fevereiro 02, 2011

HOMEM DO CAMPO (Texto de Teatro)

HOMEM DO CAMPO
De: Marcondys França


PERSONAGENS: ELENCO:
NARRADOR........................................MARCONDYS FRANÇA
ZECA........................................................IVAN DELLON
NINA.......................................................ELEANE BESSA
JOÃO...............................................MARCONDYS FRANÇA
FÁTIMA...................................................CÍCERA MARINS
BRUNA........................................................LEILA NUNES
GILMAR............................................HELENILTON VIGÁRIO
IOLANDA..................................................MARILLIN AMOR


Peça em um ato

NARRADOR: - Neste exato momento vamos acompanhar a vida de uma família de agricultores, com seu cotidiano humilde, onde a luta para vencer as dificuldades imposta pela vida é constantes. Onde a fé, a esperança e a perseverança são suas maiore armas. Zeca é um jovem cheios de sonhos, acostumado a vida simples, batalhador e apaixonado, não medirá esforços para casar-se com Nina sua amada...

(entra Nina e Zeca)
NINA: - Zeca. (T) Eu fico aqui pensano, num sabe?! Pego a imaginá... como vai sê minha vida daqui á algum tempo, num sabe?!
ZECA: - Eu também, Nina, num sabe? Mai eu acho que oscê só tá tocano nesse assunto par vê se eu falo de casamento, num é?
NINA: - Num é, não! Num é nada disso não. Vôlte!!! Ora essa home! Eu sei que oscê gosta deu, e que, quer casá com eu. Eu só tava pensano vice?!
ZECA: - Nina as vez eu fico aqui matutando, perdido com meu pensamento, e chego a sonhá com oscê linda, toda de branco, numa alvura só, linda como nunca!
NINA: - Ai Zeca, se eu fô pensá nisso, botâ isso na minha cabeça agente num casa nunca!
ZECA: - (abaixa a cabeça triste)
NINA: - Ah Zeca! Falei mais que a boca, num foi? Me perdoa eu, num devia falá desse jeito... Sonhar num enche barriga, mai também num custa nada, num é mermo?
ZECA: - Tá certo! Oscê num deixa de tê razão. Sou um caipira, criado no campo, homem bronco, bicho do mato, sem estudo que futuro posso te oferecer? Se num tenho nem dinheiro par pagá o juis, quanto mai um vestido desses...
NINA: - Modi que oscê num arruma um outro trabaio, homi?
ZECA: - Oschen, acorda mulé! Num tenho estudo, desde cedo tive que ir para o cabo da enxada! Pras pessoa estudada tá difícil imagine par eu. Sou burro veio, e burro veio num aprende mai!
NINA: - Eu acredito que vamo consegui Zeca. Eu amo oscê, e num importa se tenho que trabalhar pra que eu e oscê possa ficá juntinho. Nois vamo consegui, acredite. Confie em Santo Antônio, ele vai nos abençoá.
ZECA: - Espero...
NINA: - Já vai pro tabaio, é?
ZECA: - Já.
NINA: - Zeca... Um bom dia. Eu te amo, viu!
ZECA: - Ieu tamém, te amo muito minha cherosa! (Zeca sai Nina senta-se pensativa)

NARRADOR: - Será que é possível conviver com um sonho frustado? Não terá Nina o direito de realizar seus sonhos, casando-se com seu amado? Será por isso que muitas adolescente preferem se juntar cedo sem planejamento? Como não nutri dentro de sí a frustação e vê seus desejos morrerem aos poucos pela falta de possibilidades? Fica-nos a pergunta: Até quando?

