fevereiro 02, 2011

MÃE SEMPRE MÃE (Texto de Teatro)

MÃE SEMPRE MÃE
De Marcondys França

Personagens:
Nice
Gabrielle (filha de Nice)
Ivan (filho adotivo de Nice)
Kátia (amiga de Gaby)
Marcelo (namorado de Gaby)

Primeiro ato
CENA I
Gaby: - (em seu quarto exprementando roupas) É amanhã ... amanhã, o grande dia! Oh, meu Deus! Será que este ficará bom?! E este? É... acho que sim. É só apertar aqui... pronto! Perfeito... Aí meu Deus, e o sapato? Que sapato que vou? Esse não... horrível... também não... merda! Merda, merda, merda... Que droga! Que ódio! (pega outro vestido e corre para o espelho) Não, não... Essa droga tem o tom muito forte. Não combina! (lembra-se) Meu Deus porque não lembrei antes? É isso! O que usei na formatura. (corre e procura) Não, não, não... Aqui?! Aqui está você. Quem diria hein, que um dia você iria servir par alguma coisa. Ah, meu sapatinho de cristal, presta atenção: você me ajudará a brilhar, caso contrário, te jogo no lixo. Ah, Deus se tu existes me fará brilhar, um brilho tão intenso que de uma estrela! Ah, se na vida real fosse como nos filmes onde tudo se acaba bem! Era só esfregar essa poeirinha e logo apareceria um gênio e resolveria todos meus problemas... Meu primeiro pedido? Uma mansão maravilhosa, o segundo, uma linda limosine com chofé e tudo, o terceiro claro dinheiro, muito dinheiro, maney! (coloca o sapato) Droga, eu não me conformo, ô Deus, oque foi que eu fiz pra merecer esse castigo de ser pobre? Tô é ferrada... se cada vez que precisar ir a uma festa tiver que reciclar estes trapos, tô ferrada...
NICE: - (entra distraída) É você filha?
GABY: - Não... Não sou eu... Quem mais poderia ser? Um fantasma?
NICE: - (arruma os sapatos no cesto) Não compreendo por que você está tão nervosa!
GABY: - Você nunca compreende nada! Não mesmo mamãe?
NICE: - Eu só estou preocupada com você filha. Você anda tão nervosa que vai acabar pegando uma gastrite.
GABY: - Não precisa se preocupar comigo dona Nice. Eu vou sobreviver, além do mais estou dispensando qualquer preocupação... Já sou adulta sei me cuidar muito bem. (saindo)
NICE: - Filha onde você vai, vai sair assim... sem jantar? Janta primeiro filha.
GABY: - Estou de regime...
NICE: - Olha como você esta magrinha vai, acabar ficando doente. Que coisa mais medonha, sem pé nem cabeça. Na minha época ninguém fazia esse tau de regime, e vivia todo mundo bem, agora fica aí sem comer, com esse tau de regime par cá, regime par lá, e só se vê um bando de moças magrelas, secas parecendo um bando de varas pau. Gaby...
Gaby: - É por isso que as mulheres de sua época eram na maioria feias, gordas, desajeitadas... Eu é que não quero chegar na sua idade assim.
NICE: - Tá, tá bom. Mais janta primeiro. Já está pronto!
GABY: - Não estou com fome. Tenho de sair. Joga fora, joga!
NICE: - Filha... Toma cuidado. Leva o casaco vai esfri... (Nice senta-se pensativa –música - entra Ivan)

