fevereiro 02, 2011

NÃO AMARAS (Texto de Teatro)

NÃO AMARAS
De: Marcondys França

Personagens:
Linda
Gualberto: Marido de Linda
Olavo: Irmão de Gualberto
Hortênsia: Madrasta de Gualberto
Dona Elza: Avó Paterna de Gualberto
Nina: Empregada de Confiança
Sr. Epitácio: Pai de Hortênsia
Nicó: Empregado da Fazenda

Primeiro Ato
Cena I
(Nina entra apressada com uma carta na mão)
NINA: -Dona Elza... Dona Elza!
Dnª. ELZA: -Que foi menina? Que afobamento é esse?
NINA: -Veja. (Mostra uma carta) É de Seu Gualberto. É pra senhora!
Dnª. ELZA: -Dei-me isso. (abre)
NINA: -Então?
Dnª. ELZA: -Então, o que?
NINA: -Que diz?
Dnª. ELZA: -Ora, está! Era só o que faltava! Vai cuidar de seus afazeres.
NINA: -Com licença!
Dnª. ELZA: - (Beija a carta) Enfim, você está voltando meu neto. Ah, Gualberto! Só você tem pulso firme para segurar as rédeas dessa família.
HORTÊNSIA: -Deu pra falar sozinha Dona Elza?
Dnª. ELZA: -Apenas estou pensando alto. Antes só que mal acompanhada.
HORTÊNSIA: -Nossa! Quanta amargura.
Dnª. ELZA: -Ao contrário de você não tenho muito que comemorar.
HORTÊNSIA: -A senhora nunca gostou de mim. Nunca teve um só gesto de gentileza. Se me aturava era pelo Eurico.
Dnª. ELZA: -Você nunca me enganou menina. Pensa que não sei tudo sobre você e sua família?!
HORTÊNSIA: -Não admito qualquer comentário sobre minha família.
Dnª. ELZA: -São todos um bando de sangue sugas!
HORTÊNSIA: -Não se esqueça que a senhora está dentro da minha casa e me deve respeito.
Dnª. ELZA: -Na casa que meu filho construiu com muito trabalho para deixar para seus filhos...
HORTÊNSIA: -Sou viúva de Eurico. Aceite à senhora ou não, esta casa e tudo que foi dele agora me pertence.
Dnª. ELZA: -Você nunca o amou.
HORTÊNSIA: -Não diga o que não sabe.
Dnª. ELZA: -Não sou cega, nem tão pouco débil mental!
HORTÊNSIA: -Deveria ser surda e muda. Só assim não diria, nem ouviria que não deve.
Dnª. ELZA: -Por que não pega o que lhe é de direito e desaparece de nossas vidas...
HORTÊNSIA: -Se me minha presença lhe incomoda, por que não sai você? Como já lhe disse, estou em minha casa!
Dnª. ELZA: -Sei as coisas horríveis, que andou fazendo nas costas do meu filho.
HORTÊNSIA: -Cale a boca! (Entra Olavo)
OLAVO: -O que está acontecendo aqui?
Dnª. ELZA: -Nada não! (sai)
OLAVO: -Que acontece?
HORTÊNSIA: - Essa velha não perde a oportunidade para me importunar...
OLAVO: -Gostaria que escolhesse melhores palavras para falar de minha avó.
HORTÊNSIA: -Me odeia! Sempre me odiou.
OLAVO: -Ciúmes!
HORTÊNSIA: -Faça-me rir!
OLAVO: -É ciúme! Você conquistou o filho, e o neto.
HORTÊNSIA: -Não fale assim. Alguém pode escutar.
OLAVO: -Qual o problema? Você agora é viúva. Uma Linda viúva!
HORTÊNSIA: -É que não pega bem. Imagine se sai algum comentário sobre nós?
OLAVO: -Sou solteiro e você viúva.
HORTÊNSIA: -Viúva de seu pai. Do jeito que esse povo fala. Vão dizer que mantínhamos um caso antes mesmo de seu pai falecer.
OLAVO: -Hoje posso lhe fazer uma visita?
HORTÊNSIA: -Deus me livre! Enlouqueceu Olavo? Teu pai mal esfriou o corpo!
OLAVO: -Mais quente que o meu lhe garanto que não está. (Entra Nina)
NINA: -Licença. Dona Hortênsia que devo fazer para jantar?
HORTÊNSIA: -Ora Nina, a velha Elza sempre cuidou do cardápio pessoalmente.
NINA: -Perguntei a Dona Elza, mas ela me pediu para perguntar a senhora.
HORTÊNSIA: -Faz qualquer coisa Nina. Faz um daqueles pratos que você está acostumada a fazer.
NINA: -Tá bom! (Sai)
OLAVO: -Não me deu resposta.
HORTÊNSIA: -Ainda é cedo. Quando for o momento te avisarei. Portanto meu caro, vê se segura a onda e não põe tudo a perder. (Sai)
OLAVO: -Que diacho! (Sai)

Cena II
(Em outro plano aparece Nina e Elza)
Dnª. ELZA: -Então menina, que teremos para jantar?
NINA: -Segundo Dona Hortênsia: qualquer coisa!
Dnª. ELZA: -Desde que essa mercenária se alojou nesta casa, nossa família não é a mesma.
NINA: -A senhora tem muito ressentimento, não é mesmo Dona Elza?
Dnª. ELZA: -Essa mulherzinha veio trazer a desgraça para minha família.
NINA: -Não entendo.
Dnª. ELZA: -Será melhor continuar sem entender!
NINA: -Seu Eurico gostava tanto de Dona Hortênsia!
Dnª. ELZA: -O amor minha filha, quando não constrói, destrói!
NINA: -A senhora acha que a morte de Seu Eurico não foi um acidente?
Dnª. ELZA: -Se não fosse por ela... Nada disso teria acontecido. Deus sabe o quanto eu temia uma desgraça... (Nina faz uma mistura de água com açúcar) É como eu pressentisse... Meu filho! Pobre Eurico. Deus deveria ter me levado primeiro. As mães não deviam presenciar a morte de seus filhos!
NINA: -Mas foi constatado pela investigação que foi um acidente.
Dnª. ELZA: -Um disparo acidental! A vida inteira meu filho manuseou aquela arma...
NINA: -Acidente acontece!
Dnª. ELZA: -Ou são provocados!
OLAVO: -Oh, vó! Chorando novamente? Papai ficaria muito triste se...
Dnª. ELZA: -Eu sei. Prometo não mais chorar. É que sinto falta do teu pai. Ah, meu querido neto! Se você soubesse quanto é difícil pra uma velha mãe ir ao enterro do próprio filho. Deus deveria ter misericórdia, como eu desejaria está no lugar de seu pai! Essa seria a forma mais correta.
OLAVO: -Oh, Dona Elza! Não temos o poder sobre a vida e a morte. Não podemos decidir quem vai antes ou depois.
Dnª. ELZA: -Sei que não. Bom, vamos falar de coisas boas...
OLAVO: -E temos boas notícias?
Dnª. ELZA: -Temos. Teu irmão Gualberto!
OLAVO: -Gualberto? Nunca vou perdoá-lo por não ter vindo ao velório do nosso pai.
Dnª. ELZA: -Não seja tão duro. Teu irmão não veio por que não pode. Se pudesse teria vindo se despedir, dar um último adeus ao pai. Gualberto amava o pai!
OLAVO: -Então escreveu?!
Dnª. ELZA: -Sim. Casou-se.
OLAVO: -Que casamento é esse que ninguém ficou sabendo?
Dnª. ELZA: -Só recebeu o telegrama informando o falecimento do pai quando retornava da viagem de lua de mel. Por isso só agora está vindo para cá.
OLAVO: -Agora é tarde. Papai já foi sepultado!
Dnª. ELZA: -Não, não é tarde! E você sabe disso. Olavo meu querido, não subestime a dor do teu irmão. Você sabe que precisamos de Gualberto para tocar a fazenda...
OLAVO: -Não. Não precisamos dele aqui. Posso muito bem tocar tudo sozinho.
Dnª. ELZA: -Não seja orgulhoso. Afinal esta fazenda também pertence a ele.
OLAVO: -Nunca deu a mínima importância!
Dnª. ELZA: -Agora é diferente. Precisará se importar. E vocês têm que se unirem pra tocar o que teu pai os deixou. Se agirem como inimigos perderão tudo.
OLAVO: -Deveria continuar lá. Sobrevivemos todo esse tempo sem ele. (sai)

Cena III
(Com uma bandeja Nina entra no quatro de Hortência)
NINA: -Sua água
HORTÊNSIA: -(Se penteando) Mas já, tá cedo!
NINA: -Trouxe logo para não esquecer (saindo)
HORTÊNSIA: -Nina !?
NINA: -Senhora.
HORTÊNSIA: -O que a dona Elsa e Otavio estavam conversando lá na cozinha?
NINA: -Senhora eu não fiquei ouvindo...
HORTÊNSIA: -Ora essa Nina! Muito bem,sabemos que você sabe de tudo que acontece nessa casa.
NINA: -Eu juro
HORTÊNSIA: -Que coisa mais feia Nina! Jurar? Deus lhe castiga. Eu não. Posso ser generosa...
NINA: -Se eu soubesse de algo eu...
HORTÊNSIA: - (Tira um vestido) O que acha desse vestido?Custa uma nota. Se quiser pode ser seu. Vê como sou generosa? Poderia a lhe obrigar a dizer tudo que ouviu, a final sou sua patroa.
NINA: - Para quem é este vestido?
HORTÊNSIA: -Você quer?
NINA: -Pra min!?
HORTÊNSIA: -Claro, poder ser seu, sem comprar.
NINA: -Se a Dona Elza souber...
HORTÊNSIA: -Não se preocupe. Ninguém saberá. Ao meu lado você só terá a ganhar!
NINA: -Conversaram sobre Seu Gualberto.
HORTÊNSIA: -Gualberto?
NINA: -Isso.
HORTÊNSIA: -Que tem Gualberto? O que ela disse?
NINA: -Hoje Dona Elza recebeu uma carta de Seu Gualberto.
HORTÊNSIA: -Uma carta?
NINA: -Sim senhora.
HORTÊNSIA: -E o que diz essa carta?
NINA: -Que Seu Gualberto se casou.
HORTÊNSIA: -Casou?
NINA: -É. E não veio ao velório do pai por que estava em lua de mel. Tudo indica que não recebeu o telegrama a tempo! Só agora ficou ciente da morte do pai.
HORTÊNSIA: -Casado!
NINA: -Está vindo pra cá.
HORTÊNSIA: -Sozinho ou com a mulher?
NINA: -Isso, não sei dizer. Mas acredito que venha com mulher!
HORTÊNSIA: -Inacreditável!
NINA: -Sinceramente?! Sempre achei que Seu Gualberto se casaria logo. Afinal, um homem, novo, forte e bonito como ele...
HORTÊNSIA: -Pode ir Nina.
NINA: -Posso? (pega o vestido)
HORTÊNSIA: -Claro. Se eu prometo, cumpro.
NINA: -Nossa! É lindo.
HORTÊNSIA: -É melhor descer antes que a velha sinta sua falta.
NINA: -Posso lhe pedir um favor?
HORTÊNSIA: -Diga..
NINA: -Não conte nada sobre nossa conversa a Dona Elza.
HORTÊNSIA: -Fique tranqüila. Aquela velha rabugenta não saberá de nada. Fingirei que não sei de nada.
NINA: -Sendo assim, fico tranqüila.
HORTÊNSIA: -Agora vá...
NINA: -Com licença! (sai)
HORTÊNSIA: -Casado?!

