HOMEM DO CAMPO - CAPÍTULO 2
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Novela de Marcondys França
Direção: Marcondys França, Cauê
Bonifácil, Dill França e Albino Ventura
Direção
Geral de Marcondys França
Capítulo 02
Cena 05
EXTERNA / DIA – BAIA
(João
está no campo fazendo suas tarefas diárias cuidando dos cavalos, pegando feno e
colocando as coisas em ordem. As imagens se intercalam com Zeca caminhado ao
encontro do pai).
ZECA:
- Ôá! (Tira
o chapéu)- Benção painho...
JOÃO:
- Mai isso são hora
Zeca?
ZECA:
- Tava por ai...
JOÃO:
- Oscê toma cuidado
rapaz...
ZECA:
- Oscê, que conversa é essa? Tá aconteceno nada de
mai não. Só tive um dedo de proza com Nina.
JOÃO:
- Mai essa é meu medo, Nina é moça de família, e
num fica nada bem oscê e ela fica ai se entranhando no mato suzinhos... Eu seio
fio, que se conselho fosse bom, num se dava, vendia... Mai sou seu pai, e como
seu pai quero seu bem, num sabe?
ZECA:
- Fique tranquilo, num tá acunteceno nada de mais
não... fique tranquilo, meu pai.
JOÃO:
- Mió assim, mió assim! Agora vá pegá o arreio que
temo muito que fazer.
ZECA:
- Ô peste! É pra já
painho!(Põe o chapéu na cabeça e sai)
JOÃO:
- (João vira para o cavalo e conversa com ele) É cumpanhero, oscê dá muito menos trabaio, que o bicho
home. (Resmunga e sai) Preste!
(Câmera vai para o cavalo
comendo feno, que intercala com Zeca).
Cena 06
EXTERNA /
DIA – CAMPO
(Câmera abre na enxada revelando aos poucos
Francisco campinando)
MARIQUINHA:
- Chico, Chico?!
FRANCISCO:
- Ninhora mainha?!
MARIQUINHA:
- A sua irmã
sumiu... Tá demorando fio.
FRANCISCO:
- Ieu já falei pra mainha, que deve ter coidado cum
Nina. Deve é tá embrenhada ai nas matas com aquele um lá... Mai vô vê donde tá
Nina, vô precurá ela... (sai resmungando) Tá lá com aquele um... Já falei,
falei, mai mainha num ouvi...
MARIQUINHA:
(Procura um lugar para sentar perto do curral)
- Ai que tô cansada mermo, já tô véia mermo.
Cena 07
INTERNA /
DIA – CASA DAS ROSAS
(Câmera corta para Casa das
rosas, há uma grande batucada do lado de fora. Sola dança animadamente)
SOLA:
- Tá ouvindo Gomes? (Lixa a unha) Já estão
comemorando a nossa grande reinauguração!
GOMES:
- É hoje que você vai balançar a roseira, hein?
SOLA:
- Vou abalar Campo Verde!(Machuca o dedo)
Ai!
GOMES:
- Olha quem tá ai. (Câmera revela Fortunato)
SOLA:
- Olha, quem é vivo sempre dá o ar da graças. (Tenta
tocar Fortunato que o impede bruscamente)
FORTUNATO:
- Sai fora fresco!
SOLA:
- Um fresco
inesquecível...
FORTUNATO:
- Cale a boca antes que eu lhe prenda por desacato.
SOLA:
- Desacato? (Dar uma gargalhada) Pode ficar
tranquilo. Seu segredinho fica entre nós.
GOMES:
- Que a autoridade deseja aqui a essa hora?
FORTUNATO:
- Quero é fala com a
quenga velha...
SOLA:
- Hi! Já sei, fui! (sai)
FORTUNATO:
- Ainda dou um
corretivo nessa coisa! Bote uma pra mim...
GOMES:
- Ele é assim,
espevitado, mas, é gente boa.
FORTUNATO:
- Gente boa nada...
GOMES:
- (Prepara uma dose) Ai delegado, tá
gostando?
FORTUNATO:
- (Olha a casa) Tá bonito, né? (Entra Rosa)
ROSA:
- Que presepada é
essa, vamos, me diga?
