HOMEM DO CAMPO – CAPÍTULO 1
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Novela de Marcondys França
Direção: Marcondys
França, Cauê Bonifácil, Dill França e Albino
Ventura
Direção
Geral de Marcondys França
Capítulo 1
Cena 01
INTERNA – DIA - COZINHA
(Câmera
faz uma panorâmica mostrando as belezas da vida no campo. Ao fundo foca bem ao
longe uma simples casa que aos poucos é aproximada a visão do telespectador
através do zoom. Corta para dentro da casa. João entra e senta-se a mesa.
Fátima trás o café da manhã).
JOÃO:
- Dor da moringa nas
costas... (Tira o chapéu e senta-se).
FÁTIMA:
- Meu veio... Aceita
um cafezinho? passadinho na hora.
JOÃO:
- Café não minha
véia...
FÁTIMA:
- Então como um
pedaço de bolo de macaxeira.
JOÃO:
- Taí... O bolo eu
aceito.
FÁTIMA:
- Tá do jeito que tu
gosta, vice. (Sai e vai buscar o bolo. Fátima retorno com o bolo e serve João).
JOÃO:
- Hum! Tá bom mermo
minha veia.
FÁTIMA:
- E apôi?!
JOÃO:
- Cadê o Zeca?
FÁTIMA:
- Má despertou, saiu
num sarto só...
JOÃO:
- Mais assim tão
cedo?
FÁTIMA:
- Zeca tá ciscando
nos terreiros porai...
JOÃO:
- O Zeca que não me
arrume pra cabeça...
FÁTIMA:
- Ele é jovem meu
vaio...
JOÃO:
- Quando a cabeça não pensa, o corpo padece... Já
dizia meu velho pai! Olha minha velha... (Pega o chapéu e coloca na cabeça)Dá licença, tenho muito serviço pra fazer lá na baia...
FÁTIMA:
- Vai sim meu váio... Óh, leve um pedaço de bolo,
leve... (Ele pega)E não se atrase para o almoço, vice?
JOÃO:
- E apoi! (Sai)
Cena 02
INTERNA – DIA – COZINHA
(Faixada da casa de Fátima aos poucos a imagem da casa é aproximada até
que corta para o interior da casa, na cozinha Fátima prepara o café num fogão
de lenha. Francisco entra e senta).
FÁTIMA:
- Ainda em casa fio?
FRANCISCO:
- Tô saindo... E
Nina?
FÁTIMA:
- Foi na casa de
cumade Fátima...
FRANCISCO:
- E foi, é?
FÁTIMA:
- Foi fio...
FRANCISCO:
- Onde já se viu,
que arrumação do cão, isso num vai dá certo!
FÁTIMA:
- Que tanto oscê
resmunga Chico?
FRANCISCO:
- Num tá certo, num
tá certo...
FÁTIMA:
- Mai o que é que
num tá certo, home?
FRANCISCO:
- Nina mainha,
Nina... Na casa de madrinha.
FÁTIMA:
- Oscê que vê coisa
onde num existe.
FRANCISCO:
- Depois num diga
que num avisei.
FÁTIMA:
- Tua irmã é uma
menina ajuizada fio.
FRANCISCO:
- Mai é mulé e ele é homem... Oxe mainha onde já se
viu, uma moça, enfiada na casa que tem homi.
FÁTIMA:
- E osce que vê coisa
onde num existe.
FRANCISCO:
- Depois num vai
dizer que num avisei.
FÁTIMA:
- Oxe! Que ciumeira
besta é essa?! Pega teu chapéu e vá cuidá da tua vida, vai, vai, vai...
FRANCISCO:
- E ciúme não mainha, é zelo. Zelo, vice!? Depois
não diga que não avisei. (Sai)
FÁTIMA:
- Então pega todo esse teu zelo e coloca no teu
trabaio, que trabaiando cansa o corpo e mente. (Retira a mesa de café da manhã) Onde já se viu? Ciumeira besta, ciúmes da própria irmã.