CENA II
IVAN: - Mãe?!
NICE: - Oi filho...
IVAN: - Distraída, mãe?
NICE: - Acho que sim. Me perdi em pensamentos, lembranças coisas assim... Deixa eu ajeitar esse teu colarinho. Deus, como você homens são desajeitados! Onde vai assim, já comeu?
IVAN: - Já comi sim, não pense a senhora que vai me empantofar de comida. Estou indo pra lanchonete...
NICE: - Não acha que está muito cedo?
IVAN: - Eu acho! Mais hoje é dia de movimento, sr. Manuel me pediu par chegar mais cedo. Pelo jeito tão cedo aquele mão de vaca não vai coloca outro no lugar do zezinho. E aí, sobra par mim... (Nice abaixa a cabeça) Que foi mãe, o que está lhe preocupando?
NICE: - Ah, meu filho, me entristece tanto, olhar para os lados e não poder... dar uma vida mais digna a vocês.
IVAN: - Que isso mãe?! O mais importante nós temos, isso a senhora sempre nos deu, que é seu carinho, o seu amor, o seu afeto, sua compreensão, é tudo de melhor que poderíamos receber.
NICE: - Oh, meu filho, você não sabe o quanto é bom ouvir estas palavras tão... amáveis. Deus lhe abençoe meu filho, sempre!
IVAN: - Mãe... eu te amo!
NICE: - Oh, filho, eu também te amo, muito. Você e a Gabrielly são as coisas mais preciosa que tenho nesta vida.
IVAN: - E a Gaby ?
NICE: - Eu não sei o que está acontecendo com essa menina, ela anda irritada, nevosa as vezes chega até ser agressiva. As vezes acho que é esse tal de regime, a menina não come nada, está ficando só coro e osso... daqui a pouco vai sumir!
IVAN: - Não deve ser por isso.
NICE: - Você está sabendo de alguma coisa?
IVAN: - Esquenta não mãe, vai passar... Gaby só está preocupada com algumas provas...
NICE: - Ah, então é isso! Que alívio. Cheguei pensar que... Ivan você acha que a tua irmã tem... vergonha de mim?
IVAN: - Ora dona Nice, quem se envergonharia da mulher mais maravilhosa do mundo?!
NICE: - Obrigada filho. Espero que a Gabrielly pense assim.
IVAN: - É claro que pensa. Do jeito dela, mais pensa tenho certeza. Agora preciso ir, a esta hora aquele velho portuga esta se desgoelando: “Mai s isso é hora de chegar, já ao trabalho, mais tá esperando o que? É por isso que o Brasil não vai par frente”.
NICE: - Vai com Deus filho. Toma cuidado! Ivan... Leva o casaco vai esfriar...
IVAN: - Não mãe não vai esfriar... Boa noite!
NICE: - Boa... (senta ajeita o porta retrato) Meu Deus como o tempo passa tão depressa... Ainda ontem, eram duas crianças correndo nessa sala, brincando ou até mesmo brigando. Ah Gabrielly, quanta falta me faz o tempo que você era criança, as noites que corria para os meus braços amedrontada e me pedia pra lhe abraçar bem forte. São coisas que o tempo não apaga... Hoje você é uma moçona linda... e sou eu que sinto vontade de correr para seus braços e pedir para você me abraçar bem forte. (apaga-se a luz)
(Entra Kátia e Gaby em outro plano)