GOMES:
- Vim buscar o que é
meu.
ROSA:
- Pois perdeu, foi a
viagem!
FORTUNATO:
- Perdeu o juízo é? Tá ficando esclerosada?
Esqueceu que essa espelunca, só tá aberta, graças a mim? A minha proteção, e
que sou autoridade
máxima aqui. E eu tenho vários pedidos para fechar
essa espelunca...
ROSA:
- devia ter te abortado, quando eu tive a chance.
FORTUNATO:
- Pois saiba que não tenho nenhum
orgulho de ter saído desse corpo imundo. (Rosa dá um tapa na cara de
Fortunato)
ROSA:
- Seu monstro! Você
é um monstro!
FORTUNATO:
- Não nego os meus! Agora vamos, deixe de conversa
que tô ficando avexado, tenho mais o que fazer.
ROSA:
- O que você sabe fazer de melhor... Extorquir
pessoas!(Retira dos seios um bocado de dinheiro) Toma, toma... Tudo
que eu tenho. E fora da minha casa.
FORTUNATO:
- Acha mesmo que esse miserê é suficiente?
ROSA:
- Já disse. É tudo
que tenho.
FORTUNATO:
- Pois trate de arrumar mais. Ou quer ver isso aqui
fechado para sempre? A final, se eu fechar isso daqui pra sempre, o que você
vai fazer da sua vida? Se eu fizer prevalecer a lei, o que vai fazer uma quenga
velha, no fim de carreira, que só vive explorando das meninas jovens, inocentes
(Ela tenta
bofeteá-lo. Ele segura sua mão com força)Eu vou, mas, eu volto, muito
antes que você imagina. (Se dirige ao balcão) Gomes, a bebida é
por conta da casa. (sai)
ROSA:
- Cães dos infernos, piolho de cobra! Gomes, me dá
uma dose ai.
GOMES:
- Calma senhora...
Cena 08
EXTERNA -
DIA – CAMPO
(Câmera corta para o campo,
mostra paisagens e animais. Revela Mariquinha sentada)
NINA:
- Mainha...
MARIQUINHA:
- Oh, Nina... Teu irmão acabou de sair atrás de tu,
vice?!
NINA:
- Oxé! Eu não vi
não...
MARIQUINHA:
- Que que foi fia?
Que tá aconteceno com tu menina?
NINA:
- Nada! Tá acontecendo nada não mainha... É esse
calô. Calô da gota!
MARIQUINHA:
- Sei não fia. Tô veno oscê assim, tão
desenchavida, meia acabrunhada...
NINA:
- Oxê! É cisma de
mainha.
MARIQUINHA:
- Nina, nina... Ieu num nasci ontem. Se tiver
arguma coisa pra me dizer, que me diga logo.
NINA:
- (Saindo) Oxê! Tem nada não. A senhora que
é desconfiada por demais.
MARIQUINHA:
- E aqueles enjoo,
pensa que num notei?
NINA:
- Deve ter sido arguma coisa que comi, que num me
fez bem.
MARIQUINHA:
- Nina, nina... Oscê num vá me fazê bobagem. Oscê
sabe que teu irmão é cabeça esquentada.
NINA:
- Francisco devia era coidar da vida dele, isso
sim.
MARIQUINHA:
- Mai se preocupa
com oscê fia.
NINA:
- Mai num devia. Mai já me vou vice? Conversa mai
atravessada!
MARIQUINHA:
- Menina, ninguém engana o tempo. Ele mostra até o
que tá mai oculto.
NINA:
- Poi tá perdeno tempo com coisa que num tem. (saindo)
MARIQUINHA:
- Menina... Num vai
pedi bença?
NINA:
- Bença mainha...
MARIQUINHA:
- Que Deus te dê muito juízo, que te abençoe minha
fia. (Nina sai) Sei não, ai tem... Ah, tem!
Cena 09
INTERNA /
DIA – CASA DAS ROSAS
(Câmera retorna para Casa das Rosas. Rosa está no
balcão com uma taça de vinho na mão).