NINA: - Bom dia dona Fátima?! A senhora parece meio vexada...
FÁTIMA: - (costurando) É, e como tô. Tô mermo! Onte qualse num dormi, quando tava dando uma madorna.... dirrepenti ouvi gimidos...
NINA: - Vigi que nossa sinhora... (se benze) Valei-me Deus! Mai o que era mulé?
FÁTIMA: - Me levantei da rede, acendi o candinheiro e fui me chagando...
NINA: - Deus é pai!
FÁTIMA: - Era Zeca.
NINA: - Mai que hístória é essa?
FÁTIMA: - Poi é!
NINA: - Zeca tava assombrado é?
FÁTIMA: - Não. Passou mau, cum muinta febre, quemava feito brasa, e tremia feito vara verde. NINA: - Hoje eu vi ele...
FÁTIMA: - Ah,foi? Acendi uma vela par nossa Senhora do Socorro, e graça a Deus ele teve uma milhora.
NINA: - Nois tava cunvessano... falamo do... meu namoro cum ele, num sabe?!
FÁTIMA: - Falou de casamento foi?
NINA: - É. Mai Zeca...
FÄTIMA: - Poi fique sabeno que foço muito gosto.
(entra João segurando Zeca)
JOÃO: - Fátima, acode aqui mulé.
FÁTIMA: - Ai, meu pai! O que acunteceu cum meu fio?
NINA: - Zeca, oh Zeca, oque foi homi?
JOÃO: - Num seio, deu um troço nele, ele caiu no chão, lançou muinto, e tremia feito vara, num sabe?!
ZECA: - (geme) Tá doendo, ai que dor minha mãe. Doi muinto.
FÁTIMA: - Ele tá cum dor, ôh meu pai! Que vou fazer da minha vida?
NINA: - Onde dói Zeca?
ZECA: - Aqui... (no peito)
FÁTIMA: - João, o que vamo fazê?
NINA: - Vou chamá a dotora Bruna.
JOÃO: - Isso mermo vai, minha fia, se aveche.
FÁTIMA: - Por caridade num demora!
JOÃO: - Tá cum muinta febre.
FÁTIMA: - Vou buscá um pano meio úmido. (saí)
JOÃO: - Vai. (T) Diaxo!
FÁTIMA: - Tá aqui, deixa eu passar esse pano, quem sabe num abaixa a febre.
JOÃO: - Mai tá demorano demais, meu Deus!
FÁTIMA: - Aí meu Deus que custo é esse?!
JOÃO: - Eu vou atrás delas vice, fica aí cum ele.
FÁTIMA: - Vai homi, vai! (ele sai) Filho!