CENA III
GABY: - E agora Kátia?! O que vou fazer? Eu estou perdida...
KÁTIA: - Ai calma amiga! Não vejo motivo pra tanta tempestade em copo dágua. Não exagera vai... Eu acho que o mais sensato seria você parar de inventar desculpas e apresentar o Marcelo a tua mãe... é isso que ele quer conhecer tua família.
GABY: - Está louca, que família? Chego par ele e apresento: olha esse é meu querido irmão adotivo, profissão: ajudante geral ou ficaria melhor dizer atendente de lanchonete...
KÁTIA: - Balconista.
GABY: - Que seja. O nome não muda a função. Vai continuar sendo piniqueiro, limpando cozinha, banheiro... que orgulho!
KÁTIA: - Qual o problema de ser balconista Gaby? Afinal o trabalho enobrece o homem.
GABY: - No caso do seu pai... é advogado, ganha bem tem prestígio... não é um borra botas de um português grosso e mau educado.
KÁTIA: - Meu pai é um trabalhador como todos os outros. Além do mais o Ivan é muito esforçado é tem futuro!
GABY: - Não sei que futuro...
KÁTIA: - Não vou nem argumentar, você hoje tá é que tá.
GABY: - Tô. E não era pra está?
KÁTIA: - O círculo está se fechando Gaby! O que vai fazer? Não vejo outra saída a não ser apresentar ele a sua mãe.
GABY: - Você está brincando né? Ficou louca, tá maluca, pirou? Pois eu não enlouqueci ainda não. O que o Marcelo vai acha da sua futura sogra?
KÁBIA: - Gaby minha querida leia meus lábios. Você não vai conseguir esconder sua mãe dele por muito tempo.
GABY: - Mais o quanto eu puder, eu vou...
KÁTIA: - O que aconteceu com dona Nice foi um acidente. Além do mais, eu acho sua mãe, uma mulher extraordinária!
GABY: - Para... pode parar! Imagina a cena, o seu namorado vai a sua casa, e por um defeito de sua mãe ele não toma nem mesmo um copo dágua. Ah francamente, põe-se em meu lugar!
KÁTIA: E então, o que você pretende fazer?
GABY: - Eu e o Marcelo estamos tão bem... ele é fino, educado, tão culto, é impressionante como pode uma pessoa ser tão correta, tão gentil! Me leva a lugares granfinos, onde se tem muita gente importante, de nariz empinado, bem vestidas, como as pessoas na tv. Ah Kátia, ao lado dele eu me sinto uma princesa.
KÁTIA: - Você está apaixonada, não é mesmo?
GABY: - E quem está falando de paixão?! Isola! Digamos que estou envolvida, também com tanto luxo quem não ficaria ?! Além do mais ele é um gato.
KÁTIA: - Um gato inteligente louco pra conhecer sua família.
GABY: - É. E está me pressionado.
KÁTIA: - E?
GABY: - Já pensei numa solução...
KÁTIA: - Qual?
GABY: - E depende da sua ajuda.
KÁTIA: - Da minha ajuda?
GABY: - É... Da sua ajuda.
KÁTIA: - O que você está aprontando?
GABY: - Ele quer conhecer minha mãe, não é?
KÁTIA: - É!
GABY: - Apresento uma mãe que não é minha mãe.
KÁTIA: - Calma aí! Eu não capitei...
GABY: - Vamos apresenta-lo a sua mãe.
KÁTIA: - Mais é sua mãe que ele quer...
GABY: - Ele não precisa saber...
KÁTIA: - Gaby, isso é loucura! Não dará certo.
GABY: - Claro que dará! Tem que dá certo, além do mais essa é minha única solução, ou melhor, minha única salvação.
KÁTIA: - Você por acaso já parou par pensar nas conseqüências que essa sua idéia maluca irá carretar? E quando ele descobrir, e amoral da minha mãe como fica nessa história?
GABY: - Onde sempre esteve. É uma causa justa!
KÁTIA: - Justa?
GABY: - Não seja melodramática é coisa de segundos. Não custa nada! E eu minha amiga ficaria muito grata.
KÁTIA: - Não, não, não e não Gaby.
GABY: - Por favor... amiga...
KÁTIA: - Não posso concordar, não posso nem devo fazer isso. Alimentar sua mentira só trará má conseqüências. Imagina Gaby, desista dessa idéia, concordar com você, é loucura!
GABY: - Pensei que fosse minha amiga.
KÁTIA: - E sou.
GABY: - Não Kátia. Você não é minha amiga. Agora vai embora da minha casa. Estou com dor de cabeça.
KÁTIA: - Gaby... Você está me espulsando?
GABY: - (de costa) Se é assim que define, estou.
KÁTIA: - Você sabe o que esta fazendo?
GABY: - Ô garota? Acho que não preciso mostrar o caminho.
KÁTIA: - Muito bem... já entendi.
GABY: - Demorou!
KÁTIA: - É assim que você define vários anos de amizade. (sai)
GABY: - Chata! Amiga viralata, amiga da onça, amiga como você o mundo está cheio... Comigo é assim, ou joga no meu time, ou joga contra! (Entra Ivan)

