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Novela de Marcondys França
Direção: Marcondys
França, Cauê Bonifácil, Dill França e Albino
Ventura
Direção
Geral de Marcondys França
Capítulo 3
Cena 18
INTERNA /
NOITE – CASA DO CORONEL GILMAR
(Mostra lua, faixada da casa de
Gilmar. Câmera corta área interna)
GILMAR:
- Prefeito?!
WILDEBRANDO:
- Em primeiro lugar, obrigado por me receber assim,
tão as pressas. Mas o coronel sabe que não sou de lhe aporrinhar, por qualquer
besteira. E o motivo que me trás aqui é de estrema importância e de seu total
interesse, num sabe?
GILMAR:
- Então o amigo deixe de arrodeio e vá direto ao
assunto que lhe trouxe aqui. Vamos encurtar essa prosa.
WILDEBRANDO:
- Pois bem seu
coronel...
GILMAR:
- Já falei que não gosto que me chame de coronel!
Que coisa mais ultrapassada prefeito.
WILDEBRANDO:
- Perdão! É a força
do hábito.
GILMAR:
- Tá, tá... Então,
vá direto ao assunto. A que veio aqui?
WILDEBRANDO:
- É que aquele filho de uma quenga, aquele carcará
sanguinolento, cafuçú da gota serena, que representa a oposição, anda
espalhando boatos sobre minha gestão. Que poderá prejudicar todo nosso esquema,
se é que o amigo me entente?
GILMAR:
- Entendo, entendo sim... E o amigo que sempre
pensei que fosse sangue no olho, agora está se deixando levar, intimidar por um
emboléu de meia pataca. Ora prefeito, era pra ter resolvido esta situação por
muito mais tempo. Te mostrado quem manda nesta situação, Já era pra te
resolvido, ter dado uma prensa nele e mostrado quem manda aqui.
WILDEBRANDO:
- Mas ai é que está. O povo está começando a dar
ouvido a esse infeliz...
GILMAR:
- Por isso mesmo que temos que tomar providências,
se tomarmos providencias, perdemos as rédeas e ai sim, o senhor sabe, que isso
não é bom, nem pra mim, nem pro senhor. Entreguei ao senhor, prefeito, a cidade
de Campo Verde. Cabe ao senhor cuidar dessa administração. O senhor não vai me
decepcionar, vai?
WILDEBRANDO:
- O senhor acha melhor, eu dar cabo desse filho do
cabrunco?
GILMAR:
- O que senhor vai fazer, ai não é comigo. Só sei
que por enquanto o senhor Wildebrando Brasão é o prefeito de Campo Verde. Eu
entreguei essa cidade em suas mãos, e o amigo não vai me decepcionar... Faça o
que achar melhor. Se o senhor não acabar com essa fuleragem aqui... Essa cabra
vai achar que o senhor é um frouxo, que o senhor é um Zé Mané! Resolva
prefeito, resolva.
WILDEBRANDO:
- Vou dá cabo dessa
estripulia, antes de incensar de vez.
GILMAR:
- Tá certo, tá
certo... Resolva prefeito, resolva!
WILDEBRANDO:
- Sim senhor, com
licença!(Sai ligeiro, cerimonioso).
GILMAR:
- (Senta-se irritado) Era só que me
faltava agora. Tendo que resolver problema de prefeitura também!
Cena 19
EXTERNA /
DIA – CAMPO VERDE
(ZECA CAVALGANDO. Para de frente
a casa e amarra o cavalo numa estaca. Câmera corta para fogão de lenha com fogo
aceso. Ouve-se o barulho de alguém batendo mão de pilão. Câmera revela
Mariquinha. Geral o Sítio Campo Verde. Câmera corta para casa de Fátima)
(Fátima
catando feijão em cima da mesa)
NINA:
- Bom dia Dona
Fátima?! A senhora parece meio avexada...
FÁTIMA: (Cata feijão de corda na mesa)
- É, e como tô. Tô mermo! Astranoite quase num
dormi, mal preguei os zóios, quando tava dando uma madorna.... dirrepenti ouvi
gemidos...
NINA:
- Vigi que Nossa Sinhora... (Se benze) Valei-me Deus!
Mai o que era mulé?
FÁTIMA:
- Me levantei num sarto, acendi o candieiro e fui
me a chagano...
NINA:
- Deus é pai! Era
assombro, é?
FÁTIMA:
- Era Zeca.
NINA:
- Mai que
hístória é essa?
FÁTIMA:
- E num foi?!
