fevereiro 02, 2011

Lágrimas de Mãe (Texto de Teatro)

Lágrimas de Mãe
De: José Soares
Adaptação: Marcondys França

Personagens:
Mariquinha (Mãe de Edgar e Jorge)
Edgar
Jorge
Barbosa
Joana (Filha de Barbosa)

CENA I
(Edgar andando de um lado para o outro)
Edgar: - Tem que haver um jeito de me livrar de Jorge e também deste traste velho que se diz minha mãe.
Jorge: - Não sei o que fazer da vida!
Edgar: - Encontraste emprego?
Jorge: - Não. Tudo que ouvi foi: “volte amanhã”, “espere a carta”, “passe depois”...
Edgar: - Você é mesmo um parasita!
Jorge: - Edgar não diga isto comigo!
Edgar: - Parasita, parasita, parasita!
Jorge: - Ah, é! (agarrar Edgar pelo colarinho)
Joana: - Parem! Que horror!
Mariquinha: - Que é isto? Dois rapazes educados brigando, não briguem, eu não os criei assim.
Edgar: - É um parasita. Ele e você. Um é tão bom feito o outro!
Jorge: (austero) – Edgar, não diga isto com nossa mãe, respeite-a.
Joana: - Não seja grosseiro Edgar. É tua mãe...
Edgar: - Mãe? Eu lá tenho mãe! Minha mãe são as mulheres da rua que me dão amor e carinho. E não um bagaço feito este. Agora vou sair e quando eu voltar, por favor, estejam fora da minha casa.
Joana: - Por acaso as mulheres da rua cuidam de você?
Edgar: - Meta-se com sua vida. Intrometida! (Sai)
Joana: - Vou pegar um copo com água pra senhora. (Sai)
Jorge: - Preciso encontrar um jeito de arrumar dinheiro para tirar minha mãe desta casa, não agüento vê-la sofrer tanto vou pra rua ver se consigo algum dinheiro. Mãe preciso sair. (Beija a mãe e sai)
Mariquinha: - Aonde vai meu filho?
Jorge: - Não se preocupe. (Sai)
Joana: - Aqui Dona Mariquinha. E Jorge?
Mariquinha: - Saiu.
Joana: - Bom... Preciso ir. Se precisar de mim, não se acanhe.
Mariquinha: - Obrigada Joana.
Joana: - Não seja por isso. (Sai)

CENA II
Mariquinha: - Ah, meu bom Jesus compadecei-vos do meu filho Edgar e de sua má intenção.
Edgar: (irado) - Já estás com sua tolice velha? Rogando suas pragas em mim!
Mariquinha: - Não diga isso meu filho.
Edgar: - Filho? Esta ficando caduca... Pensa que este pedaço de gesso vai te salvar? Ninguém te livra da minha ignorância! Dei-me dinheiro.
Mariquinha: - Edgar, eu não tenho dinheiro para te dar.
Edgar: - Não tem dinheiro? O que fez com sua pensão? Vá pedir emprestado, esmola sei lá! E se não arrumar já sabe velha... (Edgar sai. Mariquinha chora)
Barbosa: - O que isso dona Mariquinha, está chorando?
Mariquinha: - É seu Barbosa, são meus filhos, brigando como dois inimigos.
Barbosa: (Admirado) – Ah! Foi por isso que vi Jorge fazendo uma cota com os amigos, dizendo que ia viajar. Eu mesmo lhe emprestei vinte mil reis. (Cômico) Mas não estou cobrando não!
Jorge: (Beija Mariquinha) - Mamãe, seu Barbosa...
Mariquinha: - Jorge é verdade que vais viajar?
Joana: - Assim tão de repente!
Jorge: - Sim, mais voltarei.
Mariquinha: - Meu filho,vai sem dinheiro?
Edgar: - Fiz uma cota com amigos. Seu Barbosa foi um dos que me emprestou, não foi se Barbosa?
Barbosa: - Foi, foi... Mas não estou cobrando, não.
Mariquinha: (Entrega-lhe um colar) - Toma meu filho, venda-o para inteirar tua passagem, foi do teu pai.
Jorge: - Não precisa mamãe, é seu colar.
Barbosa: - Receba é de coração. (Jorge recebe e abraça a mãe)
Edgar: - Se fosse pra mim, ela não dava.
Mariquinha: - Se precisasse daria.
Edgar: - Não preciso de esmola. Preciso de dinheiro. Então ia viajar sem se despedir de mim?
Jorge: - Não. Ia te procurar. Edgar. Vou partir e deixo aqui um pedaço de mim que é minha mãe, se eu souber que é maltratada, quando voltar, te matarei.
Mariquinha: - Não diga isso meu filho.
Joana: - Irei contigo.
Barbosa: - Te levaremos a estação.
Jorge: - Eu voltarei minha mãe. Sua benção.
Mariquinha: - Deus o abençoe meu filho! (Mariquinha chora)

