MENINOS DE RUA
De: Marcondys França
PERSONAGENS:
Padre Romão:
Irmã Júlia: (Professora)
Cadu: (Entre 10 a 12 anos)
Lipi: (Entre 10 a 12 anos)
Nani: (Entre 6 a 8 anos)
Nanda: (Entre 10 a 13 anos)
Guto: (Entre 8 a 10 anos)
Marisa: (Mulher de Fábio)
Fábio:
PRIMEIRO ATO
CENA I
(Na praça)
Acende-se as luzes . Foco no menino deitado no chão enrolado com jornal.
CADU: - Mais uma noite aqui estou eu , este banco frio e duro é minha cama. e este jornal meu cobertor.
-Sou uma pobre criança,esquecida por todos. Oh , meu Deus! Por que tem ser assim? Por que todos me tratam como se eu fosse um marginal? Só você me protege.
(Entra Romão)
ROMÃO:- Ora! Ora! Mas o que temos aqui? Coitadinho! Oh meu Deus quanta injustiça! Que mundo cruel como é que pode uma criança ficar largada , exposta ao frio e a violência. Venha...venha... (Cadu acordo) Hei calma. Qual o seu nome?
CADU: - Cadu.
ROMÃO: -Calma filho... Não lhe farei mau. Não tenha medo. Aposto que você esta com fome. Adivinhei? (Confirma com a cabeça)
CADU: - Sim tenho fome.
ROMÃO:- Eu sabia! Vou levá-lo comigo.
CADU:- Não você não vai me levar pra Fundação Casa.
ROMÃO:- Não, Não é pra esse lugar horroroso que vou te levar. Vou levar você para minha casa.
CADU:- Pra sua casa?
ROMÃO:- Sim filho, pra minha casa. Lá há outras crianças que irão adorar sua companhia.
CADU: - Vou ter uma casa de verdade?
ROMÃO: - Uma casa com muito amor e carinho.
CENA II
(SALA DE AULA – ENTRAM CORRENDO, BRINCANDO)
JÚLIA: - Crianças... Quero todos sentados. (Lipi interrompe)
LIPI: - Nanda eu disse que...
JÚLIA: - Lipi eu estou falando. Já lhe disse que é falta de educação.
LIPI:- Desculpa tia Júlia.
JÚLIA: - Tá bom, mas que isto não se repita. Já lhe ensinei que deve se esperar que a pessoa que estar falando termine pra depois você falar. (Percebe Nanda triste) O que foi Nanda? A tia esta notando uma pontinha de tristeza em seu olhar.
NANDA:- Sabe o que é tia Júlia, é que estou pensando nas outras crianças que ainda estão nas ruas passando fome e frio, que ainda não tem amor, carinho, proteção e principalmente esperança.
NANA: - É tia Júlia você e o padre Romão, nos deram um lar, e junto com esse lar nos trouxeram de volta nossos sonhos.
LIPI: - Hoje podemos dizer que sonhamos com um futuro melhor.
JÚLIA: - É meus pequenos... O menor abandonado é problema sério... Se cada um de nós fizer a sua parte breve teremos um mundo bem melhor.
GUTA: - Tia Júlia, sabe o que era engraçado quando roubávamos éramos considerados trombadinhas, mas quando pedíamos não davam.
JÚLIA: - Posso imaginar o que sofreram nas ruas.
NANDA:- Uma vez fui pedir um trocado a uma senhora e ela me disse: Vai trabalhar trombadinha! Aí me perguntei como vamos trabalhar se ninguém confia na gente?
JÚLIA: - Imagino o quanto deve ter sido difícil, meus pequenos. Não pedirei que esqueçam o passado, creio que é impossível. Mais quero que saibam que a minha intenção juntamente com o padre Romão é mostra que ainda há uma esperança de um futuro melhor e só depende de vocês.
CENA III
(Entra Romão)
ROMÃO:- Boa tarde irmã Júlia?! Boa tarde, crianças?!
JÚLIA:- Boa tarde, padre! As crianças ficam bem agitadas com sua presença. Elas gostam muito do senhor. (Todos pedem benção)
ROMÃO:- Ah! Júlia você não pode imaginar a satisfação que sinto ao vê o sorriso estampado no rosto de cada um. E as aulas como vão?
JÚLIA: - Aqui graças a Deus, tudo bem.
ROMÃO: - Atenção, crianças quero que me escutem! Pois hoje tenho a honra de apresentar a vocês um novo amiguinho. (Chama Cadu) Esse é o Cadu.
TODOS: - Oi Cadu!
JÚLIA: - Oi Cadu!
ROMÃO: - A partir de hoje o pequeno Cadu fará parte da nossa família. Bom, agora gostaria que todos se apresentassem.