CENA IV
IVAN: - O que houve com a kátia? Passou por mim feito um jato, nem me cumprimentou ...
GABY: - O que você quer também, vai querer me interrogar agora é? Era só o que me faltava! Minha vida não lhe diz respeito, além do mais você não passa de um lambe pratos aqui nesta casa.
IVAN: - Ei, calma ai! Desculpa né!? Também não precisa descarregar sua raiva em cima de mim. Eu só tinha a intenção de saber o que está acontecendo com a mamãe... ela anda tão triste.
GABY: - Mamãe, mamãe, mamãe, tudo mamãe! Não sei por que você gosta tanto dessa mulher?!
IVAN: - Meu Deus do céu! Como você pode falar assim?! Essa mulher a que você se refere com tanto desprezo, é tua mãe.
GABY: - grande coisa! Não precisa me lembrar. Será que não percebe que quero me esquecer?
IVAN: - Como você pode ser tão mesquinha? Tão injusta, pobre de espírito. Essa mulher a quem você se refere, faz tudo por você, abre mão da própria vida por sua felicidade, pelo seu bem, ela te ama Gaby mais que tudo nesta vida.
GABY: - Nunca pedi pra me amar, ama porque quer...
IVAN: - Que tipo de ser humano você é? A pessoa que abre a boca par disparar tantas asneiras quanto essas, só pode ser considerada um monstro. Posso ser apenas um filho adotivo, mais eu a amo como se fosse minha verdadeira mãe, desde que minha mãe morreu, ela me acolheu de braços abertos, e tem me tratado com amor, carinho, igualdade... por isso a amo como se fosse minha mãe!
GABY: - Bravo, bravo! O filho portiço que se sente parte da família, sangue do meu sangue... é comovente, se eu não fosse tão forte me desmanchava em lágrimas.
IVAN: - É difícil alguém como você com coração tão duro entender...
GABY: - Ih, vamos parando, já chega... que coisa mais chata!
IVAN: - Gaby...
GABY: - Cala a boca. Agora é você que vai me ouvi. Amanhã será a festa do colégio... a grande festa de formatura...(com desprezo)
IVAN: - Você já avisou a mamãe?
GABY: - Não irei a festa.
IVAN: - Se for por causa da roupa, eu tenho alguns trocados e você pode comprar...
GABY: - Se você puder comprar outra mãe...
IVAN: - Gaby! Você não pode está falando sério.
GABY: - Ivan, como é que vou entrar naquele salão repleto de mães e filhas? Assim que eu entrar, todos olharão em minha direção... por que? Serei a mais bonita, ou minha mãe a mais encantadora? Claro que não! E quando olharem praquele modelito horrível dela? O que será de mim? Não quero nem pensar.
IVAN: - Horrível sim...
GABY: - Tá vendo, até você concorda.
IVAN: - Mais só pode ser horrível... pois ela deixa de comprar pra ela para poder dar o melhor a você.
GABY: - Ora Ivan, francamente! Isso não justifica o mau gosto. Parece que estou vendo ela entrando com aquele óculos enorme que mais parece um para-brisa de caminhão, isto sem se falar no coque, o coque! Isso me mata...
IVAN: - Se alguém me dissesse, eu juro que não acreditaria.
GABY: - E na hora do jantar? Quando todos estiverem na mesa... não irão agüentar jantar, terão nojo, das mãos... dos braços... talvez até me apelidem... “A filha da mãe das mãos queimadas” Que vergonha.
IVAN: - Juro que não consigo entender! Não sei como de uma mulher tão boa, pode sair uma peçonhenta igual a você.
GABY: - Fora! Fora, seu, seu... Ninguém pediu sua opinião. Ir a festa com ela nunca. (sai)

CENA V
(Nice costurando)
NICE: - Aí meu dedo (campanhia)
KÁTIA: - Oi Dona Nice, como vai?
NICE: - Bem, obrigada! Entre, senta aí... fique a vontade, vou buscar um cafezinho...
KÁTIA: - Não, não obrigada! Não precisa se incomodar comigo dona Nice.
NICE: - Que isso minha filha incomodo nenhum. (pega o café)
KÁTIA: - Obrigada.
NICE: - Que cabeça a minha... sempre esqueço que vocês jovens preferem um suco. Só eu mesma!
KÁTIA: - Que isso dona Nice, seu café está maravilhoso.
NICE: - Estou aqui costurando este vestido, a Gabrielly pensa que não me lembro, que no colégio vai haver a festa de formatura. Todos os anos tem festa das mães, eu nunca pude ir devido as minhas queimaduras... mais este ano vou surpreende-la. Estarei toda orgulhosa ao lado da minha filha.
KÁTIA: - Como tudo aconteceu dona Nice?
NICE: - Não vamos falar nisso filha, é uma história muito triste.
KÁTIA: - Desculpe-me. Sinto muito mesmo!
NICE: - Sofri muito... mais valeu apena.
KÁTIA: - Não entendo. Como assim, valeu apena?
NICE: - Esse foi um preço que paguei par salvar uma vida. (se emociona)
KÁTIA: - A Gaby lhe comentou sobre a festa?
NICE: - Ainda não. Mais com certeza logo irá me falar. Ah, Kátia! Minha Gaby é tão meiga... tão bonita... inteligente... me orgulho de Deus ter me escolhido para ser mãe da Gabrielly.
KÁTIA: - Nem precisa falar, nota-se isso em seu olhar, em cada gesto seu. E a Gaby está?
NICE: - Dormindo. Dorme feito um anjo!
KÁTIA: - É está na hora de ir...
NICE: - Fique para o almoço...
KÁTIA: - Um outro dia.
NICE: - Kátia o que você acha deste vestido? Acha adequado pra formatura da Gaby?
KÁTIA: - Está ficando maravilhoso, mais infelizmente tenho que ir.
NICE: - Eu lhe acompanho até a porta...
KÁTIA: - Obrigada.
NICE: - Até logo e obrigada pela visita. Quando a Gaby acordar direi que esteve aqui.
KÁTIA: - Não. Não será necessário. Eu só passei par dizer olá. Tchau, dona Nice!
NICE: - Vai com Deus filha. E apareça. (fecha a porta) Que moça educada! (entra Ivan)