CENA III
Mariquinha: - Perdi meu filho, agora o que farei?
Edgar: - Vais para o asilo.
Mariquinha: - Mas não estou louca, meu filho.
Edgar: - Mais vai ficar. No meio dos loucos, ficaras louca também.
Mariquinha: - Filho amald... Mas o que é que ia fazendo, amaldiçoar meu filho, não, ele também é filho do meu coração.
Edgar: - E eu tenho lá medo de maldição? (Empurrando-a) Vá arrumar sua mala, leve pouca coisa que o resto eu queimo. Esta casa vai virar um cabaré!
Mariquinha: (Mariquinha sai e volta com uma mala) – Aqui estou meu filho.
Edgar: - Não me chame de filho, não tenho mãe. Vamos. (Empurrando)
Barbosa: - O que isso rapaz? É sua mãe.
Joana: - Que isso Edgar?
Edgar: - Meta-se com sua vida.
Barbosa: - Não faça isso! É sua mãe.
Edgar: - Faço com a minha e faço com a sua.
Barbosa: - Com a minha não... Que já faz cem anos que morreu.
Edgar: - Vamos velha.
Barbosa: - Pra onde vai levá-la?
Edgar: - Para o asilo.
Joana: - Asilo?
Barbosa: - Mais tua mãe não está louca!
Edgar: - Mais vai ficar. E esta casa vai virar um verdadeiro cabaré!Vamos velha! Vamos que to com pressa...
Joana: - Jorge tem que saber disso meu pai.
Barbosa: - Coitada de dona Mariquinha! (Saem)

CENA IV
Jorge: - Ô de casa?!
Barbosa: - Quem será?
Jorge: - Como vai senhor Barbosa? Joana!
Joana: - Senhor...
Jorge: - Tem gente batendo palmas...
Joana: - Vou ver quem é.
Barbosa: - Não filha. Deixa que eu atendo. Trás um cafezinho pra teu velho pai. (Joana sai)
Barbosa: (Olhando por cimas dos olhos) – Com quem tenho a honra de falar?
Jorge: - Não está me reconhecendo? Sou eu. Jorge, filho de dona Mariquinha.
Barbosa: (Admirado) – De certo, meu rapaz, como poderia reconhecer-te? Está mudado (Á parte) Será que meus vinte mil reis vieram? Um abraço rapaz, outro abraço meu rapaz.
Jorge: (Tira o dinheiro do bolso) – Senhor Barbosa, antes de tudo, quero lhe pagar aquela quantia que me emprestou.
Barbosa: - Não precisa meu rapaz! (Esticando a mão)
Joana: - Jorge!
Jorge: - Como vai Joana?
Joana: - Melhor agora com tua chegada.
Barbosa: - Me conte tudo meu jovem.
Edgar: - Arrumei emprego em um posto de gasolina, depois de meus esforços me tornei gerente, juntei dinheiro, fiquei sócio, e com a morte de meus patrões que não tinham herdeiros, herdei tudo.
Joana: - Que bom Jorge!
Barbosa: - Tens sorte hein meu rapaz!
Jorge: - O senhor tem notícia de minha mãe?
Barbosa: - Sua mãe... Antes tivesse morrido, sofreria menos do que tem sofrido.
Jorge: - O que aconteceu com minha mãe?
Joana: - E... Nem te conto!
Jorge: - Que foi?
Joana: - Sabe que detestamos fofoca.
Barbosa: - Odiamos fofoca!
Joana: - Mas é bom que saiba. Fala papai, fala. Conte a Jorge.
Barbosa: - Depois que você saiu de casa, seu irmão, Edgar, internou dona Mariquinha em um asilo. E as cartas que você enviava teu irmão as rasgavam, só uma que peguei e a entreguei.
Jorge: - E ela estava louca?
Barbosa: - Não. Mas com os maus tratos de teu irmão enlouqueceu.
Joana: - O Edgar faz da tua casa um cabaré.
Jorge: - Edgar? O senhor sabe onde ele está?
Barbosa: - Está numa miséria que faz dó de se ver. Só vive embriagado e apanhando por onde passa.
Joana: - Vive feito cachorro sem dono. Perdeu tudo no jogo. Até a casa. Olha ele ali, caído.
Jorge: - Desgraçado, vou arrastá-lo até o asilo para que peça perdão à nossa mãe.
Barbosa: - Calma, Jorge, calma! Espere, iremos contigo.