Valei-me meu são Benedito! Onde já se viu? Era só o que fartava!
Cena 03
EXTERNA – DIA – CAMPO
(Nina passeia pelo campo em clima romântico
com Zeca)
ZECA:
- Eu me ajeitei todo pra oscê minha fulô...
NINA:
- Tá todo cheroso... (Ele a abraça, a beija na testa.
Ela se desvencilha e corre ele vai atrás).
NINA:
- Ah, Zeca... Eu tava aqui pensano, num sabe? E
pego a imaginá... Como é que vai ser minha vida daqui argum tempo, num sabe?
ZECA:
- Mai acho que oscê tá tocano nessa prosa mode vê
se ieu num falo em casamento, num é?
NINA:
- Oxe! Num é nada disso não homi!Eu só tava
penano... Ora, eu sei que oscê gosta de eu, quer casá com eu, e eu só tava
pensano vice?
ZECA:
- As vezes eu fico aqui matutano, num sabe? Oscê
linda, toda de branco, entrando na igreja, numa arvura que só.
NINA:
- Ah, Zeca... Se ieu for parar pra pensa, botá isso
na minha cabeça, num sabe? Noi num casa é nunca!
ZECA:
- Tá certo! (Se afasta de Nina)
NINA:
- Oh Zeca!(vai
até ele) falei mai que a boca, num foi? Perdoa ieu, num devia fala desse
jeito...
ZECA:
- Tá certo Nina, tá
certo!
NINA:
- Eu falei só por
falá... Sonhá num custa nada mermo!
ZECA:
- Oscê num deixa de tê razão Nina... Sou um
caipira, bronco, criado no campo, que futuro posso oferecer pra oscê? Se num
tenho nem dinheiro pra pagar o juiz, imagina pra comprar um vestido desses pra
oscê minha fulô1
NINA:
- Oxe home! Mode que oscê num arruma outro trabaio?
Um monte de gente saiu daqui e foi pra capitá.
ZECA:
- Oxe! Acorda mulé. Não tenho estudo. Desde que me
conheço por gente tenho que pegar no cabo da enxada. Se pra pessoas que tem
estudo tá difici, imagina pra eu... Sou um burro veio, e burro veio num
aprende, só empaca.
NINA:
- Mai vissi Maria! Num gosto que fale assim não...
Oscê num é burro veio não. Empaca como jumento, teimoso feito mula, mai num é
burro não... Olha, noi vai consegui Zeca, eu amo oscê. E num importa que ieu
tenha que trabaiá, mai noi vai consegui sim, eu creio, creio em Santo Antônio
que ele vai nos abençoá.
ZECA:
- espero minha flor
de formosura... Ah se ele soubesse o que se passa aqui na minha cabeça!
NINA:
- Oxe! Mai deixe de marmotagem homem! Não quero só
na cabeça não... Quero aqui ó. (Põe a mão próximo o coração dele). (Zeca segura a vontade de beija-la) Oxe! Qur foi? Já
vai pro trabaio é?
ZECA:
- É já vou. É mió mermo! (Sai)
NINA:
- Zeca... (Ele Para e olha pra Nina) Eu te amo vice?!
ZECA:
- Tamem te amo.
NINA:
- Te amo muito, muito... Um tantão assim! (Abre os braços. Ele sai, ela senta e
observa até sumir. Sobe música romântica.
Cena 04
INTERNA / DIA – CASA DE IOLANDA
(Gilmar esta sentado em seu sofá, pega o berrante ao seu lado e toca.
Entra Iolanda muito animada e disposta a convencer o marido para um passeio em Campo
Verde).
IOLANDA:
- Gil... Tu
prometeste que me levaria para conhecer suas terras lá em Campo verde...
GILMAR:
- E o que é que você
quer em Campo Verde Ioiozinha?
IOLANDA:
- Lá é um lugar discreto, tranquilo... E bem sabes
que tenho muita admiração por lugares assim. Ah, os animais, as plantas, a
tranquilidade Cherry! E também estamos precisando sair um pouco dessas
badalações... Ah, relaxar um pouco faz bem.