NARRADOR: - Uma mãe aflita com seu filho num estado crítico, espera ansiosa a boa vontade de alguém que possa ao menos minimizar seu sofrimento. Será que esta cena não é comum na vida real ou será uma simples ficção?
(Chega João e Doutora Bruna)
FÁTIMA: - Dotora...
BRUNA: - Por favor, primeiro que tudo vamos manter a calma, certo?
FÁTIMA: - Certo dotora.
BRUNA: - Agora vou examina-lo...
FÁTIMA: - Meu fio tá tão desenchavido!
BRUNA: - É verdade ele está um pouco abatido... Tem se alimentado bem?
JOÃO: - Como pobri mai num farta nada, viscê?
BRUNA: - Deixa eu por este termômetro, aqui na aquixília...
FÁTIMA: - Aqui o quê, termo o que?
BRUNA: - Isto é um termômetro, e serve para colocar aqui na aquecília , ou seja no sovaco, para saber quantos graus de febre ele está agora.
FÁTIMA: - Ah...
BRUNA: - Agora dona Fátima me conte como tudo aconteceu.
FÁTIMA: - Assanoite eu tava dano uma mardorna...
JOÃO: - Fala logo da duença, oscem! Se adora que ouvi o que oscê tava fazendo, ela quer sabê é do Zeca!
BRUNA: - Que isso seu João, deixe dona Fátima contar do jeito dela.
FÁTIMA: - Ele passou a noite gemeno, lançaou muito, era assim uma gosma verde, num sabe! E tremia feito uma vara verdi, com um frio danado, e olhe que assonoite fez calor danado!
BRUNA: - Reclamou de alguma dor?
FÁTIMA: - Em cima do peito.
BRUNA: - Que lado?
FÁTIMA: - Esquerdo, peto do coração.
BRUNA: - A febre está alta. Você está sentindo dor Zeca? (ele confirma) Onde? Tudo bem. Vamos levar ele para o posto de saúde.
FÁTIMA: - Oh, minha vigi santíssima!
BRUNA: - Chegando lá vou pedir uma ambulância...
JOÃO: - Bulância, mai o que que há?
BRUNA: - Vou pedir alguns exames, e este exames só podem ser feitos na capital.
FÁTIMA: - Meu pai, meu fio vai para o hospitá lá na capitá...
BRUNA: - Calma dona Fátima, lá teremos mais recursos de saber o que está acontecendo com o Zeca.
FÁTIMA: - Mai ele nunca foi a um hospitá!
BRUNA: - Eu sei. E prometo ficar ao lado dele no que for preciso, e vocês ficarão sempre informados de todos acontecimentos.
FÁTIMA: - Eu vou com ele...
JOÃO: - A moça num disse que vai ficar tudo bem? Oscem! Então deixa de lenga-lenga.
BRUNA: - Calma seu João, coração de mãe é assim mesmo.
FÁTIMA: - Me dá gastura aqui dentro, de mandá meu fio par um lugar desses, agente ouvi falar de como as pessoas são deixadas a míngua...
BRUNA: - Não tiro sua razão dona Fátima, mas mesmo o sistema hospitalar público estndo nessa decadência que ouvimos falar e até presenciar, existem pessoas que tem sentimentos, que mesmos maus pagos se importam com a saúde do próximo. Eu lhe prometo que ficarei com ele no que for preciso.
João: - Só nosso senhô Jesus Cristo vai poder lhe pagar por essa caridade.
BRUNA: - Que isso seu João, esse é meu trabalho!

NARRADOR: - Por muita sorte esse humilde família encontrou alguém como doutora Bruna, que além de uma excelente profissional é também humana,. Nem todos tem a mesma sorte, Zeca será levado a um hospital, sem direito a acompanhante, como não tem plano de saúde ficará a mercê da sorte, mas sobre a proteção de Deus e a influencia de Bruna. Será que na vida real todos tem está mesma sorte?
(entra Iolanda e Gilmar)
IOLANDA: - Gil, tu prometeste-me que me levaria para conhecer suas terras em campo verde... GILMAR: - O que queres em campo verde, Ioiozinha?
IOLANDA: - Ora cherrí!? Lá é um lugar discreto, e bem sabes que tenho grande admiração por lugares como Campo Verde, pelas plantas, os animais, e principalmente a tranquilidade daquele lugar. Não seria uma má idéia dá uma fugidinha dessas badalações, sei lá, relaxar um pouco faz bem!
GILMA: - Sei não. Fico até impressionado com sua debilidade. Uma pessoa como você, com sua formação, preferindo deixar o conforto da cidade, par se enfiar nos confins do mundo? Me soa estranho!
IOLANDA: - Ah, cherri! A fauna, a flora, muito verde, ar fresco, acho que me fará bem, variar é bom! Além do mais eu lí em uma revista que ecologia está na moda.
GILMA: - Mas o povo que habita aquele lugar me causam enjôo. Além da fauna, flora, do verde, você vai ter que suportar a presença daquele povinho sujo e mau trapilho.
IOLANDA: - Nossa Cehrri! É assim que você pensa, é dessa maneira que fala dessas pessoas? Isto é omissão. Até parece que você se sente...
GILMAR: - Enojado.
IOLANDA: - Que horror!
GILMAR: - E não par me senti? Uma gentinha enfadomha.
IOLANDA: - Cherri, pelo amor de Deus, não fale assim. Você está molestando uma agromeração de pessoas que só faz lhe ajudar. Se hoje temos tudo isto...
GILMAR: - Se temos tudo isto é porque minha ansia, minha vontade de vencer, de conseguir algo melhor foi mais forte do que até mesmo minhas forças. Estou pasmo com você. Tudo que tenho é resultado do meu trabalho, dos meus esfoços. Você que aquele povo estão lá trabalhando de graça? Claro que não. Eles recebem por seus trabalhos...
IOLANDA: - Calma Cherri! Não vamos discutir por isso, não é mesmo? Par que brigar-mos, se juntos podemos viver momentos maravilhosos?!
GILMAR: - Você as vezes me faz sentir como se eu fosse um carrasco, como se estivesse explorando aquela gente...
IOLANDA: - Oh mona mour! Não vamos abalar a tranquilidade do nosso relacionamento por causa disso, não é ? Então!? Relaxa, isso... Vamos repelir todos os pensamentos que nos afastam um do outro e só penasr em algo que nos deixe bem juntinhos, meu cachorrinho...
GILMAR: - Pra lhe mostrar minha benevolência, vou lhe levar para jantar.
IOLANDA: - Mona mour! Eu tenho uma idéia melhor...
GILMAR: - É? Que idéia e está?
IOLANDA: - Lembra-se da saúna? Então eu estava pensando que nós... Sabe, nunca mais relaxamos juntinhos... eu e você, você e eu... (canta banheira de espuma)
GILMAR: - Sabe que não é uma má idéia.
IOLANDA: - Agora...
GILMAR: - Mais eu ainda não terminei de ler...
IOLANDA: - Termina depois. Vem...
GILMAR: - Daqui a pouco.
IOLANDA: - Então vou sozinha...
GILMAR: - Ioiozinha...
IOLANDA: - (faz som de abelha)
GILMAR: - Não faz assim minha abelhinha, assim não, eu não resisto.
IOLANDA: - Não resista! Vem. meu bombom recheado (saem se abraçando)