CENA V
Mariquinha: - Carta do meu filho.
Jorge: - Benção, mamãe... Eu voltei, sou eu seu filho.
Mariquinha: - Filho? Eu não tenho filho. Meu filho foi, foi, e nunca mais voltou!
Jorge: - Voltou mamãe, e veio lhe buscar.
Mariquinha: - Não me bata meu filho!
Jorge: - Oh, meu Deus, de que me serve tanto dinheiro se minha mãe não pode desfrutar comigo? Se vires que minha Santa mãe não chegara ao uso da razão, não me deixe viver (Tira o colar) O colar, talvez ela se lembre. (Junto dela) Mãezinha, este colar é seu, lembra?
Mariquinha: - Sim. É meu, roubaste. (Bota junto ao peito)
Jorge: - Não. A senhora me deu para inteirar minha viagem para América do Norte.
Mariquinha: (Recobrando aos poucos) – Meu filho... América do norte... Jorge!
Jorge: - Sim mamãe... Teu filho Jorge.
Mariquinha: (Recobra os sentidos) – Jorge meu amado filho! (Abraça)
Jorge: - Obrigado meu Deus por minha mãe recobrar os sentidos!
Mariquinha: (Vê Edgar) - Meu filho, o que lhe fizeram? (Estende os braços)
Edgar: (De joelhos) - Minha mãe! Perdoa este monstro, como fui errado e egoísta.
Mariquinha: - Está perdoado, Edgar, você também é meu filho. (Abraça Edgar)
Jorge: - Edgar, apesar de tudo que fizeste, ela não te odeia.
Edgar: - Como prova de arrependimento vou parar de beber e arrumar um emprego.
Mariquinha: - E seu Barbosa, onde está?
Barbosa: - Estou aqui dona Mariquinha. Eu nunca esqueci da senhora, sempre vinha lhe visitar. Edgar.
Joana: - Ta vendo Edgar? Apesar de tudo que fez tua mãe sofrer, ela ainda te perdôo.
Edgar: - Obrigado mamãe!
Jorge: - Aproveitando o momento... Senhor Barbosa, quero pedir a mão de sua filha Joana em casamento.
Barbosa: - Se for da vontade dela. Faço gosto!
Jorge: - Você aceita Joana?
Joana: - É claro que sim!
Mariquinha: - A maior alegria de uma mãe é ver seus filhos bem e felizes!
Jorge: - Que belo dia! Que isto sirva de exemplo para todos que não reconhecem o amor de uma mãe, nem os sacrifícios que ela passa para criá-los.
F I M

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