HOMEM DO CAMPO – CAPÍTULO 8
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Novela de Marcondys França
Direção: Marcondys
França, Cauê Bonifácil, Dill França e Albino
Ventura
Direção
Geral de Marcondys França
Capítulo 7
Cena 55 CONTINUAÇÂO
BRUNA:
- Olhe conseguimos o dinheiro, e vamos operar o José Carlos.
FÁTIMA:
- Glória a Deus!
JOÃO:
- Mai de onde veio essa ajuda?
MARIQUNHA:
- Quem é esse anjo?
BRUNA:
- Uma senhora.
JOÃO:
- Só por Deus mermo! Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo e Padre Cícero,
ouvi minhas preces, num sabe?
BRUNA:
- Olhe, admiro a fé de vocês. Mas, quem ajudou foi a esposa de seu
patão. Ela ouviu a conversa, ficou comovida e vai financiar a cirurgia.
FÁTIMA:
- Que Deus abençoe!
JOÃO:
- (se levanta e vai a um canto da
casa tira o chapéu e olha para o alto em agradecimento) Graças a nosso
Senhor Jesus cristo!
BRUNA:
- Olhe seu João... Ela só pede segredo.
MARIQUNHA:
- Oxi! Mai que história é essa? Mode que segredo?
BRUNA:
- É por conta do marido.
MARIQUINHA:
- Que coisa mais estranha essa história, sem pé nem cabeça.
FÁTIMA:
- Mai o importante é que em nome de Jesus o meu Zeca vai fica bem.
BRUNA:
- Olhe, tem um pequeno problema... A ambulância está quebrada e não
poderá levar vocês...
FÁTIMA:
- Eu quero ficá perto do meu fio, ele vai precisa de eu...
JOÃO:
- Oxi! Mai noi num podemo entrá no ombro a força.
BRUNA:
- Tenho aqui um dinheirinho e acho que será o suficiente pra vocês irem
à capital e vê Zeca.
JOÃO:
- Mai num podemos aceita... A senhora já tem sido tão boa comigo.
FÁTIMA:
- Oxi! Daqui. Isso é hora de orgulho meu veio? (Pega
o dinheiro e guarda no sutiã) É pelo nosso filho!
BRUNA:
- Olhe, aqui está o endereço do hospital. Chegando lá me procure.
JOÃO:
- Agradecido! Só Deus Nosso senhor jesus Cristo pra pagar a senhora por
tudo que tem feito.
BRUNA:
- Que isso seu João! Já vou indo. Até...
MARIQUNHA:
- Vou com a senhora até a porta... (Saem)
FÁTIMA:
- Amenhã bem cedinho vamo pegá o primeiro ombrio e vamo pra rodoviária.
Transição Zona Rural campo Verde
Cena 56
NOITE – CASA DAS ROSAS – SALA
(Rosa olha pela janela e observa a lua, parece
encantada. Resolve falar sobre uma lenda)
ROSA:
- É noite de lua cheia...
SOLA:
- Madrinha, essa história que dizem por ai, é de vero?
AMARILIS:
- Como será esse tal de Nego bateau mouche!
MAGNÓLIA:
- Dizem tantas coisas! Pra mim ele num passa de umtarado.
DÁLIA:
- Madrinha, essa história é mesmo
verdade ou só fuxico dessa gente?
ROSA:
- E pelo sim, pelo não... É melhor não arriscar. E que será esse que se
aproveita dessa lenda, para atacar todas as mulheres? Ai está o mistério. Só
sei que as mulheres são atacadas...
SOLA:
- Mode que o delegado num bota esse malandro no xilindró?
AMARILIS:
- Ia ser um desperdício!
MAGNÓLIA:
- Oxi! Que conversa da gota é essa Amarilis? Tu tá ouvindo isso
madrinha?
ROSA:
- Oxente! Eu tô ouvindo que não sou môca. Dizem que quem o Nego Vateu
Mouche ataca, nunca mais é a mesma. Tem umas que ficam até entrevadas em cima
de uma cama.
MAGNÓLIA:
- Afe Maria! Então esse cabra é mermo porreta!
DÁLIA:
- E madrinha conhece essa
história?
ROSA:
- Oxê! Desde muito tempo, desde que eu era mocinha que escuto os antigos
contarem.
SOLA:
- Conte pra nós magnânima.
DÁLIA:
- Essa história muito me
interessa!
ROSA:
- diz a lenda, num sabe? Que o Nego Bateu Mouche era um homem muito
bonito, um escravo de das fazendas daqueles arredores, num sabe? Tinha um corpo
escultural e uma beleza que encantava todas as mulheres que ele se aproximava,
mais um certo dia, ele a filha do seu dono, se apaixonaram perdidamente...
DÁLIA:
- E que se sucedeu madrinha?
ROSA:
- Oxente! O pai quando soube do envolvimento dele com sua filha, ordenou
que o feitor colocasse ele no tronco e o chicoteasse até seu ultimo suspiro...
DÁLIA:
- foi assim que ele morreu é?