NARRADOR: -Enquanto Gilmar viver feliz com sua mordomia, João e sua família passam por uma prova de fogo onde sua maior arma é a fé e a compaixão. Já diz o velho ditado “O trabalho dignifica o homem” Só nos resta a perguntar: Qual? O empregado ou patrão? Será que é preciso responder?
(entra Fátima e Nina)
FÁTIMA: - Ô meu pai que demora! E essa dotora que num chega?
NINA: - Dona Fátima, eu subi hoje cedo.
FÁTIMA: - E apoi. Minha fia ele foi par um hospitá. A dotora ficou de trazer nutíça, e inté agora nada.
NINA: - O que será que ele tem?
FÁTIMA: - Já fiz um monte de promessa, e tenho fé que num seja nada.
NINA: - Ô dona Fátima num á de ser nada!
(chega João e Bruna)
FÁTIMA: - Mai que cara é essa homi de Deus?! Acunteceu arguma disgraça cum meu Zeca?
BRUNA: - Calma dona Fátima...
FÁTIMA: - Mai como posso ter carma, com essa gastura toda que tô sintino?
NINA: - Dotora o que Zeca tem?
JOÃO: - Nosso menino tá cum uma duença...
FÁTIMA: - Meu pai celestial!
BRUNA: - Seu João. Vou explicar, vamos sentar...
NINA: - É grave?
BRUNA: - Sim é.
NINA: - Ai minha Nossa Senhora!
BRUNA: - O José Carlos está com problema cardioco.
FÁTIMA: - Cardi o que?
BRUNA: - Ele tem um problema no coração.
NINA: - Meu Jesus!
FÁTIMA: - Eu quero vê meu fio, ele precisa de mim.
NINA: - Ele vai cunsiguí saí dessa?
JOÃO: - Sim, vai... Mai pricisa de dinheiro. E é isso que mi pertuba, nois num tem!
BRUNA: - Ele precisa de um aparelhozinho, conhecido como marca-passo .
FÁTIMA: - Marca o que?
BRUNA: - Marca-passo.
NINA: - É par contar o passo é?
BRUNA: - Não Nina. Este aparelho servi para auxiliar o coração em seu funcionamento. Será como uma bateria permanente impedindo que o coração pare de bater. Entendem? O maior problema é que este aparelho é importado...
FÁTIMA: - Cumo assim?
NINA: - Vem do estrangeiro num é?
BRUNA: - É vem de outro país, por isso é caro, os hospitais públicos não se dispõem dele...
NINA: - E agora, o que vamo fazê? O sinhô num tem esse dinheiro.
BRUNA: - Esta cirurgia tem que ser realizada o mais rápido possível. Você não tem a quem ocorrerem? Alguma pessoa que tenha condições financeira de ajudá-los...
FÁTIMA: - João, homi de Deus!... O seu Gilmá, ele é dono dessa fazenda e de quase toda Campo Verde...
BRUNA: - É isso mesmo seu João, o senhor deveria tentar falar com ele, quem sabe ele não se comova e nos ajude.
JOÃO: - Posso ir inté lá.
BRUNA: - Não custa nada tentar! Temos que correr contra o tempo. Falando em tempo tenho que ir, outros pacientes me aguardam no posto de saúde. Seu João qualquer esclarecimento que seu patrão precisar peça par me ligar. Dona Fátima não se preocupe, José Carlos está em boas mãos.
FÁTIMA: - Nem sei como lhe agradecer... Só nosso Senhor Jesus Cristo poderá lhe pagar por tudo... Que Deus lhe ilumine!
BRUNA: - Muito obrigada. (sai)
FÁTIMA: - E agora homi?
JOÃO: - Vou falá cum ele...
FÁTIMA: - Vá meu veio... Eu vou acender uma vela par nossa Senhora da Guia.
NINA: - Boa sorti, que Deus lhe ilumine seu João.
JOÃO: - Amem...