NANI: - Eu sou a Nani. E uma honra ter você como irmão!
CADU: - Irmão eu?
NANDA: - Sim irmão Cadu. Aqui somos uma família.
LIPI: - Meu nome é Felipe, mas todos me chamam de Lipi.
GUTO: - Bem vindo Cadu. Eu sou Guto.
NANI: - Augusto!
GUTO: - Ah, cala boca sua nanica!
JÚLIA: - Crianças...
NANDA: - Eu sou Nanda, ou melhor, Fernanda. Bem vindo!
CADU: - Muito obrigado por me aceitarem.
JÚLIA: - Eu sou tia Júlia. Fico muito feliz em recebê-lo em nossa pequena grande família.
CADU: - Obrigado moça!
JÚLIA: - Tia Júlia... Certo? (Estende a mão)
CADU: - Certo! Tia Júlia.
JÚLIA: - Já que todos se conhecem, podem brincar um pouco lá fora, enquanto isso eu converso com o padre Romão.
GUTO: - Vamos Cadu!
LIPI: - É vamos brincar. (Saem)
CENA IV
ROMÃO: - O que houve Júlia, algum problema com as crianças?
JÚLIA:- Podemos dizer que sim.
ROMÃO:- Jesus! Então fale criatura de Deus...
JÚLIA: - O problema é... Nossas reservas de alimentos já estão chegando ao fim.
ROMÃO: - Minha Nossa Senhora! Você já imaginou Júlia, se todos ao invés de jogar comida fora, colaborassem dando aos que necessitam? Seria bem fácil combater a fome. Mas quanto nosso problema, vou dar um jeito.
JÚLIA: - O que vai fazer?
ROMÃO: - Milagres! Vou fazer algumas pessoas honrarem a sua salvação.
JÚLIA: - Padre!
ROMÃO: - O que foi Júlia. Mais alguma má notícia? Não vai me dizer que o pessoal do Conselho Tutelar estiveram aqui... Nos ajudar não sabem, só aparecem para atrapalhar.
JÚLIA: - Não, não é isso padre. O que eu quero dizer é que lhe admiro muito. Padre, o senhor é um santo!
ROMÃO:- Júlia, Júlia! (Saem)
CENA V
(Entram as crianças)
NANDO: - Cadu esse urso eu ganhei no natal, foi tia Júlia que me deu.
NANI: - E eu essa boneca foi à primeira vez que nós ganhamos presentes.
LIPI: - Aí Cadu, vamos jogar bola? (Faz gesto que não)
GUTO: - Você não gosta de jogar futebol ?
CADU: - Quero ficar sozinho; me deixem só. (Saem)
NANDA: - Eu compreendo. Você deve está confuso. Mas depois você verá... Aqui você será feliz. Padre Romão e tia Júlia são boas pessoas e nós também. (Nanda sai)
CADU: - Meu pai do céu obrigado por tudo. Me ajuda a não decepcioná-los. (Sai de cena)
CENA VII
(Marisa encontra-se nervosa)
MARISA: - Fábio...
FÁBIO: - Que foi Marisa?
MARISA: - Fiz o exame.
FÁBIO: - E então? Qual foi o resultado?
MARISA: - Não posso ter filhos, não posso ser mãe.
FÁBIO: - Calma querida. Calma!
MARISA: - Me sinto tão infeliz, Deus tirou de mim o direito de ser mãe!
FÁBIO: - Marisa... Podemos adotar uma criança.
MARISA: - Não é a mesma coisa. Sempre sonhei com um filho. Um filho meu.
FÁBIO: - Calma, sei que é difícil mas...
MARISA: - Nunca vou ter a felicidade de ser chamada de mãe.
FÁBIO: - Ser mãe ou pai vai muito além de colocar no mundo uma criança. Ser mãe, pai, é amar e educar verdadeiramente uma criança.
MARISA: - (Pega a bolsa) - Vou dar uma volta.
FÁBIO: - Marisa onde vai? Você está nervosa.
MARISA: - Fábio, por favor. Eu preciso dar uma volta, preciso ficar sozinha.
FÁBIO: - Está bom. Me prometa que terá cuidado.
MARISA: - Prometo!
FÁBIO: - Eu te amo!
MARISA: - Eu também te amo! (Sai)
FÁBIO: - Que Deus me dê forças para enfrentar essa dura batalha. (Sai)
CENA VIII
CADU: - (Na rua) Ai tia!? Porque você está chorando?
MARISA: - Sabe garoto... As vezes a vida nos prepara cada surpresa.
CADU: - Ninguém chora a não ser por um motivo.
MARISA: - Eu tenho meu motivo. Choro por não poder ter um filho. Choro por não poder ser mãe.