Cena IV
(Elza serve Olavo)
OLAVO: -Vó, onde está Nina?
Dnª. ELZA: -Servindo aquela imprestável da tua madrasta
OLAVO: -Por que odeia tanto Hortênsia?
Dnª. ELZA: -Não me pergunte o que é óbvio!
OLAVO: -Não entendi.
Dnª. ELZA: -Posso ser velha, mas não sou burra, nem sega!
OLAVO: -Vó, que quer dizer com isso?
Dnª. ELZA: -Coma Olavo. Coma! Boca cheia não diz bobagem. (Entra Nina)
NINA: -Pode deixar que eu sirvo.
Dnª. ELZA: -Pesei que fosse passar o resto da noite lá em cima.
NINA: -Estava arrumando umas coisas no quarto de Dona Hortênsia.
Dnª. ELZA: -É acara dela. Tão preguiçosa que não tem nem coragem de cuidar de suas próprias coisas.
OLAVO: -Não vai chamar Hortênsia pra jantar?
Dnª. ELZA: -Quem sabe não prefere jantar no quarto!
OLAVO: -Pelo a amor de deus Vó, vamos ter um pouco de paz! Sei que todos estamos com os nervos a flor da pele, mas agora temos que pelo menos nos apoiar. E não dar para aturar essa guerrinha de poder entre a senhora e Hortênsia! Desejo um pouco de paz. Só isso peço! Será que é pedir muito?
Dnª. ELZA: -Não. Não é! Nina?
NINA: -Senhora...
Dnª. ELZA: -Vá chamar Hortênsia pra jantar.
NINA: -Sim senhora!
Dnª. ELZA: -Diga que Olavo faz questão que ela desça. (Nina sai. Elza levanta-se lentamente)
OLAVO: -Onde vai vó?
Dnª. ELZA: -Perdi a fome.
OLAVO: -A senhora nem tocou na comida.
Dnª. ELZA: -Aproveite o jantar e a companhia. Não estarei presente para recriminá-los.
OLAVO: -Por favor, fique.
Dnª. ELZA: -Não insista. (Entra hortênsia e Nina)
HORTÊNSIA: -Deixei-a. Se estivesse com fome, comeria.
OLAVO: -Não estou mais suportando este comportamento de vocês!
HORTÊNSIA: -Sua avó deveria ser mais compreensiva. Mas pelo que vejo ela só consegue enxergar a sua própria dor, passando por cima dos sentimentos dos outros!
OLAVO: -Nina nos dê licença.
NINA: -Sim senhor! (Sai)
HORTÊNSIA: -Estou com os nervos à flor da pele. Tua vovozinha me tira do sério. Já a convivência com ela já era difícil com vida, imagina agora com a morte de Eurico!
OLAVO: -Acha que minha avó sabe de nós?
HORTÊNSIA: -Dar-se a entender que sim.
OLAVO: -Isso é mau!
HORTÊNSIA: -Pior se decidir abri a boca. Se contar isso a alguém...
OLAVO: -Contar?
HORTÊNSIA: -É... Contar.
OLAVO: -Gualberto.
HORTÊNSIA: -Que tem Gualberto?
OLAVO: -Está voltando.
HORTÊNSIA: -Voltando? Quando chega?
OLAVO: -A qualquer momento.
HORTÊNSIA: -Acha que sua avó seria capas de contar?
OLAVO: -Espero que não.
HORTÊNSIA: -Sempre fomos tão prudentes! Não sei como ela pode desconfiar.
OLAVO: -Á distância entre você e papai sempre foi gritante. E quanto a nós sempre nos damos bem.
HORTÊNSIA: -Acha que seu pai... Sabia, ou desconfiava de alguma coisa?
OLAVO: -Creio que não!
HORTÊNSIA: -Não acha estranha, a forma que morreu?
OLAVO: -Por que isso agora? Foi um acidente. Ficou provado!
HORTÊNSIA: -Tento me convencer disso todos os dias!
OLAVO: -Não se sinta culpada.
HORTÊNSIA: -Gostaria de tê-lo amado da mesma forma que me amava. Mas por mais que me esforçasse, não conseguia.
OLAVO: -Não podemos controlar nossos sentimentos. Não se martirize tanto! Somos vítimas do destino.
HORTÊNSIA: -Vítimas! Vou subir para meu quarto.
OLAVO: -Hortênsia...
HORTÊNSIA: -Olavo... Hoje não. Desculpe-me. Preciso ficar sozinha. (Ela sai. Ele continua comendo. Entra Nina)
NINA: -O precisa de alguma coisa?
OLAVO: -Não, obrigado! Comer muito faz mal. Nos faz ter pesadelos!
NINA: - (insinuativa) Dizem que tem pesadelos quem dorme tenso.
OLAVO: -Ah, é?
NINA: -É! Conheço uma massagem relaxante que espanta qualquer pesadelo.
OLAVO: -Nina, você...?
NINA: -Estou lhe oferecendo uma massagem! Isto é, se o senhor quiser.
OLAVO: -E teu noivo?
NINA: -Bento? Ah, seu Olavo... Bento não precisa saber. Além do mais, uma massagem não vai tirar nenhum pedaço. Não é mesmo?
OLAVO: -É... Claro que não! Bom, se é assim... (levanta-se vai na direção de Nina e lhe fala ao ouvido) Te espero no meu quarto.
NINA: -É só terminar aqui.
OLAVO: -Vê se não demora.
NINA: -Pode deixar!

Cena V
(Elza está sentada costurando. Ouve palmas. Levanta e vai atender)
NICÓ: -Dona Elza a senhora vai precisar de alguma coisa lá da cidade?
Dnª. ELZA: -Gostaria que me trouxesse uns daqueles potes de geléia de Dona Nininha.
NICÓ: -Pode deixar! Quantos?
Dnª. ELZA: -Três. Diga a Dona Nininha que Olavo acerta com ela.
NICÓ: -Sim senhora. Sabe se Dona Hortênsia quer que eu traga algo?
Dnª. ELZA: -Creio que não. Nina lhe entregou a lista de compras?
NICÓ: -Sim senhora.
Dnª. ELZA: -Então pode ir. Vá com Deus e cuidado.
NICÓ: -Com sua licença. (Sai. Entra Hortênsia)
HORTÊNSIA: -Por acaso a senhora viu Nina?
Dnª. ELZA: -Pensei que estivesse fazendo algum mandado seu.
HORTÊNSIA: -Não há vejo desde ontem à noite.
Dnª. ELZA: -Onde será que se enfiou essa menina?
HORTÊNSIA: -Olavo já acordou?
Dnª. ELZA: -Só se foi mais cedo que eu.
HORTÊNSIA: -Ah! Mais cedo que a senhora, impossível. (Sai)
Dnª. ELZA: -Hum! Acostumada a acordar ao meio dia... (De fora Sr. Epitácio)
Srº EPITÁCIO: -De casa?! Ô de casa?!
Dnª. ELZA: - (Levanta-se) Sr. Epitácio!
Srº EPITÁCIO: -Como vai dona Elza?!
Dnª. ELZA: -Bem, obrigada. Vou levando a vida como Deus quer.
Srº EPITÁCIO: -Hortência está?
Dnª. ELZA: -Sim senhor. Por favor, entre, sente-se.
Srº EPITÁCIO: -Obrigado.
Dnª. ELZA: -Aceita um cafezinho?
Srº EPITÁCIO: -Não precisa se incomodar.
Dnª. ELZA: -Incômodo algum. Só um pouco. Vou chamá-la. (Entra Hortênsia)
HORTÊNSIA: -Pouca vergonha!
Dnª. ELZA: -Que foi?
HORTÊNSIA: - (Vê o Pai) Nada dona Elza, nada!
Dnª. ELZA: -Como nada?
HORTÊNSIA: -Depois nos falamos. Papai! Que vento o traz?
Srº EPITÁCIO: -Saudades filha!
HORTÊNSIA: -Me poupe desse falso carinho. Todos nesta casa sabem muito bem o tipo de relacionamento que temos.
Srº EPITÁCIO: -Ora, minha filha! Isto é jeito de falar com seu pai?
HORTÊNSIA: -Que jeito faria com pai filha que foi dada em troca ao perdão de uma dívida.
Dnª. ELZA: -Vou passar um café.
HORTÊNSIA: -Sr. Epitácio já esta de saída.
Dnª. ELZA: - Mesmo assim vou passar um café. (sai)
Srº EPITÁCIO: -Se eu pudesse voltar...
HORTÊNSIA: -O tempo não volta.
Srº EPITÁCIO: -O que mais quero nesta vida é teu perdão, minha filha.
HORTÊNSIA: -O que o senhor fez com minha vida é imperdoável. Você não só a destruiu como também acabou com todos os meus sonhos eliminou os mais nobres e ingênuos sentimentos que eu tinha.
Srº EPITÁCIO: -não tive alternativa.
HORTÊNSIA: -E eu, papai? E eu? Por acaso tive? Como o senhor acha que uma vida sem amor, cheia de ódio e rancor? Esses são os sentimentos que o senhor me deixou como herança. Um pai, na minha concepção existe para amar e defender seus filhos.
Srº EPITÁCIO: -Sempre lhe amei, como ainda te amo.
HORTÊNSIA: -Que amor é esse que maltrata, humilha e destrói tudo a sua volta?
Srº EPITÁCIO: -Não sofres menos que eu.
HORTÊNSIA: -Não foi você que foi obrigado a se deitar com aquele bode velho. Fui eu! Eu que fui tocada, beijada e apalpada, obrigada a ser mulher de um homem que nunca me inspirou um só sentimento de desejo ou amor. Tudo isso por que? Pra salvar tua pele. Por tua causa hoje me sinto como uma criminosa pecadora, suja sem escrúpulos.
Srº EPITÁCIO: -É melhor eu ir... (Saindo)
HORTÊNSIA: -Ele se casou. (Ele para) Esta voltando para essa casa e trazendo consigo sua mulher.
Srº EPITÁCIO: -Sinto muito.
HORTÊNSIA: -Sente?
Srº EPITÁCIO: -Sinto. E se você querer voltar pra casa...
HORTÊNSIA: -No seja ridículo! Esta é minha casa.
Srº EPITÁCIO: -Mas se as coisas ficarem muito feias por aqui, você...
HORTÊNSIA: -Nada pode ser mais feio do que fez. (Ele abaixa a cabeça e sai)
Dnª. ELZA: - E seu Epitácio?
HORTÊNSIA: -Já foi.
Dnª. ELZA: -Mas já! Nem se despediu. Pensei que fosse...
HORTÊNSIA: -Nina não dormiu no quarto dela.
Dnª. ELZA: -Não? E onde dormiu essa menina?
HORTÊNSIA: -A senhora é engenha ou se faz? Pelo amor Deus! É claro que Nina dormiu no quarto de Olavo.
Dnª. ELZA: -E Olavo?
HORTÊNSIA: -É quaro que...
Dnª. ELZA: -Não isso não é possível.
HORTÊNSIA: -Canalha!
Dnª. ELZA: -Meu filho é livre. Ela é que devia se cuida.
HORTÊNSIA: -ela é que devia se cuida?
Dnª. ELZA: -É, depois que pegar um bucho, já era.
HORTÊNSIA: -E se pega bucho sozinha?
Dnª. ELZA: -Ele é homem.
HORTÊNSIA: -Meu Deus! Não vou acreditar que tenho eu de ouvir isso.
Dnª. ELZA: -(Resmunga) Depois fica desmantelada. Ai eu quero vê! Vou lá no quarto de Olavo, quero vê a cara dessa desavergonhada.(sai)

Cena VI
OLAVO: -Perdi a hora!
HORTÊNSIA: -Pelo jeito a farra foi boa.
OLAVO: -Agente se vira como pode.
HORTÊNSIA: -Você não se envergonha Olavo?
OLAVO: -Vergonha de que?
HORTÊNSIA: -Na minha própria casa!
OLAVO: -Esta também é minha casa. E como você estava indisposta tive de aliviar...
HORTÊNSIA: -Você não presta!
OLAVO: -Se quiser, esta noite...
HORTÊNSIA: -Cafajeste! Nunca mais você me encosta suas mãos!
OLAVO: -Quem vai gostar de saber disso é a Nina!
HORTÊNSIA: -Os dias dela nesta casa estão contados. (sai)
OLAVO: -Que quer dizer com isso? (Vai atrás) Hortênsia...
HORTÊNSIA: -Tire suas mãos de cima de mim. (Sai)

Cena VII
Dnª. ELZA: -Como pode?! Nós confiamos em você. Abrimos a porta de nossa casa para lhe acolher. Tratamos você como se fosse membro da família. E você garota me faz uma presepada dessas? Passar a noite trancada no quarto de Olavo! E se você pega uma barriga? Fica ai toda desmantelada sozinha com um filho nas costas? Acha mesmo que Olavo, aquele irresponsável vai assumir algum compromisso com você? Não seja tola. Será que não percebe que esta sendo iludida por um sonho impossível? Conheço meu neto e posso lhe garantir que só esta lhe usando... Só que se satisfazer seus desejos mais libertinos e no dia seguinte nem lembra que você existe.
NINA: -Me desculpe Dona Elza. Prometo que isso não mais irá se repetir.
Dnª. ELZA: -Tem razão! Não mais se repetira. Você vai sair desta casa.
NINA: -Pelo amor de Deus Dona Elza, por tudo que é mais sagrado... Não me mande embora desta casa.
Dnª. ELZA: -Deveria ter pensado nisso antes Nina.
NINA: -Eu me entreguei a seu Olavo. Poupe-me de qualquer comentário.
Dnª. ELZA: -Eu amo seu neto.
NINA: -Um motivo a mais pra você não permanecer nesta casa. Vamos menina! Arrume suas coisas.
Dnª. ELZA: - (chorando) Por caridade dona Elza... Não faz isso!
OLAVO: -O que esta acontecendo aqui Vó?
Dnª. ELZA: -Nina esta, nos deixando.
OLAVO: -Mas por que?
Dnª. ELZA: -Decidiu que assim será melhor.
OLAVO: -É verdade Nina?
NINA: -Tua avó não quer mais meus serviços.
OLAVO: -Posso saber por que? Vó?
Dnª. ELZA: -Nina não serve para esta casa.
NINA: -Ela sabe de nós...
OLAVO: -Sabe?
Dnª. ELZA: -O que você que? Terminar a tua vida ao lado de uma negrinha má educada cercado por um bando de mulatinhos?
OLAVO: -Também sou dono desta casa. E Nina fica.
Dnª. ELZA: -Pra que? Pra ser sua puta? Deus podia ter me tirado a vida. Só queria que Deus me levasse! Só assim eu descansaria em paz! Minha vida é só desgostos! (Sai)
OLAVO: -Vá enxugar este rosto menina. Ninguém tem o direito de lhe humilhar por ter se deitado comigo. A partir de hoje você é minha protegida.
NINA: -Obrigada seu Olavo.
OLAVO: -Agora volte a seu serviço.
NINA: -Obrigada! (Beija-lhe a mão)
OLAVO: -Não me agradeça. Apenas faça seu serviço. (Ela sai)

Segundo Ato
Cena I
Dnª. ELZA: -Bom dia?!
HORTÊNSIA: -Bom dia, por que?
Dnª. ELZA: -Hoje meu neto enfim retorna. Por esse motivo o dia não poderia ser melhor!
HORTÊNSIA: -Faz tempo que Gualberto se foi... Deve ter mudado bastante.
Dnª. ELZA: -Se saiu ao pai... Está na melhor idade!
HORTÊNSIA: -Como não conheci meu finado marido na melhor idade, não posso afirmar o mesmo.
Dnª. ELZA: -Posso he afirmar com certeza.
HORTÊNSIA: -Mãe é mãe! Opinião de mãe não vale.
Dnª. ELZA: -Guardo algumas fotografias desses momentos do meu filho...
HORTÊNSIA: -Vamos esquecer este assunto.
Dnª. ELZA: -Nicó já foi à cidade buscar Gualberto e sua esposa.
HORTÊNSIA: -Com licença! Perdi a fome.
OLAVO: -Bom dia!
HORTÊNSIA: -Só se for pra você, pra mim está péssimo!
OLAVO: -E olha que o dia está só começando!
HORTÊNSIA: -Por falar em dia, como passou a noite?
OLAVO: -Muito bem, obrigado!
HORTÊNSIA: -Quer dizer que a criolinha continua nesta casa? E a pouca vergonha também!
Dnª. ELZA: -Ah, se ela fosse a única... (Hortênsia sai)
OLAVO: -É vó... Parece que Hortênsia não gostou muito de seus comentários.
Dnª. ELZA: -Se a morte do meu filho ao menos servisse de remorsos para está mulherzinha...
OLAVO: -Vó, não se torture tanto!
Dnª. ELZA: -Sinto que uma nova guerra vai começar nesta casa. E agora será bem pior...
OLAVO: -Que quer dizer?
Dnª. ELZA: -Meu filho... Sou velha, mas, não sou burra, nem tão pouco cega. Sei que você rasta uma asa pra essazinha.
OLAVO: -Isso não é verdade.
Dnª. ELZA: -Pode usar Nina o quanto quiser, mas, jamais ela conseguirá ocupar o lugar que Hortênsia domina em seu coração.
OLAVO: -Ora vó! A senhora está caducando.
Dnª. ELZA: -Teu pai sabia de tudo.
OLAVO: -Tudo o que?
Dnª. ELZA: -Tudo. Sempre soube. E isso o matou!
OLAVO: -Foi um acidente!
Dnª. ELZA: -sabemos que não.
OLAVO: -Me culpa pela morte do meu pai?
Dnª. ELZA: -Você tem sua parcela de culpa. (levanta-se) Se tivesse respeito por ele, não teria se deitado com essa desavergonhada. (sai)
OLAVO: -Droga!