ROSA:
- Foi. Mas, antes dele morrer, antes de dar seu ultimo suspiro... ele
olhou pra lua, e fez ali uma promessa. Que todas as moças que estivessem fora
de suas casas em noite de lua cheia, ele voltava pra se vingar, atacando cada
uma...
SOLA:
- Que história! Me deu até calor! Ah, nego se eu te pego!
MAGNÓLIA:
- Sola não entendeu a história não... Nego gosta de mulé, de chibiu! Não
é de freco não. (Gargalhadas de sarro)
AMARILIS:
- Mas é a moça, a amada dele?
ROSA:
- Ah, pobre menina, sorte desgraçada que ela teve. Dizem que foi pro
convento, que lá morreu, doidinha de pedra. Outros dizem que tava prenha, que
deu luz a uma criança em forma de monstro.
SOLA:
- Que história foi até de arrepiar...
DÁLIA:
- Deus pai todo poderoso! Deus me
livre de uma assombração dessa.
MAGNÓLIA:
- Vocês são muito bobas! Pra mim num passa de um homem de carro e
osso... De muita virilidade, esse sim, é cabra macho.
ROSA:
- Bom, já que hore não tem expediente, vão para seus quartos... Aproveitem
a folga para descansar. (Todos saem.
Rosa vai até a janela e fecha as cortinas.
Transições Zona Rural, corta para
casa de Mariquinha
Cena 57
DIA – INTERNA – COZINHA
Mariquinha está varrendo a cozinha com uma
vassoura de palhas.
MARIQUINHA:
- Entre comadre, se acomede.
SANTINHA:
- Obrigada cumadre!
MARIQUINHA:
- Tá quente né?
SANTINHA:
- (Abre a bíblia) Tá mesmo
cumadre, parece o fim do mundo!
MARIQUINHA:
- Realmente, parece o fim do
mundo! A senhora aceita um copo d´água?
SANTINHA:
- Aceito sim. Inté porque o dia tá tão quente cumadre, eu não tô
aguentando esse calor.
MARIQUINHA:
- verdade cumadre, eu vou buscar e
já vorto!
SANTINHA:
- Eu espero. (Esfolheia a bíblia)
MARIQUINHA:
- Tá lendo a bíblia é?
SANTINHA:
- É cumadre!
MARIQUINHA:
- trouxe sua água. Tome, tá
fresquinha! Mas, que a senhora tá fazendo por aqui?
SANTINHA:
- Como a cumadre sabe, meu trabalhos é social. Eu como filha de Maria
tenho é obrigação de resgatar as almas pra Cristo. Mas eu tô vindo agora mesmo
da visita a casa de dona Candinha, ela tá tão debilitada, doentinha... Cá entre
n´os, eu acho que ela vai passar dessa pra melhor!
MARIQUINHA:
- É... Que Deus tenha piedade dela
(Benze)
SANTINHA:
- Mas cumadre... Eu fique sabendo por ai... Uma coisa que eu nem sei se
vou contar.
MARIQUINHA:
- Conte. É coisa boa?
SANTINHA:
- Pra mim é muito boa.
MARIQUINHA:
- Se a senhora a ninhora acha?!
SANTINHA:
- A cumadre vai ser vó?
MARIQUINHA:
- (Se assusta indignada)Como que oscê entra aqui n minha casa, e vem
falar mau da minha filha? Que que vc pensa que é?
SANTINHA:
- Oxê cumadre, é um coata que tá correndo poraí... Eu como filha de
Maria...
MARIQUINHA:
- Como filha de Maria, reze mais e cuide da sua vida. Deixe de cuidar da
vida dosoutro, que oscê ganha muito mais.
SANTINHA:
- (se levanta se benze)
Jesus, Maria, José!
MARIQUINHA:
- Jesus, Maria, Jose? Oscê vai vê... (Pega a vassoura)Se num saí da minha casa agora...
SANTINHA:
- Eu vou rezar...
MARIQUINHA:
- Reze. Mai reze muito mermo, para
que Deus tenha piedade da tua língua.
SANTINHA:
- deu me livre! Eu tõ indo é embora. A cumadre tá é louca. (Sai)
MARIQUINHA:
- Língua felina! Vem aqui na minha
casa pra fala mal de minha filha. Só que fartava!
Transição Zona Rural de Campo
Verde.
Cena 58
EXTERNA – DIA – CURRAL
Francisco alimenta os cavalos
quando chega Gilmar Catolé.
FRANCISCO:
- Eia?! Bom dia seu Gilmar?!
GILMAR:
- Bom dia Francisco!
FRANCISCO:
- Ieu fiquei sabeno que o sinhô que falá com ieu.
GILMAR:
- Pois então deixamos de cerimônias
FRANCISCO:
- Pois diga logo que o sinhô qué que ieu num gosto de rodeio, num sabe?
GILMAR:
- Acho muito melhor assim, vamos direto ao assunto, direto o que
interessa Francisco.
FRANCISCO:
- Pois então o senhô diga logo ao que veio pra encurtar logo essa prosa,
que tenho muito selviço pra fazê, num sabe?
