janeiro 27, 2013

FUZUÊ


FUZUÊ
De: Marcondys França
Personagens:


DONANA: (Mãe de Rosinha)
CORONEL FELICIANO: (Pai de Rosinha)
ROSINHA
CHICA: (Amiga de Rosinha)
DONA MAZÉ: (Mãe de Chica)

PADRE INÁCIO:
CREMILDES: (Empregada de Donana)
TONHO:
JUCA: (Amigo de Tonho)
MAXIMILIANO: (Recém Chegado na Cidade)



CENA I
PADRE INÁCIO: - Ô dê casa...
CREMILDES: - Sua benção padinho!
PADRE INÁCIO: - Deus a abençoe minha filha!
CREMILDES: - Amém!
PADRE INÁCIO: - Donana está?
CREMILDES: - Sim senhor. Tá lá dentro deitada. Diz ela que ta com dô de cabeça. Mai sabe como é Donana... Cada dia inventa uma duença! É dô aqui, dô acula. Mai qué sabê? Aquilo tem priguiça que geme!
PADRE INÁCIO: - Cremildes... Fofoca é coisa do demo. Isto não é bem visto pelos olhos de Deus!
CREMILDES: - Se Deus prestar bem atenção padre, vai vê cada coisa que num é bom aozóios. Que só por Jesui e Maria José!
PADRE INÁCIO: - Vá chamar sua patroa.
CREMILDES: - Tô indo... E o senhô fica a vontade vice! (Sai)
PADRE INÁCIO: - Misericórdia! Ô língua!

CENA II
DONANA: - Padre Inácio! Quanta honra nos dá sua visita.
PADRE INÁCIO: - A honra é sempre minha Donana.
DONANA: - Senta seu padre. Fique a vontade! A casa é pobre mais o coração é nobre.
DONANA: - Cremildes, Cremildes, Cremildes! (Grita)
CREMILDES: - Vôlte! Tem moca aqui não! Eu aqui do lado a mulé não me vê. É priguiça de olhar pro lado é?
DONANA: - Deixa de mal criação estrupício!
CREMILDES: - Mai oia! Dispois respondo a artura, acha rim!
DONANA: - Vá buscar um café preto pro padre...
PADRE INÁCIO: - Não precisa se incomodar.
CREMILDES: - Se é café só pode ser preto! Oxém! (Donana olha fulminante) Já seio, já seio... Cuzinha. Fui! (Sai)
DONANA: - O que fazer com uma creatura dessas?
PADRE INÁCIO: - Conversei com Rosinha
DONANA: - Seus conselhos são sempre bem vindos...
PADRE INÁCIO: - É uma grande honra para nossa paróquia ter uma jovem com inclinação para a vida no convento... (Entra Cremildes e permanece na sala)
DONANA: - Eu e José Feliciano também estamos muito satisfeitos com esse dom que Deus deu a nossa SANTA filha.
CREMILDES: - Mai no é o cão?! Agora seja! (Donana olha severamente) Já seio... Cuzinha! Fui! (Sai)
PADRE INÁCIO: - É preciso agilizar a ida de Rosinha para o convento de São Bento o quanto antes.
DONANA: - Claro. O senhor sabe como é... Não podemos vacilar...
PADRE INÁCIO: - Já está tudo acertado. A madre superiora já aguarda a nova noviça.
DONANA: - É que tem um monte de bodes soltos por ai... Então é bom prender logo essa cabrita pelo cabresto!
PADRE INÁCIO: - Tem toda razão! Prevenir nunca é demais!
DONANA: - Sabe como é... Aqui em Buraco Fundo, moça falada, família desgraçada!
PADRE INÁCIO: - Bom Donana...Só passei pra dar as boas novas.Agora tenho que ir.
DONANA: - Mas já? A conversa estava tão agradávi! É tão boa a sua companhia.
PADRE INÁCIO: - Então até mais vê!
DONANA: - Inté Padre! Que Deus o acompanhe.
PADRE INÁCIO: - Amém! Que Deus permaneça com a senhora. (Sai)
DONANA: - Cremildes, Cremildes, Cremildes! (Grita)
CREMILDES: - Oxê! Precisa gritar tanto? Qué que eu fique moca de veiz é? Voltê! Credo em cruz na missa!
DONANA: - Leve as xícaras pra cozinha. (Sai)
CREMILDES: - Diacho! Inté parece que num tem mão. Mai pêrai... Como Deus pode ir cum padre e ao mermo tempo ficar com Donana? Vai entender! Agora fique... Quem agüenta esse intojo?! (Sai)