Cena II
NINA: -Seu Olavo?!
OLAVO: -Que é?
NINA: -acho que tua avó tem razão. É melhor que eu saia desta casa.
OLAVO: -Não. Minha avó não tem razão. Que aconteceu entre nós ninguém tem nada a ver com isso. Somos jovens, livres! E se ambos estamos afim, quem são os outros para nos julgar?
NINA: -é melhor parar por aqui. Está ficando muito perigoso.
OLAVO: -Perigoso por que?
NINA: -Quanto mais me entrego a você, mas me apaixono.
OLAVO: -Hei! Não diga isso!
NINA: -Não sou nenhuma rameira. Sou apenas uma mulher apaixonada que precisa de algo mais que sexo. E esse algo a mais você não pode me dar.
OLAVO: -Pensei que gostasse de ficar comigo...
NINA: -Gosto... Só não gosto de saber que estou esquentando o lugar de outra mulher enquanto ela faz questão de se ausentar.
OLAVO: -Nina...
NINA: -Se eu estivesse com você na cama preparada pra me entregar e dona Hortência chegasse, lhe dissesse: “está noite quero ficar contigo.” Quem de nós duas sairia do quarto? (silêncio) Teu silêncio já diz tudo. (sai)

Cena III
GUALBERTO: -Obrigado Nicó.
NICÓ: -Se o senhor precisar de alguma coisa... È só chamar.
GUALBERTO: -Pode deixar...
LINDA: -É uma casa muito bonita!
GUALBERTO: -Se está achando a casa bonita, ficará encantada quando conhecer melhor a fazenda. Foi aqui que fui criado. Tenho boas recordações... Lembranças felizes!
LINDA: -Estou ansiosa para conhecer... E ouvir sobre essas lembranças!
Dnª. ELZA: -Meu querido neto! Ah, que felicidade tê-lo de volta.
GUALBERTO: -Ah! Vovó! Também fico feliz por revê-la. Senti sua falta.
Dnª. ELZA: -Então esta é sua esposa?
GUALBERTO: -Sim vovó. Está é Linda... Linda esta é minha querida e severa avó Elza.
LINDA: -É um imenso prazer!
Dnª. ELZA: -Seu nome faz jus a sua pessoa!
LINDA: -Obrigada!
Dnª. ELZA: -Seja bem vinda minha querida!
HORTÊNSIA: -Gualberto, quanto tempo! (abraça) quanta saudades!
Dnª. ELZA: -Hortênsia, esta é Linda a bela esposa de Gualberto.
HORTÊNSIA: -Como vai?
LINDA: -Bem, obrigada.
GUALBERTO: -Está é Hortênsia, viúva de papai.
LINDA: -Meus pêsames!
HORTÊNSIA: -Obrigada. Temos que nos conformar com a vontade de Deus. Não te perdôo Gualberto...
GUALBERTO: -Que foi que fiz?
HORTÊNSIA: -Sumiu sem nenhuma notícia.
Dnª. ELZA: -Acho que estão cansados. Vou acomodá-los em seu quarto.
GUALBERTO: -Olavo?
HORTÊNSIA: -Acabou de tomar café e saiu.
Dnª. ELZA: -terá muito tempo para colocar os assuntos em dia com teu irmão. Agora vamos guardar essas malas. (entram. Hortênsia fica só)

Cena IV
NICÓ: - Dona Hortênsia!
HORTÊNSIA: -Diga.
NICÓ: -Nina quer que eu a leve para cidade...
HORTÊNSIA: -Que vai fazer na cidade?
NICÓ: -Está com uma mala.
HORTÊNSIA: -Mala? Que diabo Nina está fazendo com uma mala? Diga para Nina quero falar com ela.
NICÓ: -Sim senhora. (ele sai)
HORTÊNSIA: -Que diacho essa moleca está arrumando?
NINA: -A senhora mandou me chamar?
HORTÊNSIA: -Que significa isso menina?
NINA: -Estou indo embora. A senhora venceu.
HORTÊNSIA: -Não seja petulante!
NINA: -Só lhe peço que deixe Nicó me levar até a Cidade.
HORTÊNSIA: -Você não vai pra cidade Nina.
NINA: -Já me decidi.
HORTÊNSIA: -Decisão errada. Pensei que amasse Olavo.
NINA: -Que tem a ver com meus sentimentos?
HORTÊNSIA: -Quando amamos de verdade, e queremos esta pessoa mais que qualquer coisa lutamos por ela. E você, o que está fazendo? Abrindo mão.
NINA: -Não é Amim que seu Olavo ama e a senhora sabe disso muito bem.
HORTÊNSIA: -Olavo gosta de mulher forte. As fracas, ele usa.
NINA: -Isto prova que não sou a mais indicada pra ele.
HORTÊNSIA: -Não se subestime minha querida. Se Olavo não sentisse realmente nada por você, não dormiria ao teu lado. Ou seja, não passaria a noite toda contigo. Responda-me uma coisa Nina: você realmente gosta de Olavo?
NINA: -Eu o amo.
HORTÊNSIA: -Você quer mesmo este homem?
NINA: -mas que tudo na vida.
HORTÊNSIA: -Do que você seria capaz por ele?
NINA: -Qualquer coisa.
HORTÊNSIA: -Qualquer coisa?
NINA: -Qualquer.
HORTÊNSIA: -Então fique. Prometo lhe ajudar a fisgar Olavo.
NINA: -E por que a senhora faria isso?
HORTÊNSIA: -Por que... Sou generosa! Acredito que ajudar o próximo me tornará um ser humano muito melhor. Olha Nina, se ficar, eu prometo deixar Olavo em suas mãos. Dou-te minha palavra.
NINA: -Mas como será possível?
HORTÊNSIA: -Basta você fazer tudo do jeito que eu mandar. Então, fica?
NINA: -Sendo assim... Fico!
HORTÊNSIA: -ótimo! Você não se arrependerá. Agora suba e guarde essa mala. Há! Temos visitas.
NINA: -Já estou sabendo. Licença. (sai)
HORTÊNSIA: -Idiota!

Cena V
OLAVO: -Você deve ser...
LINDA: -Linda! Esposa de Gualberto. E você deve ser Olavo.
OLAVO: -Isso mesmo. Sou irmão.
LINDA: -Eu sei. Gualberto me falou muito de você.
OLAVO: -Espero que seja de bem.
LINDA: -Com certeza.
OLAVO: -Você é realmente muito bonita. Pensei que fosse exagero...
HORTÊNSIA: -Menos Olavo! Se teu irmão o vê falando assim, vai pensar que esta cantando a mulher dele.
OLAVO: -Achar uma mulher, bonita, não é cantada.
HORTÊNSIA: -Dependendo da intensidade do amor do marido.
LINDA: -Quando se há confiança, não existe motivo para desentendimentos. E graças a Deus eu e meu marido confiamos plenamente um no outro.
HORTÊNSIA: -Que maravilha!
OLAVO: -Meu irmão tirou a sorte grande. Encontrou uma mulher encantadora. Com licença. (sai)
HORTÊNSIA: -Quanto galanteio! Não se iluda minha querida. Por trás dessa pele de cordeiro existe um lobo muito mal pronto pra dar um bote.
LINDA: -Não tenho ilusões. Mesmo assim, obrigado pelo conselho.
HORTÊNSIA: -somos mulheres. E você sabe como é... Temos que estar sempre dispostas a ajudar uma a outra...
LINDA: -Quantos anos ficou casada?
HORTÊNSIA: -Cinco anos.
LINDA: -Deve está se sentindo muito sozinha.
HORTÊNSIA: -Agente se acostuma.
LINDA: -Ainda bem que você tem o apóio da família.
HORTÊNSIA: -É. Ainda bem!
LINDA: -Faz tão pouco tempo de casada, mas só de pensar, que um dia...
HORTÊNSIA: -Dói muito. Posso lhe garantir. Com licença! (sai)
LINDA: -Hortênsia...
NINA: -A senhora precisa de alguma coisa?
LINDA: -Por gentileza, um suco.
NINA: -Suco de que?
LINDA: -Pode ser de laranja ou limão.
NINA: -Sim senhora. (sai)
Dnª. ELZA: -Que faz aqui tão solitária?
LINDA: -Diremos que estou conhecendo melhor a casa.
Dnª. ELZA: -Pensei ouvi Hortênsia
LINDA: -Acho que ela não estava se sentindo bem.
Dnª. ELZA: -Hortênsia? Não se sentindo bem? Estranho.
NINA: -Seu suco.
LINDA: -Obrigada...
NINA: -Com licença... (sai)
Dnª. ELZA: -É mesmo o fim.
LINDA: -Senhora?
Dnª. ELZA: -Nada filha! Acho que pensei alto.
LINDA: -Essa moça trabalha na casa?
Dnª. ELZA: -Mocinha? Só se for na idade. Isso é uma peste! Só tem essa cara de palerma, mas o que quer...
LINDA: -Desculpe-me mais não entendi.
Dnª. ELZA: -É até melhor não entender. Minha filha cuidado!
LINDA: -Cuidado com que?
Dnª. ELZA: -Com Nina. E principalmente com Hortênsia.
LINDA: -Hortênsia?
Dnª. ELZA: -É. Está mulher é uma cobra! Envenena a vida de qualquer pessoa.
LINDA: -Se eu lhe perguntar uma coisa, a senhora me responde?
Dnª. ELZA: -Depende...
LINDA: -Hortênsia amava seu filho?
Dnª. ELZA: -Essa mulher não ama nem a si mesma, quanto mais a outra pessoa.
LINDA: -Acho Hortênsia tão jovem, tão bonita...
Dnª. ELZA: -A beleza dessa mulher cegou meu filho.
LINDA: -O amor pode acontecer com qualquer pessoa, independente de idade.
Dnª. ELZA: -Não sabe da missa um terço!
LINDA: -Não entendo.
Dnª. ELZA: -Aceita um conselho? Escute essa velha que já viveu tantas coisas. Cuide de seu marido, com todo zelo do mundo. E acima de tudo minha filha, se é que posso lhe chamar assim, cuidado com Hortênsia.