NARRADOR: - Esperança... talvez seja a palavra mais adequada a esta situação. João um pobre e humilde trabalhador rural vai romper o muro de seu mundo simples para um mundo de luxo e soberba. Será que Sr. João conseguirá da pessoa a quem tanto serviu a ajuda que poderá salvar a vida de seu filho?
IOLANDA: (campanhia) - Já vai!
JOÃO: (tira o chapéu) -Boa tarde dona moça?!
IOLANDA: - Deseja alguma coisa senhor?
JOÃO: - Eu quiria falar cum meu chefe sinhora.
IOLANDA: - Seu chefe?!
JOÃO: - O doutor Gilmá.
IOLANDA: - Ah, cherrir! Por favor entre fique a vondade. Cherir, cherrir, oh, mona mour! Tem um senhor querendo falar com você.
GILMAR: - Minha abelhinha, a está hora não estou pra ninguém.
JOÃO: - Boa tarde seu Gilmar...
GILMAR: - Boa... Seu João, algum problema com a fazenda?
JOÃO: - É que meu fio, o Zeca num sabe?! Ele tá duente, e eu...
GILMAR: - Então vinheste ao lugar errado, embora me chame de doutor, mais não sou médico.
JOÃO: - É que meu fio tá num hospitá...
IOLANDA: - Seu filho está doente, que ele tem?
JOÃO: - Ele tá cum probrema nu coração e precisa dum apareio par cuntinuá vivo num sabe.
GILMAR: - E o queres que eu faça?
JOÃO: - Descupe meu atrevimento é que não tenho a quem recorrer, intão tomei a liberdade de lhe pedir ajuda...
IOLANDA: - E como podemos ajudar?
JOÃO: - Me emprestano um dinheiro para meu fio poder fazer a tal operação...
GILMAR: - E como pretende pagar este empréstimo?
JOÃO: - Ora como? Cum meu trabaio.
GILMAR: - Eu gostaria muito de ajudar, mais no momento estou com uns probleminhas, as ações cairam e eu investiu uma boa grana, e sabe como é, negócios são sempre arriscados...
IOLANDA: - Cherri?!
GILMAR: - Querida. Não quero ser hóstil, acho melhor você me esperar lá dentro.
IOLANDA: - Estou pasma! Com licença.
JOÃO: - O sinhô me discupe, mai o senhô falou falou e num disse que sim ou que não.
GILMAR: - Como eu estava lhe dizendo, estou com problemas...
JOÃO: - Intendi... Mai olha aqui doutô, desde muito piqueno meu fio Zeca trabaia no campo comigo, seja dia de sol ou chuva, mai lá tava ele, feito um cão fiel a seu dono me ajudano...
GILMAR: - Eu até me sinto comovido, mais não posso ajudar...
JOÃO: - Como não? O senhor tem dinheiro e muito dinhero, posso ser leigo, mai num sou burro e por isso lhe rogo esta ajuda a meu fio, não como um homi que trabaia pro sinhô, mai comu um pai desesperado, que tá veno seu fio morreno. Sou pobre sim sou, mai sou honesto e Deus é testimunha lhe pagarei cum meu trabaio cada centavo...
GILMAR: - Não se trata disso, não é desconfiança... Eu sinto muito...
JOÃO: - Sente muito? Cunversa! Oscês paga aos pobres como eu o que bem querem, que passa a vida inteira se acabando no campo cuidado daquilo que é dos outros, migalhas, migalhas é isso que temos de pessoas como o senhô. Migalhas que num dá nem par cumer. Trata agente como animais, cum dispreso e ainda finge que respeita. Vem me dizer que sente muito?! Cunversa pra boi dormir!
GILMAR: - Calma seu João...
JOÃO: - Olhe aqui seu Gilmá, meu fio esta num leito de um hospitá, Deus é tistimunha da dor e sofrimento da minha famía. Aquele lá de cima num desampara ningém, é um juiz justo e julga na hora certa O sinhô me discupe o tempo que tomei do senhô. (sai)
GILMAR: - Ora que atrevimento! Como se eu fosse obrigado, era só o que me faltava! Cada um com seu problemas! O que ele pensa que sou, um banco? Deus? Ora vá, vá, vá! Iolanda?! (grita)
IOLANDA: - Sim?!
GILMAR: - Mande desinfetar tudo.
IOLANDA: - Gilmar?!
GILMAR: - Tá me olhando por que? Eu sou normal!