GILMAR:
- Sei não... muito me impressiona, você, deixar o
conforto de casa, pra se enfiar naquele fim de mundo. É muito estranho
Ioiozinha.
IOLANDA:
- Ai Cherry! A fauna, a flora, muito verde. Ah
aquele ar fresco, e a cachoeira? Ah, vai me fazer muito bem pra minha pele
Cherry. E além do mais, eu li numa revista que ecologia está na moda É chique
mon amour!
GILMAR:
- O povo daquele lugar me dá é enjoo. Além da
tranquilidade daquele lugar, viver vai ter que viver com pessoas sujas e
maltrapilhas.
IOLANDA:
- Nossa cherry! Que horror! É assim que fala
daquelas pessoas? Que é isso? Isso é preconceito viu? É Bullyng. E eu vi numa
revista que falava justamente sobre isso. Nossa, até parece que você ente...
GILMAR:
- Repulsa Iolanda,
apenas repulsa!
IOLANDA:
- Oh, my god!
GILMAR:
- E naõ é pra senti? Um povinho enfadonho, sem
eira, nem beira.
IOLANDA:
- Nossa Cherry! É
assim que se refere a essas pessoas? Que isso? Já fizeram tanto por nós, se a
gente tem tudo isso, foi por eles.
GILMAR:
- Se a gente tem tudo isso Iolanda, é graças a
minha gana, a minha vontade de consegui algo melhor... Agora me espanta você,
acha o que, que aquele povinho lá trabalha de graça? Claro que
não. Eu pago pelos serviços deles, e pago
religiosamente a cada um pelos serviços prestados.
IOLANDA:
- Oh, mon amour! Não precisa brigar. (senta ao lado dele o fazendo
carinho) Pra que brigar-mos, se podemos ter
momentos ma-ra-vi-lho-sos!
GILMAR:
- É que as vezes
você me faz me sentir como se estivesse explorando aquela gente.
IOLANDA:
- Ah, meu chuchuzinho... Meu bombonzinho... Já sei
que está precisando... Vou te fazer uma massagem. (Vai por tras dele e o massageia). Vamos repelir tudo aquilo que nos faz mal. E vamos
juntos vamos viver nossos momentos prazerosos. Isso meu bem, relaxa... Meu
porquinho!
GILMAR:
- Pra demonstrar
minha benevolência vou te levar pra jantar Ioió.
IOLANDA:
- Ai mon amour! Eu
tenho outra ideia.
GILMAR:
- É? Qual?
IOLANDA:
- (Senta-se ao seu lado)Vamos
tomar um banho de sauna? Eu e você, você eu.(Levanta e dança pra ele
“Banho de espuma”).
GILMAR:
- sabe que não é uma
má ideia?!
IOLANDA:
- Vamos agora.
GILMAR:
- Mas, não acabei de lê ainda Iolanda...
IOLANDA:
- Deixa esse livro
pra depois...
GILMAR:
- Deixa eu acabar de
lê. Deixa pra depois.
IOLANDA:
- Ah, eu quero
agora... Se não vou sozinha. E tristinha...
GILMAR:
- Ioiozinha... (Iolanda faz zumbido)Ah, não! Abelhinha
não... abelhinha não resisto não.
IOLANDA:
- Não é pra resistir
mesmo. Meu bombonzinho recheado. Faz porquinho, faz?!
GILMAR:
- Não!
IOLANDA:
- faz pra mim,
faz...
GILMAR:
- Tá bom... (Ele faz, ela se anima. Vai em direção ao quarto e
ele vai atrás).
Cena 05
EXTERNA / DIA – BAIA
(João
está no campo fazendo suas tarefas diárias cuidando dos cavalos, pegando feno e
colocando as coisas em ordem. As imagens se intercalam com Zeca caminhado ao
encontro do pai).
ZECA:
- Ôá! (Tira
o chapéu)- Benção painho...
JOÃO:
- Mai isso são hora
Zeca?
Imagem congela em João.
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