Cena VII
(caminham pela platéia)
GUALBERTO: - Qual o problema aqui na fazenda?
.OLAVO: -Exagero da nossa avó. Sabe como é dona Elza.
GUALBERTO: -Como vão os negócios?
OLAVO: -Até neste momento, graças a Deus, vão caminhando bem. Nossa fazenda continua fornecendo produtos para os mesmos clientes.
GUALBERTO: -Pensa em expandir os negócios.
OLAVO: -No momento não. Expandir os negócios exige investimentos. E na atual situação é melhor garantir nossos clientes. Não podemos correr o risco de ficar em falta com eles que nos garante um bom faturamento mensal. Quem sabe daqui algum tempo podemos pensar em expandir...
GUALBERTO: -É. Pelo que vejo você está se saindo muito bem.
OLAVO: -Desde que você se foi, papai praticamente me forçou a ficar a par dos negócios.
GUALBERTO: -Não podia mais continuar aqui...
OLAVO: -Eu sei. Você enfrentou uma barra!
GUALBERTO: -Passado!
OLAVO: -E vê esse passado depois de tanto tempo, não mexeu com você?
GUALBERTO: -Estou casado.
OLAVO: -É feliz?
GUALBERTO: -Linda é uma mulher maravilhosa!
OLAVO: -Ainda ama...
GUALBERTO: -Não. É passado!
OLAVO: -Nunca vai perdoar nosso pai, não é?
GUALBERTO: -Todos temos uma parcela de culpa nessa história. Mas, não vamos agora falar disso! (entram. Hortênsia está à mesa)
HORTÊNSIA: -Por onde andavam?
GUALBERTO: -Matando a saudade da fazenda!
HORTÊNSIA: -Sente-se. Não tiro pedaço! Prometo ser uma boa moça.
GUALBERTO: -E Linda? (senta)
HORTÊNSIA: -Com dona Elza! Aposto que sua avó está envenenando a cabeça de sua linda mulher contra mim.
OLAVO: -Isso não é preciso. Basta vê o brilho dos teus olhos quando encara meu irmão. Ao menos vê se disfarça.
HORTÊNSIA: -Não me admira teu medo que teu irmão chegasse!
GUALBERTO: -Medo?
OLAVO: -Cala essa boca!
HORTÊNSIA: -Medo de perder o posto de homem da casa.
OLAVO: -Você é mesmo muito vulgar!
HORTÊNSIA: -Nossa! Quanta moral pra quem se deita com a mucama!
OLAVO: -E com a madrasta!
GUALBERTO: -Como é?
HORTÊNSIA: -Não acredite. Olavo só está querendo me provocar! Não se importa com minha imagem.
GUALBERTO: -Isso é verdade?
OLAVO: -Sim, é!
GUALBERTO: -Á quanto tempo isso vem acontecendo?
HORTÊNSIA: -Ele mente. Não acredite nele.
OLAVO: -Desde que você se foi. Na falta de um ela se contentava com outro!
GUALBERTO: -Não posso acreditar! Isso é sujo.
OLAVO: -Pro inferno! Quem é você pra me julgar? Cansei de ver você saindo do quarto dela (Linda escuta)
GUALBERTO: -Era diferente.
OLAVO: -Diferente? Por que?
HORTÊNSIA: -Sabe muito bem por que.
OLAVO: -Pro inferno com essa sua falsa moral! (sai)
GUALBERTO: -Gostaria muito de acreditar que você não foi capaz...
HORTÊNSIA: -Que queria que eu fizesse? Você, assim como todos... Abandonou-me. Deixou-me sozinha, nas mãos daquele...
GUALBERTO: --Cuidado como fala de meu pai
HORTÊNSIA: -Só deus sabe o quanto eu sofri. Quem vocês pensam que são pra me julgar? Não sabem nada! Só eu sei o que era dormir e acordar ao lado de um homem por quem eu nada sentia...
GUALBERTO: -Poderia dizer não.
HORTÊNSIA: -E mandar o covarde do meu pai pra cadeia? Eu te amava. Sempre te amei. Acreditava que lutaria contra teu pai a meu favor. E o que foi que fez? Foi embora me deixou entregue a própria sorte. E mesmo assim em nenhum momento deixei de te amar... E agora que estou livre para viver esse amor, você aparece com essa mulher... (sai)
(entra Linda)
GUALBERTO: -Linda?
LINDA: -é verdade o que ela disse?
GUALBERTO: -Você...
LINDA: -Sim, escutei...
GUALBERTO: -É.
LINDA: -Sente alguma coisa por ela?
GUALBERTO: -Sim, sinto. Pena! Muita pena dela.
LINDA: -Gualberto meu amor, vamos embora daqui... Vamos voltar pra nossa casa.
GUALBERTO: -Não posso meu anjo! Tem muitas coisas que precisam ser esclarecidas.
LINDA: -Te peço amor, por tudo que é mais sagrado. Vamos embora.
GUALBERTO: -Infelizmente meu amor, não posso atender seu pedido desta vez. (sai)
LINDA: -Gualberto! (sai)

Cena VIII
NINA: -Dona Hortência?
HORTÊNCIA: -Chegou à hora.
NINA: -Hora... Que hora?
HORTÊNCIA: -Está noite Nina.
NINA: -O que tem esta noite?
HORTÊNCIA: -Esta noite vou jogar o Olavo nos teus braços.
NINA: -mas como senhora?
HORTÊNCIA: -Mas preciso saber de uma coisa.
NINA: -O que senhora?
HORTÊNCIA: -Você esta no seu período fértil.
NINA: -Acho que sim.
HORTÊNCIA: -Ótimo.
NINA: -Mas o que tem isso de bom?
HORTÊNCIA: -esta família não foge as suas obrigações Morais.
NINA: -Não entendo.
HORTÊNCIA: -Logo, logo vai entender. Se prepare menina! Esta noite. (sai)
DONA ELSA: -Que Hortênsia queria com você?
NINA: -Nada, senhora.
DONA ELSA: -Não sou idiota! Vocês passaram um bom tempo conversando. Hortência não da nó sem ponto!
NINA: -Dona Hortênsia só me pediu pra preparar um bolo de milho pro café de amanhã, só isso. E fez recomendações.
DONA ELSA: -Você já está bem sujinha comigo menina! Tome cuidado. Teu café esta se coando!
NINA: - (cruza os dedos) Eu juro senhora! (Dona Elsa sai)

III ATO
(Hortênsia entra no quarto de Olavo só de camisola)
Cena I
OLAVO: -Hortênsia!
HORTÊNSIA: -Por que o espanto?
OLAVO: -O que faz aqui?
HORTÊNSIA: -Não sabes?Ah, Inocente!
OLAVO: -O que quer?
HORTÊNSIA: -Um acordo.
OLAVO: -Acordo?
HORTÊNSIA: -Sim. Um acordo!
OLAVO: -Que acordo?
HORTÊNSIA: -O que sente por mim Olavo?
OLAVO: -Admiração.
HORTÊNSIA: -Há! Que pena. Pensei que sentisse algo mais que admiração. Mas pelo que vejo estava enganada. Tenha uma boa noite. (saindo)
OLAVO: -Espere.
HORTÊNSIA: -Por que deveria esperar?
OLAVO: -Gosto de você.
HORTÊNSIA: -Isso seria um bom motivo!
OLAVO: -E se eu dissesse que eu te amo?
HORTÊNSIA: -Dizer meu bem todo mundo diz. Eu quero ver você provar.
OLAVO: -Faço qualquer coisa por você. Sempre te amei desde quando você Gualberto namoravam.
HORTÊNSIA: -Sabe que isso me parece? Disputa. Você disputa com teu irmão tudo.
OLAVO: -Se você soubesse.
HORTÊNSIA: -Você esta disposto a me provar? Ou tudo isso não vai passar só de conversa fiada?
OLAVO: -Faço qualquer coisa por você.
HORTÊNSIA: -Ótimo! Agora que sou uma mulher livre, nada pode me impedir de ficar com você quando eu quiser.
OLAVO: -O que você quer?
HORTÊNSIA: -Quero que você jogue teu irmão contra a mulher.
OLAVO: -Calma aí. Você quer que eu jogue Linda contra Gualberto? Não entendo!
HORTÊNSIA: -Quero que ele pague por tudo que sofri.
OLAVO: -Separando ele da mulher?
HORTÊNSIA: -Ele me disse que a amava. E se os dois se separaram ele sofrerá. É isto que quero.
OLAVO: -Pra corres pros braços dele?
HORTÊNSIA: -Não o que cinto pelo teu irmão é ódio! Ele meu pai, teu pai, eua avó, todos contribuíram pra minha infelicidade Olavo. Só você, em meio este mundo de sofrimentos é que me trouxe um pouco de alegrias. E quando fico com você, quando fazemos amor, sinto uma paz.
OLAVO: -Se eu fizer?
HORTÊNSIA: -Me terás.
OLAVO: -Então pode ir tirando essa camisola...
HORTÊNSIA: -Não senhor só depois do serviço pronto. Boa noite! (sai)

CENA II
OLAVO:-Boa. (fica de costas, Nina entra). Então você votou?
NINA:-Sim voltei.
OLAVO:-Que faz aqui?
NINA:-O que você quiser. (Tira a camisola)
OLAVO:-É melhor você sir.
NINA:-É assim que me trata, depois de tudo que já fizemos juntos? No mais você sabe que não vou lhe cobrar nada. Apenas quero lhe sentir.
OLAVO:-Acho que não devemos.
NINA:-Olavo. Prometo que se você me aceitar esta noite, nunca mais volto a lhe procurar. Por favor... Não me rejeite! Só esta noite. (Ele se aproxima dela a beija as luzes apagam-se)
LINDA: -Dna Elza...
DONA ELZA: -Linda, minha querida... Algum problema? Parece preoculpada.
LINDA:-A senhora poderia me responder uma coisa?
DONA ELZA: -Se estiver ao meu alcance.
LINDA:-Que tipo de relacionamento Gualberto e Hortência tinham no passado?
DONA ELZA:- (T) Os dois foram namorados, chegaram até a noivar. Iam se casar.
LINDA:-E por que não se casaram?
DONA ELSA:- (Se levanta) É melhor deixar essa conversa pra lá.
LINDA: -Não... Por favor! Preciso saber!
DONA ELZA: -Meu filho a conheceu e se apaixonou por ela. Ficou cego. Louco de paixão! Gualberto sofreu muito com essa situação se afastando do pai. Hortênsia é claro que não correspondia os sentimentos do meu filho. Ele pelo contrário, nunca desistiu. Como o pai dela devia muito dinheiro a meu filho e jamais conseguiria pagar, deu em troca a sua dívida à própria filha. Epitácio sempre foi um fraco! Obrigou a filha a casar com meu filho e circo estava pronto! Este casamento trouxe para nossa família seqüelas que jamais serão revertidas. Gualberto sofreu o pão que o diabo amassou, pois ele também amava está mulher. Minha querida posso lhe garantir uma coisa, mesmo Hortênsia não sendo uma flor que se cheire, ela também foi vítima desse circo de horrores!
LINDA: -A senhora acha que Gualberto...
DONA ELZA: -Não! Não pense nisso Linda. Meu neto é seu marido e cabe a você cuidar dele.
LINDA: -Sinto que ele ainda ama...
DONA ELZA: -Isto não é amor. É ego ferido. Acredite filha!
LINDA: -Como seu filho morreu?
DONA ELZA: -Segundo as investigações... Acidente! Mas eu não creio nisso. Me dói pensar, mas acho que ele tirou a própria vida.
LINDA: -Por que faria isso?
DONA ELZA: -Sabia que os filhos dormiam com sua mulher.
LINDA: -Com Gualberto e Olavo? Mesmo depois de casada?
DONA ELZA: -É. Este casamento só trouxe desgraças. Filha convença a seu marido a ir embora.
HORTÊNSIA: -Quem vai embora?
LINDA: -Eu e Gualberto.
HORTÊNSIA: -Mas já?! Espere pelo menos passar à páscoa. Não é mesmo Dona Elza?
DONA ELZA: -Eles sabem o que é melhor para os dois.
HORTÊNSIA: -Falando assim até parece que a senhora não quer que eles permaneçam aqui conosco.
DONA ELZA: -Não é uma decisão que cabe a mim. (Sai)
HORTÊNSIA: -Não ligue Linda.! Dona Elza esta caducando.
LINDA: -Discordo de você. Dona Elza é muito lúcida.
HORTÊNSIA: -Quando quer. Gostaria de dar uma volta?
LINDA: -Obrigada! Infelizmente estou com dor de cabeça.
HORTÊNSIA: -Que uma aspirina?
LINDA: -Tenho em meu quarto. Obrigada!
HORTÊNSIA: -É pelo que vejo é uma mulher prevenida.
LINDA: -Dor de cabeça é igual à dor de barriga, não dar uma só vez!
HORTÊNSIA: -E o casamento?
LINDA: -Que tem meu casamento?
HORTÊNSIA: -Como vai?
LINDA: -Muito bem, obrigada!
HORTÊNSIA: -Não sabe o quanto fico feliz. Pelo jeito Gualberto se quietou. Quando éramos noivos, não podia ver um rabo de saia, coisa de homem. Homens são todos iguais, só basta uma vacilada nossa, e pronto!
LINDA: -Onde pretende chegar com este papo?
HORTÊNSIA: -Gualberto não te ama.
LINDA: -Não vou cair neste joguinho.
HORTÊNSIA: -É a mim que ele ama. Gualberto não me esqueceu. Vejo isso nos seus olhos!
LINDA: -Você é muito mais vulgar que imaginava. Mas fique sabendo que não vou entrar no seu jogo. (Sai)
HORTÊNSIA: -Ah, bobinha! Já está entrando.

Cena III
NINA: -Ah, dona Hortênsia! Foi maravilhoso.
LINDA: -Agora é só contar com a sorte.
NINA: -Não sabe o quanto lhe sou grata. Mesmo que esta noite seja a última, já valeu apenas!
LINDA: -Não se contente com pouco, menina. Agora é que o cerco vai começar ...
NINA: -Como assim?
LINDA: -Precisamos fazer a velha Elza ficar doente, muito debilitada.
NINA: -Doente?
LINDA: -Isso mesmo! E vou precisar de sua ajuda...
NINA: -Isso é pecado!
LINDA: -Você quer ou não que Olavo seja teu homem?
NINA: -Quero!
LINDA: -Então faz exatamente o que vou lhe mandar. Quero que hoje à noite você encere bem a escada, deixe-a bem escorregadia...
NINA: -Mas pra que?
LINDA: -Faz o que lhe mando. Vai por mim, que você se dará bem.
NINA: -Não sei se devo fazer isto.
LINDA: -Me deve uma. Então, é hora de pagar. Posso contar com você?
NINA: -Tenho medo.
LINDA: -Não seja fraca!
NINA: -Pode.
LINDA: -Ótimo! Amanhã. Agora me chame Nicó. (ela sai) Se tudo dê certo, Gualberto ficará mais tempo, e quanto mais tempo ficar, maior minha chance de separar ele daquela piranha sonsa!
NICÓ: -Senhora?
LINDA: -Preciso de um favor seu.
NICÓ: -É só pedir senhora.
LINDA: -Quero que amanha cedo, procure Gualberto e lhe diga que tem um problema na fazenda...
NICÓ: -Senhora, não posso fazer isso. Se eu fizer Seu Olavo me demite.
LINDA: -Se não fizer, quem lhe demite sou eu.
NICÓ: -Mas o que direi a ele?
LINDA: -Invente um.
NICÓ: -Mas senhora?
LINDA: - (tira do sutiã dinheiro) Essa é só uma parte. Acredito que lhe servirá de inspiração!
NICÓ: -Não posso aceitar senhora.
LINDA: -Ora Nicó! Deixe disso! Sou sua patroa e posso lhe ordenar. Mas prefiro lhe gratificar. Tome... Aceite!
NICÓ: -Que devo fazer?
LINDA: -Manter Gualberto ocupado por mais ou menos duas horas. Agora vá.
NICÓ: -Sim senhora.
LINDA: -Nicó?
NICÓ: -Sim.
LINDA: -Conto com sua lealdade.
NICÓ: -Pode deixar senhora. (sai)
LINDA: -Agora vou fazer uma visitinha a Olavo e começar a colocar meu plano pra funcionar. (Tira um frasco) Ah, velha Elza de hoje não passa! (Sai)