CENA VI
IVAN: - Mãe, falando sozinha?
NICE: - Falar sozinha as vezes filho, faz bem.
IVAN: - O que a senhora está fazendo?
NICE: (fala baixo) – Um vestido para ir á formatura da tua irmã. Então o que acha, como está ficando? (não responde) filho estou falando com você.
IVAN: - Ah! Tá lindo. Ficou ótimo, muito bonito. Gaby já comentou sobre a festa?
NICE: - Ainda não... acho que ela quer fazer surpresa.
IVAN: - É ela é mesmo uma caixinha de surpresa... Deixa eu ir mãe se não vou me atrasar.
NICE: - Vai com deus meu filho. (T) Ivan?
IVAN: - senhora?!
NICE: - Já almoçou?
IVAN: - O que a senhora acha?!
NICE: - Não sei... só falta você me aparecer com esse tal de regime e ficar parecendo um esqueleto!
IVAN: - Sabia que a senhora é a mãe mais incrível do mundo!?
NICE: - Mentira... só diz isso par me agradar!
IVAN: - Ora mãe, eu juro que estou falando a verdade.
NICE: - Está bom filho, eu acredito.
IVAN: - Tchau, Tchau, Tchau...
NICE: - Tcháu ... Eles cresceram... mais nunca deixará de ser minhas crianças...