GILMAR:
- Eu sei Francisco, eu sei... Sei bem o tipo de servicinho que anda
fazendo por ai... sei muito bem.
FRANCISCO:
- Oxê! Que conversa da gota é essa? (Bravo)Ieu num sei do que tá falano... Vice seu coronel?!
GILMAR:
- Não vira as costas pra mim,nem me chame de coronel que eu não gosto.
FRANCISCO:
- Pois então o sinhô diga logo pra encurtar logo essa conversa, vice?
GILMAR:
- Eu quero que você faça um servicinho pra mim...
FRANCISCO:
- Selviço? Mai que tipo de selviço que o sinhô que eu faça?
GILMAR:
- Quero que você despache um cabra safado que existe por ai, dessa pra
melhor.
FRANCISCO:
- Oxê! Seu Gimar, eu sou um homem do campo, tô acostumado com a terra,
sou um jagunço não...
GILMAR:
- Pago bem... (Retira um bolo de
dinheiro)Bem mais que já lhe pagaram Francisco. Pago o dobro! (Retira mais)Pago o triplo! Até mais que
isso aqui, desde que faça o serviço bem feito.
FRANCISCO:
- (Pega o dinheiro) Feito!
Quem é o broqueiro?(Coloca o dinheiro no
chapéu)
GILMAR:
- Venha que vou te explicar, vou te dizer quem é esse cabra safado...
FRANCISCO:
- Vamos conversar lá embaixo que é mió... (Saem conversando).
Corta para cidade de campo Verde.
Cena 59
João caminha pela cidade de Campo Verde e segue
para o posto de saúde.
JOÃO:
- Licença...
BRUNA:
- Oh seu João, entre.
JOÃO:
- Mai a dotora mandou me chama?
BRUNA:
- Eu mandei seu João. Tenho um assunto muito sério que quero conversar
com o senhor.
JOÃO:
- Mai a dotora fale...
BRUNA:
- Me diga uma coisa seu João... Faz muito tempo que o senhor trabalho
para seu Gilmar, não é mesmo?
JOÃO:
- É sim senhora. Desde que me conheço por gente, que trabalho pro seu
Gilmar. Até já perdi a noção dos anos, num sabe? Meu pai sempre trabaio pro
veio pai dele ieu também. Eiu continuei trabaiando cum ele num sabe?
BRUNA:
- E sempre de maneira informal, não é mesmo?
JOÃO:
- Cuma assim, não entendi o que a dotora quis dizê.
BRUNA:
- o senhor já ouviu falar em carteira assinada?
JOÃO:
- É um decumento, já ouvi falá sim senhora.
BRUNA:
- É um documento que quando está assinado garante direitos e benefícios.
JOÃO:
- Já ouvi fala sim...
BRUNA:
- eu estou querendo dizer que o senhor tem direitos, que seu patrão, seu
Gilmar, tem lhe negado, num sabe?
JOÃO:
- Dereito?
BRUNA:
- Por exemplo... O caso do José Carlos, se tivesse carteira assinada,
poderia se recuperar em casa, com direito ao auxílio doença, num sabe?
JOÃO:
- E é?
BRUNA:
- É seu João. E tem mais viu... Com o tempo o trabalhador vai
envelhecendo a saúde já não repode e os direitos trabalhistas lhe garante a
aposentadoria. E o senhor sabe seu João, no trabalho no campo, o trabalho
braçal é o que conta. Seu João, com a carteira assinada o senhor tem direito a
aposentadoria que lhe garante o futuro pro senhor e sua família.
JOÃO:
- É que aqui dotora, não tem essas coisas não...
BRUNA:
- Mas, lei é lei seu João. E tem que ser cumprida, seja no campo ou na
cidade. Veja bem, se o senhor tivesse com sua carteira assinada, hoje em dia já
podia pedir sua aposentadoria, não é mesmo? A gente vai envelhecendo, o copo já
não corresponde mais como antes, ao seu João, se não tiver carteira assinada,
como vai ser? No campo se não tiver saúde como fazer? O senhor tem que pensar
nisso. É garantido por lei. Pense nisso seu João. Pense com carinho homem,
pense nisso. Se não pensar pelo senhor, pense pelo seu filho.
JOÃO:
- Vou pensá no que a dotora falô.
BRUNA:
- Pense mesmo seu João. E se o senhor decidi mudar essa sua situação,
tenho um amigo que é advogado.
JOÃO:
- Adevogado? Quero Braga não dotora, sou um homem da paz. Gosto d briga
não. Sou um homem do bem.
BRUNA:
- Homem é um direito que o senhor tem. Pense nisso com carinho, e se
precisar de alguma coisa pode contar comigo.
JOÃO:
- Ieu vou pensa direito...
BRUNA:
- Isso pense. E se precisar estou aqui.
JOÃO:
- Agradecido. (Se levanta. Põe o chapéu e sai).
BRUNA:
- Pobre homem! Escravos dos tempos modernos
Transição: Faixada da Casa das
rosas
Sola relembra a conversa que ouviu
de Magnólia e Fortunato.
Imagem congela em Sola.
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