HOMEM DO CAMPO – CAPÍTULO 5
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Novela de Marcondys França
Direção: Marcondys
França, Cauê Bonifácil, Dill França e Albino
Ventura
Direção
Geral de Marcondys França
Capítulo 5
Cena 35
INTERNA /
DIA –– CASA DE SANTINHA BRASÃO – SALA
SANTINHA:
- Por que tá assim
tão acabrunhado, meu filho?
WILDEBRANDO:
- É minha mãe... Os tempos, são outros, num sabe?!
Esse bando de mundicas, já não são tão manipuláveis como antes!
SANTINHA:
- Nada disso! Ainda manda quem pode, e obedece,
quem tem juízo. Meu filho, basta apenas conduzir, com rédeas em prumo, ou
então, as coisas desandam.
WILDEBRANDO:
- Ai é que está minha mãe... Sinto que o domínio do
coronel, sobre essa gente, está minguando cada dia mais.
SANTINHA:
- Não há poder, sem
forca meu filho. Política é pra quem tem pulso.
WILDEBRANDO:
- É verdade!
SANTINHA:
- Não há lugar para os fracos... Só os vitoriosos
que permanecem. É como a comunheira, precisa ser firme...
WILDEBRANDO:
- E que minha mãe
acha que deve ser feito?
SANTINHA:
- Faça o que tiver que ser feito. O que o homem
recrimina, em nome da lei e da ordem, Deus perdoa.
WILDEBRANDO:
- Sábias palavras
minha mãe.
SANTINHA:
- Eu vou rezar por você.
WILDEBRANDO:
- Preciso de reza
não minha mãe... Preciso de votos.
SANTINHA:
- Eu rezo, você conquista. Seja lá o que tenha que
fazer faça, vença e não deixe de fazer.
WILDEBRANDO:
- Sua benção minha
mãe.
SANTINHA:
- Deus o abençoe. Levantam-se. (Ele beija-a na testa)
WILDEBRANDO:
- Com sua licença.
SANTINHA:
- Vá com Deus. Ele sai. (Ela senta-se em sua poltrona pega seu terço e
começa a rezar. Câmera fecha no terço).
Cena 36
EXTERNA – DIA – CACHOEIRA
(Fátima está na varanda da casa fazendo uma trança
em Nina)
NINA:
- Ah, mainha! Eu tô
cum medo vice? Medo!
FÁTIMA:
- Carma fia, carma! Aminhã
vou fala com cumadre Fátima.
FRANCISCO:
- Que que aquele fio
de uma égua, fez cum minha irmã, mainha?
FÁTIMA:
- Olha o respeito
Chico. Vá lá pra dentro fia, vá... (Nina
sai)
FRANCISCO:
- Ele buliu com ele,
num buliu?
FÁTIMA:
- Francisco, chega, para!
FRANCISCO:
- Poi isso num vai fica assim não... Vou sangrar
esse cabra da peste inté a morte, vice?
FÁTIMA:
- Osce num vai fazê nada disso não. Dá isso aqui.
Quem vai passa isso a limpo sou ieu.
FRANCISCO:
- Ieu que sou o home
dessa casa, vice?
FÁTIMA:
- E ieu sou sua mãe,
vice? Se aquete no seu canto e num faça nenhuma bobagem!
FRANCISCO:
- (Se zanga) Arre! (Sai esbravejando)
FÁTIMA:
- Cabeça dura da gota! (Sai resmungando)
Transição: imagens do cotidiano em Campo Verde
CENA 37
(Chica fica
atrás de uma arvore observando Iolanda se encontrando as escondidas com
Wildebrando Brasão).
IOLANDA:
- Qh, para...
Espera... Olha, tenho medo que Gilmar faz mal pra tu.
WILDEBRANDO:
- Ah, faz nada!
IOLANDA:
- Tenho medo que
Gilmar descubra.
WILDEBRANDO:
- Descobre não...
IOLANDA:
- E lhe mate! (Ele agarra ela com pegada)
WILDEBRANDO:
- Que mata nada!
IOLANDA:
- Mata não?
WILDEBRANDO:
- É um bode véio...
IOLANDA:
- Mais é poderoso.
WILDEBRANDO:
- Que isso meu
amor?! Tá pra nascer homem pra me meter medo.