CENA VII
NICE: -(entra Gaby) Bom dia filha, já tomou o seu café?
GABY: - Já.
NICE: - (escondendo o vestido) Gaby, eu vou no mercado comprar alguma coisa e...
GABY: - Vai. Não se preocupe de vir logo, pode comprar suas coisas bem devagar, não tenha pressa, veja a validade dos produtos, compare os preços... não se preocupe comigo estou bem crescidinha, sei me cuidar muito bem. E adora ficar sozinha.
NICE: - Na geladeira tem leite e no fogão uns biscoitos que fiz par você...
GABY: - Tá, tá bom... (Nice sai)
(Gaby ouvi a campanhia)
GABY: - Marcelo? Você aqui?
MARCELO: - Não vai me convidar para entrar?
GABY: - Claro! Entra...
MARCELO: - Que cara é essa Gaby? Até parece que não gostou da surpresa.
GABY: - Claro que não é isso Marcelo... é que aqui está tão quente! O que acha de nós ir- mos até a praça, tomar um sorvete... respirar um pouco?
MARCELO: - Não. Eu acho aqui bem agradável. A menos que você não quero que eu fique, mais como essa possibilidade é remota... ou você esta escondendo algo, e não que eu veja...
GABY: - Imagina Marcelo! É que minha mãe... é minha mãe está... ela está com... sarampo. É, é isso ela está com sarampo. Você nunca teve sarampo, teve?
MARCELO: - Não que me lembre.
GABY: - Pois é! Pega pelo ar. Então vamos antes que você pegue e eu me sinta culpada.
MARCELO: - Eu não tenho medo. Calma amozinho, que pressa é essa? E eu vim aqui pra conhecer minha futura sogra.
GABY: - A minha mãe?
MARCELO: - Só tenho uma namorada, e pelo que sei, pelo menos de minha parte, estamos namorando, ou não?
GABY: - Claro!
MARCELO: - Já estamos juntos a algum tempo, e acho que está na hora de conhecer sua família...
GABY: - Ah, Marcelo, hoje não... Por favor! Coitadinha da minha mãe, ela está tão desajeitada, doença é fogo! E do jeito que ela é vaidosa não me perdoaria jamais. Quem lhe deu meu endereço?
MARCELO: - Eu prometi não revelar. Mesmo porque foi contra vontade!
GABY: - Foi ela! Foi aquela recalcada da Kátia, não foi?
MARCELO: - Gaby, o que importa é que eu estou aqui, bem pertinho de você. Estava com saudades sabia? É também eu queria saber onde minha gata mora.
GABY: - Custava Ter avisado Marcelo?
MARCELO: - Aí não seria surpresa! Que importa, é que estou aqui com você... (entra Nice)
NICE: - Bom dia?!
MARCELO: - Bom dia!
GABY: - Maria!? Maria, que bom que você chegou mamãe está queimando de febre, acho melhor você ir lá dá uma olhada, porque eu não sei o que fazer. Acho que ela está precisando de sua ajuda... (empurrando)
NICE: - Que isso menina?! Gaby... Seu amigo não quer um cafezinho, um...
MARCELO: - Não obrigado! Não precisa se incomodar senhora.
NICE: - Se precisar de alguma ciosa... que isso Gaby!
GABY: - Maria vai logo. Cuide bem da mamãe, tá Maria?
MARCELO: - Simpática.
GABY: - Quem, a Maria?
MARCELO: - Sua mãe. Brinca sempre assim com ela?
GABY: - Maria? Maria é minha empregada. Minha mãe como já havia lhe dito está doente, está com... com, com...
MARCELO: - Meu Deus gaby! Como agente se engana com as pessoas. Você me acha tão burro assim? Eu pensei que você diferente, mas me enganei. A pessoa que se envegonha da própria mãe, jamais será, ou fará, alguém feliz. Meu Deus Gaby, como você tem coragem de fazer essa ceninha ridícula?
GABY: - Cuidado como você fala comigo... não esqueça que você está dentro da minha casa.
MARCELO: - Pensa que sou o que? Um idiota?! Essa mulher que você praticamente expulsou da sala, não é sua empregada coisa nenhuma. É sua mãe!
GABY: - Vá embora Marcelo. Sai da minha casa. Vamos, fora! Some. Desapareça!
MARCELO: - Você é doente garota.
GABY: - Doente é você. Seu grosso! Estúpido. (ele sai)
NICE: - (entra) Eu trouxe um cafezinho passado na hora com biscoitos pra vocês... Ué! Cadê seu amigo filha?
GABY: - Vê se está no meu bolso... Tudo por sua culpa. Se não fosse por você, nada disso teria acontecido.
NICE: - Filha... (Gaby derruba a bandeja)
GABY: - Vê se me esquece pelo amor de Deus! (sai)
NICE: - Meu Deus!? Gaby, espere... (t) O que fiz de errado? Minha Nossa Senhora! Que está acontecendo com minha filha, será droga? (entra Ivan)