CENA III
JUCA: - Mai donde vai assim tão avexado?
TONHO: - Tô ino na fazenda do coroné Feliciano...
JUCA: - Fazê o que?
TONHO: - Num disse?
JUCA: - Não que me alembre.
TONHO: - É que o Coroné Feliciano ta precisano de um home lá no roça dele.
JUCA: - E quem é esse home?
TONHO: - Tá aqui na tua frente.
JUCA: - E é! Tu? (Risos) Contra outra homi.
TONHO: - Se num fô eu cegue! Dos dois oios.
JUCA: - Priguiçoso como tu é... Capai de cegá!
TONHO: - Resoví mudá.
JUCA: - Mai home deixa de cunvesa... E que milagre foi esse?
TONHO: - Quero comprar uma muda de roupa nova pra eu i a festa de Nossa senhora dos Afritos.
JUCA: - O coroné Feliciano é o cão em pessoa. Num gosta de seuviço de pôico não visse!
TONHO: - Bem que ocê podia me ajudá.
JUCA: - Deus seja louvado! Sai de reto... Quero sombra e água fresca. Dispois seio dá meus pulo.
TONHO: - Num vai me dizê que vai se fingir de cego dinovo na porta da igraja... Toma tento home! Vai acabar no xilindró. Isso se antes num levar uma pisa desgraçada.
JUCA: - Quem tem cabeça, neste mundo, não padece! (Sai)
TONHO: - É... Apodrece. (Sai)

CENA IV
CHICA: - Que fudunço é esse?
ROSINHA: - Se contá cê num vai acreditá.
CHICA: - Então diga logo de uma vez!
ROSINHA: - Ah, num seio se tenho curagem...
CHICA: - Deixa de conversa! Desde quando cê tem segredo comigo? (Entra Cremildes que escondida ouve a conversa)
ROSINHA: - Num é segredo não! É que eu fico assim, assim... Sem jeito!
CHICA: - Então desembucha logo criatura! Começou, termina. Agora tô curiosíssima! E quando fico assim sabe como é... Me dá uma gastora!
ROSINHA: - Primeiro vai me prometê que num vai dá com a língua nos dentes...
CHICA: - Minha boca é um túmulo! Que eu morra intitelada contá pra arguém.
ROSINHA: - Ai, ai, ai! Chica... (Severa) Eu beijei... (Doce)
CHICA: - Que fubá é esse? Você mué? Beijando algo além da mão do padre. Isso que é milagre milagroso!
ROSINHA: - Levei um beijo bem aqui.
CHICA: - Na boca é?!
ROSINHA: - Hum, hum!
CHICA: - Hum! Que massa! Mas pêra aí... Quem foi o galante, galentioso?
ROSINHA: - Maxi.
CHICA: - Não! O metido a carioca? Aquele que só porque passou uns dia La nas bandas do Rio dê Janeiro se acha carioca da gema. Não!
ROSINHA: - Hum, hum!
CHICA: - Que xique, xique, xique! Que tudo! É mió que chita, é ceda!
ROSINHA: - Ó, ninguém pode sabê. Por tudo que é mais sagrado!
CHICA: - Oxê! Tá me estranhando é? Num prometi? Então?! Mai agora me conta... Nus mínimos detalhes... Como foi? Ele beija bem?
ROSINHA: - Tá bom, eu ti conto. Mai vamo pro meu quarto... Aqui é muito arriscado. Deus me livre que alguém escute!
CHICA: - Vamo... Me conta tudo!
CREMILDES: - Eitá lelê! Mai quem diria! A santinha? Mai num tô dizeno? Agora seja! Se isso é santa, eu só virgi Maria!

