O VAQUEIRO QUE NÃO SABIA MENTIR
Adaptação: Marcondys França
TEOTÔNIO (Fazendeiro)
DONATO (Compadre de Teotônio)
VADO (Vaqueiro de Confiança de Teotônio)
NALVINHA (Filha de Donato)
BARROSO (Um Boi)
CENA I
(Barroso atravessa o pelo palco como se estivesse desfilando em uma exposição)
CENA II
DONATO: - Então... Num tô dizeno homi!
TEOTÔNIO: - Pois digo que o cumprade tá enganado.
DONATO: - Nesta vida cumpadre, tenho dois orgulhos...
TEOTÔNIO: - E é?
DONATO: - É.
TEOTÔNIO: - E que orgulhos são esses cumprade?
DONATO: - O primeiro: É barroso.
TEOTÔNIO: - Seu boi.
DONATO: - Dá gosto de se vê! O maior, o mais forte, o mais bonito...
TEOTÔNIO: - O mais valioso de toda redondeza.
DONATO: - Meu segundo orgulho é a sorte que tenho de ter Vado trabalhando aqui em minha fazenda.
TEOTÔNIO: - O vaquieiro.
DONATO: - Por esse cumpadre sou capaz de botar a mão no fogo. Uma só não, as duas!
TEOTÔNIO: - Homi num diga uma coisa dessa não!
DONATO: - Digo e repito. Esse cabra da peste só menti pra mim no dia de São Nunca!
TEOTÔNIO: - Todo mundo mente! Um dia esse vaqueiro ainda te passa a perna.
DONATO: - Conversa! Confio tanto em Vado que deixo Barroso sobre seus cuidados.
(Entra Nalvinha)
NALVINHA: - Café?
TEOTÔNIO: - Obrigado minha filha.
DONATO: - Obrigado! (Nalvinha serve o Café e sai) Então cumpradre quero fazer uma aposta.
TEOTÔNIO: - Uma aposta?
DONATO: - Isso mesmo. Aposto um saco de dinheiro que faço esse talzinho mentir.
TEOTÔNIO: - Cumpadre... Vai perder aposta.
DONATO: - Duvido.
TEOTÔNIO: - Apostado.
DONATO: - Novinha?
TEOTÔNIO: - Inhô...
DONATO: - Poi ta aqui quem vai me ajudar nessa empreitada.
TEOTÔNIO: - Quer sabê? Nunca foi tão fácil ganhá uma aposta.
DONATO: - É o que veremos cumpadre. Veremos...
TEOTÔNIO: - Agora tenho que ir... A labuta me espera. (Saem os dois)
NALVINHA: - Oxê! (Sai)
CENA III
(Entra Barroso sendo domado por Vado)
CENA IV
NALVINHA: - Num meu pai... Isso eu não faço.
DONATO: - Num to mandano? Então... Vai fazê e pronto.
NALVINHA: - Num vou... Num tá certo.
DONATO: - Tô prdeno a paciência com ocê. Oxê! Deixa de ser mal criada e obedece teu pai.
NALVINHA: - Num quero...
DONATO: - Enquanto tiver debaixo do meu teto e comendo da minha comida, faz o que eu mando.
NALVINHA: - Por favor meu pai... Num me obrigue a fazer isso não. Num ta certo, num ta.
DONATO: - (Tira o cinto) Vou te mostrar o que é certo...
NALVINHA: - Não meu pai...
DONATO: - Venha cá.
NALVINHA: - Não pai...
DONATO: - Vai aprender a obedecer.
NALVINHA: - Tá bom. Tá bom! Eu faço. Faço!
DONATO: - Assim que se fala. Agora vamo que vou te dizê o que deve ser feito. Quero vê se esse cabra num menti. (Saem)
CENA V
(Entra o Boi Barroso passeando pelo palco, em seguida Vado que acaricia o boi)
CENA VI
VADO: -Eia! Mai que é isso que ta diante deu? É uma santa? Se num é, é tão formosa que inté parece a vige Maria.
