é?

NILTON: - O laudo definitivo.

RODRIGUES: - Então... A causa da morte... Algo perfurante, possível material ponte agudo de superfície plástica. Suposto assassino canhoto...

NILTON: - Exatamente. Isso elimina muitos suspeitos.

RODRIGUES: - Quando começamos a ouvir a família e amigos?

NILTON: - A partir de amanhã.

RODRIGUES: - Ótimo. Mas o que vamos fazer quando descobrir a verdade?

NILTON: - O que tem que ser feito.

RODRIGUES: - Arquivar o processo?

NILTON: - Exatamente. Há muitos interesses por trás desse caso.

RODRIGUES: - Entendi. Mas se tudo deve ficar como está, porque ouvi as testemunhas?

NILTON: - Seguir protocolos, meu caro.

RODRIGUES: - Frustrante!

NILTON: - É a lei do poder. Manda quem pode, obedece quem é inteligente.

RODRIGUES: - Com licença.

NILTON: - Toda.

ATO III – CENA XII

(Mônica vai a casa de Júnior)

MÔNICA: - Olá...

JÚNIOR: - Posso ajuda-la?

MÔNICA: - Creio que sim. Há, sou Mônica...

JÚNIOR: - Nos conhecemos?

MÔNICA: - Ainda não. Posso entrar?

JÚNIOR: - Claro.

MÔNICA: - Obrigada. Aconchegante seu ap.

JÚNIOR: - Obrigado.

MÔNICA: - Você e o Marcos?

JÚNIOR: - Você o conhecia?

MÔNICA: - Infelizmente só conheci, depois de morto.

JÚNIOR: - Você é dá polícia?

MÔNICA: - Não.

JÚNIOR: - Então o que quer?

MÔNICA: - Apenas conversar com você...

JÚNIOR: - Conversar? Não entendo...

MÔNICA: - Júnior... Como sabe, será investigado... A polícia já sabe de sua ligação com o Marcos...

JÚNIOR: - Quem é você?

MÔNICA: - Hei, calma. Sou apenas uma jornalista investigativa...

JÚNIOR: - Não tenho nada a lhe dizer. Por favor saia.

MÔNICA: - Sabe que será um dos suspeitos...

JÚNIOR: - Não.

MÔNICA: - Você e Marcos estavam juntos a quanto tempo?

JÚNIOR: - Não é da sua conta.

MÔNICA: - Posso lhe ajudar.

JÚNIOR: - Não preciso de sua ajuda.

MÔNICA: - Acha mesmo que a família do Marcos vai aceitar sua versão numa boa?

JÚNIOR: - Não me interessa a opinião deles. Nunca me interessou.

MÔNICA: - Meu caro, você será o primeiro suspeito... Vão deduzir que ele queria cair fora e você não aceitando poderia ter o matado.

JÚNIOR: - Isso não é verdade. Estávamos muito bem.

MÔNICA: - Mesmo?

JÚNIOR: - Ele iria acabar o noivado e vinha morar comigo.

MÔNICA: - Então amam-se de verdade.

JÚNIOR: - Claro. Só não estávamos morando juntos por causa da família. Marcos tinha medo que descobrissem e esse escândalo acabasse interferindo na vida pública do pai.

MÔNICA: - Então sacrificava-se pela família.

JÚNIOR: - A família era tudo pra ele.

MÔNICA: - E você aceitava numa boa ser colocando em segundo plano?

JÚNIOR: - Nunca fui posto em segundo plano. Os momentos que tínhamos juntos eram plenos. Eu era amado tanto quanto amava.

MÔNICA: - acho bonito isso. Imagino o quanto era difícil pra você dividir o homem que amava com uma mulher.

JÚNIOR: - Tranquilo. Eles não tinham intimidades.

MÔNICA: - Você está me dizendo que eles não transavam?

JÚNIOR: - Exatamente.

MÔNICA: - Então, era um noivado de fachada?

JÚNIOR: - Não exatamente.

MÔNICA: - Como assim?

JÚNIOR: - Ela não sabia que ele era gay.

MÔNICA: - Então, ela era enganada.

JÚNIOR: - Não sei, acho que queria se enganar. Cinco anos... E nada.

MÔNICA: - Tem casal que quer se preservar até o casamento.

JÚNIOR: - Fala sério! Só cego não vê o que é obvio!

MÔNICA: - Como soube da morte?

JÚNIOR: - Notícia ruim corre rápido. Vi na teve.