CENA V
FELICIANO: - Cremildes...
CREMILDES: - Sinhô? Ai! Que susto homi...
FELICIANO: - Passi um cafezinho bem frequinho...
CREMILDES: - Sim senhô. Oi Tonho?! (Se derrete toda) Licencinha. (Sai)
FELICIANO: - Respeito é tudo. E nesta casa respeito é palavra de ordem. Entendeu?
TONHO: - Sim sinhô.
FELICIANO: - Então quer trabaiá aqui na fazenda...
TONHO: - Sim sinhô.
FELICIANO: - O cabra, já pegou numa enxada antes?
TONHO: - Pegá, peguei...
FELICIANO: - Não gosto de serviço de porco não.
TONHO: - Vou fazê tudo direitinho.
FELICIANO: - Assim espero. Ganha conforme o trabalho. Pagamento aqui é por merecimento. Entendeu? Cinco vintém por hora.
TONHO: - Cinco vintém?
FELICIANO: - Que foi, acha pouco? (Coloca a mão na bainha da peixeira)
TONHO: - Não sinhô. Afiná, cinco vintém é cinco vintém. Num é?
FELICIANO: - E nada de conversinha com a criada. Tenho uma filha donzela e não quero falta de vergonha em minha casa.
TONHO: - Sim sinhô.
FELICIANO: - Cremildes! O café?
CREMILDES: - Afê Maria! Tô ino... Que homi mai avexado! Inté parece que num sabe que tem esperá água feuvê. Osxen!
FELICIANO: - Tonho... Tá contratado!
TONHO: - E quando começo?
FELICIANO: - Hoje.
TONHO: - Hoje?
FELICIANO: - Hoje. Algum probrema?
TONHO: - Probrema não sinhô!
FELICIANO: - Então se avexe... Pode começar. Lá está a enxada ti esperano.
TONHO: - Sim sinhô. Diacho! (A parte)
FELICIANO: - Tonho... Fique longe da minha filha Rosinha. Não vá bancar o abestalhado! Rosinha é para mim meu maior tesoro. E sabe que acontece com o cabra que tentar se meter a besta com minha filha? (Puxa o facão) Eu capo o safado!
TONHO: - Mai homi... Se precupe não! (Tonho sai)
CREMILDES: - Seu café patrãozinho! Quentinho como o sinhô gosta. (Feliciano sai sem responder) Oxê! Parece que bebe. Me avexa e dispois nem toca no café. Ê gentinha estranha!  Voltê! (Bebe o café. Sai)

CENA VI
MAXIMILIANO: - (Faz som para chamar Rosinha) Hu, hu, há, há!
ROSINHA: - Senhô Maxi...
MAXIMILIANO: - Minha bela Rosinha...
ROSINHA: - Num posso me demorá... Tenho que vortá antes que meu painho e minha mainha dê por farta de mim.
MAXIMILIANO: - Depois daquele beijo Rosinha num pensei em mais nada.
ROSINHA: - Upâ! Num se achegue muito não! Sou uma moça de família viu. E aquele beijo foi um acidente. Um momento de fraqueza! Fraqueza essa que não se repetirá.
MAXIMILIANO: - Pensei que tinha gostado.
ROSINHA: - Gostá, Gostei. Mas num divia! Aposto que o senhô tem um monte de moça correndo atrái de ocê.
MAXIMILIANO: - Mais só tenho olhos para uma única... (Ela rir) Você corou gata!
ROSINHA: - Num tô acostumada com tantos galanteios!
MAXIMILIANO: - Uma moça tão bonita... O que não deve faltar é pretendentes.
ROSINHA: - O sinhô fala tão bonito Seu Maxi!
MAXIMILIANO: - Ah! Que isso? Sinhô? Gata, me chamar de você.
ROSINHA: - É questão de respeito.
MAXIMILIANO: - Não é falta de respeito chamar quem agente gosta de você. Agora poderíamos repetir a dose. Que acha?
JUCA: - (Escondido) Hum! Mai quem diria! Santa? Agora seja! Essa é sonsa.
ROSINHA: - Não! Eu não. Vôltê! Não devo, num posso!
MAXIMILIANO: - Por que?
ROSINHA: - E se alguém vê?
MAXIMILIANO: - Num vai ver... Só estamos nós.
ROSINHA: - Mermo assim! Num tá certo. Deus ta veno! Dispois num seio qual a sua intenção com a minha pessoa.
MAXIMILIANO: - A melhor possível. Rosinha... É só um beijo.
ROSINHA: - Minha mãe disse que só deve beijar dispois de casada.
MAXIMILIANO: - Mais beijar antes também é bom. E não é pecado.
ROSINHA: - Não?
MAXIMILIANO: - Não. (Prepara para beijar)
CHICA: - Rosinha...
ROSINHA: - Ah! Que susto!
CHICA: - Acabou a novena. Donana está voltando pra casa.
ROSINHA: - Então tenho que ir.
CHICA: - Anda... Se avexe.
ROSINHA: - Tichau! Eu vorto.
MAXIMILIANO: - Quando?
ROSINHA: - Breve.
CHICA: - Vamo...
MAXIMILIANO: - Vou esperar. (Saem)
JUCA: - Isso vai mal! Deixa o coroné Feliciano sabê que a sua filhinha está de xamego com o forastero. É morte na certa. (Sai)