Foi...
NINA:
- Zeca tava
assumbrado é?
FÁTIMA:
- Não, mai que nada. Passou mau mermo, ardia em
febre, quemava feito brasa, e tremia que nem vara verde.
NINA:
- Oxê! Hoje eu vi ele... E me pareceu bem.
FÁTIMA:
- E foi é...? Acendi uma vela par nossa
Senhora do perpétuo Socorro, e graça a Deus, a Virgem Santíssima ele teve uma
miora.
NINA:
- Inda bem... E nois tava cunversano... falamo
do... meu namoro cum ele, num sabe?!
FÁTIMA:
- Falou de casamento
foi?
NINA:
- É. Mai Zeca...
FÄTIMA:
- Poi fique sabeno
que foço muito gosto.
Cena 20
INTERNA /
DIA – CAMPO VERDE CIDADE – CASA DE MANÉ TIMBÓ
(Menininha entra em cena segurando uma bíblia segue
até a rede na varanda. Senta-se e calmamente folheia-a).
MANÉ TIMBÓ:
- Tá com a bexiga!
Corja disgramenta.
MENININHA:
- Olha, eu já te disse pra num se meter com essa
gente.
MANÉ TIMBÓ:
- Que quer que eu faça? Que feche meus olhos, pra
essa sujeirada que vem acontecendo a anos com dinheiro público?
MENININHA:
- É capaz de tudo, pra tirar do caminho, quem
atrapalha os interesses deles.
MANÉ TIMBÓ:
- Fui eleito pra representar esse povo na câmara, e
não vou ficar calado com essa farra acontecendo diante dos meus olhos.
MENININHA:
- Ah, é? E que vai defender essa família se algo te
acontecer homem?
MANÉ TIMBÓ:
- Homem, pelo sangue de Jesus! Deixa essa história
pra lá...
MENININHA:
- Essa gente, é perigosa, pode te arrumar uma
emboscada.
MANÉ TIMBÓ:
- Vou cumprir com meu papel, denunciar toda essa
corja, e todos os desmandos desse prefeito, que não passa de um gatuno.
MENININHA:
- Pra que Mané, pra
que? Pra ter uma placa com teu nome, numa dessas ruas miseráveis? Escuta aqui
deixa essa história de lado...
MANÉ TIMBÓ:
- escuta aqui você dona Menininha, você casou com
um homem, um homem! E não foi com um covarde não...
MENININHA:
- Apoi... eu prefiro um covarde vivo, bem vivo! Que
um herói morto, visse? (Senta na rede. Pega a bíblia) Deixa essa
história pra lá, já te disse que essa gente é perigosa por demai... Que saber?
Vou orar. Orar! Orar pra Deus, poi é a única coisa que me resta.
(Menininha
sai. Mané Timbó senta na rede)
Cena 21
INTERNA /
DIA – CAMPO VERDE SÍTIO – CASA DE MARIQUINHA
(Mariquinha está varrendo a casa, percebe Nina
sentindo-se mal, ouve vomitando).
MARIQUINHA:
- Passando mal de
novo Nina?
NINA:
- Tô bem mainha... (Senta em uma cadeira) Foi nada não, tô
bem.
MARIQUINHA:
- Tá amarela. Võ te
levar no posto.
NINA:
- Num se incomode
não! Eu tô bem. Tô bem...
MARIQUINHA:
- Bem mal.
NINA:
- Vai passar.
MARIQUINHA:
- (Puxa a cadeira e senta) Nina, aconteceu
arguma coisa com oscê?
NINA:
- Oxê mainha?! Que
juízo faz de ieu?
MARIQUINHA:
- Nina, eu seio como
é essas coisas...
NINA:
- Poi eu não.
MARIQUINHA:
- Então num vai se importar de eu fazê o teste do
barbante (Pega um barbante)
NINA:
- Oxê, mainha?! Num
confia nêu?
MARIQUINHA:
- Oscê que num confia nessa veia mãe Nina? Nina,
nina... Eu já vivi o bastante, pra sabe o que tá aconteceno aqui, mode que tá
na cara o que tu, esconde tanto, fia?!(Há um silêncio)
NINA:
- (Nina desabafa) Mainha...Eu acho
que tô prenha.
MARIQUINHA:
- (Se preocupa) Ai meu Deus! Bem
que eu desconfiava.
NINA:
- Minhas regras tão
atrasadas.
MARIQUINHA:
- Ah, meu Deus! Teu irmão vai virar um bicho Nina.