Cena IV
(Dia seguinte. Na cozinha)
OLAVO: -Vovó?
NINA: -Ainda não desceu.
OLAVO: -Estranho. Minha avó sempre acorda tão cedo.
NINA: -Vai ver que está cansada. Com a idade as pessoas se cansam.
LINDA: -Bom dia?
OLAVO: -Bom dia, cunhada.
LINDA: -Viu Gualberto?
OLAVO: -Não.
NINA: -Seu Gualberto saiu logo cedo com Dona hortênsia.
LINDA: -Com Hortênsia? E pra onde foram?
NINA: -Não sei dizer.
OLAVO: -Nina vai vê se minha avó está bem. (Sai) Preocupada cunhada?
LINDA: -Não. Por que deveria?
OLAVO: -Em seu lugar eu ficaria.
LINDA: -E por qual motivo?
OLAVO: -Bem sabemos o amor que Gualberto e minha querida madrasta sentiram no passado.
LINDA: -Passado.
OLAVO: -Sabemos que quando uma fogueira se apaga muitas vezes ficam algumas brasas. Ai basta apenas um sopro e pronto!
LINDA: -Onde quer chegar?
OLAVO: -Estou tentando abrir teus olhos. Conheço bem Hortênsia!
LINDA: -Acredito que sim.
NINA: - (Entra) ah, meu Deus! Seu Olavo!
OLAVO: -Que foi Nina?
NINA: -Sua avó.
OLAVO: -Que tem minha avó?
NINA: -Escorregou na escada.
OLAVO: -Droga!
LINDA: -Deus! Vamos lá.
OLAVO: -Nina chame Nicó e peça pra trazer o carro. (Saem todos)
(Gualberto e hortênsia se encontram no corredor entre a platéia)
GUALBERTO: -Que faz aqui?
HORTÊNCIA: -Conhecidência acontece!
GUALBERTO: -Então armou tudo.
HORTÊNCIA: -Não seja tão duro!
GUALBERTO: -O que você quer?
HORTÊNCIA: -Conversar.
GUALBERTO: -Não temos o que conversar.
HORTÊNCIA: -Como não?
GUALBERTO: -Vamos esquecer o passado!
HORTÊNCIA: -Você esqueceu? Não lembra o quanto fomos felizes? Dos nossos desejos de amor?
GUALBERTO: -Não. Não esqueci.
HORTÊNCIA: -Nunca deixei de amá-lo. Seu casamento com essa mulher é um equivoco. Sabe disso!
GUALBERTO: -Equivoco? Equivoco é você esta aqui.
HORTÊNCIA: -Diz que não me ama que não lhe procuro mais.
GUALBERTO: - (Olha para baixo) Eu não a amo.
HORTÊNCIA: -Diz isto olhando em meus olhos.
GUALBERTO: - (A encara) Eu te amo! (Sem firmeza)
HORTÊNCIA: -Seus olhos contradizem suas palavras.
GUALBERTO: -Me deixe em paz! Amo minha mulher... (Ela o beija) Nunca mais faça isso. (Brusco)
HORTÊNCIA: -Não desistirei do seu amor! Sei que ainda me ama. Nenhuma mulher te amara mais que eu. Ouviu, Gualberto? (Ele continua andando)
(No palco Nina aflita)
NINA: -Meu deus que foi que eu fiz? Espero que me perdoe!
GUALBERTO: -Nina? Viu Linda?
NINA: -Seu Gualberto, aconteceu uma desgraça.
GUALBERTO: -Que aconteceu?
HORTÊNCIA: -Nina?
GUALBERTO: -Fale logo menina...
NINA: -Dona Elza.
GUALBERTO: -Que houve com minha avó?
NINA: -Escorregou na escada...
GUALBERTO: -Onde está?
HORTÊNCIA: -Calma Gualberto.
NINA: -Foi levada para cidade.
HORTÊNCIA: -Podemos ir...
GUALBERTO: -Vou pegar o carro.
NINA: -Nicó levou sua avó no carro.
GUALBERTO: -Só temos um carro na fazenda?
HORTÊNCIA: -Só. Teu pai não achava necessário outro.
GUALBERTO: -E Linda?
NINA: -Foi com eles.
HORTÊNCIA: -A cidade não é tão longe. Podemos ir a cavalo!
GUALBERTO: -Boa idéia!
NINA: -Vou selar o cavalo.
HORTÊNCIA: -Vamos...
GUALBERTO: -Hortênsia, não precisa...
HORTÊNCIA: -Tenho minhas diferenças com sua avó, mas afinal também faço parte dessa família.
GUALBERTO: -Vou pegar os cavalos. (Sai)
HORTÊNCIA: -Nina?
NINA: -Senhora?
HORTÊNCIA: -Se perguntarem por nós, não diga que estivemos aqui.
NINA: -Mas...
HORTÊNCIA: -Farei com que se desencontrem. (Sai)
NINA: -Meu deus! Vou ser queimada viva no fogo do inferno. Maldita hora que fiz esse pacto com o demônio! Não, por que essa mulher é o diabo em pessoa!

Cena V
NICÓ: -Se mais alguma coisa...
OLAVO: -Obrigado Nicó.
NICÓ: -Com sua licença.
NINA: -E dona Elza?
LINDA: -Quebrou a bacia.
NINA: -Mas vai ficar boa, não vai? (Preocupada)
OLAVO: -Vovó já tem uma certa idade, e neste caso a recuperação é muito lenta.
NINA: -Meu Deus!
LINDA: -Por sorte você a encontrou... Não devemos desanimar. Dona Elza é uma mulher muito forte.
OLAVO: -Quero acreditar nisso!
NINA: -Rezarei por ela. Temos que ter fé!
OLAVO: -Nina, como foi que ela escorregou?
NINA: - (nervosa) foi tudo tão rápido! Quando vi: já estava lá embaixo! Não tive tempo de segurá-la.
LINDA: -Calma Linda! Isso acontece. Os acidentes acontecem quando menos esperamos.
OLAVO: -E Hortênsia?
NINA: - (Desconcertada) Ainda não voltou.
LINDA: -E meu marido?
NINA: -Também não senhora.
LINDA: -Onde será que Gualberto se enfiou?
OLAVO: -Calma Linda! Vai ver ele esta por ai.
LINDA: -Fazendo o que?
OLAVO: -Isto só ele poderá lhe dizer.
LINDA: -Nicó? Nicó...
NICÓ: -Sim, senhora!
LINDA: -Precisamos procurar Gualberto. Ele precisa saber da avó.
OLAVO: -Linda, fique. Eu vou com Nicó. Uma tempestade está preste a desabar.
LINDA: -Obrigada Olavo.
OLAVO: -Vamos Nicó. (Saem)
NINA: -Dona Linda...
LINDA: -Sim?
NINA: -A senhora acha que seu Gualberto esta com dona hortênsia até esta hora?
LINDA: -Confio no meu marido.
NINA: -Não é querendo colocar lenha na fogueira não! Mas...
LINDA: -Mas o que?
NINA: -Os dois pareciam à vontade.
LINDA: -Como assim, à vontade?
NINA: -sabe o que é dona linda... É que sou empregada. E se dona Hortênsia souber que falei mais que deveria, me manda embora.
LINDA: -Ninguém saberá. Fique tranqüila!
NINA: -Os dois saíram de mãos dadas. Mas pelo amor de Deus não vai... (Linda sai correndo) Ah, meus Deus que estou fazendo!
OLAVO: -Linda!
NINA: -Saiu feito um furacão!
OLAVO: -Pra onde?
NINA: -Não faço idéia. Os encontrou?
OLAVO: -Nem sinal.
NINA: -Isso não vai acabar bem!
OLAVO: -Hortênsia está conseguindo o quer.
NINA: -Está voltando.
LINDA: -E então?
OLAVO: -Nada.
(Gualberto entra carregando hortênsia no colo)
GUALBERTO: -Que significa isso?
LINDA: -Ela caiu do cavalo e torceu o tornozelo.
HORTÊNSIA: -Por favor, Gualberto, pode me por no chão. Não quero se motivo de discórdia entre o casal! Olavo meu querido você poderia me ajudar a subir até meu quarto?
OLAVO: - Claro! (Saem)
GUALBERTO: -E minha avó?
LINDA: -A situação é estável.
GUALBERTO: -Linda...
LINDA: -Agora não Gualberto. Conversaremos depois. Tua avó esta sobre uma cama e só Deus sabe quando Voltará a andar.
GUALBERTO: -Então a situação é crítica?
LINDA: -Onde estava?
GULABERTO: -A caminho do hospital.
LINDA: -Onde estavam quando souberam?
GUALBERTO: -Estava com Nicó...
LINDA: -Chega! Pare. Não minta pra mim. O que acha que está fazendo? Me acha tão idiota?
GUALBERTO: -Onde quer chegar?
LINDA: -Não vou entrar nesse joguinho sujo de mentiras. Isso é patético!
GULABERTO: -Está sendo paranóica.
LINDA: -Desaparece por horas junto com essa mulherzinha, depois aparece a carregando no colo e eu é que sou a paranóica?
GUALBERTO: -Ela...
LINDA: -Já sei. Já disse. Caiu! Será que não percebe que faz parte do jogo dela?
GUALBERTO: -Jogo, mais que jogo?
LINDA: -Chega Gualberto, chega! É perda de tempo.
GUALBERTO: -Foi um acidente...
LINDA: -Cai do cavalo, torcer o tornozelo e ser carregada por você... Não subestime minha inteligência.
GUALBERTO: -Linda, quero que confie em mim. Você é minha mulher, é você que amo.
LINDA: -Confio em você. Mas Hortênsia é cheia de artimanhas!
GUALBERTO: -De mim nada conseguirá.
LINDA: -será que não percebe...
GUALBERTO: -Linda...
LINDA: -Por hoje basta. Tua avó está mal. Fraturou a bacia e a recuperação será muito lenta.
GUALBERTO: -Meu Deus! Como isso pode acontecer?
LINDA: -Até onde sei Nina estava encerando a escada quando ela escorregou.
GUALBERTO: - (grita) Nina!
NINA: -Senhor.
GUALBERTO: -Que aconteceu?
NINA: -Senhor, eu juro que...
GUALBERTO: -Foi sua culpa...
NINA: -Não! Juro que não. (Entra Olavo)
OLAVO: -Foi um acidente.
NINA: -Sinto muito.
OLAVO: -Sabemos que sim nina. Meu irmão está nervoso! Vá cuidar de seus afazeres.
GUALBERTO: -que irresponsabilidade.
OLAVO: -Não culpe a pobre desgraçada por esta fatalidade. Poderia acontecer com qualquer um. Cada um de temos nossa parcela de culpa. A começar por onde estávamos quando esta desgraça aconteceu...
GUALBERTO: -Acha que ela vai voltar a andar?
OLAVO: -Segundo o médico as chances são remotas.
LINDA: -Não devemos perder as esperanças!
OLAVO: -Claro que não! Mas também temos que nos preparar para o pior. Conheço minha avó e sei que vai preferir a morte a uma cadeira de rodas.
(Apagam-se as luzes)

IV ATO
Cena I
NINA: -Dona Hortênsia?!
HORTÊNCIA: -Entra Nina!
NINA: -Lhe trouxe um suco.
HORTÊNCIA: -Ah, obrigada! (Caminha normalmente)
NINA: -E seu tornozelo?
HORTÊNCIA: -melhor que nunca! Gualberto caiu feito um patinho. E você minha querida fez seu serviço melhor que a encomenda.
NINA: -Me arrependo amargamente. Se descobrem!
HORTÊNCIA: -Tarde demais minha querida! Não dá para voltar atrás.
NINA: -seu Gualberto me acusa.
HORTÊNCIA: -Deixa Gualberto que eu cuido.
NINA: -e se dona Elza contar que eu a empurrei?
HORTÊNCIA: -Você nega. Na idade dela, de cama, esclerosada é normal confundir as coisas.
NINA: -Tenho medo!
HORTÊNCIA: -Não seja tola!
NINA: -E se acreditarem nela?
HORTÊNCIA: -Então seja convincente! Ou a coisa vai pesar pro seu lado. Diga que ainda tentou ajudá-la.
NINA: -Deus! No que me meti?
HORTÊNCIA: -Hei, calma! Não está sozinha. Quero que peça a Nicó que venha falar comigo. (Entra Olavo)
NINA: -Sim senhora. (Sai)
OLAVO: -Como está?
HORTÊNCIA: -Vou sobreviver!
OLAVO: -Quero minha participação no lucro.
HORTÊNCIA: -Ainda é cedo meu caro.
OLAVO: -Cedo?
HORTÊNCIA: -Isto mesmo. Esta vendo este bilhete? (Pega o bilhete)
OLAVO: -Que é?
HORTÊNCIA: -Curiosidade matou o gato! Você vai implantar no bolso de Gualberto.
OLAVO: -Como vou fazer isso?
HORTÊNCIA: -Sei lá! Te vira!
OLAVO: -Que tem neste bilhete?
HORTÊNCIA: -A nossa forra! É só colocar no bolso do teu irmão e em seguida diz a tua querida cunhada que me viu entregar um bilhete a seu marido.
OLAVO: -Que vou ganhar com isso?
HORTÊNCIA: -Sua recompensar.
OLAVO: -Qual será minha recompensa?
HORTÊNCIA: -Que me pedir farei.
OLAVO: -A quero esta noite.
HORTÊNCIA: -Me terás. Basta fazer direitinho que estou lhe pedindo e não se arrependerá!
OLAVO: - (Pega o bilhete) Esta noite. (Tenta beijá-la)
HORTÊNCIA: - (Vira o rosto) Esta noite! (Ele sai) Idiota!