CENA VII

DONANA: - Onde se enfiou essa menina!
MAZÉ: - Te acarma mulé. Vai vê que foi na casa de uma amiga.
DONANA: - Sem avisá? Rosinha num é de fazê isso.
MAZÉ: - Vai vê que que Cremildes sabe de arguma coisa.
DONANA: - Cremildes... Cremildes...
CREMILDES: - Sinhora? Que avoroço é esse?
DONANA: - Quantas vezes vou tê que ti chamá estrupício? Sabe do paradero de Rosinha?
CREMILDES: - Sei não sinhora.
DONANA: - É mermo uma mocoronga! Não serve pra nada.
CREMILDES: - (A parte) Quando escuto cunvesa recrama que ouço... (Pra patroa) E alguém aqui me diz arguma coisa? Oxê! Parece que bebe!
DONANA: - Cremildes...
CREMILDES: - Já seio. Cusinha! Tô indo. Fui! (Sai)
MAZÉ: - Fica assim não Donana. Num aconteceu nada demai. Notícia rim é como o vento, ta em todo lugá.
DONANA: - Num devia ter deixado ela. Devia tê arrastado Rosinha comigo...
MAZÉ: - Vai vê que está se preocupando atoa.
DONANA: - Deus te ouça Mazé! E Feliciano que num chega...
MAZÉ: - Num é o cavalo do coroné que vem aculá?
DONANA: - Louvado seja ao Nosso Senhor Jesus Cristo!
FELICIANO: - Que agoro é esse? Morreu argum conhecido?
DONANA: - Ainda não. Mais eu tô teno um presintimento.
MAZÉ: - Credo em cruz! (Benze)
FELICIANO: - Que aperreio é esse?
DONANA: - É Rosinha.
FELICIANO: - Que aconteceu com minha filha?
DONANA: - Só Deus sabe. Só Deus! Mazé... Vá na paróquia chamá o padre aqui...
MAZÉ: - Vô lá. (Sai)
FELICIANO: - Que ta acontecendo Donana?
DONANA: - Espero que o pió num tenha acontecido.
FELICIANO: - Você não está achano...
DONANA: - Se aconteceu que tô pensano. Ah, Feliciano! A honra terá que ser lavada.
DONANA: - Num diga uma desgraça dessa!
CENA VIII
PADRE INÁCIO: - Bons dias!
DONANA: - Padre Inácio! Que bom que o senhor veio.
PADRE INÁCIO: - Calma Donana!
DONANA: - Como posso tê carma? Minha fiinha sumiu... Disapariceu, escafedeu!
MAZÉ: - Ainda acho que nada demai aconteceu.
FELICIANO: - Que Deus te ouça Mazé! Com todo respeito padre. Se tiver acontecido alguma disgraça com minha Rosinha, a coisa vai fedê!
PADRE INÁCIO: - Calma! Vamos esperar um pouco.
DONANA: - Cada tempo que ficamos aqui esperano o pior pode tá aconteceno.
CREMILDES: - Café? (Entra)
TODOS: - Não!
CREMILDES: - Eu hein! Vôltê! Que horró! Se num ofereco num presto, se ofereco num presto! O gente abilolada!
DONANA: - Cremildes...
CREMILDES: - Já seio... Cuzinha! Inferno. Perdão seu padre! (Sai)
FELICIANO: - Mai donde estará essa menina? (Entra Rosinha e Chica)