NINA:
- Oxê, ele num tem
nada com isso mainha. A vida é minha!
MARIQUINHA:
- Mai se importamo com oscê fia.(T) Ele vai querê
tirar satisfação com Zeca. Nina, uma moça falada?! Ah meu Deus!
NINA:
- Eu num sei se tô buchuda. Mai de quarquer forma,
Zeca vai casá conheu.
MARIQUINHA:
- Poi que faça isso antes, que esse bucho cresça
fia. (Silêncio)
NINA:
- Eu tô com medo
mainha. Medo!
MARIQUINHA:
- (Abraça Nina) Carma fia, carma!
Agente vai resolvê isso. (Câmera se aproxima das duas em
close e se mistura a lua)
Cena 22
INTERNA /
DIA – CAMPO VERDE CIDADE – CASA DAS ROSAS
SOLA:
- Pois não?
MULHER:
- Quero falar com
Rosa.
SOLA:
- Só um minutinho, já vou chamar... (Mulher olha
a decoração do bordel)Não mexa em nada. (Rosa se maquiando de frente ao
espelho)Dona rosa?
ROSA:
- Fale sola...
SOLA:
- Tem uma
maltrapilha querendo falar com você.
ROSA:
- Mas essa hora?
Você perguntou o nome?
SOLA:
- Sei quem é não.
ROSA:
- Bem na hora do
show Sola?
SOLA:
- Ah! (Sai. Vai em direção a mulher)Dona
Rosa já vem, visse?
MULHER:
- (Mulher continua observando a casa.
Sola de frente a um longo espelho se ajeita).
ROSA:
- Que tá fazendo
aqui criatura?
MULHER:
- Tenho mais uma
fulozinha pra tu...
ROSA:
- Oxê! Tem que deixar pra outro dia... Logo vai
começar o show. Agora vá... Escuta, amanhã me trás a florzinha, visse? (A mulher sai. Rosa se dirige a Sola) Oh, Sola, como é
que tu, deixa essa mulher entrar bem na hora do show?
SOLA:
- (Fica irritado) Ah!
CENA 23
INTERNA /
NOITE – CAMPO VERDE SÍTIO – CASA DE FÁTIMA
(Fátima está na cozinha
cantarolando, preparando a janta, João entra).
JOÂO:
- Eu tô é varado de fome, num sabe? (Tenta pegar
algo na panela. Fátima bate na mão dele)
FÁTIMA:
- Tire a mão de minha panela! Num sabe que num
gosto de ninguém cercano minha cozinha quando tô cozinhando, visse?
JOÂO:
- Voltê! Que mulé
arretada!
FÁTIMA:
- Deixa de graça!
Oh, quase queima visse?
JOÂO:
- (Resmunga)Hum!
FÁTIMA:
- João? Eu tô
preocupada visse?
JOÃO:
- Oxê! Mai cum que?
FÁTIMA:
- Com esse chamego
de Nina e Zeca...
JOÃO:
- Mai eles é jovem, tem mai que
curti a vida mermo!
FÁTIMA:
- Tu diz isso, mode
que num é tua fia, visse?
JOÃO:
- Como já diz o ditado: Prende tuas cabras, que meu
bode tá sorto!
FÁTIMA:
- Que coisa mais
feia, Vôlte!
(Câmera corta para Casa das Rosas)
Cena 24
INTERNA /
NOITE – CAMPO VERDE CIDADE – CASA DAS ROSAS
(Casa lotada. Estão várias
autoridades e homens ilustres da cidade. Rosa sobe ao palco para o discurso de
inauguração).
Rosa:
- Boa noite?! Sejam todos bem vindos. Vamos
aproveitar essa noite que eu preparei com todo carinho para vocês... regada de
muita luxúria e prazer! (Homens brindam) E esta noite
festiva que está apenas começando, em que eu tenho a honra de recebe-los aqui,
na Casa das Rosas, essa casa que reabre para receber os amigos e visitantes.
Homero:
- Rosa hoje só tá
querendo discursar.
ROSA:
- Oxênte homem...
Nessa vida há tempo pra tudo. Há tempo até mesmo, pra uma bela prosa.
HOMERO:
- Oxê, e porque não trás
logo essas meninas?
ROSA:
- Virge Maria, o ilustre Homero tá mesmo muito
avexado. Mas, antes quero fazer um breve agradecimento aos ilustres, que aqui
hoje se fazem presentes. Quero agradece ao nosso ilustre perfeito, Wildebrando
Brasão!(Aplausos)Também quero apresentar o nosso presidente da Câmera
Municipal, nosso ilustre, Pedro Timbó. (Aplausos)
MANÉ TIMBÓ:
- Muito obrigado, muito obrigado Dona Flor!