CENA VIII
IVAN: - Mãe o que aconteceu com a Gaby? Parecia um furacão!
NICE: - Tua irmã está tão esquisita! Ivan você acredita que ela me pediu para esquece-la. Eu juro que não queria atrapalhar.
IVAN: - Oh, mãe...
NICE: - Eu tive culpa! A culpa foi minha.
IVAN: - Não! Eu tenho certeza que não mãe. A única culpa que a senhora tem, é de ser tão boa, ao ponto de tirar de sua própria boca pra alimentar quem não merece.
NICE: - Não meu filho não fale assim. Gaby é minha filha e é minha obrigação...
IVAN: - Não é não! A senhora não deve passar a vida inteira se matando por uma pessoa que só lhe faz sofrer, e que tem...
NICE: - Vergonha de mim?!
IVAN: - Mãe...
NICE: - Você também tem vergonha de mim Ivan?
IVAN: - Como é que eu poderia ter vergonha de uma mulher como a senhora? Tão boa, carinhosa... que me tirou do sofrimento, esteve ao meu lado sempre que precisei. Desde que minha mãe morreu a senhora passou a ser minha mãe. Com a senhora aprendi tudo que sei sobre amor e respeito. (abraça) Como poderia sentir vergonha de alguém tão especial? Eu tenho é muito orgulho de ser chamado seu filho!
NICE: - Oh, meu filho! Você não faz idéia do quanto eu precisava ouvi estas palavras.
IVAN: - Descanse um pouco mãe. Eu falo com a Gaby.
NICE: - Não. Eu falo com ela! Hoje eu tenho muito que conversar com essa menina. Por mais difícil que seja pra mim, mas de hoje não passa...
IVAN: - Eu tenho muita pena da gaby!
NICE: - Ela mesmo terá depois da conversa que terei com ela.
IVAN: - Tem certeza que não quer que eu...
NICE: - Tenho. Boa noite meu filho!
IVAN: - Boa! ( Nice anda de um lado pra outro, aos pouco a luz vai se apagando – ascende )

CENA IX
IVAN: - Mãe?... Mãe...
NICE: - Ivan?! Oh, meu filho acho que adormeci!
IVAN: - Oh mãe!
NICE: - As minhas costas está me matando! Acho que dormi de mau jeito!
IVAN: - A senhora acha? Eu tenho certeza! Acho melhor a senhora ir pra cama descansar um pouco já que passou a noite neste sofá.
NICE: - A noite? Já amanheceu? Meu Deus, já é dia! Gabrielly passou por mim e eu nem...
IVAN: - A gaby não voltou.
NICE: - Não voltou? Como não voltou?
IVAN: - Passou a noite fora.
NICE: - Deus! Será que aconteceu...
IVAN: - Não mãe, não aconteceu nada com a Gaby. Mãe descanse um pouco.
NICE: - Como posso descansar Ivan, sem saber da tua irmã?
IVAN: - Ela está bem mãe, confie em mim, estou dizendo. Daqui a pouco ela vai entra por está porta com a cara mais cínica do mundo!
NICE: - E se...
IVAN: - Mãe para,notícia ruim corre rápido!
NICE: - Espero que você tenha razão. Vou tomar um banho frio pra despertar. (sai)

CENA X
IVAN: - Gaby, Gaby... O que você está aprontando?! (ouve a campanhia)
KÁTIA: - Bom dia Ivan!?
IVAN : - Bom dia! A Gaby dormiu na tua casa?
KÁTIA: - Não.
IVAN: - Já ví que vamos ter dor de cabeça. O que será que esta garota está aprontando agora?
KÁTIA: - Não sei Ivan, não faço a menor idéia! Sua irmã é imprevisível. Mais o que me traz aqui é sobre sua mãe. (Nice ouve por traz da porta)
IVAN: - Minha mãe?
KÁTIA: - É! Eu tive conversando com ela ontem a tarde... e ela estava preparando um vestido para ir a formatura... Ivan, você precisava ver o entusiasmo e a alegria que sua mãe estava sentindo ao demonstrar o vestido pra mim, eu pude contemplar o brilho prazeroso que iluminava os olhos de sua mãe ao me mostrar aquele vestido tão simples, mas feito com tanto carinho para acompanhar gaby nesta festa. Mas acontece que Gaby não...
IVAN: - Monstro! Cruel, injusta... É isso que ela é.
KÁTIA: - Tua mãe ama tanto a Gaby...
IVAN: - Eu sei...
KÁTIA: - Mas a Gaby não vai querer que sua mãe a acompanhe. Ela morre de vergonha!
IVAN: - Que raiva!
KÁTIA: - Ivan, precisamos fazer alguma coisa.
IVAN: - Eu sei, Mas não consigo pensar em algo... o que menos quero é que minha mãe se machuque.
KÁTIA: - Será que você não conseguiria convencer Gaby de ir com dona Nice a festa?
NICE: - Não vai precisar!
KÁTIA: - Dona Nice?!
IVAN: - Mãe...
NICE: - Nada do que vocês estão falando é novidade pra mim. Obrigada pela preocupação de vocês por mim, Mas está dor que estou sentindo aqui em meu peito é só minha, e de mais niguém...
IVAN: - Mãe...
NICE: - Talvez o tempo possa cicatrizar está ferida que doi mais que as queimaduras que sofri.... Deixe-me só.
IVAN: - Mãe...
NICE: - Por favor!
KÁTIA: - Vamos Ivan. (saem – música – entra Gaby)