CENA IX
ROSINHA: - Mainha... Painho... Sua benção padre.
PADRE INÁCIO: - Deus a abençoe filha!
DONANA: - Mazé... Obrigada por tudo...
MAZÉ: - É... É mió ir... Amanha agente se fala. Vamos Chica.
CHICA: - Vamo mainha. (Saem)
PADRE INÁCIO: - Já que a moça apareceu... Acho que não precisam mais de mim.
DONANA: - Padre Inácio... Fique.
FELICIANO: - Por favor padre o sinhô fique.
PADRE INÁCIO: - Sendo assim... Agradeço a confiança!
DONANA: - Agora estamos só nós. Confessa sua descarada...
PADRE INÁCIO: - Calma! Não vamos nos exaltar!
ROSINHA: - Mainha...
DONANA: - Conta pro teu pai que andou fazêno.
ROSINHA: - Juro que num fiz nada...
DONANA: - Tá desgraçada! Num ta? Perdida? Oiá como ta toda maramanhada!
ROSINHA: - Não! Num fiz nada.
DONANA: - Bombardeada! Agora que rapaz de bem vai querer casar com uma moça bulida, amassada feito banana na feira! Quem?
PADRE INÁCIO: - Calma Donana. Vai vê que tudo não passa de um mal entendido. Deixa Rosinha se explicar.
FELICIANO: - E não minta mocinha.
ROSINHA: - Mai painho...
DONANA: - Que será de nós agora? Nosso nome na boca desse povinho. Minha filha falada! Comentada nas rodas dessas desocupadas!
PADRE INÁCIO: - Filha, o que aconteceu? Se tem algo a dizer este é o momento. (Entra Tonho )
ROSINHA: - Foi ele...
FELICIANO: - Ele quem?
ROSINHA: - Ele... (Aponta)
TONHO: - Foi. Comecei e terminei o selviço. (Donana desmaia)
PADRE INÁCIO: - Cremildes...
CREMILDES: - Sinhô...
PADRE INÁCIO: - Traga uma garapa. (Cremildes sai)
FELICIANO: - E pelo jeito fez bem feito. Num foi?
TONHO: - O mio que pudi sinhô coroné.
ROSINHA: - Ela morreu? (Arregala os olhos)
PADRE INÁCIO: - Não foi só um passamento.
CREMILDES: - Garapa!
FELICIANO: - Ah, me segura... Antes que eu mato esse cabra safado! Esse infeliz!
PADRE INÁCIO: - Calma homem! O mal já tá feito.
TONHO: - Afê Maria! Segura! Segura... Segura esse homem. (Donana Levanta)
FELICIANO: - Deixa eu colocar as mãos nesse desinfeliz...
TONHO: - Se acha que num fiz dêreito posso fazê tudo de novo.
DONANA: - Eu... eu... vou...
CREMILDES: - Se pensa que vou segurá a sinhora tá enganada. Oxé! Já virou frescura!
DONANA: - Desde de quando o sinhô vem fazeno esta pouca vergonha?
TONHO: - Desde de cedo. Num é atoa que tô suado.
FELICIANO: - Eu mato esse desgraçado! Isso eu resolvo na pexeira...
PADRE INÁCIO: - Calma homem! E vai deixar sua filha desgraçada e sem marido?
FELICIANO: - Podia é capar esse cabra!
TONHO: - Que isso! Seu Feliciano? O coroné num faça uma disgraça desssa comigo não!
ROSINHA: - Não painho... Num faça isso cum o bixinho não.
FELICIANO: - Então me dê um bom motivo para não fazer. (Puxa a peixeira)
ROSINHA: - (Confusa) Eu amo ele!
TONHO: - Etá lasqueira! Mai que diacho ta acunteceno aqui? Já num tô entendeno mai nada! Tô fivano é abilolado.
PADRE INÁCIO: - O mal já está feito. Agora só nos resta consertar.
DONANA: - Num sei como.
PADRE INÁCIO: - Casando.
CREMILDES: - Ih! Coitado de Tonho! Se lascô todinho.
FELICIANO: - E ter uma derrota dessa na família como genro?
DONANA: - Melhor que uma filha falada.
FELICIANO: - Padre... Avexe este casamento. Pra o quanto antes
TONHO: - Ô derrota! Onde foi que me meti.
CREMILDES: - Na hora errada, no lugar errado... Visse!
PADRE INÁCIO: - Então vamos para a igreja marcar logo este casamento.  (Saem)
CENA X
CHICA: - Juca....
JUCA: - Que é?
CHICA: - Ocê precisa ajudá teu amigo.
JUCA: - Oxê! Tá doida mué? Me deixa aqui quetinho no meu canto. Tô cum uma priguiça!
CHICA: - Pensei que fosse o mió amigo de Tonho.
JUCA: - E sô. Mai num é por ilsso que tenho que ajudá ele lá no pesado.
CHICA: - Num é disso que to falano. Num tá sabeno?
JUCA: - De que?
CHICA: - Tá com a mulesta do cachorro não... A cidade toda de Buraco fundo num fala em outra coisa. De Rosinha e...
JUCA: - Oxê! Esse povo fala dimai. E no mai, Num vi nada, num ouvi nada e num seio de nada. É bem mió assim! Imagina se vou me meter com o Coroné Feliciano.
CHICA: - Eu seio que ocê tava lá. E viu tudo.
JUCA: - Fuxico é coisa de fresco. E eu sou cabra macho!
CHICA: - É deixa o coroné sabê que foi ocê que espalhou o fuxico sobre a filha dele e o taozinho... O carioca.
JUCA: - Êrra! Ai já pegô pesado.
CHICA: - Teu amigo Tonho é que ta levando a fama. O coroné pensa que foi ele que buliu com a fiá dele. Tá arrastano o coitado pra igreja pra casá a força.
JUCA: - Mai menina, moça, mué... Num diga uma derrota dessa!
CHICA: - Já que você é amigo dele disfais essa confusão contano o que viu.
JUCA: - Que tem essa moça na cabeça? Titica de galinha é? E ocê Chica? Porque diacho num conta? Sabe o mermo que eu...
CHICA: - Sou amiga de Rosinha, e prometi num contá nada, pra ninguém.
JUCA: - O Cabra? Ô taozinho...  O carioca?
CHICA: - Deu o pé. Fugiu. Se mandou. Escafedeu. Quando soube da confusão, se borrou todo. Arrumou os pano de bunda e saiu por esse mundão de meu Deus!
JUCA: - Frouxo!
CHICA: - Você é o único que pode sarvar Tonho.
JUCA: - Num sei como.
CHICA: - Vai lá e conta toda verdade.
JUCA: - Enfrentar o coroné Feliciano?
CHICA: - É.
JUCA: - Mai eu me borro todo!
CHICA: - Se esse casamento acontecê, Rosinha será infeliz. E sabe que vai acontecer com teu amigo? (Faz sinal que ele será capado)
JUCA: - Ui!
CHICA: - Agora vamo... Não temo tempo a perdê!
JUCA: - Oh, derrota!                    
CENA XI