NARRADOR: -Agora a vida de Zeca está apenas nas mãos de Deus. Já que gilmar se recusa a ajudar. Mais será que está é a recompensa merecida a quem tanto dedicou a sua vida ao que era dos outros? Será que essa história não poderia ter um outro fim, talvez um fim com mais compaixão, ou será tão comum que não estranhamos nenhum pouco o comportamento de Gilmar?
FÁTIMA: - E então? Fala homi! Que gastura.
JOÃO: - Num podemos contar cum ele. É egoista dimais par intender o sofrimento do zotro!
NINA: - Que miseráve! Como pode fazê isso?
JOÃO: - Tem gente que tem coração de pedra, nem parece gente.
FÁTIMA: - Ai minha Nossa Senhora, que desgraça.
BRUNA: - (cansada) Gente...
FÁTIMA: - Ô minha virgi Maria!
NINA: - O que foi?
BRUNA: - Boas notícias...
JOÃO: - Já num posso dizer o mermo.
BRUNA: - Calma seu João, deixa eu respira. Vamos realizar a cirurgia no José Carlos, conseguimos o dinheiro.
FÁTIMA: - Obrigado meu pai santíssimo!
JOÃO: - Mai como?
FÁTIMA: - Uma senhora...
NINA: - Quem?
BRUNA: - A esposa do seu patrão. Ela ficou comovida e resolveu ajudar.
FÁTIMA: - Que Deus a abençoe!
BRUNA: - Ela só pede segredo, seu João.
(todo se abraçam)

F I M

REPÓRTER GLOBAL RETORNA APÓS CIRURGIA

A repórter Global Ananda Apple retoma ao trabalho no Quadro Verde, do Bom Dia São Paulo, após mais de dois meses afastada da Gl...