ROSA:
- A meu amigo, meu velho e fiel amigo... O que é a
vida? A vida é um sonho, que se mostra bela e sedutora. Assim como o sol, como
a lua, e quando a gente acorda desse sonho, e se olha no espelho, percebe que
ela te roubou tudo que te era de mais belo. A juventude!
GOMES:
- Que isso mulher! A senhora ainda tem muita lenha
pra queimar. É uma guerreira, já venceu muitas batalhas. E eu não acho justo,
esse cabra, que ainda nem virou bode, lhe aporrinhar tanto! Ele não vai
conseguir lhe derrotar.
ROSA:
- Eu tive a chance de mandar esse demônio pro
quinto dos inferno... Mas, não! Com esse meu coração mole, tive dó, e
criei uma cobra venenosa pra me picar.
GOMES:
- É que a senhora é boa.
ROSA:
- Boa não sou não, visse? Sou é mesmo, lesa. Isso
sim, lesa!(Rosa bebe).
Cena 10
(Câmera corta para externa. Padre à caminho
da igreja, intercala com cenas de Santinha Brasão arrumando o altar)
Cena 11
IGREJA – INTERNA - DIA
EGÍDIO:
-
Bom dia
SANTINHA:
- Bom dia. (Olha com desprezo) O atendimento para
os necessitados, é só mais tarde.
EGÍDIO:
- Dona Santinha?
SANTINHA:
- Sou eu mesmo. Mas, como já lhe disse, atendimento
para os necessitados, ´s só mais tarde.
EGÍDIO:
- Prazer Dona Santinha, sou padre Egídio. (estende a mão)
SANTINHA:
- (Senta-se abismada) Você?
EGÍDIO:
- Sim.
SANTINHA:
- Assim, tão novo? E
tão...
EGÍDIO:
- Moderno. (Ela fica paralisada. Ele
a toca. Ela tira a mão dele) A senhora está bem?
SANTINHA:
- O senhor não me
parece padre.
EGÍDIO:
- Sou padre sim. Tanto quanto, pessoa, quanto na
fé. Dona Santinha, acabo de chegar de viagem, estou cansado. Conversamos mais
tarde. Fica na paz. (Sai. Ela o mede dos pés a cabeça)
SANTINHA:
- (Santinha vai ao pé da Santa) Oh minha Santa,
onde já se viu, um padre jovem, deve está todo tatuado, ainda com roupas
mundana? Aqui em Campo Verde, é o fim dos tempos! Oh, minha Santa, isso vai dá
muito que falar. Meu deus tenha misericórdia desse padre. (Câmera fecha na
Santa)
Cena 12
INTERNA /
NOITE – CASA DAS ROSAS
(Câmera retorna para Casa das Rosas. Sola ensaia as
meninas para a inauguração da Casa das Rosas).
SOLA:
- Vamos meninas! Um, dois, três... Vamos, leveza...
mãozinhas! Isso! (Magnólia dança com má vontade) Vamos querida, vamos...
Animo, nós estamos aqui pra trabalhar. E vamos, um, dois, três... (Continua
com as meninas, Malva para de dançar) Vamos meu amor, um, dois, três...
vamos! Ave Maria, parece que engoliu um cabo de enxada. Se solta! Vamos. Tá
bom, descanso. Cinco minutos. Daqui a pouco continuamos. Quero ver essa dança
perfeita para o show de inauguração. (Malva Pega um banco e senta. Sola se irrita) Quê que foi? Não
está satisfeita desce do palco querida. (Magnólia se levanta e junta-se a Dália e
Amarílis)
Cena 13
INTERNA /
NOITE – CASA DAS ROSAS
(Câmera corta para um dos
quartos. Rosa conversa com Dália).
ROSA:
- Hei, minha florzinha... Que olhar tristinho é
esse, vamos, me diga?
MALVA:
- Toda noite eu
sonho com ele.
ROSA:
- Oxê! Ele quem?
MALVA:
- Com o príncipe
madrinha.
ROSA:
- Oh, minha florzinha, você sabe que na vida real,
o príncipe não existe visse?
MALVA:
- Pra eu, ele nunca deixará de existir. E é isso
que me faz querer viver. A certeza que ele vai chegar com seu cavalo branco,
vai me colocar na garupa, e vai me levar para bem longe daqui. E lá, não sei
aonde, eu vou ser muito feliz, como nem mesmo fui na casa de mainha.