PADRE INÁCIO: - Sejam bem vindos meus filhos!
CREMILDES: (Choro)
DONANA: - Deixa de teu agoro, sua agorenta!
CREMILDES: - É que eu to muito emocionada num sabe!? Todo casamento é assim... Eu... (Choro)
MAZÉ: - Cremildes! Oxê!
FELICIANO: - (Com Rosinha) Por que está chorano?
ROSINHA: - É emoção painho!
FELICIANO: - Essa mascara na cara?
ROSINHA: - É maquilagem!
FELICIANO: - Então trate de tirá isso da cara que num to levando uma palhaça ao artá.
ROSINHA: - Ô Mainha!?
DONANA: - Só por hoje Feliciano. É o casamento dela. Não vamos mais dá motivo pra essa gentinha falá.
FELICIANO: - Agora espere aqui que vou buscá o cabra safado. (Sai)
ROSINHA: - Mainha...
DONANA: - E ocê... Num diga uma só palavra.
FELICIANO: - (Entra com Tonho sobre a pontaria de uma peixeira)
PADRE INÁCIO: - Então vamos dar início a cerimônia. Em nome do pai, do filho e do espírito santo...
TODOS: - Amem!
PADRE INÁCIO: - Hoje estamos aqui reunidos para... (Donana desmaia)
ROSINHA: - Mainha...
CREMILDES: - Ih! Começou com a frescura!
FELICIANO: - Donana?
DONANA: - Onde estou?
CREMILDES: - No casamento de sua fia.
MAZÉ: - Na igreja Donana!
DONANA: - Eu... eu...
FELICIANO: - Se desmaia de novo vai ficar no chão.Num tô pronto pra segurá esse saco de batata não...
PADRE INÁCIO: - Então vamos continuar. É com o poder sagrado que me é concedido que hoje eu tenho aqui estes dois jovens...
CREMILDES: - (Crise de choro)
DONANA: - Cremildes!
FELICIANO: - Controle-se! (Bofetada)
MAZÉ: - Deixa disso! (Bofetada)
ROSINHA: - Pare já com isso! (Bofetada)
TONHO: - Me perdoe! (Bofetada)
PADRE INÁCIO: - Em nome de Jesus chega! (Bofetada)
CREMILDES: - (Controla-se) Ocês me discupe, é que tô emocionada num sabe?!
PADRE INÁCIO: - Continuando... Hoje uniremos...
FELICIANO: - Pula toda essa babozeira e vamos logo para o que interessa.
PADRE INÁCIO: - Rosinha, aceita Tonho Chilapo como seu legítimo esposo?
ROSINHA: - (Baixo) Sim.
PADRE INÁCIO: - Senhor Tonho Chilapo aceita senhorita Rosinhs como sua legítima esposa? (Feliciano mostra o facão)
TONHO: - Ô vida ingrata! Sim.
PADRE INÁCIO: - Se há alguém que possa protestar contra esse casamento que fale agora ou cale-se para sempre...                       