Cena II
(Todos na sala. Muita tristeza. Estão de luto)
HORTÊNCIA: -Deus! Por que?
LINDA: -Calma! Meu amor!
HORTÊNCIA: -Não podemos controlar o destino. Quando deus quer, quem somos nós para ir contra a sua vontade? Pobre Elza! Vamos sentir sua falta. (Nina entra com uma bandeja)
NINA: -Meu Deus! Que foi que eu fiz? (Se descontrola)
HORTÊNCIA: -Calma Nina! Não fique assim. (À parte) Controle-se!
OLAVO: -É Nina... Calma! Suba e descanse. (Ela sai de cena)
HORTÊNCIA: -Pobre menina! Era muito apegada a dona Elza.
GUALBERTO: -Te tivesse tido mais cautela...
LINDA: -Meu amor, não vamos tornar as coisas mais difíceis! A dor dessa moça não é menor que nossa!
OLAVO: -Linda tem razão! Nada que fizemos agora adiantará. Vovó se foi!
GUALBERTO: -Quanta desgraça!
LINDA: -Força Gualberto!
HORTÊNCIA: -Dizem que a desgraça nunca vem sozinha! (Sai)
LINDA: -Que que dizer com isso?
GUALBERTO: -Não faço a menor idéia! (Entra Nicó)
NICÓ: -Seu Olavo...
OLAVO: -Diga.
NICÓ: -O pai de dona Hortênsia está ai fora.
OLAVO: -Peça que entre.
NICÓ: -Sim senhor.
EPITÁCIO: -Olavo, Gualberto, senhora! Sinto muito.
OLAVO: -Obrigado.
EPITÁCIO: -As coisas ultimamente não tem sido fácies por aqui. Hortênsia?
LINDA: -No quarto.
EPITÁCIO: -Pobre menina! Quantas perdas! Se me dão licença...
GUALBERTO: -Toda. (Sai)
LINDA: -Que tal descansar um pouco amor?
GUALBERTO: -Acho uma boa idéia.
LINDA: -Olavo...
OLAVO: -Podem ir. Ficarei bem. (Saem. Gualberto deixa o palito estendido na cadeira. Olavo aproveita e coloca o bilhete no bolso. Linda retorna)
LINDA: - Se precisa de qualquer coisa...
OLAVO: -Obrigado Linda. (T) Linda?
LINDA: -Sim...
OLAVO: -Sei que este não é o melhor momento...
LINDA: -Do que está falando?
OLAVO: -Não sei se devo.
LINDA: -Olavo, fale.
OLAVO: -Durante o velório eu vi...
LINDA: -O que viu?
OLAVO: -Hortênsia e Gualberto... Eu sei que é meu irmão, mas não acho justo que ele faça isso com você...
LINDA: -Isso o que?
OLAVO: -Vi Hortênsia entregando um bilhete a Gualberto.
LINDA: -Um bilhete?
OLAVO: -Não sei se rasgou. Mas vi colocar no bolso. Hortênsia é muito tinhosa e está investindo pesado em reconquistar Gualberto. Meu irmão sofreu muito pelo amor desta mulher. Tenho medo que tenha uma recaída...
LINDA: -Por que está me dizendo isto?
OLAVO: -Por achar que é certo a fazer. Você não merece isto.
LINDA: -de qualquer forma obrigada Olavo! (Linda pega o palito e sai)
OLAVO: -Bingo!

Cena III
HORTÊNCIA: -Entre!
EPITÁCIO: -Filha como está?
HORTÊNCIA: -Melhor impossível!
EPITÁCIO: -Fiquei preocupado com você.
HORTÊNCIA: -Não seja hipócrita! Se preocupasse comigo, não teria me feito o que fez!
EPITÁCIO: -Será que nunca me perdoará?
HORTÊNCIA: -Só depende de você papai!
EPITÁCIO: -Como assim, só depende de mim?
HORTÊNCIA: -Quer mesmo meu perdão?
EPITÁCIO: -Sonho todos os dias com isso!
HORTÊNCIA: -E Poe ele está disposto a qualquer coisa?
EPITÁCIO: -Faço qualquer coisa pra que me perdoe!
HORTÊNCIA: -é mesmo?
EPITÁCIO: -Bom...
HORTÊNCIA: -Já vai fraquejar?
EPITÁCIO: -Que posso fazer?
HORTÊNCIA: -Desfazer o que fez.
EPITÁCIO: -Mas como?
HORTÊNCIA: -Quer meu perdão não quer?
EPITÁCIO: -Claro que quero!
HORTÊNCIA: -Então faça exatamente o que eu lhe disser.
EPITÁCIO: -Hortênsia...
HORTÊNCIA: -Só há uma forma de lhe perdoar pela minha felicidade, devolvendo a felicidade.
EPITÁCIO: -é o que mais quero filha.
HORTÊNCIA: -Preciso de sua ajuda.
EPITÁCIO: -Pra que?
HORTÊNCIA: -Armar um flagrante!
EPITÁCIO: -Mas que flagrante?
HORTÊNCIA: -A única coisa que tem que fazer é emprestar sua casa.
EPITÁCIO: -Hortênsia o que está pensando em fazer?
HORTÊNCIA: -Não estou pensando. Vou fazer! Aquela mosca mole da Linda não perde por esperar! Pegará seu amado ao lado do verdadeiro amor de sua vida em sua cama papai. E você só tem que confirmar nossos encontros dando uma de que sempre foi contra.
EPITÁCIO: -Isto não está certo!
HORTÊNCIA: -O que você fez comigo, sua própria filha entregando nas mãos de um velho rabugento em troca de sua dívida foi certo?
EPITÁCIO: -Me arrependo amargamente.
HORTÊNCIA: -Seu arrependimento não basta! Tudo tem um preço e chegou à hora de pagar.
EPITÁCIO: -Tudo bem.! Farei como quiser.
HORTÊNCIA: -Deixe comigo papai! A você só resta confirmar nossos encontros em sua casa. O resto eu cuido. Posso contar com você?
EPITÁCIO: -Pode.
HORTÊNCIA: -Esse é meu pai!
EPITÁCIO: -Hortênsia minha filha, você teve alguma coisa a ver com o que aconteceu com dona Elza?
HORTÊNCIA: -Credo papai! Que imagem o senhor faz de sua própria filha! Foi um acidente.
EPITÁCIO: -Que alívio! Bom, vou indo.
HORTÊNCIA: -Me faz um favor papai? Pedi a Nina pra vim até aqui. (Ele sai) Ah, papai! Ao menos uma vez na vida você será útil. (Entra Nina)
NINA: -A senhora que falar comigo?
HORTÊNCIA: -Sim. Quero. Ora minha menina que cara triste é essa? Já passou! Sabemos que foi um acidente.
NINA: -Vou ter que viver com essa culpa pelo resto da minha vida!
HORTÊNCIA: -Não seja dramática! A velha viveu o bastante! O que fez foi um favor.
NINA: -Deus sabe quanto estou arrependida!
HORTÊNCIA: -O arrependimento nos absorve! É bíblico!
NINA: -Assim espero.
HORTÊNCIA: -Preciso que me ajude.
NINA: -Pelo amor de Deus...
HORTÊNCIA: -O pior já aconteceu. O resto é fichinha.
NINA: -Que quer de mim?
HORTÊNCIA: -Está vendo este vidrinho?
NINA: -Estou.
HORTÊNCIA: -Quero que coloque na comida, no café ou no suco, sei lá, de Gualberto, Linda e Olavo.
NINA: -E o que é isso?
HORTÊNCIA: -É um sonífero. Coloque na comida e o resto deixe comigo. Esta noite será inesquecível! Agora vá. Há! Espere. Peça a Nicó que venha até aqui. Preciso falar com ele. Cuidado Nina não deixe ninguém perceber. (Nina sai) Há, Gualberto! Seus dias de casado estão contados.
NICÓ: -Senhora?
HORTÊNCIA: -Entre...
NICÓ: -Nina disse que deseja falar comigo.
HORTÊNCIA: -Isso mesmo! (Pega um bolo de dinheiro) Tome!
NICÓ: -Mas que é isso senhora?
HORTÊNCIA: -Não conhece mais dinheiro homem?
NICÓ: -Claro que sim. Mas que fiz pra merecer?
HORTÊNCIA: -Ainda não fez. Mas fará! Está só uma pequena quantidade do que pode lucrar se me fizer um favor. Claro que como patroa posso simplesmente lhe ordenar. Mas prefiro gratificar meus funcionários por favores extras! É justo!
NICÓ: -O que quer que eu faça?
HORTÊNCIA: -Fique de prontidão. Está noite precisarei de seus serviços! E claro do seu silêncio.
NICÓ: -Pode deixar! Não vi, nem ouvi nada.
HORTÊNCIA: -Ótimo! Agora volte a seus serviços. (Ele sai) Ah, é hoje! (Apagam-se as luzes)

Cena IV
NINA: -Seu Olavo...
OLAVO: -Que foi Nina?
NINA: -Preciso falar com o senhor.
OLAVO: -Diga.
NINA: -Pode ser no seu quarto?
OLAVO: -Em meu quanto? Ora esta Nina já lhe disse que...
NINA: -Eu sei. Mas é que é muito importante.
OLAVO: -Nina sou apenas seu patrão, entendeu?
NINA: -E o pai do filho que estou esperando.
OLAVO: - (a pega com violência) Como é que é? Que está me dizendo menina?
NINA: -Isso mesmo que ouviu.
OLAVO: -Você é muito mais suja que eu pensava.
NINA: -Aposto que não pensava assim quando me levava pra sua cama.
OLAVO: -Acha mesmo que vai conseguir me segurar com esse golpe da barriga sua infeliz? Se é que é verdade.
NINA: -É verdade! Pensa que vai ficar com dona Hortênsia está muito enganado. Ela ama teu irmão, ele é homem da vida dela! Quanto a você só está sendo usado para que consiga ir adiante.
OLAVO: -Cale a boca!
NINA: -Dói ouvir a verdade! Não é? Mas todos sabem que você só serve pra preencher o buraco deixado por seu irmão quando ela bem quiser... (Bofetada)
OLAVO: -Tenho pena de você.
NINA: -Covarde! Você é capacho! Só serve como segunda opção na vida dela.
OLAVO: -E você é nada!
NINA: -Serei a mãe de seu filho.
OLAVO: -Grande coisa. Qualquer cadela poderia ser! (Ela sai chorando)

Cena V
LINDA: -Gualberto, alguma coisa me diz, bem aqui dentro do meu coração, que devemos ir embora desta fazenda. Não sei, mas sinto que algo de muito ruim poderá acontecer.
GUALBERTO: -Não linda. Não podemos abandonar a fazenda agora. Sei que está sendo difícil, mas eles também são minha família.
LINDA: -Isto inclui Hortênsia?
GUALBERTO: -Meu amor, porque este ciúme? Não faz sentido. Já lhe disse que o que houve entre eu e Hortênsia é coisa do passado não há razão pra se preocupar com isso.
LINDA: -Que sente por esta mulher? Pergunto de sua parte, porque da parte dela é bem nítido!
GUALBERTO: -Pra mim ela é só a viúva do meu pai.
LINDA: -E isso? (Mostra o bilhete) Que significa?
GUALBERTO: -Que é isso?
LINDA: -Eu é que lhe pergunto.
GUALBERTO: -Juro que não sei.
LINDA: -Estava em seu bolso.
GUALBERTO: -Me dá isso aqui. (Ler) Você leu?
LINDA: -Sim li.
GUALBERTO: -Eu nunca vi isto em toda minha vida. E nada do que diz aqui é verdade.
LINDA: -Como explica está em seu bolso?
GUALBERTO: -Não si! Não faço idéia. Alguém pode ter colocado.
LINDA: -E por que colocariam?
GUALBERTO: -Pra que você encontre e brigue comigo. É um jogo dela para nos separar.
LINDA: -Viram você recebendo este bilhete de Hortênsia no velório.
GUALBERTO: -Calúnia! Quem viu?
LINDA: -Não vem ao caso.
GUALBERTO: -Armam pra cima de mim e isto não vem ao caso? Prefere acreditar em outras pessoas que em mim? Quem foi que viu?
LINDA: -Eu vi.
GUALBERTO: -Você?
LINDA: -É. Eu.
GUALBERTO: -Te certeza?
LINDA: -Tenho.
GUALBERTO: -Lamento muito! (Desapontado) Pelo que vejo estão conseguindo lhe envenenar contra mim. Mas fique sabendo de uma coisa, quando a verdade aparecer você vai se arrepender de não acreditar em mim. (Sai)

Cena VI
NINA: -Todos já foram dormir.
HORTÊNCIA: -Conseguiu colocar o remédio?
NINA: -Consegui. Fiz exatamente como à senhora me pediu.
HORTÊNCIA: -Vamos dar início ao meu plano.
OLAVO: -Hortência...
HORTÊNCIA: -Que faz no meu quarto? Se te vê aqui não pega bem!
OLAVO: -Nos dá licença Nina?
NINA: -Claro.
HORTÊNCIA: -Obrigada Nina!
OLAVO: -Não sabe que Nina mãe aprontou.
HORTÊNCIA: -O que?
OLAVO: -A medonha diz está esperando um filho meu.
HORTÊNCIA: -Ora bravo! Que boa notícia!
OLAVO: -Não brinque com isso.
HORTÊNCIA: -Você que brincou com coisa séria. Pobre moça!
OLAVO: -Moça!
HORTÊNCIA: -Virgem e pura!
OLAVO: -Faça-me rir! Virgindade e pureza passou longe dela.
HORTÊNCIA: -Que seja! Diremos que não esteja mentindo quanto a uma possível gravidez... E se a caiçara estiver falando a verdade?
OLAVO: -Não pode ser.
HORTÊNCIA: -Só por que você não quer? Ora meu caro, depois de todas noitadas de orgia tinha que haver conseqüências!
OLAVO: -Quero que me ajude.
HORTÊNCIA: -Que quer que eu faça?
OLAVO: -Me ajude a convencer Nina a tirar está criança.
HORTÊNCIA: -Que crueldade! Matar seu próprio filho? Mas que pai sem coração!
OLAVO: -Sem ironias... (Boceja)
HORTÊNCIA: -Que foi? Sono?
OLAVO: -Cansaço.
HORTÊNCIA: -Vou pensar em algo pra lhe ajudar.
OLAVO: -Sabe que podemos fazer?
HORTÊNCIA: -Conheço um chá que é tiro e queda!
OLAVO: -Ótimo!
HORTÊNCIA: -Podemos conversar depois. Agora estou cansada.
OLAVO: -Obrigado Hortênsia! E quanto a sua promessa?
HORTÊNCIA: -Em suas condições atuais só se for pra passa raiva! Outro dia. Mesmo por que não pega bem. Tua avó acabou de ser enterrada.
OLAVO: -Tem razão.
HORTÊNCIA: -Agora vá pra seu quarto. Prometo que vou tirar esta caiçara do teu pé.
OLAVO: -Boa noite!
HORTÊNCIA: -Durma com os anjos meu querido! (Ele sai)

Cena VII
(Entra Hortência na frente guiando Nicó que carrega Gualberto)
HORTÊNCIA: -Por aqui...