IOLANDA:
- Faz o touro faz...
faz... (Gritinhos de
prazer)
CHICA:
- Danou-se!
IOLANDA:
- Nossa, que home
afobado!
WILDEBRANDO:
- Você... você é um
pitelzinho... Um pedaço de mal caminho Iolanda!
IOLANDA:
- Você me ama?
WILDEBRANDO:
- Pro resto da vida!
IOLANDA:
- Espera, meu touro
brabo! Olhe, deixe eu te falá uma coisa...
WILDEBRANDO:
- Fale...
IOLANDA:
- Me pega meu touro
brabo... (sai correndo, ele vai atrás).
CHICA:
- Fui!
CENA 38
EXTERNA – DIA – ESTRADA RURAL
(Nina tenta
conter a fúria de Francisco que faz emboscada para Zeca).
FRANCISCO:
- Arre!
NINA:
- Chico, pare com
isso...
FRANCISCO:
- Larga deu, larga
mão, larga deu...
NINA:
- Donde vai assim,
pelo amor de Deus homi...? Homi deixa disso!
(Zeca aparece ao longe num contra plano)
FRANCISCO:
- É com esse
disgramento que ieu quero falá.
ZECA:
- Se pensa que tenho medo de oscê, cê tá enganado.
FRANCISCO:
- Oxi! Vou baixar
sua crista.
NINA:
- Para com isso
Chico.
FRANCISCO:
- Tá pensano o que seu cabra safado! Oscê buliu foi
com a irmã de um cabra macho, vice?
ZECA:
- Não Francisco, pare com isso! (Ele a empurra) Sai, sua desavergonhada!
NINA:
- Grosso, estupido! (Corre para os braços de Zeca) não dê ouvido a
ele...
FRANCISCO:
- Ieu só tão homi
quanto oscê.
FRANCISCO:
- Sai Nina, saia... Minha conversa é com esse cabra
safado, filho de um aégua.
ZECA:
- Oscê respeite mainha que é mulé de bem... (Francisco puxa o facão)
(Mariquinha percebendo a confusão entre no meio dos dois)
MARIQUINHA:
- Pare já com isso
Chico.
FRANCISCO:
- Saia da minha
frente mainha, saia... Que eu vou furar esse cabra safado.
ZECA:
- Me deixe passar,
não quero confusão. Só quero seguir meu caminho.
FRANCISCO:
- Confusão oscê arrumou, quando mexeu com a irmã de
um cabra homi... Ieu quero atravessar essa pexeira em teu bucho, e v~e tuas
tripas sair pra fora. (Mariquinha sempre o segurando)deixe mainha,
deixe!
ZECA:
- Ieu amo Nina e vou
casá cum ela.
FRANCISCO:
- Sei não, sei
não... Num sei se vai tá vivo pra isso...
NINA:
- Mainha!
MARIQUINHA:
- Deixa disso chico!
Guarde essa peixeira, chico.
FRANCISCO:
- Minha cunvesa é
com esse cabra safado, mainha!
NINA:
- Mainha, ele vai
fazer uma desgraça.
FRANCISCO:
- Vou enfiar essa
peixeira toda no bucho dele. Sai, deixe mainha!
ZECA:
- Quer furá, fura.
Mas, saiba que vai tá furando um homem de verdade.
MARIQUINHA:
- Chega Chico, chega! Pelo amor de Deus Chega! Se
que furá arguém, que fure eu. Fure a tua mãe, já que vai me dá esse desgosto.
Que me mate logo...
FRANCISCO:
- Sai da frente, saia...
MARIQUINHA:
- Guarde essa
peixeira, Chico!
FRANCISCO:
- Arre mainha saia já da minha frente, minha
conversa é com esse cabra safado. Saia mainha, saia da minha frente.
ZECA:
- Pare chico, guarde
essa peixeira. Se tu que matar arguem, mate eu, mate tua mãe. Enfica, enfica
aqui, bem dentro do meu peito. Assim num vou ter que passar por esse desgosto.
FRANCISCO:
- (Ele enfinca a peixeira na árvore) Arre!
MARIQUINHA:
- vai pra casa, toma
um banho gelado, esfria a cabeça...