Cena 14
INTERNA /
NOITE – CASA DAS ROSAS
(Câmera retorna para Sola ensaiando com as meninas
para a inauguração da Casa das Rosas).
SOLA:
- Solta! (Malva provoca) Ai garota, já te
ensinei umas dez vezes.
MAGNÓLIA:
- Eu danço como eu
quiser.
SOLA:
- Grossa! (Continua o ensaio)
Cena 15
INTERNA /
NOITE – CASA DAS ROSAS
(Câmera corta para um dos
quartos. Rosa conversa com Dália).
ROSA:
- Oh, minha
florzinha! Se sonhar te faz feliz, visse? Então sonhe. Sonhe! Pode sonhar. Mas,
agora vamos voltar pra realidade, vamos? E vamos trabalhar,
vamos?
MALVA:
- Tá certo! Tá certo madrinha. (Malva se levanta. Sai)
ROSA:
- Pobre menina! Nem
mesmo a realidade resiste aos sonhos. (Câmera fecha nela)
Cena 16
INTERNA /
NOITE – CASA DAS ROSAS
(Câmera retorna para Sola ensaiando com as meninas
para a inauguração da Casa das Rosas).
MAGNÓLIA:
- Afê Maria, tô é
moída.
DÁLIA:
- Tô que nem me
aguento!
SOLA:
- Imagina mulherada! Imagina se eu tivesse... (Apontando as qualidades das
meninas) Essas pernas, esses eitos, esse rostinho, e esses
cabelos... Ah, não tinha pra ninguém.
DÁLIA:
- É. Se tu fosse
mulher, né Sola?
SOLA:
- E quem disse que não sou? Eu sou sim. Sou uma
alma feminina num corpo estranho. Um erro dos Deuses é claro! Agora, animo
meninas, animo! (Close nele) Purpurina!
Cena 17
INTERNA /
NOITE – CASA DO CORONEL GILMAR
(Mostra lua, faixada da casa de
Gilmar. Câmera corta área interna).
GILMAR:
- Prefeito?!
WILDEBRANDO:
- Em primeiro lugar, obrigado por me receber assim,
tão as pressas. Mas o coronel sabe que não sou de lhe aporrinhar, por qualquer
besteira. E o motivo que me trás aqui é de estrema importância e de seu total
interesse, num sabe?
GILMAR:
- Então o amigo deixe de arrodeio e vá direto ao
assunto que lhe trouxe aqui. Vamos encurtar essa prosa.
WILDEBRANDO:
- Pois bem seu
coronel...
GILMAR:
- Já falei que não gosto que me chame de coronel!
Que coisa mais ultrapassada prefeito.
WILDEBRANDO:
- Perdão! É a força
do hábito.
GILMAR:
- Tá, tá... Então, vá direto ao assunto. A que veio
aqui?
WILDEBRANDO:
- É que aquele filho de uma quenga, aquele carcará
sanguinolento, cafuçú da gota serena, que representa a oposição, anda
espalhando boatos sobre minha gestão. Que poderá prejudicar todo nosso esquema,
se é que o amigo me entente?
GILMAR:
- Entendo, entendo sim... E o amigo que sempre
pensei que fosse sangue no olho, agora está se deixando levar, intimidar por um
emboléu de meia pataca. Ora prefeito, era pra ter resolvido esta situação por
muito mais tempo. Te mostrado quem manda nesta situação, Já era pra te
resolvido, ter dado uma prensa nele e mostrado quem manda aqui.
WILDEBRANDO:
- Mas ai é que está. O povo está começando a dar
ouvido a esse infeliz...
GILMAR:
- Por isso mesmo que temos que tomar providências,
se tomarmos providencias, perdemos as rédeas e ai sim, o senhor sabe, que isso
não é bom, nem pra mim, nem pro senhor. Entreguei ao senhor, prefeito, a cidade
de Campo Verde. Cabe ao senhor cuidar dessa administração. O senhor não vai me
decepcionar, vai?
WILDEBRANDO:
- O senhor acha melhor, eu dar cabo desse filho do
cabrunco?
Imagem congela. Continua...
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