Cena VIII
NINA: -Bom dia dona Linda!
LINDA: -Bom dia Nina!
NINA: -Acabei de faze um bolo de fubá delicioso! Está quentinho.
LINDA: -Obrigada. (T)
NINA: -Leite?
LINDA: -Claro. Obrigada! Nina? Hum! Nossa que delícia!
NINA: -Modesta parte bolo é minha especialidade! Aprendi com minha saudosa mãe.Que Deus a tenha! Ia me perguntar algo?
LINDA: -Viu Gualberto?
NINA: -Seu Gualberto? Olha dona Linda, não é querendo me intrometer não... Ai meu Deus que estou fazendo!
LINDA: -Continue Nina...
NINA: -Não é bom uma criada ficar se intrometendo em assuntos de patrões. Mas é que às vezes nó percebemos mais que...
LINDA: -Nós mesmo, mão é?
NINA: -É.
LINDA: -Que andou percebendo?
NINA: -Não sei se devo...
LINDA: -Já que começou termine!
NINA: -É sobre seu marido e minha patroa...
LINDA: -Que tem?
NINA: -Acho que a senhora deveria abrir os olhos...
LINDA: -E por qual motivo acha isso?
NINA: -Vi os dois saírem ontem.
LINDA: -Ontem? Que horas?
NINA: -Depois que todos se recolheram.
LINDA: -Continuem.
NINA: -Saíram juntos.
LINDA: -Juntos.
NINA: -E pelo jeito ainda não voltaram.
LINDA: -Isto é impossível!
NINA: -Se a senhora que saber melhor, pergunte a Nicó. Foi ele que os levou de carro.
LINDA: -Mas pra onde?
NINA: -Não faço idéia. Senhora, pelo amor de Deus não diga que lhe contei.
LINDA: -Chame Nicó.
NINA: -Sim senhora. (Sai)
LINDA: - Não é possível!
NICÓ: -Pois não senhora?!
LINDA: -Soube que você levou meu marido a algum lugar hoje de madrugada. Onde?
NICÓ: -Não sei do que a senhora está falando.
LINDA: -Não adianta negar. Eu vi você levando Hortência e Gualberto. Pra onde foram?
NICÓ: -Sinto muito não posso dizer.
LINDA: -Não pode? (Rompante)
OLAVO: -Que gritaria é essa? Linda?
LINDA: -Quero uma informação do seu criado e ele se nega...
OLAVO: -Nicó? Linda é mulher de Gualberto. Por tanto também é sua patroa.
NICÓ: -Tenho ordens expressas de seu Gualberto...
OLAVO: -O que esta escondendo?
NICÓ: -Nada senhor.
OLAVO: -Agora sou eu que quero saber. Vamos desembucha homem.
LINDA: -Que está esperando?
NICÓ: -É que dona Linda quer saber onde levei dona Hortênsia e seu...
OLAVO: -Onde os levou?
NICÓ: -Senhor...
OLAVO: -Estou esperando.
NICÓ: -Os levei onde sempre os levo. Na casa de seu Epitácio.
OLAVO: -Que foram fazer lá?
LINDA: -
NICÓ: -Não sei não senhor. Só os deixo lá e volto para fazenda.
OLAVO: -Obrigado Nicó.
NICÓ: -Com licença! (Sai)
LINDA: -Então é lá que se encontram? Estão juntos!
OLAVO: -Calma Linda.
LINDA: -Como posso ter calma? Meu marido me faz de idiota e devo ter calma?
OLAVO: -Não sabemos o que está acontecendo.
LINDA: -Posso ser idiota, mas burra não sou.
OLAVO: -Não tire conclusões precipitadas!
LINDA: -Não ficará assim!
OLAVO: -O que está fazendo?
LINDA: -Vou até lá. E vamos vê qual mentira meu marido irá inventar desta vez.
OLAVO: -Você está muito nervosa!
LINDA: -E não é pra está? Vou acabar com essa farsa!
OLAVO: -Calma ai, não vou deixá-la ir sozinha. Vou com você.
LINDA: -Como pode fazer isso comigo!
OLAVO: -Vou pedir a Nicó pra preparar o carro. (grita) Nicó!
NICÓ: -Sim senhor!
OLAVO: -Traga o carro. Vamos à casa do Senhor Epitácio. (Nicó sai) Vamos Linda?
LINDA: -Vamos... (Chorando)
OLAVO: -Nina?
NINA: -Senhor?
OLAVO: -Traga uma água com açúcar pra dona Linda.
NINA: - Aqui está.
OLAVO: -Beba Linda.
LINDA: -Não quero.
OLAVO: -Por favor, beba!
NICÓ: - O carro já esta pronto.
OLAVO: -Que mesmo fazer isto?
LINDA: -Quero.
OLAVO: -Então vamos. Nicó, você pode ficar. Eu dirijo. (Saem)
NICÓ: -Coitada dessa pobre moça!
NINA: -Coitado de nós Nicó.Que somos marionetes nas mãos de todos!

Cena IX
(Gualberto está de pijama e Hortênsia de camisola)
HORTÊNCIA: -Então já sabe o que fazer...
EPITÁCIO: -Ainda á tempo de voltar atrás.
HORTÊNCIA: -Se voltarmos atrás veremos as burradas que fizemos na vida. Então a ordem é seguir em frente. Não demorará muito e aquela songa-monga estará aqui.
GUALBERTO: -Que aconteceu? Onde estou?
HORTÊNCIA: -Não se lembra querido?
GUALBERTO: -Hortênsia?
HORTÊNCIA: -Quem mais poderia ser meu querido? Claro que sou eu.
GUALBERTO: -Que estou fazendo aqui?
HORTÊNCIA: -Assim me ofende.
EPITÁCIO: -Vocês chegaram aqui ontem de madrugada e me pediram pra dormir aqui. Então cedi meu quarto.
GUALBERTO: -Isso é impossível!
HORTÊNCIA: -Que está dizendo? Ora Gualberto! Ontem me fez juras de amor, agora me ofende!
GUALBERTO: -Tem algo errado aqui.
EPITÁCIO: -Respeite minha casa. O que pensa de minha filha?
HORTÊNCIA: -Calma papai! Gualberto está confuso. Bebeu muito ontem.
GUALBERTO: -Droga minha cabeça dói!
LINDA: -Vou lhe trazer um café bem forte.
GUALBERTO: -Não consigo lembrar de nada!
HORTÊNCIA: -É natural! Bebeu um pouco demais.
EPITÁCIO: -Me poupe dos detalhes!
HORTÊNCIA: -Basta saber que ontem a noite sua filhinha foi à mulher mais feliz do mundo!
LINDA: -Que significa isto?
GUALBERTO: -Querida?
LINDA: -Não me toque!
GUALBERTO: -Posso explicar!
LINDA: -Pode?
GUALBERTO: -Linda não sei o que aconteceu...
HORTÊNCIA: -Bebeu um pouco demais!
LINDA: -Sua cadela! (Hortênsia se esconde por trás do pai)
EPITÁCIO: -Peço respeito em minha casa.
LINDA: -Se quisesse respeito não deixaria sua filha fazer de sua casa um motel!
GUALBERTO: -Linda...
LINDA: -Canalha! Como pode fazer isto comigo?
HORTÊNCIA: -Aqui não é motel! Fizemos amor no nosso antigo e velho ninho de amor! Ora esta, não sei por que tanto espanto. Você sempre soube que cedo ou tarde isto ia acontecer!
GUALBERTO: -É mentira! Não aconteceu nada!
OLAVO: -Ora meu irmão quer enganar a quem? Em nossa família homem nenhum nunca negou fogo!
GUALBERTO: -Não se mete!
OLAVO: -É difícil acreditar que passaram a noite toda juntos e nada aconteceu.
GUALBERTO: -Eu juro!
LINDA: -Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira! Até quando vai continuar negando o que todos sabemos?
GUALBERTO: -Por favor, me escute...
LINDA: -Não precisa dizer mais nada Gualberto! Tudo que disser soará como mentira. Olavo... Me tire daqui. (sai)
GUALBERTO: -Linda?
OLAVO: -Que mancada meu irmão! (Sai)
GUALBERTO: -Linda... (Vai atrás)
EPITÁCIO: -E agora?
HORTÊNCIA: -É comigo. Suba.
EPITÁCIO: -Isso vai terminar mal.
HORTÊNCIA: -Obrigado por me desejar boa sorte! (Ele sai. Gualberto entra) Gualberto...
GUALBERTO: -Não encoste em mim. Eu te odeio Hortênsia. Te odeio! Onde estão minhas roupas?
HORTÊNCIA: -No quarto. (Ele sai)
EPITÁCIO: -Vai acabar em tragédia.
HORTÊNCIA: -Tragédia é ter um pai como você.
GUALBERTO: -Vou acabar com você sua vaca! Não perde por esperar! (Sai)
HORTÊNCIA: -Sem comentários!
Cena X
(Linda arruma a mala com ajuda dae Nina)
NINA: -Sei que nada que eu disser mudará o que está sentindo. Sua decepção foi grande!
LINDA: -A vida é assim mesmo! Muitas vezes quando todo parece que vai bem, ai vem uma bomba e nos derruba. Mas devemos sempre está apostas pra quando este momento chegar!
NINA: -Sinto muito! Mesmo!
LINDA: -Você não tem culpa Nina. Quando o mau está plantado no coração das pessoas dificilmente elas conseguem seguir adiante sem deixar um rastro de maldades,inveja e destruição. Mas quando plantamos o bem, temos a chance de um dia ser feliz!
NINA: -A senhora é tão especial! Perto da senhora me sinto um nada.
LINDA: -Que isso minha querida! Você é a única que pode construir ou destruir a sua felicidade.
GUALBERTO: -Linda...
NINA: -Estou lá em baixo. (sai)
GUALBERTO: -Precisamos conversar.
LINDA: -Não temos mais nada a conversar. Ou melhor, temos sim.
GUALBERTO: -Juro por Deus que não sei como fui parar naquela casa.
LINDA: -Não mais me interessa!
GUALBERTO: -Te amo linda! Jamais faria qualquer coisa para magoá-la.
LINDA: -Não estou magoada Gualberto. Estou decepcionada!
GUALBERTO: -Sinto muito.
LINDA: -Sente muito? Ah, meu Deus! Até aonde vai o cinismo!
GUALBERTO: -Que está fazendo?
LINDA: -Como está vendo, estou arrumando a mala e vou embora.
GUALBERTO: -Não pode fazer isso?
LINDA: -Não?
GUALBERTO: -Somos casados e eu te amo.
LINDA: -Isso não impediu que fosse parar na cama daquela vadia.
GUALBERTO: -Prometemos diante de Deus que viveríamos juntos até que a morte nos separasse!
LINDA: -A vida nos separou.
GUALBERTO: -Que quer dizer?
LINDA: -Quero divorcio!
GUALBERTO: -Não linda. Não!
LINDA: -Decidi. Acabou Gualberto! (Ela sai. Ele pega uma peça de roupa dela e chora)

Cena XI
HORTÊNCIA: -Pelo que vejo a casa está pegando fogo!
OLAVO: -Você é cruel!
HORTÊNCIA: -Está só começando! Sou sincera e tenho que afirmar. Sem você não teria a metade do êxodo! Pelo que Nina me contou, Linda deixou Gualberto.
OLAVO: -depois de tudo isso já era de se esperar.
HORTÊNCIA: -Como é angelical esta moça! Incapaz de um único pecado. Agora que está em quarto separado é nossa chance de destruir de vez esta relação, atingindo Gualberto onde mais se sente seguro.
OLAVO: -Como?
HORTÊNCIA: -É ai que você entra. Vamos vem comigo. Vamos precisar da ajuda de Nina e nosso grande aliado Nicó. (Saem)
Cena XIII
NINA: -Seu Gualberto...
GUALBERTO: -Que foi?
NINA: -Não sei se já percebeu...
GUALBERTO: -Sem arrodeios menina.
NINA: -É que não quero levantar suspeitas...
GUALBERTO: -Que quer dizer?
NINA: -Acho que seu irmão e...
GUALBERTO: -Todos sabem do caso de Olavo e Hortênsia...
NINA: -É dona Linda.
GUALBERTO: -Que tem Linda?
NINA: -Acho que os dois...
GUALBERTO: -Como se atreve?
NINA: -Ouvi os dois combinarem...
GUALBERTO: -Combinarem o que?
NINA: -Esta noite...
GUALBERTO: -Que tem está noite?
NINA: -Vão se encontrar. Achei que o senhor deveria saber. (Sai)