CENA XI
NICE: - Quero falar com você.
GABY: - Não temos nada a falar!
NICE: - Temos muito o que falar, ou pelo menos eu tenho muito a lhe dizer!
GABY: - Eu não quero ouvi, não quero falar com você, se pudesse nem mais olharia na tua cara... (Nice dar um tapa na cara de Gaby) Por que você não me deixa em paz?
NICE: - Você tem vergonha de mim não é? Mas talvez você queira saber como eu fiquei assim... por que ando desse jeito? Por tua culpa... se ando maltratada, é pra que você possa andar assim, bem vestida... se meus cabelos são secos e quebrados, minhas unhas feias e roidas é de tanto esfregar roupas dos outros pra não te faltar absolutamente nada...
GABY: - Pare... pare, pare... eu não quero ouvir! (tapa os ouvidos)
NICE: - Mais vai me ouvi por bem ou por mau (tira as mãos dela do ouvido) é vergonha que sente de mim, não é? Tem vergonha por que sou assim com as mãos queimadas, não é? Sabe por que isso me aconteceu, sabe?
GABY: - (de costa) Não me interessa! Não mudará nada... (Nice a empurra)
NICE: - Sua ingrata!
GABY: - Eu te odeio!
NICE: - (outro tapa) Será que você não tem sentimentos?
GABY: - Fala logo e me deixa em paz, não suporto mais está humilhação. Será que já não basta ontem a tarde?
NICE: - Naquela noite eu já estava qualse dormindo... era uma noite aparentemente tranqüila. Quando ouvi gritos, choros desesperados, então me levantei e sai para ver o estava acontecendo. A casa de frente estava pegando fogo, gente corriam pra todos os lados com baldes cheios d`água. Derrepente ouvi o choro de um bebê em meio as chamas, ninguém ali tinha coragem de enfrentar as chamas e salvar aquela pobre e inocente criança. Então tomei a decisão, eu não podia ficar ali parada, entrei na casa, enfrentei o fogo e a fumaça, e consegui chegar até o berço onde estava a criança, o calor era insuportável, tudo desabava ao meu redor... Uma tocha de fogo ia cair em cima do bebê... não tive tempo de pensar... quando percebi, estava com aquela tocha em meus braços... consegui desviar do berço... naquele momento eu não conseguia sentir dor, eu só queria salvar a criança. Peguei um cobertor enrolei a criança a peguei em meu braços e me desviando do fogo, da fumaça consegui, não sei como salvei aquela vida. Foi por pouco... em menos de dez segundos a casa desmoronou. Foi quando alguém tirou a criança dos meus braços, e eu chorava feito uma louca, de emoção... de dor... Só então percebí que meus braços estavam todos queimados.
GABY: - Quem é...
NICE: - Essa criança é a pessoa que eu mais amo neste mundo, e a que mais me despreza.
GABY: - Não... Não! Essa crian... (soluços) não sou eu?
NICE: - O que é a vida! Sim, é você Gabrielly.(vira pra sair)
GABY: - Mãe... oh, mãe! Me perdoa? Pelo amor de Deus! Me perdoa...
NICE: - Sim Gabrielly, eu lhe perdôo. Apesar de todas as lágrimas que você me fez derramar, eu te perdôo. Em nenhum momento por mais magoada que estivesse, eu pude deixar de lhe amar. Você pode não ser sangue do meu sangue, nem carne da minha carne. mas é filha do coração. Seu pais biológicos, não conseguiram... Mãe filha, não guarda rancor. O Amor de mãe é sublime, é puro, é sincero, verdadeiro... é algo que jamais se esgota. Gaby, mãe é sempre mãe! (se abraçam)
F I M

REPÓRTER GLOBAL RETORNA APÓS CIRURGIA

A repórter Global Ananda Apple retoma ao trabalho no Quadro Verde, do Bom Dia São Paulo, após mais de dois meses afastada da Gl...