CADU: - Quantas vezes chorei pela falta de uma mãe!
MARISA: - Você não tem mãe?
CADU: - Sempre vivi na rua tia, agora moro naquela paróquia com o padre Romão!
MARISA: - É meu filho às vezes a vida é muito injusta.
CADU: - Você me chamou de filho? (comovido)
MARISA: - Sim acho que chamei!
CADU: - Ninguém nunca me chamou de filho antes.
MARISA: - Como você se chama?
CADU: - Cadu.
MARISA: - Sou Marisa. É um prazer! (Abraça. Chega Fábio)
FÁBIO: - Marisa... O que é isso?
MARISA: - Não Fábio.
FÁBIO: - Xô! Xô! Trombadinha... O que ele lhe fez querida?
MARISA: - Ele não me fez nada de mau.
FÁBIO: - Vamos, aqui é muito perigoso. Tem muito desses trombadinhas!
MARISA: - Fábio não fale assim!
FÁBIO: - Ah! Esses pequenos marginais!
MARISA: - Pare com isso. Ele só precisa de carinho, afeto... Você não pode compreender!
FÁBIO: - Não, não compreendo. Onde que chegar?
MARISA: - Já que não posso ter filho vou adotar um. Vou adotar este garoto!
FÁBIO: - Não acredito! É brincadeira, ou loucura?
MARISA: - Não é brincadeira. Nunca falei tão sério em toda minha vida. Você quer me vê feliz? Então chegou à hora de me provar. Este menino precisa de nós.
FÁBIO: - Não posso. Este moleque viveu nas ruas, pode ser perigoso...
MARISA: - É uma criança, teve sua infância violada. Merece uma oportunidade!
FÁBIO: - Só pode esta louca! Só posso está sonhando...
MARISA: - Não é sonho! Estou segura da minha decisão.
FÁBIO: - Vamos para casa!
MARISA: - Irei com você, mas fique certo que estou convicta do que farei.
FÁBIO: - É mesmo? Então terá que escolher.
MARISA: - Escolher?
FÁBIO: - Sim, escolher. Entre eu ou este ... Menino.
MARISA: - Fábio, não faz assim comigo.
FÁBIO: - Prefere ele? É isto que quer? Pense bem nisto! (Ele sai)
SEGUNDO ATO
CENA I
(Romão lê um versículo)
ROMÃO: - Bem crianças como vocês ouviram, Deus ama a todos nós por igual, seja branco, negro, louro, ruivo, rico ou pobre. Todos são iguais diante de dos olhos de Deus. Temos que aprender a conviver com as diferenças. Espero que não me decepcionem.
NANDA: - Farei tudo para agradar a Deus! Quando for bem grande vou ajudar a outras crianças que vivem nas ruas.
NANI: - Eu quero ser igualzinha a você tia Júlia. Quero ser professora, pra poder ensinar tudo de bom que aprendi com a senhora.
GUTO: - Gostaria de ser o papai Noel, pra poder sai pelas ruas dando presentes às crianças que vivem nas esquinas, debaixo dos viadutos... Abandonadas por toda cidade e não sabem o que significa o natal!
LIPI: - Quero ser muito importante e mostrar a você tia Júlia e ao padre Romão que tudo que estão fazendo por mim não será em vão!
ROMÃO: - E você Cadu?
CADU: - Eu quero acreditar que um dia não mais haverá crianças nas ruas, que ninguém precisará roubar ou ate mesmo matar por um pedaço de pão. Que pessoas não mais precise viver nas calçadas feito animais, humilhadas e ignoradas como se não fossem gente!
ROMÃO: - Filho isso pode deixar de ser apenas um sonho e torna-se realidade se acreditarmos e lutarmos contra a desigualdade social, se fizermos como Jesus nos ensinou, amando ao próximo como a si mesmo, desta forma conseguiremos construir um mundo melhor, onde os direitos da criança e dos adolescentes sairá do papel. Mas enquanto isso não acontece, temos de fazer nossa parte!
JÚLIA: - Estou tão comovida... Vocês disseram tantas coisas bonitas, meus pequenos! Nem sei o que dizer. A única coisa que posso afirmar, é que vocês são muito especiais, e que também tenho aprendido muito. Minha vida não teria o mesmo valor se eu não estivesse aqui. Tia Júlia ama muito vocês!
-Muito bem, agora preciso falar com padre Romão, portanto se comportem! (Saem) Podemos conversar padre!
ROMÃO: - Claro! (Saem)
CENA II
(Cadu está afastado das outras crianças)
CADU: - Não! Eu não fiz nada...
FÁBIO: - Hei calma! Não tenha medo. Sou amigo, ou melhor, quero ser seu amigo. (estende a mão) Não vou lhe fazer mau. Acredite! Meu nome é Fábio. E o seu?