(FRANCISCO SAI RESMUNGANDO MARIQUINHA PUXA NINA E SAI)
TRANSIÇÃO: NOITE DE LUA CHEIA
CENA 39
INTERNA – NOITE – CASA DAS ROSAS - QUARTO
(Everaldo está no quarto com Dália).
EVERALDO:
- É bonita por
demais...
DÁLIA:
- Agradecida!
EVERALDO:
- Você gosta de
viver aqui?
DÁLIA:
- Como assim?
EVERALDO:
- Uma vida dessas,
num sabe?
DÁLIA:
- A gente se acostuma, num sabe? Se não tem jeito,
remediado esta.
EVERALDO:
- Parece até um anjo, esculpida por Botticelli.
DÁLIA:
- Boti o que?
EVERALDO:
- O nascimento de Vênus, esculpida por Sandro
Botticelli, que mostra Vênus nua, saindo uma concha, sobre as aguas do mar...
Mas você, é ainda mais lida que ela.
DÁLIA:
- Posso apagar a luz
EVERALDO:
- Não deveria. Sua
beleza é pra ser apreciada, não é mesmo?
DÁLIA:
- É que me sinto mais a vontade,
num sabe?
EVERALDO:
- Sendo assim, tudo
bem. (Ela apaga a luz)
Cena cota para a casa de Dona Menininha
CENA 40
INTERNA – NOITE – CASA DE MENENINHA - QUARTO
(MENININHA CHEGA
EM CASA ALTAS HORA E TENTA NÃO FAZER BARULHO PARA QUE Mané TIMBÒ NÃO PERCEBA).
MENENINHA:
- (Olha pela janela que está aberta
Timbó está dormindo. Entra nas pontas do pé. Troca de roupa e segue para cama).
MANÉ TIMBÓ:
- (Acende a luz) Isso são horas Dona Menininha
Timbó?
MENENINHA:
- Ah! Que susto
homi...
MANÉ TIMBÓ:
- Mode que tá entrando na pontas dos pés?
MENENINHA:
- Mode num fazê zuada enquanto oscê, dorme. Tava
num soninho tão gostoso...
MANÉ TIMBÓ:
- Que arrumação do
cão é essa?
MENENINHA:
- Misericórdia homem! Não fale o nome dessa coisa
dentro dessa casa não. Esse é um lugar sabrado, o sangue de Cristo, está
esparramado por esse lar. Entendeu? Tá amarrado!
MANÉ TIMBÓ:
- Já tô começando a
ficar desconfiado desse tal de culto, tarde da noite.
MENENINHA:
- Vôlte home! Eu tava é orando. Orando pra que Deus
abençoe nós e você ganha as eleições.
MANÉ TIMBÓ:
- e precisa ser tão
tarde assim dona Menininha?
MENENINHA:
- Home, presta atenção... (se levanta pega a bíblia) É de madrugada que
o crente, busca poder. Com a cara e os joelhos no chão, eu clamo para o bem de
nós dois.
MANÉ TIMBÓ:
- Você devia ter cuidado é com o Nego Bateau Mouche. Dizem que andou atacando lá pras bandas da Serra Alta.
MENENINHA:
- Oxe homem! Eu tô com cristo. E quando Cristo vai
na nossa frente, não há mal nenhum que nos pegue, vice?
MANÉ TIMBÓ:
- Entãi vá se
ajeitá, que eu quero dormi.
MENENINHA:
- Vou, eu vou sim... (Ela sai. Ele se
deita).
CENA 41
INTERNA – NOITE – CASA DAS ROSAS - QUARTO
(Magnólia tenta
fazer de Fortunado seu aliado para tomar o lugar de Rosa)
MAGNÓLIA:
- O que seu delegado vai fazê com ieu?
FORTUNATO:
- Que pergunta mais errada... (Tirando a camisa) O que oscê vai
fazer com ieu... Tudo né?
MAGNÓLIA:
- Mai antes, eu tenho uma proposta...
FORTUNATO:
- E que disse que vim até aqui ouvi proposta... (ele vai até ela na cama)
MAGNÓLIA:
- (se levanta) Mais é algo muito
vantajoso, tanto pra ei, quanto pro senhor... é sobre negócio.
FORTUNATO:
- Eita que o negócio
aqui tá tinindo (Indo até ela)
MAGNÓLIA:
- É sobre dona rosa.