CENA XII

JUCA: - Eu!
TODOS: - OH!
FELICIANO: - Como se atreve?
MAZÉ: - Chica!
CHICA: - Fala logo.
CREMILDES: - Ê casamento animado!
DONANA: - Que isso agora?
JUCA: - Tonho é inocente de todas as acusações. É tão inocente que não consegue se defender.
CHICA: - Verdade!
PADRE INÁCIO: - Mais que isso agora? Explique-se!
JUCA: - Sinhô coroné. Sua filha mentiu.
FELICIANO: - Que conversa é essa?
JUCA: - Tonho num é o homi que devia está neste artá.
FELICIANO: - Perdeu o juízo cabra?
CHICA: - Rosinha conte a seus pais a verdade.
ROSINHA: - Painho... Mainha... Eu menti. Tonho é inocente.
FELICIANO: - Então quem foi o cabra que te bombardiô?
ROSINHA: - Não estou disgraçada painho.
DONANA: - Não?
ROSINHA: - Foi só um beijo.
FELICIANO: - Um beijo?
ROSINHA: - É. Um beijo. E num foi Tonho que deu. Foi o Maximiliano. O carioca...
FELICIANO: - Cabra safado vai se vê comigo!
CHICA: - Ih! Esse Já deu o pé.
PADRE INÁCIO: - Então já que esta tudo resolvido. Tudo não passou de um mal entendido. Vamos anular toda essa cerimônia. E vocês podem voltar pra suas casas.
CREMILDES: - Não! O casamento pode inté num acuntecê. Mai festa vai tê! Trabalhei feito uma condenada... Não vou jogar toda aquela comilança fora não. E o buquê pode dá pra eu, que eu sou a próxima a casá.
FELICIANO: - Tonho...
TONHO: - Sinhô?
FELICIANO: - Como posso me desculpar? Se quiser pode continuar trabalhando em minha fazenda.
TONHO: - Vamo deixá o dito pelo num dito! E a dispois de hoje, num quero sabê do cabo de uma enxada nunca mai!
CREMILDES: - Então vamo a festa!


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