MÔNICA: - deve ter sido um golpe duro.

JÚNIOR: - Foi. Mas o pior é ir aquele velório e não poder me despedir dele como o grande amor da minha vida.

MÔNICA: - Percebi teu sofrimento... Confesso que estranhei.

JÚNIOR: - Está sendo muito duro continuar sem ele.

MÔNICA: - ele que o mantinha?

JÚNIOR: - Não. Trabalho. Vivo do meu trabalho. Construímos isto juntos.

MÔNICA: - Bom gosto.

JÚNIOR: - Vai escrever sobre ele?

MÔNICA: - Pretendo.

JÚNIOR: - Sabe que se falar sobre nós... Destruirá a imagem que a sociedade tem sobre ele.

MÔNICA: - Prefere que esta vida de mentirinha que ele criou em torno de vocês permaneça?

JÚNIOR: - Muitos sofrerão com a verdade.

MÔNICA: - E sua dor, não importa?

JÚNIOR: - Posso lidar com ela.

MÔNICA: - Por que você acha que o mataram?

JÚNIOR: - Não sei. Não faço ideia. Marcos era gente boa, pacato, não tinha inimigos.

MÔNICA: - você tem certeza que a noiva e a família dele não sabiam de nada?

JÚNIOR: - Pelo menos, acho que não.

MÔNICA: - Obrigado por conversar comigo.

JÚNIOR: - Mônica...

MÔNICA: - Sim?

JÚNIOR: - Não publica nada, não.

MÔNICA: - Quando for publicar... Te aviso.

JÚNIOR: - É justo.

MÔNICA: - Obrigada por me receber.

JÚNIOR: - Obrigado por ouvir minha versão.

MÔNICA: - Fico feliz que tenha tido uma linda história de amor.

JÚNIOR: - A mais linda, acredite.

MÔNICA: - Acredito. Bom, bom nessa... Até.

JÚNIOR: - Até. (Sai)

ATO III – CENA XIII

(No apartamento de Ludimila)

ISABEL: - Até que enfim...

LUDIMILA: - A sorte foi lançada.

ISABEL: - Do que está falando? Que você andou aprontando desta vez?

LUDIMILA: - Isso é jeito de se falar com sua mãe? Me prepara um drink.

ISABEL: - Não tem.

LUDIMILA: - Como não?

ISABEL: - Acabou.

LUDIMILA: - Droga! Mas isso é por pouco tempo...

ISABEL: - É? Posso saber por que?

LUDIMILA: - Por que, depois da conversa que tive com Mara...

ISABEL: - Tenho até medo de perguntar o teor desta conversa...

LUDIMILA: - Claro que foi sobre você...

ISABEL: - Eu?

LUDIMILA: - Claro. Tinha que resolver sua situação.

ISABEL: - Que situação.

LUDIMILA: - Filha! Você é viúva de um dos caras mais ricos desta cidade...

ISABEL: - Não sou viúva, não éramos casados.

LUDIMILA: - Mas tem que cuidar do bebê.

ISABEL: - Que bebê?

LUDIMILA: - Deste bebê que esta esperando.

ISABEL: - Ficou louca?

LUDIMILA: - Não filhinha! Esta é nossa cartada final.

ISABEL: - Não acredito que...

LUDIMILA: - Fique feliz! Você será a mãe do ano.

ISABEL: - Você é louca!

LUDIMILA: - Mara ficou feliz.

ISABEL: - Vou procura-la e desfazer esta história criada por sua cabeça doentia.

LUDIMILA: - Preste atenção... Você vai querer viver uma vidinha medíocre o resto de sua existência. Está é sua única chance...

ISABEL: - Você é louca. Não estou grávida.

LUDIMILA: - Mas pode ficar.

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Isso não é difícil.

ISABEL: - Não acredito no que estou ouvindo da minha própria mãe.

LUDIMILA: - Quero providenciar o seu futuro...

ISABEL: - Será que você é tão burra? Ainda que eu apareça grávida... Vão pedir teste de DNA.

LUDIMILA: - Isso agente dá um jeito.

ISABEL: - Que jeito?

LUDIMILA: - Compramos um.

ISABEL: - Você é louca. Não farei parte disso.

LUDIMILA: - Fará sim. Me deve isso. Renunciei minha vida por você.

ISABEL: - Não... Não farei. (Sai)

LUDIMILA: - Há, fará. Se fará. Ou não me chamo Ludimila. (Sai)

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