NALVINHA: - Vaqueiro, preciso falá com ocê.
VADO: - Mai o que uma moça tão jeitosa quê falá com eu?
NALVINHA: - É que tenho muita afeição por ocê.
VADO: - Oxê! Mai ocê nem me conhece dereito.
NALVINHA: - É que ocê nunca percebeu. Mai sempre fiquei te espiano. Nem que fosse de longe.
VADO: - Diacho! Como é que nunca pecebí?
NALVINHA: - Gosto muito de ocê Vado.
VADO: - Ocê, gosta deu?
NALVINHA: - Mais da conta! Então ocê também gota deu.
VADO: - E apoi...
NALVINHA: - Gosta ou num gosta?
VADO: - Gosto.
NALVINHA: - Então quero uma prova.
VADO: - Por você faço qualquer coisa.
NALVINHA: - Qualquer coisa.
VADO: - É. Qualquer coisa.
NALVINHA: - Pois bem... Então mate o boi Barroso.
VADO: - Que ta me pedino? É brincadeira?
NALVINHA: - Me ama, não me ama?
VADO: - O boi Barroso é o xodó do patrão. Vale ouro.
NALVINHA: - Essa é maior prova de amor que ocê pode me dar. Matar o boi Barroso. (Saem)
CENA VIII
(Entra Barroso em seguida Vado que meio confuso puxa a peixeira e apunhala o boi que cai morto. Arrependido Vado chora)
CENA VIIII
TEOTÔNIO: - Cumpadre Donato... Que devo a honra?
DONATO: - Vim buscar o saco de dinheiro.
TEOTÔNIO: - Como é que é?
DONATO: - Vim cobrar a minha parte na aposta.
TEOTÔNIO: - A troco de que?
DONATO: - Oxê! Pois chame o talzinho do vaqueiro... O vado que o cumpadre diz ser de total confiança.
TEOTÔNIO: - Vado? Vado... (Vado entra de cabeça baixa com o chapem na mão)
VADO: - Sinhô?
DONATO: - Diga ateu patrão a presepada que ocê aprontou. Vamo diga o fim que levou o tão valioso boi Barroso.
VADO: - Eu tava no meu canto/Quando surgiu a filha do Coroné feito uma aparição/
Fez um pedido que rasgou meu coração/Em troca de seu amor me pediu pra matar o tão/formoso boi barroso/Eu disse que não podia, mas se não fizesse/O seu amor não me daria/como sabia que meu amor era pra valer/O que podia fazer?/Sei que o que fiz foi um crime/É que eu tava apaixonado/Foi loucura, errei, eu sei/E por isso devo ser castigado.
TEOTÔNIO: - Barroso! Meu boi precioso.
DONATO: - O danado não mentiu! (Entra Nalvinha chorando arrependida)
NALVINHA: -Vado... Me perdoa. Eu fiz o que fiz por que fui obrigada pelo meu pai.
VADO: - Então era tudo mentira?
NALVINHA: - Não. Eu gosto de ocê de verdade.
TEOTÔNIO: - Então ta tudo claro. Cumpadre ocê trapaceou. E por isso perdeu a aposta.
VADO: - E eu coroné?
TEOTÔNIO: - Ocê fica com o dinheiro da aposta.
NALVINHA: - E ocê me perdoa Vado. O que mais desejo é teu amor.
VADO: - Ocê quer casá com eu?
NALVINHA: - Num tem nada que eu queira mais.
TEOTÔNIO: - Cumpadre Donato... Tô muito envergonhado de ocê. Vado provou ser um homi de briu, tem valo. Num mentiu.
DONATO: - Vou pagá a aposta. Sou um homi de palavra.
VADO: - Coroné Donato, quero pedir a mão de sua filha Nalvinha em casamento.
DONATO: - Se essa é a vontade dos dois... Faço gosto!
TEOTÔNIO: - Então... Viva os noivos!
(Comemoram)
F I M