CADU: - (Com medo) Meu nome é Cadu.
FÁBIO: - É um prazer Cadu! Eu gostaria de lhe pedir desculpas por ter sido tão agressivo.
CADU: - Sim eu o desculpo.
FÁBIO: - Minha esposa e eu estivemos conversando e gostaríamos de saber se você gostaria de passar uns dias conosco, e se você gostar pensamos em adotá-lo.
CADU: - Quer dizer que eu... Vou pra uma casa de verdade!
FÁBIO: - Com um pai e uma mãe. (Entra Júlia)
JÚLIA: - Posso ajudá-lo senhor?
FÁBIO: - Sou Fábio. Eu e minha esposa estamos interessados em adotar este menino.
JÚLIA: - Oh, meu Deus! Padre, padre!
ROMÃO: - O que está havendo?
JÚLIA: - Ouça padre.
FÁBIO: - Bom dia padre! Me chamo Fábio e a minha finalidade é...
MARISA: - Fábio!
FÁBIO: - Esta é minha esposa Marisa, ela tem problemas e não podemos ter filhos.
MARISA: - Decidimos então adotar uma criança... E escolhemos o Cadu como nosso filho.
PADRE: - Fico feliz! Não poderiam ter escolhido melhor, o Cadu é um excelente menino. Creio que vocês formarão uma bela família! Cadu arrume suas coisas. (Ele sai)
MARISA: - Padre... Acho melhor voltarmos amanhã para levarmos o menino Cadu. Tudo aconteceu tão rápido...
JÚLIA: - Também acho! Padre ainda não sabemos a opinião do Cadu. Não sabemos como está reagindo a tudo isto!
ROMÃO: - Filhos,fica combinado assim; amanhã vocês voltam e saberão qual a opinião do menino. Tenho certeza que será de seu agrado.
FÁBIO: - Cuidaremos bem do menino.
ROMÃO: - Creio que sim!
JÚLIA: - Se todos os casais que não pudessem ter filhos adotassem uma criança, não haveria tantas nas ruas.
FÁBIO: - Então até amanhã! Vamos querida. Benção padre.
ROMÃO: - Deus os abençoe meus filhos. Vão em paz.
JÚLIA: - Que felicidade padre Romão.
ROMÃO: - Deus nunca abandona os seus. (Saem)
CENA III
(Todos na sala de aula)
JÚLIA: - Bom dia criança! Hoje é um dia muito especial para todos nós, e eu padre Romão gostaríamos muito de conversar com vocês sobre um assunto de muita importância. Ontem para nossa surpresa um casal se interessou em adotar um de vocês... O Cadu... Amanhã poderá ser um de vocês.
ROMÃO: - Nosso querido Cadu vai embora, mas não ficaremos tristes. Ele será feliz com o casal que o adotará. Então eu quero vê todos alegres!
JÚLIA: - Padre, chegaram...
ROMÃO: - Entrem, por favor!
MARISA: - Bom dia, padre!
JÚLIA: - Venha até aqui Cadu.
LIPI: - Cadu, espero que você seja muito feliz!
CADU: - Um dia ainda jogaremos no mesmo time.
LIPI: - Claro que jogaremos no mesmo time. Você sempre será bem vindo!
NANI: - Jamais esqueceremos você Cadu!
CADU: - Eu também Nani jamais esquecerei de tudo que vocês fizeram por mim (tira o boné) Tome meu boné. Pra você lembrar de mim.
CADU: - Nanda cuide bem do Guto, agora ele volta a ser o caçula.
NANDA: - Pode deixar, cuidarei bem dele!
GUTO: - É pra você Cadu. (Uma bola)
CADU: - Não... Eu...
GUTO: - Por favor leve. É pelos bons momentos que juntos passamos.
ROMÃO: - Oh! Oh! Cadu não me olhe assim que eu fico emocionado!
CADU: - Padre Romão... Obrigado por tudo!
ROMÃO: - Agradeça a Deus filho!
JÚLIA: - Cuide-se e seja obediente. Venha sempre nos visitar. Sentirei sua falta!
CADU: - Eu também... (abraça) Eu te amo tia Júlia.
ROMÃO: - Meus filhos cuidem bem desse menino!
MARISA: - Pode deixar padre cuidaremos bem dele. Daremos a ele todo carinho que uma criança precisa.
ROMÃO: - Não tenho dúvidas!
FÁBIO: - Nosso advogado cuidará da documentação. Padre não se preocupe serei um bom pai, ou melhor seremos bons pais.
CADU: - E eu, um bom filho! (Se abraçam e saem)
CRIANÇAS: - Tchau Cadu!
F I M
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