ROSA:
- (Contrariada) Quero também
agradecer a presença do Delegado.
WILDEBRANDO BRASÃO:
- Rosa, se me permite uma palavrinha. (Se apossa do
microfone)Caro senhores, quero aproveitar essa noite festiva para congratular a
minha imensa alegria, ao ver reabrir essa casa, com tantas belas jovens, que
devemos prestigiar...
MANÉ TIMBÒ:
- Um momento... um momento! O Senhor, a vossa
excelência está confundindo esse espaço, com um, de seus palanques, onde o
senhor prefeito, está acostumado a destilar o seu veneno, e insultar nossos
ouvidos com falsas promessas. É... Falsas promessas!
ROSA:
- Que isso senhores?!
MANÉ TIMBÒ:
- O senhor é um
canalha!
WILDEBRANDO BRASÃO:
- Canalha? (Vai para cima do outro)
ROSA:
- Que isso senhores,
calma?!
WILDEBRANDO BRASÃO:
- Fale baixo
comigo...
ROSA:
- Calma, calma,
calma...
(Corta para casa de Mariquinha)
CENA 25
INTERNA / NOITE – CAMPO VERDE SÍTIO – CASA DE FÁTIMA
JOÃO:
- Tu acha que...?
FÁTIMA:
- Pra mim Nina é mulé. Mai cheia, os peito farto...
O andar diferente, tá até com os oios rasgados.
JOÃO:
- Hum!
FÁTIMA:
- Espero em Deus, que ieu esteja enganada. Mas,
escuta que tô falano,ai tem. Onde há fumaça, a fogo!
JOÃO:
- Diacho! Mai Zeca vai mexer logo com menina moça,
com tantas mulheres que tem por ai...
FÁTIMA:
- Nem continue... (Pega a colher de pau e ameaça) Se vai fala
daquelas uma, mulheres da vida... Olha, se eu souber que tu tá se engraçando
com as meninas, daquela uma lá... eu vou lá e boto fogo com tu, e todas aquelas
perdidas junto, visse?
JOÃO:
- Oxê! Mai tu num sabe que só tenho oios pra oscê
mulé?!
FÁTIMA:
- Sai... Sai!Me
deixa, me deixa, que hoje tô azeda, visse?
(Corta para casa das Rosas)
CENA 26
INTERNA /
NOITE – CAMPO VERDE CIDADE – CASA DAS ROSAS
Rosa:
- Gente! Não vamos
estragar essa noite. É a inauguração da Casas das rosas.
FORTUNATO:
- Senhores, deixemos essa rixa para outra ocasião.
Estamos aqui, é para nos divertir...
ROSA:
- É verdade! E eu que preparei essa inauguração com
tanto carinho... Que isso senhores?
WILDEBRANDO BRASÃO:
- Você é um carcará
sanguinorento!
ROSA:
- Senhores, calma! Calma prefeito, calma senhor
Timbó... Sentem, por favor. Não vamos estragar essa noite tão maravilhosa. Que
eu, preparei para os senhores com tanto esmero, com coisinhas miúdas...
FORTUNATO:
- É para nos divertir que estamos aqui hoje.
ROSA:
- É verdade. Então que venha as meninas... Sola, traga
as meninas.
(Corta para casa de Fátima)
Cena 27
INTERNA /
NOITE – CAMPO VERDE SÍTIO – CASA DE FÁTIMA
FÁTIMA:
- E tu que num me invente de história e quenga. Eu
boto fogo naquele antro, boto, visse?
JOÃO:
- Oxê! Carma minha véia, carma! Uma coisa por vei...
Num pode fica assim, apavorada.
FÁTIMA:
- Saia, saia... Vá cuidá das tuas coisas, vá...
JOÃO:
- Oxê, Volte!
FÁTIMA:
- Só que fartava! Onde já se viu, casa de mulé
quenga.
(Corta para Casa das rosas)
Cena 28
INTERNA /
NOITE – CAMPO VERDE CIDADE – CASA DAS ROSAS
SOLA:
- Senhores, preparem-se para presenciar, aqui,
neste palco... O inesquecível, o extraordinário, com muita beleza, com muito
glamour... As meninas da Casa das Rosas! (Aplaudem. Entram as meninas. Elas
dançam).
Imagem congela. A seguir...
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