FORTUNATO:
- Para ô... Tá de
brincadeira?
MAGNÓLIA:
- (vai até o
espelho) Escute... sei como ganhar dinheiro, muito
dinheiro. Dona Rosa tá por demais, ultrapassada. E a casa já não rende como
naqueles bons tempos. Eu sou jovem, bonita, disposta e tenho ainda muita lenha
pra queimar. (Empurra ele na cama)
FORTUNATO:
- Não estou entendendo onde você que chegar.
MAGNÓLIA:
- Numa sociedade...
FORTUNATO:
- Sociedade?
Enlouqueceu?
MAGNÓLIA:
- Oscê conhece um monte de meninas
por esse mundão... E o senhor sabe muito bem, se perdeu, já era.
FORTUNATO:
- Ainda não entendi onde que chegar com essa
conversa.
MAGNÓLIA:
- Escute... Oscê fecha a Casa das
Rosas e depois reabre com ieu no comando.Com novas meninas, e juntos, dividimos
os lucros.
FORTUNATO:
- Eita! Não é uma má
ideia... Não é que Dona Rosa tá criando uma jararacazinha perigosa. Agora vamos
terminar o que a gente começou...
MAGNÓLIA:
- Promete pensar no assunto?
FORTUNATO:
-Prometo. Agora me alivia.
CENA 42
INTERNA – NOITE – CASA DE MENENINHA - QUARTO
(MENININHA
RETORNA AO QUARTO, MANÉ DORME, ELA PASSA CREME NO CORPO, ESTÁ SE PREPARANDO PRA
UMA NOITE DE AMOR, ELE NEM SE MEXE, ELA DEITA ELE VIRA-SE PARA O OUTRO LADO,
ELA ENTA IRRITADA DORMIR).
TRANSIÇÃO CAMPO
CENA 43
INTERNA – DIA – CASA DE FÁTIMA - QUARTO
(JOÃO ESTÁ SENTADO NA VARADA DA
CASA, FÁTIMA VAI ATÉ ELE)
FÁTIMA:
- Meu veio...
JOÃO:
- Oi? (Ela senta-se do lado
dele)Olha que dia lindo.
FÁTIMA:
- Tá bonito mesmo!
JOÃO:
- E hoje vai fazer um dia quente.
FÁTIMA:
- E vai mesmo. O café tá pronto,
do jeitinho que oscê gosta meu veio.
JOÃO:
- Fez aquele bolinho de fubá?
FÁTIMA:
- Fiz. E ficou mió que ozutros.
JOÃO:
- Isso, vou levar um pedaço pro
trabaio...
FÁTIMA:
- leva mermo. E o café já tá na garrafa. Mais tarde levo o armoço. (ele a beija na testa e sai)
JOÃO:
- Bora entrar veia...
CORTA PRA FAIXADA DA CASA DE MARIQUINHA
CENA 44
INTERNA – DIA – CASA DE MARIQUINHA - SALA
(FRANCISCO PREPARA UM CIGARRO DE
PALHA)
FRANCISCO:
- Se mainha veio azucrinar minha zoreias, fique sabeno que tô de ovo
virado, vice?
MARIQUINHA:
- Apoi fique sabeno, que vai ouvi assim mesmo. (senta) Tá pensando o que Chico? Quer desgraçar tua vida, quer?
FRANCISCO:
- Oxe! Pois fique mainha sabeno, que se num fosse a senhora chega, eu
tinha sangrado aquele cabra safado é na pota da peixeira. Pra ele sabe que
buliu com a filha e irmã de cabra macho.
MARIQUINHA:
- E ia resolvê o probrema, ia?
FRANCISCO:
- Se painho tivesse vivo, ia dá razão a ieu... Mode que honra se lava é
na ponta da peixeira.
MARIQUINHA:
- Teu pai jamais ia querê um fio assassino.
FRANCISCO:
- Ela tá seguindo o caminho daquela uma lá...
MARIQUINHA:
- Cala a boca, não se fala mais nenhuma palavra sobre isso.
FRANCISCO:
- (Se levanta e joga o cigarro no
chão) É isso mermo, vai segui o caminho daquela uma lá...
MARIQUINHA:
- Cala a boca.
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