Cena XII
NICÓ: -Dona Linda?
LINDA: -Que cara é essa Nicó?
NICÓ: -É que...
LINDA: -Fale logo de uma vez homem.
NICÓ: -é que seu Gualberto...
LINDA: -Se for algum recado de seu patrão. Não quero ouvir.
NICÓ: -Não é isso senhora.
LINDA: -Então o que é?
NICÓ: -Seu Gualberto.
LINDA: -Aconteceu alguma coisa com Gualberto?
NICÓ: -Sofreu um acidente.
LINDA: -Um acidente? Mas como?
NICÓ: -Esta ferido.
LINDA: -Ferido!
NICÓ: -Temo que...
LINDA: -Pelo amor de Deus! Não diga isso!
NICÓ: -Acho que deveria vir comigo.
LINDA: -Ir contigo? Mais pra onde?
NICÓ: -Santa casa.
LINDA: -Claro, vamos. (Saem)
HORTÊNCIA: -Isso queridinha, vai mesmo! O passeio será muito interessante.
OLAVO: -Como pretende fazer?
HORTÊNCIA: -Nicó cuidará de tudo! Só espera umas duas horas e ela estará em sua cama.
OLAVO: -Isso me parece muito perigoso!
HORTÊNCIA: -Não seja fraco! Vai dizer que Gualberto lhe meter medo.
OLAVO: -Não se trata de medo. É que um homem traído e capaz das piores loucuras. (Nina ouvi tudo as escondidas)
HORTÊNCIA: -Então deixe o louco comigo. Apenas convença. Faça tudo o mais natural possível. Quero Gualberto completamente convencido de que foi corneado. Quanto ao perigo... Viver é um perigo constante.
OLAVO: -Você é louca!
HORTÊNCIA: -Os loucos também amam! Ah, por falar em amor, já estou providenciando tudo para afastar a caipirinha do teu caminho.
OLAVO: -Acredita que esteja grávida?
HORTÊNCIA: -é possível! Um aborto também! Diremos que de forma espontânea . É só fazer sua parte. Deixe o resto comigo. Nina não vai lhe importunar! (Sai)
OLAVO: -Sei que vou me arrepender, mas não dar para voltar atrás! (Sai)
NINA: -Então é assim? Primeiro me usa, depois me descarta! Isso é o que veremos. (Gualberto entra) Seu Gualberto...
GUALBERTO: -Agora não Nina!
NINA: -Espere... (Entra na frente) Me escute, por favor!
GUALBERTO: -Sai da minha frente.
NINA: -É muito importante o que tenho para lhe dizer.
GUALBERTO: -Então fale.
NINA: -é tudo armação de dona hortênsia.
GUALBERTO: -Do que está falando? Enlouqueceu?
NINA: -Seu flagra na cama do pai dela, o acidente com sua avó e agora o flagrante de sua mulher...
GUALBERTO: -Ficou louca?
NINA: -Eu juro! Fui obrigada a participar disto tudo. Se o senhor soubesse o quanto me arrependo. Tudo essa trama custou a vida de uma inocente.
GUALBERTO: -Que está dizendo menina?
NINA: -Dona Hortência mandou eu colocar sonífero na água de sua avó. Depois me mandou lavar as escadas com bastante sabão pra que dona Elza escorregasse.
GUALBERTO: -Isto se trata de assassinato. Poderia lhe estrangular agora.
NINA: -Nenhum tiro em meu peito me causaria maior dor. Dona Hortênsia é cruel, capaz de tudo pra lhe separar de sua mulher. E para este fim envolveu todos nós em sua trama... Agora mesmo dona Linda está nas mãos de Nicó sobre a ordem dela.
GUALBERTO: -Como é que é?
NINA: -Faz parte do plano.
GUALBERTO: -Que plano?
NINA: -Deve a está hora está desmaiada para ser colocada na cama de seu irmão.
GUALBERTO: -Olavo compartilha com isto?
NINA: -Sim senhor.
GUALBERTO: -Pra onde levaram minha mulher?
NINA: -Não sei senhor. Mas logo lhe trarão pra cá.
GUALBERTO: -Vou acabar com isso.
NINA: -Não senhor. Flagre-os! Faça isso por sua avó. Desmascare essa víbora! (Sai)
GUALBERTO: -Hortênsia me paga!
Cena XIII
HORTÊNCIA: -Venha Nicó... Vamos entre. (Nicó carrega Linda nos braços) Coloque-a no quarto de Olavo.
OLAVO: -A partir de amanha comunicaremos nosso noivado. (Gualberto esta escondido)
HORTÊNCIA: -Que?
OLAVO: -Isso mesmo que você ouviu. Já estou cansado de fazer tudo que você me manda e não receber nada em troca.
HORTÊNCIA: -Que loucura é essa agora?
OLAVO: -quem convive com louco, louco é.
HORTÊNCIA: -Que você quer?
OLAVO: -Você sabe muito bem.
HORTÊNCIA: -Me aceitaria mesmo sabendo que amo outro?
OLAVO: -Não me importo.
HORTÊNCIA: -Sabe qual seu problema? Você se contenta com muito pouco!
OLAVO: -Melhor pouco que nada!
HORTÊNCIA: -Sempre fraco!
OLAVO: -Mas precisa de mim pra concretizar seus planos.
HORTÊNCIA: -Temos um acordo.
OLAVO: -É, temos. E nem pense em me passar a perna...
HORTÊNCIA: -Pensei que quisesse que eu lhe passasse a perna!
OLAVO: -Sabe de que jeito quero que me passe a perna.
HORTÊNCIA: - (Puxa uma arma) Toma.
OLAVO: -Que isso?
HORTÊNCIA: -Sabe muito bem que é.
OLAVO: -Uma arma.
HORTÊNCIA: -Bravo! Não é que acertou.
OLAVO: -Mas pra que?
HORTÊNCIA: -Qual a finalidade de uma arma? (Entra Nicó, Olavo esconde a arma)
NICÓ: -Pronto senhora. Já fiz tudo como me pediu.
HORTÊNCIA: -Ótimo! Agora pode ir. (Ele sai)
OLAVO: -Então? Pra que essa arma?
HORTÊNCIA: -Mate-a.
OLAVO: -Matar Linda? Não posso! Não sou assassino
HORTÊNCIA: -Linda não seu idiota. Nina.
OLAVO: -Não! (Coloca a arma na cômoda) Isso não!
HORTÊNCIA: -Não que se livrar dela?
OLAVO: -Mas, matar?
HORTÊNCIA: -Cuidado meu querido! (Pega a arma com um pano) Se não usar uma luva suas digitais podem aparecer na arma. Não queremos que isso aconteça. Com suas digitais na arma a polícia lhe encontra e você passa a ser o principal suspeito.
OLAVO: -Não irei fazer isso!
HORTÊNCIA: -Sei que não. Sabe de quem é a arma?
OLAVO: -Não.
HORTÊNCIA: -Do nosso fiel empregado.
OLAVO: -Nicó?
HORTÊNCIA: -Isso! -Alguém tem que fazer o serviço sujo. Já que você não tem coragem. Agora vamos... (Saem)

Cena XIV
GUALBERTO: -Nina?
NINA: -(Se assusta) Seu Gualberto?!
GUALBERTO: -Vamos Nina...
NINA: -Mas pra onde senhor?
GUALBERTO: -Você precisa sair daqui agora.
NINA: -Sair! Mas por que?
GUALBERTO: -Ouça... Hortência esta providenciando sua morte.
NINA: -Como é que é?
GUALBERTO: -Não há tempo para explicações. Saía já daqui e chame a polícia. Vá...
NINA: -Mas...
GUALBERTO: -Anda, Vá. (Ela sai correndo)
HORTÊNCIA: -O que faz aqui?
GUALBERTO: -O que você faz aqui?
HORTÊNCIA: -Ouvi barulho.
GUALBERTO: -Que tipo de barulho?
HORTÊNCIA: -Um barulho estranho
GUALBERTO: -Como o que, por exemplo?
HORTÊNCIA: -Achei que... Fosse ladrão.
GUALBERTO: -Meu Deus Você com medo de ladrão?É novidade!
HORTÊNCIA: -E você o que faz aqui?
GUALBERTO: -Quem sabe evitando um crime.
HORTÊNCIA: -Crime?
GUALBERTO: -É! Crime. Se for um ladrão o barulho que ouviu, esta poderá ser uma das hipóteses.
HORTÊNCIA: -E Nina?
GUALBERTO: -Esta segura.
HORTÊNCIA: -Segura? De que?
GUALBERTO: -De suas armações.
HORTÊNCIA: -O que você esta dizendo?
GUALBERTO: -chega Hortência. Sua mascara caiu.
HORTÊNCIA: -Não sei de que esta falando.
GUALBERTO: -Já foi longe demais.
HORTÊNCIA: -Não. (Aponta para ele) Ainda posso ir muito mais longe.
GUALBERTO: -Isso atire. Atire, e vai passar o resto da tua vida numa cadeira.
HORTÊNCIA: -Se não pode ser meu não será de mais ninguém. Ninguém! Não vou deixar, não vou permitir.
GUALBERTO: -Você não vai permitir? E quem é você para permitir alguma coisa.
HORTÊNCIA: -Sou sua mulher que te ama. E por esse amor sou capas de qualquer coisa, qualquer coisa.
GUALBERTIO: -Isso não é amor. É doença.
HORTÊNCIA: -Não chama meu amor de doença. Eu te amo!
GUALBERTO: -Cale a boca!
HORTÊNCIA: -Por amor sou capas das piores loucuras, tudo isso pra lhe ter ao meu lado. Gualberto se você disser que me ama...(entra Olavo) Eu abaixo a arma e nós saímos daqui, vamos para bem longe, só eu e você...
OLAVO: -Baixa essa arma Hortência
GUALBERTO: -Tenho pena de você.
HORTÊNCIA: -Sou a mulher que te amo. E por esse amor sou capaz de qualquer coisa.
GUALBERTO: -Isso não é amor. É doença!
HORTÊNCIA: -Cale a boca.
GUALBERTO: -Não chame meu amor de doença.
HORTÊNCIA: -Cale a boca!
GUALBERTO: -Por amor sou capaz das piore loucuras. Tudo que fiz e que faço é para ter você ao meu lado. Se disser que me ama... (Entra Olavo) Eu abaixo essa arma e sairemos daqui. Vamos para bem longe. Só eu você.
OLAVO: -Abaixa essa arma Hortênsia.
GUALBERTO: -Tenho pena de você.
HORTÊNCIA: -Deveria ter pena daquela inútil da sua mulher.
GUALBERTO: -É ela que eu amo. (Ela puxa o gatilho. Olavo entra na frente e abraça o irmão)
OLAVO: -Hortênsia não! (Leva um tiro nas costas)
GUALBERTO: -Não! Não!... Meu irmão...
OLAVO: -Me perdoa! Me perdoa irmão!
HORTÊNCIA: -Idiota! Você é mesmo um fraco.
GUALBERTO: -Olavo! Olavo! Assassina você o matou!
HORTÊNCIA: -Não estava em meus planos! Tudo poderia ser diferente meu amor. (Entra Nicó sem que ela perceba) Nem tudo na vida é planejado.
GUALBERTO: -Que vai fazer? Me matar?
HORTÊNCIA: - (Engatilha) Bingo! Será lindo! Mulher apaixonada mata seu amado e em seguida se mata... Encontrarão nossos corpos juntos!
GUALBERTO: -Você é louca!
HORTÊNCIA: -Quer saber? Seu pai não se matou. Ele era tão fraco quanto o débilmental do teu irmão.
GUALBERTO: -Foi você sua cretina!
HORTÊNCIA: -Sim fui eu. Fiz isso por nós!
GUALBERTO: -Por que? Por que?
HORTÊNCIA: -Ele destruiu meus sonhos. Sabe o que é se entregar pra um velho rabugento e asqueroso.
GUALBERTO: -Você é um monstro!
HORTÊNCIA: -Mostro criado por vocês! (Entra Linda com uma espingarda)
LINDA: -Solte a arma ou juro que estouro sua cabeça.
HORTÊNCIA: - GUALBERTO: -
HORTÊNCIA: -ai atirar em mim? Vamos atire. Não tem coragem? Você é mesmo muito boazinha pra fazer uma coisa dessas!
LINDA: - Solte a arma.
HORTÊNCIA: -Atira. (Linda joga a espingarda para Gualberto)
GUALBERTO: -Solta a arma Hortênsia. (Hortênsia agarra Linda e põe a arma na cabeça de Linda)
HORTÊNCIA: -Já provei que sou capaz! Nicó seu trouxa. Cai fora!
NICÓ: -Calma senhora.
HORTÊNCIA: -Meu assunto não é com você. Agora somo só nós três. Então você a ama? Vamos responda. Prefere ela a mim! Amaria esta mulher mesmo depois que visse seus miolos espalhados pelo chão?
GUALBERTO: -Você não precisa fazer isso. Vamos conversar...
HORTÊNCIA: -Agora quer conversar? Depois que me disse tudo que eu não queria ouvi.
GUALBERTO: -Olha! Vou soltar a arma... Você a deixar sair e nós conversaremos.Prometo!
HORTÊNCIA: -Você promete! Ora Gualberto! Posso esta louca, mas não sou burra. Vai carregar pelo o resto da vida a culpa pela morte de seu pai, irmão e dessa vagabunda.
GUALBERTO: -Troco de lugar com ela. Não é isso que você quer? Morreremos juntos. Eu e você. Só nós dois!
HORTÊNCIA: -Aceito.
LINDA: - Não Gualberto!
HORTÊNCIA: -Cale a boca! (Dar uma coronhada nela) Jogue a arma no chão. Agora chute pra cá.
GUALBERTO: -Agora deixa-a ir. (Barulho de sirene)
HORTÊNCIA: -Saia.
LINDA: -Não.
GUALBERTO: -Vai linda. Sai.
LINDA: -E você?
GUALBERTO: -Vai ficar tudo bem. (Linda sai) Prove que me ama, entregue-se.
HORTÊNCIA: -A maior prova de amor que posso lhe dar é a morte. (coloca arma em direção do coração) De que vale a vida se não posso tê-lo ao meu lado...
GUALBERTO: -Hortênsia, não!
HORTÊNCIA: -Já lhe perdi uma vez e não suportaria te perder novamente. Adeus amor! (Dispara)
GUALBERTO: -Não! Meu Deus não! (Cai no chão desesperado. Linda entra o pega no colo como se fosse uma criança)

FIM...

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